As Long As You're There escrita por iheartkatyp


Capítulo 11
I never thought that it'd be easy.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/481337/chapter/11

Uma noite fora de casa, um tapa no meio do rosto, e uma ameaça: o casamento de Clara e Cadu estava certamente descendo pelo ralo. Ela não se sentia culpada, pelo menos não mais. Sabia que todas as decisões que havia tomado nos últimos meses tinham sido certas, pois ela estava se preocupando com uma coisa que nunca havia se preocupado antes: ela mesma. Não tinha mais medo, por mais que todas as coisas ruins estivessem como uma carga amarrada ás costas dela. Não havia porque ter medo. Sabia que estava dando um passo para a felicidade, mas receava tropeçar no meio do caminho.

–Não dormiu em casa, não falou mais comigo... Posso saber o que está acontecendo? Debaixo do meu nariz, assim... Como se eu aprovasse essa loucura toda. –Disse Cadu, tentando manter a calma que lhe restava. Ele estava sentado no sofá da sala quando Clara entrou de fininho, no meio da madrugada.

–Quem você acha que é para tratar qualquer um daquele jeito? Quem você acha que é para tratar A MARINA daquele jeito? –Perguntou, possessa pela raiva da atitude do marido.

–Seu marido. Sou seu marido, Clara, caso não se lembre disso.

–Meu marido ou não, aquilo foi grosseria. Grosseria total. Eu fiquei com vergonha, com nojo...

–Só quis saber o que aquela mulher tava fazendo lá, na reunião de pais e professores do MEU filho. Ou será que já perdi o posto de pai?

–Aquela mulher. –Clara repetiu, fechando os olhos. –Aquela mulher tem nome. É Marina. Minha amiga, minha melhor amiga. Ou melhor dizendo, minha única amiga. Você não tinha o direito de tratar ela daquele jeito. Ela me deu uma carona. Foi só isso. –Ela riu. –Ah, meu Deus. Como se eu te devesse alguma explicação.

–Quero deixar claro que se você ousar cometer as loucuras que vêm lhe rodando a cabeça nos últimos meses, eu vou lutar pelo meu filho. –Ele se levantou, encostando-se ao balcão da cozinha. –Vou querer a guarda do Ivan.

–Não ouse tocar no nome do meu filho. Nenhum passo, nada que eu fizer para a minha felicidade vai afetar o Ivan. Nunca. Posso ser ex-mulher, não me importo. Não tenho medo. Mas ex-mãe, nunca. Nunca. –Disse, quase avançando para cima dele. O dedo apontado para o rosto de Cadu o deixou irritado.

–Você acha que é fácil cuidar de uma criança sozinho quando se tem uma doença desse jeito? –Clara achou graça, dando um riso irônico.

–Sozinho? Quem é que sustentou isso aqui tudo quando você não tinha nem um tustão no bolso, Cadu? Quem passou semanas estudando com o Ivan pra ele se dar bem nas matérias que tinha dúvida? Quem que tá aqui todos os dias preocupada com você e com ele e querendo cuidar de você? Quem é que vai conversar com aquela médica toda semana pra saber como andam as coisas? Nunca, nunca me desmereça desse jeito. Se as coisas estão desandando agora, a culpa não é só minha. Se eu tô te escapando, pode apostar meu amigo: foi porque você deixou. Até no meu trabalho me flexionei para cuidar de você, da família. Se fosse tudo que você diz, eu teria largado tudo, jogado tudo pro alto. Oportunidade não é o que me falta. Me respeita, cara! Não perde a cabeça desse jeito porque você é um machista que não aceita tudo que tá acontecendo. Não se faça de idiota também, você não é tão burro, Cadu. Quer a guarda do Ivan? Quer traumatizar a criança como uma briga judicial porque não aceita perder? Então, Carlos Eduardo, pode agilizando seus documentos. –Os olhos de Clara marejavam e tinham um brilho triste.

Calado, ele se sentou novamente. O cansaço não estava lá, mas o coração sim. A tristeza lhe invadiu de tal forma como nunca antes. Ele não era o marido perfeito, nunca havia sido. Mas de uma coisa tinha certeza: sempre tentou melhorar. Era um garotão, um moleque. Lidava com as despesas de casa como uma criança que cata moedas para comprar uma bala. Não tinha maturidade o suficiente para entender que as coisas andavam.

–Me casei com você pra ser feliz. Não quero, não aceito e não vou ser infeliz. Se for para ser assim, que assim seja. –Terminou ela, saindo da sala.

Ele não disse nada. Não havia dito tudo aquilo de propósito, não havia feito aquilo para deixa-la chateada ou até mesmo para atingir Marina. Sentia-se ameaçado, e que homem gosta de sentir-se ameaçado? Agora, aguentava as consequências das próprias palavras. Talvez as coisas tivessem sido diferentes se ele simplesmente agisse como sempre, mas não! Não aguentava mais ter todos os olhares de Clara voltados para Marina. Não aguentava mais se passar pelo idiota que impedia as duas de ficarem juntas. Perdendo a pose de macho que o levou a tomar todas as atitudes erradas, ele chorou. Chorou como nunca antes.

Clara entrou no próprio quarto sem se sentir confortável. Não sabia se suspirava de alívio, ou se deixava as lágrimas caírem. Mas de uma coisa tinha certeza: Marina era o ponto final de suas sentenças inacabadas. Ela era a solução de todos os problemas. Ela não ousou se sentar na cama, ao invés disso, foi para o quarto de Ivan. A única coisa que ainda a dividia em toda aquela história era o filho. Tão doce, tão inteligente, tão pequenino. Os braços do menino se agarravam forte ao cobertor azul que lhe cobria o corpo, e Clara escorregou para debaixo dos lençóis, abraçando o filho. Sabia que as coisas se acertariam de alguma maneira, mas nunca aceitaria perder o filho. Abraçou Ivan, segurando as mãos pequeninas do filho, que estavam geladas. Ela tirou alguns dos brinquedos de pelúcia que ficam na cama dele, para que coubesse de corpo todo ali em cima. Ivan abriu os olhos, e sorriu quando viu a mãe o abraçar, devolvendo o abraço.

–Te amo, meu bichinho. Mamãe te ama. Mamãe te ama muito. –Sussurrou.

–Eu também te amo, mãe. –Respondeu a voz familiar, antes de se aconchegar mais nos braços da mãe. Em pouco tempo, os dois haviam fechado os olhos. Clara adormeceu ali mesmo.

Ivan era a única coisa que ainda lhe pertencia naquela casa.

Cadu se levantou, perguntando a si mesmo como seria dormir ao lado de Clara sem, pela primeira vez, ganhar um beijo de boa noite. Desligou todas as luzes da sala, inclusive os abajures, deixando o breu tomar conta do cômodo. Ao passar pelo quarto de Ivan, percebeu a porta entreaberta. Espiou de canto de olho, e foi até lá. Viu Clara e Ivan abraçados como costumavam fazer nos domingos. A única diferença era que ele não estava ali também, não estava fazendo cócegas no filho enquanto Clara ria de um jeito angelical. A risada que o fez se apaixonar por ela. O jeito simples de sempre descomplicar as coisas mais complicadas. O sorriso encantador. O jeito que ela dormia. Tudo nela o encantava, mesmo depois de dez anos. Com os olhos cansados e vermelhos, ele pareceu se lembrar de todos os momentos que viveu com a esposa. Não fazia a mínima ideia de como havia deixado as coisas chegarem á aquele ponto. Cadu certamente não era mau. Não tinha intenção de tirar Ivan de Clara, e muito menos de ameaça-la com algo tão baixo. Só não conseguia imaginar a vida sem tê-la ao seu lado. Mesmo não entendendo, ele tentou aceitar. Estava acabado.

...

–Mãe, vamos, mãe... A gente tá atrasado, você tem que trabalhar. –Clara sentiu Ivan balança-la de um lado para o outro. Esfregou os olhos até conseguir abri-los normalmente, e encheu o filho de beijos.

–Bom dia, filhote. Ah, meu deus, eu dormi aqui? Nem percebi, peguei no sono...

–Dormiu sim, veio pra cá tarde.

–Tive que terminar umas coisas no trabalho, e acabei ficando até tarde. Desculpa a mamãe por esses últimos dias, viu filho? Não tenho ficado tanto com você como antes, mas hoje é nosso dia. Vou te pegar no colégio, e vou te levar pra conhecer o meu trabalho.

–Com a Marina? –Perguntou.

–Isso, com a Marina. Você vai gostar, e pode até ir pra piscina lá, tem uma piscina grandona, assim ó. –Fez um gesto com as mãos.

–Oba! –Entusiasmou-se.

–Vem cá, conversei com a sua professora lá na reunião. Soube que suas notas estão muito boas. Esse é o meu bichinho. –Os dois bateram as mãos, como se estivessem se cumprimentando.

Ivan escovou os dentes, e os dois já estavam prontos para sair quando ele decidiu perguntar o que lhe estava engasgado. Podia ser uma criança, mas havia entendido desde o início o que estava acontecendo.

–Mãe. –Ele disse.

–Oi filho.

–O que houve? Com você e o papai? Por que você não dormiu na sua cama com ele ontem? –Clara ficou apreensiva, sabia que mais cedo ou mais tarde o filho entenderia, e saberia da separação dos dois.

–Senta aqui, filhão. –Ela deu dois tapas no pedaço de sofá ao seu lado, e segurou as mãos do filho. –A mamãe e o papai têm passado por umas coisas bem complicadas. Muito complicadas, você não entenderia. A gente tá brigando sempre, e não é bom continuar com alguém que não nos entende mais, não é mesmo? –O menino assentiu. –Isso acontece com muitos papais e mamães, as pessoas mudam. Mudam de ideia, de foco, de tudo. Você já é grandinho pra entender certas coisas.

–Eu entendo. Muitos amigos meus tem pai e mãe separados, e isso não muda nada. É ainda melhor, porque eles têm duas casas, duas mães, dois pais, tudo em dobro. –Ele sorriu. –Eu entendo.

–Esse é o meu garotão. –Ela passou a mão pelos cabelos do filho, bagunçando os fios finos e loiros. –Ai, meu deus. Vamos, filho. A gente tá super atrasado.

Ivan correu para apertar o botão do elevador, como sempre fazia. Clara fechou a porta de casa desejando não ter que abri-la mais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Long As You're There" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.