As Long As You're There escrita por iheartkatyp


Capítulo 7
I don't even know who you are anymore.




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As coisas que Helena dizia á Clara a faziam questionar mais ainda o certo e o errado. Certamente, estava dividida. De um lado, a vida medíocre de dona de casa, uma mulher comum como várias outras por aí, a vida de cafés de manhã na cama para o marido. Do outro, a oportunidade de viver um amor selvagem, diferente, com uma mulher que, diferente de Cadu, a surpreenderia a cada dia. Daria a ela um motivo para acordar todos os dias com um sorriso no rosto e o melhor dos humores. Ela não sabia o que fazer, e as duas não se falavam há dias. O sumiço de Marina era compreensível, mas Clara se recusava a entender.

–Não consigo pensar em outra coisa. Esqueço até o horário do colégio do Ivan. Tô ficando louca, Leninha. Isso tá me matando, me comendo por dentro. Não sei dela, não sei nada sobre ela depois que eu fui embora naquele dia.

–Ela deve estar pensando que você não quer falar com ela, Clara. Você deixou a mulher sozinha, na cama. É uma rejeição, mesmo que vocês não tenham feito nada extrapolante.

–Nós nos beijamos. Isso não foi extrapolante o bastante? Eu não sei o que fazer, irmã... E ainda tem o Cadu. Meu deus, o que eu tô fazendo? –Clara passou a mão nos cabelos, bagunçando-os.

–Não é culpa sua. Acredite, todos fazemos coisas que não são certas. Mas nada é errado se te faz feliz, eu já te disse isso. Não fique com medo, Clara. É só a Marina. A Marina, que você tanto conhece. Ela não vai morder porque vocês se beijaram.

–Mas... E o Cadu, Helena? Eu vou simplesmente jogar tudo para o alto por causa dela? Não é assim, meu deus. Eu não sei o que eu tô fazendo. Eu nem sei o que tô sentindo.

–Clara, não há duvidas sobre a sua escolha. Se houvessem, você estaria se preocupando mais em ter traído seu marido do que com o que está sentindo. A Marina despertou um lado seu que eu nunca tinha visto. Nunca. Nem mesmo quando você conheceu o Cadu. Você finalmente sabe o que é amar alguém de verdade, a paixão ardente que a gente só tem a oportunidade de sentir uma vez. Não trate isso como uma aventura, ou pode nunca mais se sentir desse jeito de novo. A Marina é uma mulher de aventuras, de affairs, e ela se prendeu a você. Justamente por isso. Ela sente tudo isso também. Olhe as coisas pelo lado dela. Ela deve estar sentindo que está destruindo uma família, acabando com um casamento. Você se sentiria bem se estivesse no lugar dela? Só dê um tempo, tente sentir o que ela sente, e assim entenderá o porque do afastamento. Seus olhos brilham mesmo quando você fala que está confusa, que não sabe o que está fazendo. Vejo em você um brilho que nunca vi antes, minha irmã. Não quero que você se desencontre com a felicidade, porque ela está batendo tão forte na sua porta que daqui do meu apartamento eu consigo escutar. Arque com as consequências da sua escolha, e tudo vai se ajeitar. Mas faça as coisas do jeito certo e não perca essa oportunidade. Não pense no fato da Marina ser uma mulher. Pense que isso poderia ter acontecido com qualquer pessoa, isso não pode, de jeito nenhum, influenciar na sua decisão final. Ela é um ser humano, e, pelas suas declarações, ela é uma das pessoas mais interessantes que já vi.

O rosto de Clara se iluminou com um sorriso tímido. Ela sabia que Helena tinha razão, mas continuava sem saber como se comportaria na frente de Cadu. Há mais de dez dias ela se recusava dar mais que um beijo no marido, e ele já estava começando a perceber que algo estava errado. Por mais que todas as evidências e vozes em sua cabeça lhe dissessem que fez a coisa certa, e que, mais cedo ou mais tarde, aquilo iria acontecer.

–Meninas, o jantar já tá na mesa. –Avisou Cadu, batendo de leve na porta do quarto de Helena. Ela se levantou, mas Clara desviou o rosto para não olhar o marido nos olhos. Acostumada com o jeito de Marina, tinha medo de que ele percebesse algo pelo reflexo de seus olhos. E aí se lembrou. Só Marina conseguia fazer aquilo. Só Marina via Clara desse jeito tão... Vulnerável. Transparente. Só Marina entendia o olhar torto, o olhar de felicidade, o olhar confuso. Só ela. Clara seguiu Leninha quando a irmã saiu do quarto, se refugiando em suas costas.
Todos estavam á mesa. Menos Chica.

–Cadê a mamãe? –Perguntou Clara. –Pensei que ela fosse almoçar com a gente.

–Ela tá de namoradinho, você não sabia? –Riu Fernando.

–Namoradinho? Dona Chica, dona Chica!

–A vovó tá namorando? –Perguntou Ivan.

–Sh, isso não é assunto pra criança. –Ivan então se calou, e deu a primeira garfada no arroz feito pelo pai.

–Nossa, pai! Tá uma delícia. –Comentou.

–Tá mesmo, Cadu. Quando é que você vai entrar num curso de culinária? –Perguntou Helena.

–Quando ele tiver dinheiro que banque isso. –Clara deixou escapar. Helena fuzilou-a com o olhar, reprimindo as últimas palavras da irmã. O olhar de Cadu se desviou de todos presentes na mesa, e ele bateu nela com toda a força possível.

–Talvez, se alguém além de mim trabalhasse por aqui, eu pudesse pagar. –Disse ele, se retirando da sala.

Clara se sentiu culpada, não era assim que as coisas funcionavam. Mas Cadu tinha todo o direito de fazer piadas com Clara, com o relacionamento de Clara com Marina e ela não podia dizer nada. Cadu sempre fora sentimental, e Clara sabia bem disso. Uma característica difícil de se encontrar em homens. Com o olhar de reprovação de Helena, ela se levantou da mesa e foi atrás de Cadu. Virgílio olhou para Ivan, que nem moveu os lábios quando os pais se retiraram.
Ela saiu do apartamento de Helena, e o encontrou ainda no elevador.

–Ei. –Disse ela, num tom quase sem som algum. –Desculpa. Eu não queria te ofender nem nada do tipo. –De cabeça baixa, ela observou os próprios pés enquanto eles balançavam sozinhos. Não gostava de se desculpar quando sabia que não havia feito nada de errado.

–Tá tudo bem. Eu tô um pouco estressado também. Não foi nada. –Respondeu Cadu, entrando no elevador. Clara entrou junto com ele, sabendo que Helena a mataria se ela não fizesse tudo do jeito certo.

–Vamos lá pra cima, eu não queria estragar o clima bom.

–Porque não vai jantar na Marina? Aposto que lá o clima é bom e a comida ainda melhor. –Debochou ele.

–O que você quer dizer com isso, Cadu? –As portas do elevador se abriram, e os dois saíram com os pés quentes de dentro dele. –Cadu! –Ela falou alto, tentando chamar a atenção do marido que não parava de andar em direção á portaria do prédio.

–Qual é a sua, Clara? Qual é a sua? –Ele esbravejou, e Clara viu as veias de seu pescoço saltarem, como se estivessem em 3D. –Eu não aguento mais isso. Eu não posso nem te tocar. Você tá sempre calada. O que foi? Tá sentindo falta da sua amantezinha? Aposto que tá assim porque ela não fala com você há dias. Qual é a dela, também? O que ela quer com você, Clara? Será que ela não percebeu que você é uma mulher casada e que não faz boquinha em gente que joga naquele time?

O rosto de Clara se ruborizou. Dessa vez, não de vergonha e sim de raiva. Seus olhos quase saltaram de sua pálpebra e a primeira reação dela foi espalmar os dedos finos no rosto do marido. Se ela havia lhe insultado com a brincadeira do dinheiro, ela nem sabia o nome do que ele acabara de fazer. Todos na recepção do prédio olhavam para ela. A vergonha de estar ali subiu á cabeça de Clara e uma lágrima calada escorreu pelo rosto da dona de casa. Cadu percebeu, mas não se abalou. Com a mão no rosto ainda marcado, ele deu as costas para Clara e saiu do prédio.


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