City of run away from school escrita por Liesel Odair


Capítulo 2
Entregue pizza como uma diva


Notas iniciais do capítulo

Vim mais rápido do que esperava.



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P.O.V Clary

Na saída da escola, deparei-me com um banco ao lado de um canteiro florido. Um gato roncava apoiado na cerca do canteiro e eu tentei silenciosamente sentar no banco sem acordar o felino. Não estava com paciência para aturar o bichano, que não tinha feição nem um pouco amigável.

Olhei ao redor, pensando em algo para pensar, já que o dia estava entediante. Até o sol parecia estar com tédio, já que não mostrava a cara e me forçou a usar duas blusas debaixo de um casaco de veludo. O gato provavelmente devia ter me escutado bater os queixos e a tremedeira na minha perna, já que abriu os olhos e espreitou em minha direção.

Murmurei mais palavrões do que sou capaz de lembrar.

— Oi, gatinho. – falei engolindo em seco, esperando o animal se levantar e me atacar. Mas ele permaneceu no canteiro com os olhos fixos em mim. – Se importa de virar a cara para lá? Gostaria de privacidade enquanto não faço nada.

O gato não respondeu.

Levei isso como um sinal de “vá embora antes que eu libere minhas garras”. Então levantei e disse para mim mesma não correr. Quando já estava em uma distância razoável do campo de visão felina, eu corri. Mas corri tanto que só de lembrar minhas pernas voltam a doer.

Já estava dentro do Instituto quando me dei conta, cuspindo palavras com Isabelle, que tinha uma expressão confusa no rosto.

— Clary, você usou drogas? – Izzy perguntou.

— Gato... Maligno... Correr... Escola...

— Essas palavras não fazem nenhum sentido. – ela exclamou. – É algum tipo de mímica? Não estou com paciência para brincar de mímica. Vá procurar alguma criança na rua.

Izzy já ia se encaminhando para o seu quarto, carregando seu chicote na mão.

— Espera. – gritei, recuperando o fôlego. – Eu matriculei você em uma escola agora há pouco, e na saída deparei com um monstro maligno também conhecido como gato e eu não vou conseguir andar por três dias porque é uma caminhada de tipo duas horas da escola até o...

Não consegui completar a frase, e Izzy nunca saberia o lugar. Chora, Izzy.

— Você o que? – Izzy parecia completamente chocada. – Matriculou quem em uma escola?

Tomei consciência de que Jace não havia contado a novidade.

— Jace! – comecei a gritar, esperando que ele estivesse no Instituto e que magicamente me escutasse. – Jace, Jace, Jace.

Os cabelos loiros de Jace chegaram primeiro do que o corpo. Parecia que ele tinha acabado de sair de um comercial de xampu quando apareceu.

— Clary. – ele disse no mesmo tom de voz em que eu o chamei. Alto e agudo. – Para que me perturba?

— Você ainda não contou a eles?

Jace franziu o cenho. Mas que cínico!

— Não contei o que, exatamente?

— Escola. – falei as sílabas pausadamente.

Jace arregalou os olhos.

— Ah! Isso. Eu ia contar agora mesmo. Só estava esperando Alec. – Jace pareceu estranhamente convincente. – Alec!

Alec apareceu alguns segundos depois, e eu desconfiei que os Shadowhunters não fizessem nada o dia inteiro. Além de obviamente hidratar o cabelo, pintar as unhas e falar no telefone com o namorado feiticeiro. Eu era esquisita ao lado dos outros da minha espécie.

— O que a Clary faz aqui? – Alec estava com o celular no ouvido enquanto olhava para mim, confuso. – Veio para almoçar? Olha, hoje a responsável pela comida é a Isabelle, portanto acho melhor você correr o mais rápido que puder.

Isabelle lançou um olhar assassino para o irmão, e eu quase não consegui segurar a risada.

— Lembra-se da nossa conversa pela manhã, Alec? – Alec assentiu ao mesmo tempo em que cochichava algo que não fui capaz de entender no telefone. Pelo jeito, não estava tão interessado assim no rumo que a conversa no Instituto estava tomando. – Então, já nos matriculei em uma escola. Não é tão perto daqui, mas podemos ir de metrô ou até podemos ir a pé, se preferirem ficar em coma.

— Você o que? – Alec deixou o celular cair.

— Tá, gente, isso já tá ficando chato e repetitivo. Vou comprar um dicionário para os Lightwood.

— Clary, eu tinha dito que não!

Bufei.

— O Jace vai, portanto vocês também vão. Ponto final.

— E por que iríamos se o Jace fosse? – Izzy perguntou, com a voz carregada de tédio. Até a voz da Isabelle estava entediada. O mundo estava entediado. – Se por acaso o Jace tentasse se matar, o que também por acaso é muito comum, você acha que nós nos mataríamos por isso? Por favor.

Lancei um olhar acusatório para Jace. Dois meses de xampus de hidratação, meu olhar transmitia. Ou eu esperava que ele transmitisse isso.

— Eu troco meu toque de celular. – Jace prometeu. Pelo Anjo, aquele pessoal só funcionava a base de acordo?

Alec e Izzy se entreolharam.

— Nós escolhemos o novo toque? – Izzy perguntou, um pouco desconfiada.

— Feito. – Jace concordou. Depois lançou um olhar para mim que dizia você me deve uma. Ou queria dizer que seu olho estava com remela.

— Quando começamos? – perguntou Alec, nem um pouco feliz, mas com a voz triunfante.

Tirei meu celular do bolso e liguei o Wi-Fi, cantando aleluia mentalmente por Alec ter escolhido a senha do roteador do Instituto: malec1234. Eu shippava, portanto foi a primeira senha que me passou pela cabeça. Eu estava quase indo para a loteria mais próxima. Vai que a sorte estivesse ao meu favor?

Comecei a digitar.

Shadowhunters e lobisomens ahazam... e Simon.

Izzy Lightwood, Jace Herondale, Maia Roberts, Alec Lightwood, Jordan Kyle, Simon Lewis, Você

Clary: REUNIAO DAQUI A 10 MINUTOS NA CASA DO JORDAN. URGENTE!!!!!

Clary Fray visto hoje às 13:23

Uma sinfonia de toques de celular varreu a sala. Todos passaram os olhos dos aparelhos para mim, e eu saí andando em direção à porta.

— Começamos amanhã.

Dei uma última olhada por cima do ombro. Foi minha primeira saída dramática e eu estava muito orgulhosa do resultado. Todos olhavam para mim furiosos. Amo os meus fãs.

P.O.V. Jordan

Estava comendo um Big Mac quando Simon apareceu de repente na cozinha.

— QUE SUSTO DO CAPETA, SEU DESGRAÇADO. QUAL É A NECESSIDADE DISSO? – perguntei. Calmamente, como podem ver.

Simon tirou o Big Mac da minha mão e jogou no lixo.

— Reunião importante do SelaeS.

— Que?

— Do Shadowhunters e lobisomens ahazam... e Simon, o brilho – respondeu, ele impaciente acrescentando um comentário completamente desnecessário e imaginário. O brilho, ai que hilário.

Eu estava quase pegando o hambúrguer da lixeira novamente, mas achei melhor dar atenção.

— Ah, eu não vi meu Whats hoje. – menti. Eles eram tão chatos que eu decidia não abrir as mensagens.

— Enfim, a Clary convocou todo mundo.

— Aonde?

Simon não precisou responder quando a campainha tocou. Consecutivamente. Eu já estava cansado de ouvir ding dong quando abri a porta.

— Vou deixar bem claro que eu não sou surdo.

Clary, Isabelle, Alec e Jace entraram no meu apartamento sem me cumprimentar, o que era absolutamente normal.

— Gostaria de saber quem permitiu a reunião na minha casa. – exigi.

Clary, sentada na minha poltrona, olhou para mim com um sorriso amigável.

— É uma reunião muito importante, Jordan, tive que fazer às pressas e aqui, bem, facilita a vida de todo mundo.

— Por que não no Instituto?

Ela olhou para mim como se eu fosse retardado mental.

— Porque aqui é infinitamente mais privado. E, além disso, o delivery chega muito mais rápido. Estou faminta.

Eu revirei os olhos, desistindo de qualquer reclamação. Eles já estavam ali, e a reunião aconteceria querendo ou não. Sentei no tapete e Simon saiu da cozinha, olhando para os quatro na sala com estranheza.

— Certo. – Simon sentou-se no braço do sofá que era o único espaço vazio. Bem ao lado de Alec, que o olhou com nojo. – Quem morreu? Desembuchem logo.

— Quem me dera se alguém tivesse morrido. – murmurou Isabelle de mau humor. – Eu sou capaz de comer o fígado de algum de vocês, se não forem rápidos com essa reunião.

Clary pareceu afetada.

— Não me importo com o incômodo de vocês. – ela falou antes de dar uma olhada ao redor. – Está faltando alguém. Somos sete.

— Eu disse que alguém morreu! – berrou Simon alto o suficiente para um morto escutar.

Eu levantei-me e decidi ligar para uma pizzaria, cansado de tanto enrolarem e com raiva por ter um Big Mac jogado no lixo.

Vinte minutos depois de eu ter pedido uma pizza de mussarela – já que não entrávamos em um acordo com um sabor – e muita briga tentando lembrar quem faltava, a campainha tocou novamente. Eu murmurei que isso sim era educação, e não a perturbação que os Shadowhunters fizeram. Já separava o dinheiro para a pizz quando me deparei na porta com Maia.

— Ahhh! – eu exclamei. – A MAIA QUE TAVA FALTANDO, GALERA! – gritei.

Maia olhou para mim curioso, e eu a puxei para dentro, conduzindo para a sala.

— Eu disse, não disse? – Simon falou triunfante.

— Não. – Jace declarou. – Você não disse.

Todos nos encaramos em silêncio, Maia aparentemente chateada com o esquecimento.

— Só consegui ler a mensagem há pouco. – ela explicou. – Que papo é esse de escola?

— Que escola? – perguntei.

Clary soltou um ruído de desapontamento.

— Vocês têm celular para que? Jogar Pou? – Clary revirou os olhos. – Nos. Matriculei. Em. Uma. Escola. Mundana.

— Eu poderia vomitar, se tivesse comida em meu estômago. – Izzy reclamou.

— Um minuto de agradecimento ao estômago vazio de Isabelle, colaborando com um ambiente limpo e agradável para todos. – Simon falou, se arrependendo logo depois. Izzy não era muito de brincar.

Demorei a digerir as palavras. Uma escola mundana. Uma escola mundana! Clary não regulava nem um pouco bem, e eu desconfiava disso mais do que nunca.

— Clary, você nos matricula sem nos consultar? – perguntei, tentando entendê-la.

Jace deu uma gargalhada.

— Desde quando Clary usa nossa opinião para coisas que dizem respeito a nós? – Jace argumentou entre risos, sem um pingo de humor.

— Olha só, meus queridos, eu faço tudo o que for melhor para nós. Já que eu também estou inclusa! – rebateu Clary indignada. – É só por um tempo. Um tipo de férias.

— Eu acho que você esqueceu como funciona um período escolar. – observou Simon. – Me deixe lembrá-la. Temos férias depois de um insuportável ano inteiro estudando. Ou seja, férias é o oposto de aulas. Não tem como usar essas duas palavras em uma mesma frase.

Eu concordava com tudo mentalmente.

— Eu acho que vai ser uma boa ideia. – falou Maia, de repente. – Só por um tempo, umas férias dessas maluquices sobrenaturais.

— Maia, como eu fui capaz de esquecer-me de você? – perguntou Clary, horrorizada consigo mesma. – Você é um gênio. Trocaria qualquer um aqui por duas Maias.

Maia fez uma expressão que significava que não sabia se agradecia ou se ficava ofendida.

— Trocaria você pelo Ele. – ponderou Alec.

— Por quem? – questionou Jace.

— Ele. Nunca viram Meninas Superpoderosas? É o carinha sinistro vermelho.

— Caramba! – berrou Simon. – Eu ia morrer sem saber que o nome do fabuloso capiroto gay era esse.

Todos na sala olharam para Simon. Simon era um menino muito estranho.

— Voltando ao assunto, começaremos a escola amanha. De manhã. Bem cedo. Nada de vagabundagem.

Um ar triste percorreu a sala.

— Que horas? – foi a minha vez de perguntar.

— Quero todos prontos às oito da manhã. – Clary disse satisfeita. – Roupas normais. Normais. Se alguém for de preto, eu juro que mato. Vão pensar que vocês são góticos ou que acabaram de sair de um enterro. As duas opções não são muito legais para começar a se enturmar.

Escutei Jace e Izzy soltarem um risinho. Seriam os primeiros a morrer, com absoluta certeza.

— Terão que se inscrever em atividades eletivas.

— Já não bastam termos aulas normais? – perguntou Izzy, indignada. – Esse troço é obrigatório?

— Sim. Mas é um tipo de aula extra, não reclame. Pode escolher qualquer uma que quiser, até costurar.

Izzy olhou com o nariz torto. Aquilo não havia melhorado nada no ponto de vista dela. Nem no meu, para falar a verdade. Não queria ir à escola nem que me pagassem para isso. Estudar cinco dias por semana? Não, obrigado. Preferia ficar em casa jogando videogame enquanto comia um lanche nada saudável.

— Entendidos? – Clary fez a pergunta final. Ela havia vencido e sabia disso. Droga.

— Tanto faz. – Alec foi o único que se pronunciou.

A campainha tocou.

— Eu atendo. – disse Maia, que estava mais próxima da saída.

O entregador estava na porta, segurando uma caixa de pizza.

— Nossa, mas você é lerdo, hein? – comentou Simon. Maia pegou rapidamente o dinheiro das minhas mãos, entregou ao homem que estava parado e recebeu a pizza.

— Na próxima vez, – respondeu o entregador com ar superior – pare de preguiça e vá buscar você mesmo.

O entregador saiu como uma diva, estalando os dedos ao virar de costas.


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Notas finais do capítulo

Gostaria de comentar que tive que PROCURAR o nome do diabinho das Meninas Superpoderosas. Minha infância foi uma mentira. Eu não fazia ideia do nome dele!

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