Sem um porquê escrita por Tia Cárie


Capítulo 4
Uma penca, só que não de bananas... Ou talvez seja


Notas iniciais do capítulo

Então, desculpem se vocês encontrarem algum erro, minha sobrinha da revisão não teve tempo pra revisar esse capítulo pra tia...
E eu achei que não ia conseguir terminar pra hoje (como devem ter percebido, eu posto todo dia quatro). Ficou enorme!
Whatever, chega de enrolar



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Pouco menos de um mês depois daquela noite, as férias de verão tinham chegado. Miiko e eu havíamos deixado para arrumar as coisas na noite anterior à viagem, diferente da mamãe e da Kaoru, que estavam fazendo as malas ao longo da semana, colocando coisas sempre que lembravam. Miiko não sabia como fazer uma mala. Pegava as roupas das gavetas e simplesmente as jogava dentro da mala. Acabei tendo que arrumar as duas malas que faltavam, as nossas. Depois de colocar as coisas no porta-malas do carro, Miiko e eu tivemos que levar Kim na casa da minha avó, que ficava a umas seis quadras de casa. Não estava tão escuro ainda quando saímos, mas muitas das lâmpadas da rua que já deveriam estar acesas a essa hora, não estavam.

– Está ficando escuro demais... né? – comentei, depois de termos andado umas duas quadras que de cinco postes de luz em cada, apenas dois funcionavam.

Miiko estava com a guia de Kim, então estava na frente.

– Sabia que tinha medo de escuro. – falou, sem olhar para trás.

– Não tenho! – mas ao dizer isso, a luz piscou e eu pulei de susto. Miiko havia parado e estava rindo de mim. Cruzei os braços. – I-Isso não é medo, eu só fiquei surpresa.

– Claro, claro. Acredito. Bem, eu ia pegar a sua mão e te fazer sentir mais segura ou sei lá, mas já que você não precisa... – Miiko voltou a caminhar, mais rápido, me largando sob a luz da lâmpada indecisa.

– Miiko! Não me deixa aqui, sua desgraçada! – corri até a alcançar.

– Então você tem medo! Certo, já que quer. – Miiko levantou sua mão livre e pegou nos meus peitos. Continuou andando como se não fosse nada, praticamente me arrastando junto.

– Miiko, amada amiga, ISSO. NÃO. AJUDA. – meu rosto estava queimando. Tinha algumas pessoas esperando no ponto de ônibus ali perto, e elas olharam quando gritei com a Miiko. As luzes de uma casa foram acesas, como se eu tivesse acordado uma pessoa com sono leve. Abaixei o tom de voz. – Q-Quer fazer o favor de tirar a sua mão daí?

– Mas é legal... E eu não vejo nada de errado com isso. – Miiko olhou para trás e mostrou a língua para as pessoas esperando o ônibus. Algumas riram. Algumas provavelmente falaram para si mesmas “lésbicas...”, ao revirar os olhos. Algumas fizeram cara de vômito.

– Miiko! – tentei abaixar seu braço, mas infelizmente, ela era mais forte que eu. Encarei-a. Ela sorriu. Somente depois de uma quadra andando assim foi que deve ter perdido o interesse e pegou a minha mão.

Fiz de tudo para não demorarmos na casa da vovó, mas ainda assim Miiko quis ficar e comer os biscoitos de polvilho da vovó. Sendo assim, voltamos muito tarde para casa. E foi pior do que na ida, o que meio que me deixava com um pouco de medo da Miiko. Porque na ida, pelo menos ela tinha que cuidar do nosso cachorrinho. Só que na volta... Enfim, a Miiko não ajuda.

///

A viagem de carro durava umas cinco horas. Mamãe e papai iam na frente conversando, e todas as outras vezes eu e Kaoru dormíamos, só que dessa vez com a Miiko no meio não dava muito certo. Kaoru até virou a cara para a janela e fingiu dormir, mas eu não consegui. Passei aquelas cinco horas comendo e conversando com a Miiko sobre coisas inúteis e jogando coisas que só crianças que não tem mais o que fazer jogam em viagens, como contar quantos carros vermelhos passam e tentar descobrir a cor do próximo carro que virá.

Nós sempre saíamos de casa umas cinco, seis horas da manhã, então quando chegávamos no chalé ainda tínhamos um tempo para ajeitar as coisas nos quartos e podíamos escolher entre dar uma “passeada” ou ajudar a limpar a casa e fazer o almoço (óbvio que a gente saía).

Geralmente Kaoru e eu ficávamos na parte de cima do chalé e papai e mamãe em um quarto no andar de baixo. Porém, nessa viagem nós tínhamos uma peste junto e acabamos jogando Kaoru na sala junto com os ratos. Não duvido muito que minha irmã tenha planejado matar a Miiko, eu até entenderia, já que aquela menina irrita demais se você não sabe como lidar. Kaoru insistiu muito para ficar lá em cima com a gente, mas a mamãe disse que não seria bom nos atrapalhar. Ela disse isso dando uma piscadela. Vai entender...

Quando chegamos, Kaoru jogou a mala dela em um canto da sala e saiu emburrada em direção à mata quase fechada (mesmo que fosse um lugar meio afastado da cidade, ainda era, como dizer? Era perto. Espero que entendam o que quero dizer). Miiko subiu direto para onde iríamos ficar e apareceu da sacadinha, toda feliz.

– Então é assim que é um chalé por dentro? Tem uma janela no teto!

– Sim, sim! Não é divertido? – mamãe perguntou, acenando para ela de baixo, enquanto ajudava o papai a tirar o resto das coisas do carro. Miiko assentiu, depois saiu da sacada e desceu as escadas correndo.

– Ruri! Vamos ver o lago? Vamos? Vamos?

– Eu tenho que levar essas coisas pra cima...

– Podem ir, eu e seu pai arrumamos tudo. – interviu mamãe, com um olhar de “como sempre fazemos”. Ela devia estar pensando em alguma coisa, só pode. Miiko pulou para abraçar mamãe, mas não agradeceu verbalmente. Virou novamente para mim e pediu de novo para irmos. Como dizer não àquela criança de jardineira larga, de alças caindo, blusa tão grande quanto e meias ¾?

O lago não era nada demais. Uma vez me falaram que era uma curva do rio que passava ali perto, que havia meio que sido isolada do curso do mesmo, formando um laguinho. Não parecia ser muito fundo, já que as pedras do fundo podiam ser vistas por conta da água cristalina.

– Ruri, pode se abaixar um pouco? – Miiko pediu ao puxar a manga da minha camiseta.

– Mas por quê? – me agachei mesmo tendo perguntado isso. Às vezes, com a Miiko, era melhor ver o que ela ia fazer. E dessa vez, ela sentou-se nos meus ombros e pediu para levantar com ela lá, como papai fazia comigo e com a Kaoru quando éramos menores. Ele chamava isso de cavalinho. – Miiko, a gente vai cair se eu levantar... Você é um pouco pesada pra mim, sabe.

– Não, não vamos. Vai, levanta logo. – Ela puxou duas mechas do meu cabelo, como se fossem as rédeas de um cavalo mesmo. Segurando as pernas curtinhas dela, levantei com algum esforço. Cambaleei, mas consegui me manter em pé. Por pouco tempo. Como eu disse antes, a Miiko não ajuda. – Wooow, como é alto daqui! É assim que você vê, Ruri? Meu senhor, me sinto um prédio!

Ela jogava seu peso para trás, e por conta disso quase caímos muitas vezes. O pior disso é que ela ficava rindo, aquela peste. Por isso duramos pouco tempo assim. Nós caímos no lago em uma dessas vezes que ela jogou seu peso para trás, e mesmo estando calor, a água estava gelada.

– Eu. Avisei. Amada. Amiga. – falei, ao levantar, torcendo a minha camiseta. Estendi a mão para Miiko, que rindo, me derrubou na água novamente, ao lado dela.

– Não é... Assim que um... Prédio desaba! –E falando isso, Miiko levantou junto comigo. Sua franja estava desarrumada e tinha cabelo grudado na cara. Olhou para mim e sorriu. – Acha que a Tia Mãe vai reclamar se a gente molhar um pouco a casa?

///

Mamãe simplesmente perguntou o que havia acontecido e nos mandou tirar logo as roupas molhadas para que ela colocasse secar. Um pouco antes de o almoço estar pronto, Miiko e eu tivemos que arrumar a mesa e sair para chamar Kaoru, que voltou um pouco suja também, como se tivesse caído várias vezes em seu passeio matinal.

– Meninas, esse ano nós vamos voltar uma semana antes para casa, tudo bem? – avisou mamãe, pegando comida para ela e para o papai. Kaoru levantou o olhar do prato dela como se fosse a melhor coisa que tivesse ouvido na vida. Manteve a voz neutra ao perguntar:

– Por quê?

– Sua tia Melina vai se casar e eu e sua mãe fomos convidados para sermos os padrinhos. – papai respondeu, com um pequeno sorriso.

– Sério que o nome dela é Melina? – questionou Miiko, rindo. É, realmente, Melina é um nome não muito normal. Não que Miiko e Ruri sejam, só que mesmo assim é estranho. Muita gente fala o nome da Miiko como “mico”, mas tem dois Is e eu não sei porquê ignoram eles. É a mesma coisa que falar que o H não serve para nada ou que um zero depois da vírgula em um número inteiro é apenas um estorvo. Tá, o H pode não servir para muita coisa mesmo e um zero depois da vírgula em um número inteiro não muda mesmo nada...Tanto faz, vocês entenderam: o segundo I não deve ser ignorado.

– É sim. Engraçado, não é? Só não vá rir assim quando falarem o nome dela na Igreja, está bem? – mamãe riu.

– Espera, vai ser na Igreja? Ela já não era divorciada, mãe? – perguntei. Tinha quase certeza de que era isso.

– Não, essa é a sua outra tia, a Marie.

– Marie não é o nome de uma gata de um filme da Disney ou algo assim? – Miiko perguntou. Assenti. Vi Kaoru revirando os olhos. Provavelmente pensou “cada comentário idiota que essa menina faz” ou algo assim. Demorei bastante tempo para entender porquê da Kaoru não se dar bem com Miiko. Minha avó materna diria que foi porque “os santos não bateram” e a paterna diria que “não ornou”, mas eu diria que Kaoru tem um pouco de razão. É difícil ser amiga de uma pessoa como a Miiko.

Terminamos de almoçar e mamãe fez as irmãs lavarem a louça, no caso eu e Kaoru, enquanto falava para Miiko que tipo de roupa ela deveria usar e como deveria se portar. Não que a Miiko fosse uma criança, mas ela era mesmo uma peste (notem a constante repetição de peste. Porque ela era mesmo uma). E se a minha mãe diz que não, ela meio que respeita.

Então, Miiko advertida. Louça lavada e guardada. Mamãe nos liberou para fazermos o que quisermos até a hora da janta.

– Ruri! Vamos sair de novo.

– Miiko, tá muito sol agora. Por que a gente só não joga alguma coisa lá em cima, ou sei lá? – eu não estava mesmo com animação para sair depois do almoço.

Miiko protestou, porém acabou subindo comigo no final. Eu dormi depois de um tempo, só que na parte da tarde que eu estava acordada vegetando, vi Miiko alternando entre jogar Dangan Ronpa no meu PSP e matar mosquitos armada com um par de chinelos. Quando me acordou acho que já passava das quatro da tarde, reclamando que não tinha mais nada para fazer e que queria porque queria sair de lá.

– O Tio Pai veio antes avisar que ia pescar lá no rio, eu quero ir lá também! – e tive que ir junto, porque a Miiko não sabia onde era. Kaoru estava lá, junto com papai e mamãe. Estavam sentados perto do lago, sob uma árvore alta. Mamãe lia uma revista, papai estava cuidando o rio e acredito que Kaoru dormia. Papai sinalizou para que fizéssemos silêncio.

– Tiooo, eu quero tentar também. – Miiko pediu baixinho. Papai deu a vara para ela e agora eu vejo que essa não foi uma boa ideia. A linha puxou, logo, um peixe havia sido fisgado. A garotinha puxou a vara com uma vontade que o peixe foi parar na cara da Kaoru. Sério. – Ooopa. – Miiko estava rindo e de alguma forma se escondendo atrás do meu pai que havia levantado e estava rindo também. Mamãe não sabia o que havia acontecido, só que Kaoru havia levado uma tilápia na cara.

– MIIKO!

///

Kaoru berrou muito com a Miiko naquela hora, mas mamãe conseguiu fazê-la parar. Esse é o poder de uma mãe. E então, de noite depois do jantar estávamos na mesa de fora jogando Rouba Monte, menos a minha irmã mais velha, esperando dar pelo menos meia-noite para sairmos. De acordo com meu pai, sair meia-noite é “mais legal”. Vai entender.

Um pouco antes do horário, tive que ir chamar a Kaoru, que estava com um mau-humor desgraçado. Mesmo assim ela sorriu para mim. Mamãe estava pegando as lanternas na mala e Miiko e papai haviam ficado lá fora nos esperando. Quando saímos, papai perguntou:

– Certo, todas prontas? –levantou o facão. Miiko pulou de alegria. Kaoru sorriu de novo. Foi bem estranho.

Saímos com o papai dizendo que pegaríamos o caminho mais longo até a clareira de onde poderíamos ver as estrelas e fazer sei lá o que. Nunca saí com eles para saber. E não me perguntem por que meu pai saiu com um facão que eu não saberei responder.

Papai ia na frente comentando sobre um cemitério que tinha por ali e isso não foi legal. Miiko estava andando de mãos dadas comigo mais atrás e ria toda vez que Kaoru tropeçava e se estatelava no chão por conta dos galhos e raízes retorcidas no chão. Mamãe brigava com o pai para que ele parasse de contar aquelas coisas e apontava para mim de pouco em pouco até que ele desistiu e começou a falar sobre as oitenta e oito constelações existentes.

Foi legal.

Estrelas são mil vezes mais bonitas do que pensei.

///

O resto da viagem foi praticamente como sempre: papai por aí no mato, Kaoru com seus shoujos e procurando sinal de celular, mamãe fazendo companhia para o pai... Aí entra a minha parte, que foi diferente por causa da Miiko: nós dormíamos em colchões separados e acordávamos juntas. Miiko sempre trocava de cama no meio da noite. Todo manhã lá estava ela babando no meu braço. Não que eu me incomodasse com isso, longe disso. Eu até ficava feliz, do tipo “alguém gosta de mim além da minha família”. É isso que ficar sem internet faz com as pessoas. Além disso, meu cabelo desbotou feio e ficou uma cor pior que isso. O da Miiko amarelou legal. Sempre dizem que manter cabelo platinado é um porre, mas a Miiko até que conseguia lidar com isso muito bem. De acordo com ela, o cabelo só virou um negócio daqueles porque ela se esqueceu de trazer os produtos para cuidar.

Quando voltamos, tivemos que ir até a casa dela porque “tem umas roupas que eu posso usar que estão lá no meu quarto ainda”. Eu já havia ido lá algumas vezes, quando ninguém estava em casa ainda. Era uma casa enorme, eu diria que tinha no mínimo uns treze, quinze quartos, chutando porque eu nunca subi até o terceiro andar. Mas também, com a quantidade de irmãos que a Miiko dizia ter, deveria ser muito mais... Ah, sim, nunca mencionei isso, mas a ela não era filha única. Só era a segunda mais velha. O pai dela meio que engravidava um monte de mulheres e se responsabilizava por “cuidar” das crianças, uma penca de crianças. Ele não cuidava. Elas ficavam largadas na casa podendo ter e fazer o que quisessem. Bem, eu também nunca entendi essa lógica de engravidar e gastar dinheiro com as crianças, mas ok, não é muito importante.

Na sala, dessa vez, só três das garotas estavam brigando pelo controle da TV com cinco garotos que queriam jogar videogame. Elas berravam que não aguentavam mais ficar no quarto e que estava calor demais para sair e eles, provavelmente mais novos que elas, argumentavam também que os quartos deles haviam ficado “chatos”.

– Oi. – Miiko acenou para eles, ao passar pelo corredor em direção à cozinha. Eles pararam de lutar pelo controle e olharam para ela, como se tivessem visto um fantasma. Uma garotinha que aparentava seis anos estava do outro lado da sala largou seus Legos para abraçar as pernas da Miiko.

– Você voltou!

Uma das garotas que brigava pelo controle antes agora estava pronta para gritar com a Miiko. Ela tinha cabelos pretos longos e escorridos, uma pele morena. Parecia ter dois quilos de maquiagem na cara, escondendo as espinhas que vinham junto com a menstruação. Era mais alta que as outras crianças e tinha cara de quem fazia uma daquelas dietas loucas para emagrecer, mesmo que não fosse gorda assim. Apontou para Miiko, acusadoramente.

– Você voltou por quê? Ninguém precisa de você aqui e você sabe muito bem disso, Miiko. – a voz era como uma lâmina afiada e aquela garota agora mais parecia uma cobra do que uma pessoa. Podia até quase se ver o veneno escorrendo pelos cantos da boca dela. As outras duas garotas saíram correndo dali.

– Não fala assim, mana! – a garotinha que abraçava as pernas da Miiko a defendeu e mostrou a língua pra outra. Tinha os mesmos cabelos escuros, presos em duas tranças por laços cor de rosa.

– Ele tá aí? – Miiko perguntou inexpressiva, ignorando a cobrinha. Um dos garotos assentiu, ainda parado no mesmo lugar. – Merda, então não posso demorar... Vamos, Ruri. – Miiko soltou-se do abraço da garotinha, pegou meu braço e virou para me levar para o quarto dela, no segundo andar.

– Ora, ora, a nossa pequena lésbica arranjou uma namorada? – a cobra sibilou. Miiko parou e voltou-se novamente para a sala.

– Eu não... – comecei a responder, mas ela me cortou.

– E se for, qual o problema?

– Te dou meus parabéns por acabar com a vida de mais alguém. – a Cabelo-preto bateu palmas. – E que merda é essa na boca dela? – apontou meu vertical labret. – Eca. Como se beija alguém com um troço desses na boca? Me dá agonia só de olh- – Ela não conseguiu terminar de falar, porque a Miiko me largou e estava lá, socando o estômago da cobra. Ela se encolheu no chão, gemendo de dor ou algo próximo disso. A baixinha além de fazer isso, puxou os cabelos escorridos da cobra fazendo-a olhar para ela. Cuspiu um chiclete na cara dela (mais exatamente na franja. Aquilo deve ter dado um trabalho para tirar...), junto com as palavras:

– Só um idiota pensaria que a boca dela vai rasgar com um beijo, sua anta.

Aquela menininha que havia abraçado a Miiko estava congelada no lugar, admirada. Os garotos comemoraram.

– Ela tava precisando mesmo, irmã Miiko. Valeu! – falou um deles. Miiko riu e trocou um toque com eles. Pegou o controle e jogou para o menino mais alto. Eram mais novos que ela, porém mais altos. E, ao contrário do que se pensa sobre admirar os “maiores”, eles que a admiravam.

– Então talvez eu deva vir aqui mais vezes? Me chamem pra jogar também algum dia desses. – deles a Miiko parecia gostar bastante, ao contrário da Cabelo-preto no chão. – Que ele não esteja em casa, claro.

– Então, o pai está aí hoje. Se eu fosse você iria embora logo. – outra criança apareceu na porta e falou antes de bocejar. Pulei para o lado, surpresa. A menina tinha cara de ter uns nove anos nas costas e segurava uma coruja de pelúcia praticamente do tamanho dela. Seu cabelo loiro-escuro ondulado estava bagunçado, assim como seu pijama. – Eu só nunca entendi porque você não gosta dele, Mii.

– Não é importante. – Miiko bagunçou ainda mais o cabelo da garota. – Vou subir, prometo não demorar.

E só aí Miiko e eu subimos. O quarto dela não era tão grande, perto do tamanho da casa. Uma cama de solteiro. Estantes sem livros, mas decoradas com câmeras Polaroid e algumas flores mortas. Uma mesa com um computador e pôsteres na parede. Exatamente como da última vez que fui lá, só que sem as roupas jogadas pelo quarto. Miiko bagunçava o resto das roupas que estavam no armário e me sentei na cama.

– Isso lá é sozinha? Parece ser bem animado por aqui. – comentei. Certamente os irmãos dela pareciam divertidos e gostavam dela, então por quê?

– Eu não gosto daqui. Passe uma semana com eles e descubra, Ruri. Tudo dá errado nesse lugar e ainda tem el... Ah, achei! – Miiko tirou um cabide com uma saia azul de pregas e uma blusa branca. Abriu uma gaveta e pegou um par de meias, suspensórios e jogou tudo dentro da mochila. – Acabei.

– Achei que você amasse demais suas meias pra deixar alguma pra trás. – ri ao me levantar. Ela me cotovelou, rindo também.

– Só vamos sair desse lugar logo. – abriu a porta, esperou que eu saísse do quarto e passou a chave na porta. Saiu correndo pelo corredor direto para as escadas e as desceu pulando de dois em dois degraus.

Na sala os garotos estavam jogando e acenaram quando passamos. A garotinha da coruja de pelúcia estava deitada sobre um deles, que fazia cafuné em sua cabeça. A garota dos Legos disse um “tchau” baixinho, mas estava concentrada demais montando sua casa feita de Legos que nem levantou o olhar direito. Até aí, nenhum sinal das outras... Estavam na cozinha discutindo com o pai que queriam o quarto da Miiko como uma sala só para elas. Miiko fez sinal para que eu fizesse silêncio e foi para a porta da frente.

Bem, nós conseguimos evitar o pai dela aquele dia.


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Notas finais do capítulo

Comentários, comentários
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Os aguardo
Ah, o "os bananas" do título vocês entenderam, né? -digam que siim-