As Long As You're There escrita por iheartkatyp


Capítulo 12
A family is what you make it.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, e agradeço á quem me cobrou capítulos mesmo quando eu estive fora. Isso mostra o quanto vocês se envolveram com a história, e gosto de ver esse entrosamento. Tá aí, mais um capítulo. Espero que gostem, beijinhos.



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Clara entrou no estúdio respirando fundo, como se estivesse preparando-se para algo. Havia deixado Ivan no colégio há poucos minutos, e ido voando para lá. Era um grande dia. Vanessa a observou de soslaio. Ainda a odiava. Toda essa história ainda não havia sido digerida por ela. Ela fazia de tudo para provoca-la, tirá-la do sério e assim fazer com que Marina perceba que elas nunca irão se dar bem. Ela fez uma cara de deboche, sem o mínimo medo de que Clara percebesse.

–Nem o seu mau-humor vai me irritar hoje, Vanessa. Desencana. –Ela disse, deixando a ruiva para trás com cara de poucos amigos. –Cadê a Marina? –Clara perguntou á Flavinha.

–Ela ainda não saiu do quarto, Clara. Quer que eu chame? Acho que ela não está se sentindo muito bem.

–Tudo bem, eu sei o caminho. –Ela disse simplesmente, subindo as escadas. Suas pernas tremiam.

Marina deu um sorriso imenso quando viu a figura extremamente familiar parada á porta de seu quarto.

–Clarinha! –Ela exclamou, dando dois tapas no colchão vazio ao seu lado. As roupas de cama estavam totalmente reviradas, e Marina quase se perdia no meio delas. Clara sentou-se ao seu lado e a observou de canto de olho. Marina estranhou a quietude de Clara, mas resolveu esperar o que viria quando um sorriso doce lhe iluminou o rosto. Marina apenas a observou, como se contemplasse cada músculo que se mexia para aquele lindo sorriso aparecer. Com a continuidade do silêncio desconfortável, Marina se pronunciou. –O que houve, Clarinha? Aconteceu alguma coisa? Tá tudo bem?

Clara riu. Riu da cara dela, o que a fez rir também.

–Tenho que te contar uma coisa. –Disse, com os olhos transbordando o brilho que Marina sempre percebeu neles. –Eu vou me separar. Eu... Eu pedi o divórcio.

Os olhos de Marina lhe entregaram, mas da sua boca não saiu uma sequer palavra. A felicidade imensa que lhe invadiu não tinha como ser contemplada, contada, dita. Ela sorriu, o sorriso mais puro que Clara já havia visto em seu rosto.

“I used to believe that a family
Was a mom, and a dad, and 2.3 kids,
and a great big station wagon or a mini van
And a house and a dog and a cat.

–Isso é sério? Você não tá brincando comigo, né Clarinha? Ah não, eu tô sonhando, não tô? –Clara achou graça. Deu um beliscão de leve no braço de Marina, e a mesma se jogou em seus braços. Sentindo o cheiro bom que seus fios de cabelo exalavam enquanto as duas se abraçavam, Clara sussurrou em seu ouvido:

–Eu juro que é verdade. Você não tá sonhando não, meu amor. Eu tô aqui, eu sou sua e agora mais do que nunca. Eu sou toda sua. Sem mais fingimento, sem mais dizer que não sei do que eu tô falando, ou o que tô sentindo. Eu quero gritar pra todo mundo o quanto eu te amo, eu quero dizer pra todos a mulher maravilhosa que eu tenho e o que significa quando nós duas nos olhamos daquele jeito que deixa qualquer um maravilhado.

A lágrima quente escorreu pelos olhos de Marina sem que ela conseguisse dizer nada.

–Eu te amo, Clarinha, eu te amo muito. Eu te amo demais. –Ela apertou Clara em seu abraço, enquanto se aconchegava em seus cabelos, mais macios que o normal. Marina suspirou, enxugando o próprio choro e Clara achou graça quando percebeu o efeito que tinha na fotógrafa que sempre parecia criar um muro em volta de si mesma. –Mas me diz. Como foi? Ele... O Cadu reagiu bem? –Perguntou, enquanto segurava as mãos de Clara.

–Foi ruim. Ele chorou, me ameaçou... Disse que se eu cometesse a loucura que estava pensando, eu iria arcar com as consequências que ele próprio criaria. Ele vai pedir a guarda do Ivan. –Disse, o brilho alegre de seus olhos se perdendo lentamente em suas palavras.

–Mas ele não pode fazer isso, Clara! Não é justo. Meu Deus... –Passou a mão pelos próprios cabelos, levantando-se da cama. –Temos uma condição melhor de cuidar dele, quero dizer, você tem. O Cadu começou o bistrô agora, e ele não vai conseguir se livrar das cargas horárias pesadas tão cedo. Eu... Eu não vou deixar que ele tire o Ivan de você, Clarinha. Não vou. Vamos contratar um advogado, o melhor de todos.

Abismada com a adoração de Marina pelo filho, Clara sorriu. Sabia que no final das contas tudo acabaria dando certo. Tinha certeza também que a reação de Ivan em relação ao novo relacionamento da mãe seria uma das melhores. Sabia que, no fundo, o filho escolheria ela. Isso se o coitado tivesse uma escolha decisiva nisso tudo. Mas sabia que as coisas se ajeitariam. Mas não permitiria, de jeito nenhum, que Cadu ficasse sozinho com o filho enquanto a entrada nos papéis judiciais não fosse dada. Não queria que o ex-marido fizesse a cabeça do menino contra as duas. Contra ela e contra Marina.

–Vai ficar tudo bem, meu amor. –Ela abraçou Clara, que se aliviou um pouco com a notícia de que teria Marina ao seu lado.

–Vou buscar o Ivan na escola hoje, prometi que ia passar o dia com ele... E ele se animou de vir pra cá. Se não tiver problema pra você, é claro. É que as coisas foram tão rápidas que eu não tive tempo de ligar e... –Quando ia continuar, Marina se pronunciou.

–Sh. É claro que não tem problema pra mim, pode trazê-lo sempre que puder, sempre que ele quiser. Vou pedir para limparem a piscina, já que temos esse sol maravilhoso hoje! –Ela sorriu, olhando para a janela com as cortinas escancaradas.

–Preciso te perguntar uma coisa. –Marina a observou, como se esperasse que ela continuasse. –Já que isso tudo tá acontecendo nós vamos ficar... Juntas? De verdade? –Marina sorriu.

–Com certeza. Eu tô aqui, meu amor. Eu sou toda sua.

Clara aliviou as sobrancelhas confusas, e sorriu. Era dela também. E Marina sabia disso. O beijo que as duas trocaram fora tão leve quanto todas as palavras pronunciadas anteriormente. Marina sorriu em meio ao beijo. “Finalmente”, as duas pensaram.

“But now that I've seen lots of families,
I know it's not always like that.”

...

Clara foi buscar Ivan no colégio, e Marina terminava de organizar as fotos do último ensaio que fez. Observou as mulheres contidas nas fotos, os seios á mostra como se fossem uma porta para a alma de cada uma delas. Ouviu um barulho estridente vindo do portão da mansão, e foi até a porta preta ver o que aconteceu. Assustada, Marina arregalou os olhos quando Cadu entrou feito um furacão no estúdio.

–Cadu... –Ela disse, mas ele não deu espaço para que ela continuasse.

–Cala a boca. –Disse, grosso. –Cadê a Clara?

–Ela não...

–Eu já disse pra calar a boca. Ela não tá aqui mas estava, não estava? Eu quero ter um papo sério com você. Sem frescura. –Ele disse, aproximando dela agressivamente. Marina deu um passo para trás. –Seu leão de chácara vai ficar me olhando? –Perguntou, referindo-se á Vanessa que, parada na porta, observava a conversa sem rumo dos dois sem dizer nada.

–Van, chama as meninas. Deixa eu conversar com o Cadu á sós.

–Qualquer coisa, me chama. –Ela pronunciou sem som, antes de sair de lá.

–Quero saber o que você fez pra enfeitiçar a Clara desse jeito. Ela com certeza só tá de olho no seu dinheiro. Você ofereceu quanto pra ela mudar de lado? Disse que ia viajar com ela por aí? Dar tudo do bom e do melhor? Porque eu conheço minha mulher, e ela não é desse seu tipinho. Ela NÃO é sapatão. Ela é diferente de você, e eu espero que ela perceba isso um dia.

–Grosso. Machista. –Pronunciou, pausadamente. –É isso que você é. Se fosse conhecesse a Clara de verdade saberia que nada disso interessou ela. Eu NUNCA ofereci nada disso tudo pra ela. Eu só ofereci amor. Eu ofereci uma família. Um amor inesperado que nenhuma das duas esperava, Cadu. Amor. –Ela repetiu, pausando a cada letra que se distanciava de seus lábios. –Você não entende, eu sei. Mas isso tudo não é uma decisão. Se ela escolhesse continuar casada, e não quisesse mais me ver, ela teria que viver com isso pelo resto da vida dela, Cadu. E isso seria justo? Seria justo fazer com que ela se deite com alguém que nem ao menos lhe provoca desejo? É justo com ela, Cadu?

–Não é possível. Você só pode estar de brincadeira. Isso tudo é uma safadeza. Uma grande safadeza. Eu não vou deixar que você encoste um dedo sequer no meu filho. Ele vai ficar bem longe de você e de toda essa safadeza de vocês duas. Ouviu, você tá proibida de tocar nele, sua sapatão imunda. –Pronunciou, com a voz elevada. Marina viu as pernas fraquejarem. O coração disparou, e seus olhos ameaçaram deixar cair lágrimas indesejadas.

–Eu nunca te desejei mal, Cadu. –Disse, quase num sussurro. –Eu espero, de verdade, que você encontre alguém que te entenda, não importa o quão machista e preconceituoso você seja. Espero que construa uma família nova, onde possa se confortar. Mas eu não sei se desejo de coração que você ganhe essa briga da guarda do Ivan. Quer saber porquê? –Ela disse, as lágrimas correndo por seu rosto deixavam a voz dela trêmula. –Porque morar com duas mães vai fazê-lo entender o que o mundo de hoje em dia traz consigo. Vai fazê-lo entender que é possível sim que duas mulheres se amem, se gostem, tanto espiritual quando carnalmente. Ele vai ser um menino ótimo. Um bom pai de família, um garoto educado. E certamente irá entender que não há nada de errado no amor, independentemente de sua forma. E eu espero que ele lhe ensine isso, Cadu. Espero que com o crescimento do seu filho nessa nova geração onde ele terá amigos que terão a mesma opção sexual que eu, você entenda que isso tudo é mais que normal. Que ninguém é o monstro que você diz. Eu não tenho culpa do fim do seu casamento. Você deveria ter cuidado melhor dele antes mesmo de eu aparecer. Deveria ter lhe dado uma nova chance, apimentado as coisas. Eu não sei, fizesse qualquer coisa. Mas não me culpe desse jeito. –Ela disse. Agora, sua voz estava mais firme. A cada palavra que Marina pronunciava, Cadu parecia rosnar. Exatamente, rosnar. Como um cachorro com raiva. Ele suspirou fundo.

“Because a family is what you make it.
It's you and your loved ones, whoever they are.
You've got to give and take it.
With understanding and love, your family's gonna go far.”

–Ela me traiu esse tempo todo com você, não é? Eu tenho certeza que sim.

–Presta atenção, Cadu! É claro que não! –Ela berrou, o tom de voz o deixando cada vez mais irritado.

–Cala essa boca! Eu sei que sim! Ela deve ter dormido aqui várias vezes, te visitado de madrugada.

–Eu tenho nojo dessa sua nova face que eu venho descobrindo ultimamente. –Pronunciou. –Eu vou ficar com a Clara, sim! Safadeza na sua visão, amor na minha. Eu não me importo, quer saber? Eu vou me casar com ela. Ah, vou. Vou pedi-la em casamento assim que o divórcio de vocês agilizar. Vou dar á ela uma linda família, quem sabe não temos outros filhos e assim o Ivan vai adorar ficar aqui com os irmãos dele. –Aquele era o cúmulo. Vê-la jurando amores e fazendo promessas com o futuro de Clara lhe deixou transtornado. Sem pensar, Cadu espalmou a cara de Marina. Seu rosto branco se virou para o outro lado de maneira brusca, e ela pôs a mão sobre o local que continuava quente. A marca dos dedos dele permaneciam em sua pele. Sem jeito e sem saber como se desculpar, ele tentou pronunciar palavras que Marina nem fez questão de tentar decifrar. Sem dizer mais nada e completamente desnorteado, ele saiu do estúdio.

Clara deu de cara com Cadu completamente tonto no portão da casa de Marina. Ele nem ao menos lhe disse algo, e passou despercebido ao seu lado. Clara ordenou que Ivan ficasse com Vanessa, fazendo com que Cadu nem ao menos percebesse que o filho estava ali. Assustado, Ivan obedeceu. Clara entrou correndo no estúdio. No chão, Marina agarrava as próprias pernas. Sem rumo, ela se sentou ao lado dela. Assustou-se com a gigantesca marca vermelha no rosto de Marina, e seus lábios formaram um belo ponto de interrogação em seu rosto. Estava chocada. Nunca pensou que Cadu seria capaz de algo tão drástico.

–Meu Deus, Marina. O que é isso? –Perguntou, fazendo com que Marina tirasse as mãos da frente da vermelhidão. –Marina, ele te bateu. O Cadu tá louco, meu deus. Marina, o que ele fez? Ele te machucou mais? Meu Deus, me desculpa, Marina. Isso tudo é culpa minha. É tudo culpa minha.

–Ele não me machucou, já passou. Só tá... Ardendo um pouco. Tá tudo bem, meu amor. A culpa não é sua. Ele tá transtornado, tá chateado, se sentindo traído. Essa tempestade vai passar, Clarinha. Vai passar.

–Deixa eu ver seu rosto. –Ela pediu, segurando o queixo de Marina e fazendo com que ela se virasse na direção da luz. –Aquele monstro. O Ivan tá aqui. –Marina deu um pulo.

–Ele não pode me ver assim. Faz o seguinte, Clarinha, leva ele lá pra fora, coloca uma sunga nele e deixa ele ir pra piscina. Ela já tá limpa. Eu vou tomar um banho e já desço.

Marina nem ao menos deu tempo para que Clara lhe respondesse, e saiu correndo para o banheiro. Clara falou com Ivan, que estava no quintal com Vanessa.

–Não sou babá de criança. –Disse Vanessa, com cara de deboche e um sorriso falso.

–Pode deixar, nem nunca vai ser. –Respondeu, antes de chamar o filho.

I used to believe I was normal
Now I don’t know what that means.
‘Cause if your family keeps you cozy and warm all right
and fits you like a pair of your favorite jeans”

...

Ivan já pulava na piscina pela vigésima vez. Clara já havia o avisado para não pular na parte rasa, mas ele nunca a ouvia. Observou orgulhosa enquanto o filho nadava como se fosse um profissional. Ela já havia esquecido de todo o acontecimento antecedente quando Marina apareceu. O biquíni preto coberto pela saída de praia transparente realçava totalmente seu corpo magro e elegante. Clara sorriu maliciosa e Ivan quase gritou quando viu a fotógrafa se aproximar.

–Marina! –Ele saiu correndo da piscina, e abraçou Marina. Nenhum dos dois se importou por ele tê-la dado um banho. Marina sorriu contente. –Tava com saudades.

Aquela era sua família agora.

That’s what’s important. That makes it right,
Snug as a bug on a cold winter’s night.
Someone to love you and someone to fight
for your right to be just who you are.”

Abraçou Ivan de volta, e sorriu abobada quando viu Clara observar a cena com os olhos transbordando felicidade.

–Meus Deus, Ivan, olha só como você cresceu! Vai ficar mais alto que eu daqui a pouco, menino! –Disse, enquanto acariciava os cabelos loiros do menino. –Que tal a gente jogar sua mãe na piscina? –Perguntou, ao pé do ouvido do menino.

–Boa ideia. –Ele riu. Os dois correram na direção de Clara, e pegaram a dona de casa totalmente desprevenida. Quando o corpo de Clara tocou a água gelada, ela se assustou. Estava de roupas!

–Ai, seus doidos! Totalmente doidos! –Ela gritou. –Olha só, tô toda molhada! Bobões! –Marina riu junto á Ivan, e os dois pularam de mãos dadas na água. –Vou acabar ficando com ciúmes de vocês dois aí, nesse complô contra mim! Não vale, é dois contra um! –Ela deu risada.

“DNA doesn’t make a Family. Love does.”


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