HIATUS - This Love escrita por Pequena Stiff, SheWolf


Capítulo 9
Eight


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal, voltei cedíssimo, eu sei. Mas isso é porque estou realmente radiante.
Recebi minha primeira recomendação. E é por isso que dedico esse cap duplo do Sasuke ao HikichiUchiha, obrigada de verdade pela recomendação. Eu adorei.
Os dois, um seguido do outro, serão no POV do Sasuke, ok? Estou escrevendo o da Sakura, mas não vou postar hoje.
E quando for postagem dupla, só vou responder aos reviews do último cap postado, ok? Então, se quiserem só deixar no NINE, em vez de nos dois, não me importo.
.
Edit da SheWolf: capítulo betado :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/481377/chapter/9

"— Dói - ele disse.

— O peito?

Ele assentiu. Punhos cerrados. Um tempo depois, ele descreveu aquela dor como sendo a de um homem de uma perna só calçando um salto agulha, de pé no meio do tórax dele."

(Gus para Hazel, A culpa é das estrelas)

Ali, naquele momento, eu percebi que se eu não tivesse eles de volta na minha vida, eu preferia não ter uma.

Eu chorei, esperneei e, finalmente, me rendi ao sono.

Parecia que não havia nem se passado um segundo do momento em que finalmente fechei os olhos, ao momento em que acordei com alguém escancarando as cortinas do meu quarto.

Atordoado e tonto, me sentei, percebendo que a pessoa que eu ainda não havia conseguido focalizar era o menor dos meus problemas.

A dor de cabeça que eu sentia era insuportável. Latejava e, a cada arrastar de cortinas, me fez perceber que uma cartela de analgésicos não resolveria o meu problema.

Cocei os olhos e percebi que a pessoa que se dirigia raivosa ao meu closet era meu melhor amigo idiota. Me joguei na cama novamente e usei o travesseiro de Deisuke para tampar o rosto.

Eu não estava com saco, nem com paciência, para lidar com ninguém. Ouvi passos se aproximando e algo leve sendo jogado em cima das minhas pernas. Em seguida, a voz baixa e séria de Naruto chegou até mim, me fazendo ter vontade de mandá-lo calar a boca:

— São 11:48 da manhã, e você já me causou mais problemas do que eu esperaria de um cara dessa idade.

Não olhei para ele, mas levantei um pouco o travesseiro do meu rosto, só para enxergar o relógio que havia em meu criado mudo. 52, não 48.

Cobri o rosto novamente, bufando, e nada disse.

Naruto, impaciente, como sempre, puxou o travesseiro do meu rosto e me encarou com aqueles olhos azuis irritantes. Peguei a almofada de Mei e cobri o rosto, me virando de bruços para, tentar, ignorá-lo, para ver se ele desistia e ia embora.

Inocente.

Eu esqueci que a palavra desistir não se encontrava em lugar algum no dicionário dele. Ouvi seus passos novamente e, quando eles estavam voltando, percebi tarde demais que ele aprontaria algo.

Quando a água gelada escorreu das minhas costas nuas para minha barriga, me sentei, exclamando:

— Tá, já levantei. Satisfeito?

Ele ainda estava sério quando me respondeu:

— Não.

E completou com um "vista-se" seco.

Levantei e percebi que o que ele jogara em minhas pernas anteriormente era uma calça de moletom e uma camiseta qualquer. Peguei-as, raivoso, e me levantei, não me importando em me secar antes de vesti-las.

Naruto, depois de ver que eu já havia terminado, saiu do quarto sem dizer nada, e mesmo estando em minha casa, resolvi segui-lo. Ele rumava para o escritório.

No caminho, fiquei me perguntando como é que ele havia chegado ali, mas me lembrei que eu tinha empregados que sabiam que o loiro era meu melhor amigo, e, que em hipótese alguma, barrariam sua entrada na propriedade.

Bufei quando ele entrou sem hesitar em meu escritório. Mal educado.

Assim que eu entrei também, percebi que a garrafa vazia de bebida havia impregnado o ambiente com um cheiro etílico.

Naruto se sentou no sofá que havia lá, cruzou as pernas, apoiou o cotovelo no encosto do sofá e, em seguida, seu indicador foi para frente dos lábios, fazendo-o adquirir a postura que eu sempre admirava em meu amigo.

Sério, compenetrado.

Eu sabia que quando ele assumia aquela postura, ele não era o Naruto idiota e brincalhão que convivia comigo desde as fraldas, e sim o advogado sério e muito bem formado.

Não era à toa que, desde que ele começou a trabalhar lá, ele era, sem sombra de dúvidas, o melhor funcionário da empresa. Nunca, em anos, perdemos sequer uma causa.

Acho que ele nunca perdeu uma causa.

E naquele momento, eu, Sasuke Uchiha, o insuportável controlador, dono do mundo em que vivia, fiquei com medo do que viria a seguir.

Eu não me pronunciei, por mais que ele esperasse por isso. Apenas retribuí o olhar que ele me dirigia, da melhor maneira possível. A dor de cabeça que eu estava sentindo estava insuportável.

Meu escritório tinha uma janela enorme, que cobria uma parede inteira. E eu agradeci mentalmente pelas cortinas fechadas. A luz só pioraria minha dor de cabeça. Minha mesa ficava em frente a essa janela e, na outra extremidade, onde ficava a porta, uma estante enorme recobria toda a parede. Não havia muitos livros por lá, o que, de repente, se tornou um fato interessante de se observar. A mesa de centro, que estava em frente ao sofá, era o que separava Naruto e eu.

Me encostei na parede, ainda evitando olhá-lo de volta, como estava fazendo há pouco, e escorreguei até o chão.

Ele me olhava de cima, sem ainda dizer nada. E quando o silêncio se tornou quase insuportável, ele finalmente exclamou, saindo de sua postura anterior, ficando de pé, exasperado:

— QUAL É A PORRA DO SEU PROBLEMA?! EIN? INFERNO! Sabe onde eu estava agora? NA PORRA DAQUELE PRÉDIO, QUE TE PERTENCE, LIDANDO COM UM BANDO DE MESQUINHOS IRRITANTES QUE QUERIAM DESESPERADAMENTE SABER ONDE VOCÊ HAVIA SE ENFIADO! E sabe o que mais? A DESGRAÇADA DA MINHA PRIMA ME ENXENDO O SACO, E ME PRIVANDO DE PAZ, NA MINHA ORELHA, QUERENDO SABER O QUE HAVIA ACONTECIDO PRA VOCÊ TER LIGADO PARA ELA NA MADRUGADA, APARENTEMENTE, SOLTANDO OFENSAS PELOS COTOVELOS!

Eu não conseguia dizer nada, só continuei encarando-o, com um ar um tanto confuso pela enxurrada repentina de palavras. Ele continuou:

— QUAL O SEU PROBLEMA? EIN? ME RESPONDE!

Ele estava exaltadíssimo e, com a voz baixa, eu respondi:

— Ela me deixou.

E novamente, fui pego por uma ardência indescritível nos olhos, e uma falta de ar agonizante quando disse aquelas palavras em voz alta. Ele continuou a me atacar:

— EU SEI DISSO, PORRA! EU-SEI-DISSO! Você me ligou de madrugada, chorando, completamente bêbado, se lembra? Você me disse isso! Não adianta chorar agora, sabia? Você fez isso. VOCÊ. Única e exclusivamente. Você não deu valor a ela. Você resolveu que teria duas mulheres, mas se esqueceu de uma coisa quando resolveu isso: A SAKURA NÃO É IGUAL À VACA DA MINHA PRIMA.

Aquelas palavras pareciam andar de skate na minha cabeça, ficaram indo e vindo. Rodando e bagunçando ainda mais com o que restava de bom senso na minha cabeça.

Finalmente, chorei novamente.

Não consegui responder.

Quando ele viu que eu estava chorando, contornou a mesa e se agachou na minha frente. Escondi o rosto nos joelhos e abracei as pernas. Escutei quando ele disse, agora com a voz calma e baixa:

— Você sabia que eu já vi a Sakura desse mesmo jeito, nessa mesma casa, mais de uma vez? Por sua culpa. Sabe quantas vezes eu a peguei chorando, por não ter forças para te deixar, mesmo querendo isso? Quando eu a via assim, eu a abraçava e sussurrava sempre "as coisas vão melhorar, Sakura-chan, as coisas vão se resolver", mesmo sabendo que era mentira, e que as coisas acabariam desse jeito. Você está só colhendo o que plantou, cara. A culpa disso tudo é sua.

Murmurei:

— Eu sei, e isso é o que mais dói.

Ele se sentou na minha frente, com as pernas cruzadas, e disse:

— Sabe, nós, seres humanos, sempre queremos mais do que temos, e nunca estamos satisfeitos com o que possuímos. Eu sou assim, você é assim, a Sakura é assim, todos nós somos. Nós, todos nós, temos uma parte que é horrível, que é um lixo. Uma parte escura, sabe? A Sakura também tem. Eu tenho. Mas, ao contrário de você, nós não expomos a nossa. Nós, na medida do possível, damos valor às coisas que nos foram dadas e, com todo o nosso coração, cuidamos delas. Você nunca foi assim, eu sempre soube, ela sempre soube, mas existem coisas, cara... Existem coisas que nós não devemos mostrar. Você vem mostrando coisas, fazendo coisas que, cara, me fazem ter vergonha de ser seu melhor amigo. E mais vergonha ainda de mim, por não conseguir cogitar a ideia de deixar de ser por isso. Eu te amo, cara, de verdade. Mas eu não vou te apoiar. Vou te ajudar, mas te apoiar, não. Nunca. Olha aonde nós chegamos, Sasuke. Olha. Olhe em volta e me diga se precisava ser assim. Você sempre teve tudo. Uma mãe extremamente amorosa, que, nossa, é uma das pessoas mais maravilhosas que já pisaram nesse mundo! Um pai que, apesar de rígido, sempre esteve do seu lado pra tudo. Um irmão que é seu amigo também. E um amigo que é seu irmão. Dinheiro, uma boa vida, você sempre foi cercado disso. Me diz, isso é necessário?

Ele respirou fundo e eu olhei para ele, finalmente, ainda chorando. Ele continuou:

— Quando a Sakura entrou na sua vida, você não poderia ser mais insuportável. "Ela é irritante", "Menina idiota", "ela enche meu saco, Dobe". Naquele momento, eu soube que você havia encontrado a pessoa que seria páreo pra você nesse mundo. Quando ela demonstrou interesse, você a desprezou, mas você se lembra? Quando ela parou de correr atrás de você, o que você fez? Aquele dia no campo, sabe? Você correu atrás dela, quando ela estava saindo com o Sai, depois de termos vencido o jogo, simplesmente a agarrou e a beijou. Mano, naquele momento, eu soube que você nunca mais viveria sem ela. Quando tudo aquilo aconteceu, quando ela engravidou e tals, eu nunca te vi mais decidido. Comprou um apartamento, terminou a faculdade, e trabalhou dia e noite para conseguir o que era de vocês. E você conseguiu. Por que foi que você jogou tudo para o alto? Teme, você tem a mulher perfeita. Ela é linda, cara. Geniosa, decidida e, acima de tudo, te ama desesperadamente. Tem dois filhos perfeitos. Um que te ama e te coloca em um pedestal, e outra que ainda não sabe o que é amar, mas, aparentemente, não vai ter a oportunidade, não é? Isso é certo, Sasuke? As suas atitudes, seus pensamentos, tudo isso, é o certo? Porque se for, cara, eu saio daqui agora e dou entrada nos papéis de divórcio, e nos papeis do seu casamento com a minha prima.

Solucei e tornei a abaixar a cabeça. E mais uma vez, ele prosseguiu:

— Eu sei que não é isso que você quer. E sei que eu posso parecer um monstro por estar dizendo isso, mas pense, Sasuke. É isso que você quer? É isso?

Neguei com a cabeça, mas não disse nada. Minha voz estava perdida em algum lugar dentro de mim, no qual eu sei que, nem se eu tentasse achar, conseguiria.

Ele colocou a mão em meu braço e continuou:

— Por quê? Ein, Sasuke, por quê?

Não respondi, pois eu não tinha a resposta para aquilo.

Ouvi ele levantar e andar de volta para o sofá. Não levantei o rosto para ter certeza. Ele disse, já do outro lado da sala:

— Vem aqui, Sasuke, vamos conversar. De homem para homem agora.

Respirei fundo e parei de agir como uma criança chorona. Levantei e andei devagar até o sofá. Me sentei do lado dele e recolhi as pernas, abraçando-as, fazendo igual as garotas fazem quando perdem os namorados em filmes adolescentes. Não olhei para ele. Fitei o nada. Ele continuou:

— Fala, anda. Pare de se reprimir como sempre fez. Você sabe que está errado, e eu estou aqui para ouvir você desabafar. Você precisa disso. E não de garrafas de bebidas e dos travesseiros dos seus filhos pra abraçar.

Lágrimas silenciosas rolavam pelo meu rosto, quando decidi começar a pensar em respondê-lo. Mas o que eu diria? Não havia o que ser dito.

Ele tinha razão. Eu estava desistindo do amor do meu filho, que me tratava como um herói, e abrindo mão do amor da minha filha, antes mesmo de tê-lo. Que tipo de pessoa eu me tornei? Eu não sou assim. Quando foi que eu me perdi?

Decidido a conversar com ele, me sentei direito no sofá e alcancei meu celular, que estava na mesa de centro. Desbloqueei e percebi que haviam várias ligações de Karin, muitas outras de Naruto, do escritório, havia também as que mais me surpreenderam: de Itachi e do meu pai.

Mas não era isso que eu queria. Eu precisava de outra coisa antes de tentar colocar pra fora o que eu estava sentindo.

Cliquei no ícone da galeria de fotos e fui até a pasta de downloads. Ali tinha fotos dos meus filhos e, naquele momento, depois de ter tido jogado na cara que eu não precisava dos travesseiros deles para abraçar, percebi que precisava olhar pra eles para poder pensar em dizer algo.

Cliquei na primeira e deslizei do modo que fosse para a última foto, que mostrava Deisuke um tanto mais novo, lambuzado de chocolate.

Aquela foto era do tempo em que ainda éramos felizes.

Sorri e passei para próxima.

Deisuke no uniforme escolar, sorrindo com todos os dentes no lugar, branquinhos e pequenos. Era seu primeiro dia de aula.

A próxima mostrava ele bebê, de fralda na praia. Lembrei daquele dia. Havia sido a primeira viagem dele, e estávamos em Creta. Lembro de Sakura doida, enchendo-o de protetor, e eu dizendo para ela parar e deixá-lo em paz. Ele comeu areia, e era isso que a foto mostrava. A mãozinha gorducha fechada em um punho pequenino, indo em direção à boca já suja de areia. Sakura havia ficado doida, e me xingou muito quando viu que, em vez de eu tirar a areia da boca dele, estava tirando uma foto.

Sorri ainda mais, sendo observado por Naruto.

As próximas fotos, todas de Deisuke, mostravam ele desenhando, correndo, nadando na piscina.

Em uma delas, ele estava no colo de Naruto, apontado para um Minato bebê dentro do berço.

E quando passei para próxima, meu sorriso sumiu.

Eram as fotos da Mei agora. Nenhuma tirada por mim. Todas por outras pessoas.

Os inconfundíveis cabelos e olhos pretos, a boca pequenina, o nariz perfeito. A foto mostrava só o rosto dela e uma parte de uma faixa azul clara no cabelo.

Chorei ainda mais e passei para próxima.

Não aparecia ela, na verdade, só as perninhas gorduchas, um pouco da fralda, e uma saia preta de bolinhas brancas. Lembro de quando fiz o download dessa foto. Estava em uma rede social de Ino, e dizia "Minha lindinha já está querendo ficar em pé, se apoiando no sofá".

Com um aperto enorme no peito, percebi que não devia ter sido Ino a tirar essa foto. Devia ter sido eu.

Essas fotos, todas as outras dela, pelas quais passei rapidamente, conseguindo captar apenas o sorriso e as cores vivas das roupas, deveriam ter sido tiradas por mim. E não baixadas da rede social dos outros para o meu celular, pois eu não tinha nenhuma foto da minha filha, e nem coragem para tirar uma.

Naruto, aparentemente, viu meu desespero enquanto passava as fotos rápida e desesperadamente pela tela do celular, e o tirou da minha mão.

Eu precisava da minha filha. Eu precisava desesperadamente saber como era o cheiro dela. Como era o som da sua risada. Como era o som do seu choro. Como era o gênio dela. Teimosa? Meiga? Brava? Ter a noção novamente de que eu não sabia nada - nem o nome inteiro- de alguém que era parte de mim, me fez prender a respiração e lembrar das palavras duras de Sakura: "Você deveria amá-la mais que a si mesmo. Mais do que qualquer outra coisa no mundo". Ofeguei. Eu precisava deles.

Essa constatação foi o estopim.

Me levantei, chutei a mesinha de centro e, quando meu pé doeu e ela virou derrubando, o vidro e o quebrando, andei até minha mesa, jogando tudo no chão. Não havia nada importante ali.

Eu poderia quebrar a casa inteira que não haveria nada que me fizesse falta depois. Eu tinha dinheiro para repor tudo.

O que era importante, realmente, não estava ali. E eu não fazia ideia de onde estava.

Continuei quebrando tudo o que via pela frente, até perceber que a única coisa que eu estava fazendo era nada.

Estanquei no lugar e, soltando um lamento desesperado pela minha garganta, escorreguei até o chão. Abraçando novamente minhas pernas, eu finalmente disse:

[...]


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ei, favoritem a fic pessoal. É legal ver que as pessoas estão gostando do meu trabalho sabe.