"Ainda Sem Nome" escrita por Ágata, marie, marie


Capítulo 2
Capítulo II - Sophia


Notas iniciais do capítulo

Bella aqui! Estão, principalmente no começo, os capítulos não começam onde o anterior terminou, então, não fiquem confusos! Brincadeira, sei que são inteligentes.



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Orfanato...

Não é estranho eu chamar de “casa” um lugar cenário de muitos filmes de terror?

Odeio esse lugar, só não vou embora porque é melhor aqui do que na rua, além de que, em dois anos estarei fora daqui.

Sei que vivi minha infância toda com a minha avó e parte da minha adolescência com “pais” adotivos. Dos meus pais verdadeiros, nada sei. Sempre que tocava no assunto, minha vó ficava triste e não falava nada. Deduzi que morreram em um trágico acidente quando eu era bem pequena. Certas vezes, minha vó falava algo de “quando você tinha apenas um ano e seis meses...”, provavelmente meus pais morreram quando eu tinha essa idade.

Lembro-me do meu primeiro dia aqui. Mas não gosto de pensar sobre ele, deixa-me confusa. Não faz sentido algum eu estar aqui. Eu deveria estar em casa, no meu quarto, com o meu guarda-roupa, minha escrivaninha, minha prateleira de livros, minha cama e meu banheiro, mas ao invés disso, tenho um pequeno espaço, onde cabe um beliche, um armário e uma escrivaninha, além de um banheiro comunitário.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo som do aviso do almoço. Peguei minha mochila e desci as escadas, quase sendo atropelada pelas crianças menores. Não posso dizer que passei dificuldades alimentares aqui, pois fome nunca passei, mas a comida não podia ser mais nojenta. Quando cheguei ao refeitório, não tinha quase ninguém, todos estavam amontoados na porta da frente e nas janelas tentando ver algo. Não gosto de admitir, mas sou curiosa. Aproximei-me da janela para olhar também. Precisei me apertar entre as pessoas e ficar na posta dos pés, para poder enxergar além das cabeças amontoadas. Um menino alto e magro, de cabelos castanhos rebeldes, como se ele mesmo tivesse os cortado, estava se debatendo contra um homem que o segurava pelos braços. O menino tentava se livrar de qualquer modo, mas começou a hiperventilar. Uma mulher com saia lápis e terninho lhe entregou uma bombinha de asma. Quando ele melhorou, o homem que antes o segurava lhe entregou uma mala. Sra. Mashylin conversou um pouco com a mulher de saia lápis. Depois, o menino e a Sra. Mashylin entraram no orfanato e a mulher de saia lápis, junto com o homem, em um carro, foi embora.

–O que vocês estão olhando? Andem! Vão logo para as mesas ou nada de bolo de carne! – Gritou Sra. Mashylin para todos nós. Servi meu prato e me sentei à mesa.

–Pessoal, esse aqui é Kyle, ele vai ficara aqui por um tempo, sejam legais com ele. – Falou depois de todos organizados em seus devidos lugares, dirigindo seu olhar, especialmente para Greg e seu amigos, os ”valentões” do orfanato.

Não usamos sobrenomes aqui, talvez porque a maioria nem sabe o próprio, mas também porque quem o sabe, não gostaria de ficar lembrando-se dele o tempo inteiro. Depois de comer arroz com abobrinha, fiquei um tempo na sala observando as pessoas. Catherine é incrivelmente sociável e exageradamente desastrada. Ela consegue esbarrar e quebrar tudo o que está à volta dela. Inclusive foi dispensada das tarefas na cozinha por sempre quebrar a louça. Toda vez que ela fala comigo, sinto uma sensação estranha, algo como um deja vu, por isso sempre tento manter distância máxima dela. Lá estava ela, toda alegre, conversando com Kyle. Sinceramente, nada pior que o seu primeiro dia no inferno com uma doida feliz falando pelos cotovelos. Ele parecia entediado e bem fechado, quase não abria a boca. Observei os dois com mais atenção, mesmo estando longe, consegui perceber muito bem as cores dos olhos deles, talvez porque eu adore observar olhos. Kyle tem olhos cor de vinho, são bonitos, mas não tenho certeza se são verdadeiros ou lentes. Catherine tem olhos verdes que contrastam com a pele cor de caramelo dela.

–...Sim, eu sei, mas os dormitórios masculinos estão todos lotados, não tem espaço para mais nenhum! – Ouço a Sra. Mashylin falando com a Sra. Jofla.

Agucei os ouvidos, dormitórios? Isso poderia me dar alguns problemas...

–No andar feminino temos um quarto inteiro livre. – Lembrou Sra. Jofla

Na verdade, não exatamente livre...

Mas isso é no andar feminino! – Protestou Sra. Mashylin.

–Por alguns dias, pelo menos ele terá o quarto apenas para ele, quem se imporá em que andar é? – Falou Sra. Jofla.

Relutante, Sra. Mashylin concordou. Eu precisava fazer uma coisa, eu que estive dormido nesse quarto, fora dos registros, isso é fora das regras, mas eu não aguentava nem mais um minuto dividindo quarto com Catherine e Jade. Preciso fazer alguma coisa, e rápido. Levantei-me do sofá e andei apressada até Sra. Mashylin e Sra. Jofla.

–Posso levar Kyle até o dormitório dele? – Perguntei, sem achar que as convenceria. – Eu... Gostaria de tentar novas amizades...

Forçei um sorriso e acho que convenci as duas, pois Sra. Mashylin falou:

–Certo, Sophia... Como os quartos do andar masculino estão todos lotados, Kyle ficará no quarto número quatro, no andar feminino.

–Tudo bem, Sra. Mashylin, eu explico para ele as regras – Sorri de novo e me afastei delas, indo em direção a Kyle.

Quando cheguei lá, ele continuava com Catherine, que, animadamente, lhe contava absolutamente tudo sobre as pessoas e as coisas daqui. De perto, os olhos de Kyle parecem ainda mais cor de vinho do que antes. Eu os observei por algum tempo, tentado perceber se são reais ou não, mas antes de eu chegar a alguma conclusão Kyle me olhou e eu desviei o olhar, falando que eu precisava mostrar o quarto para ele. Quando chegamos às escadas que resolvi falar.

–Hum... Kyle né?

–Sim...

–Bem, como o andar masculino está lotado, você terá que ficar no feminino – Ele faz uma careta – Mas, bem, você terá um quarto... –Livre... – Mas, terá que dividi-lo comigo... A não ser que você se sinta muito desconfortável e queira que eu me mude. Mas sou bem na minha, relaxa.

–Na verdade a Sra. Mashylin já tinha me explicado que meu quarto seria no andar das meninas –ele me lança um olhar desconfiado – só essa coisa de você junto comigo é novidade.

Ele se calou e pareceu pensar um pouco, nesse tempo percebi o quanto esfarrapada a minha desculpa foi e que, caso ele comente isso com qualquer um daqui, estarei em má situação, muito má....

–Qual seu nome? – Perguntou quando chegamos ao quarto.

–Ah, desculpe, não me apresentei, sou a Sophia.

–Certo, Sophia. – Ele parece meio hesitante antes de perguntar – Em qual das camas você costuma dormir?

–Isso significa que eu posso ficar?

–Digamos que eu não pretendo ficar aqui por muitas noites.

–Olha, não vou ficar falando de como você, depois de um tempo vai gostar daqui porque eu, sinceramente duvido que vá. Únicas coisas que você precisa saber: às seis horas o banheiro está lotado de gente. Não faça barulho depois das dez. Não confie na maioria das pessoas daqui e se for fugir, não conte absolutamente para ninguém, elas te dedurarão. E, a propósito, eu fico na cama de baixo.

Eu odeio dormir em camas altas. Ainda mais que na parte de baixo eu posso fazer uma cabaninha e criar a ilusão de privacidade e segurança. Como odeio banheiros com milhares de pessoas, acabo sempre tomando banho ou bem cedo, ou bem tarde. Peguei toalha, nécessaire, roupas limpas, minha mochila e fui para o banheiro.

Quando cheguei lá, liguei o chuveiro enquanto me despia. Tirei meus óculos já me sentindo tonta. Até para tomar banho eu mal conseguia ficar sem eles, sou quase cega sem óculos. Entrei no chuveiro e senti a água correr pelo meu corpo. Água fresca me acalma e me deixa pensar com mais clareza. Quando desliguei o chuveiro, sorri pensando ninguém me atrapalhou hoje. Saí do box enrolada na toalha e encarei meu reflexo no espelho. Meus olhos cinza muito claros às vezes assustam pessoas. Meus cabelos são muito pretos, contrastando com a minha pele pálida. Às vezes penso que eu me daria bem atuando em um filme de terror. Na verdade, aqui já tem até um cenário. Paro de pensar em filmes, isso me faz lembrar da minha antiga vida e de como tudo o que aconteceu e o fato de eu estar aqui é culpa minha e somente minha. Afastei esses pensamentos bem na hora que ouvi alguém entrando no banheiro. Virei-me para ver quem é e me deparei com a pessoa mais insuportável que conheço.

Catherine.


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Notas finais do capítulo

Pois é, personagens diferentes, escritoras diferentes. O que acharam? Não se esqueçam que a Bella ADORA reviews grandes ^^



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