Cartas Para Ninguém escrita por Pepper


Capítulo 2
A Primeira Carta


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, por favor comentem o que acharam.



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Ah, perfeito, agora o que escrevo? Pensei, já estava desistindo dessa ideia de carta pois estava a meia hora tentando escrever algo... A verdade é que nunca fui realmente muito boa com a literatura pelo fato de eu querer colocar no papel mais do que palavras, querer colocar meus sentimentos, meus pensamentos, mas acontece que é tanta coisa que penso que o texto fica sem nexo, e eu acabo o guardando em uma gaveta, na casa do Caique (ou a nossa casa, pois vivo tanto aqui quanto na minha própria casa). Decidi então resgatá-los.

– CAIIIQUEEEEE! – Gritei. – Onde você colocou os meus textos?

– Que textos? E pelo amor de Deus, pare de gritar, vai me deixar surdo. – disse ele vindo para a cozinha onde eu estava com 4 folhas de papel amassadas pela mesa.

– Aqueles que eu fiz que você gostou e disse que guardava em uma gaveta.

– Aaaaah, está na gaveta. – Olhei para ele com uma cara de óbvio, mas qual? E ele pareceu entender a minha expressão. Ele suspirou e continuou – na mesinha no meu quarto, primeira gaveta.

Olhei para ele por dois segundos e sai correndo para o quarto dele. Achei muitas folhas e muitos textos, entre eles, achei este:

E você some da mesma maneira que apareceu, de repente. E com suas palavras sempre tão inconsequentes. E eu no seu amor, crente. Meu coração acelera sempre quando você passa na minha frente. Mas já não sei se é de ódio ou amor adolescente. você me fez feliz da mesma maneira que me fez triste... De repente, e com suas palavras sempre tão inconsequentes que o contradizem mais pra frente. Lembro de passear meus dedos em seus cabelos quase negros como um pente, lembro de você acariciando meus cabelos calmamente, de você sorrindo pra mim ao me ver abrir os olhos e sorrir timidamente, de ouvir você dizer que o que lhe pertencia agora nosso seria, de você dizer baixinho em,meus ouvidos o tão esperado "eu te amo" mas também lembro de você pegar meu coração e joga-lo na caçamba mais próxima, lembro dos maços que se foram com meus devaneios da santa pergunta "Afinal, por que?" E me pego pensando que junto com você perdi aqueles carinhos, aqueles momentos românticos, aqueles momentos bem vívidos que foram e que poderiam ter sido vividos. Eu perdi o homem mais perfeito que tive e com ele perdi os momentos mais românticos e perfeitos que poderíamos ter, e aqueles que já tivemos, mas caem no esquecimento infinito junto comigo. O que perdi além do homem mais perfeito que arranjei? Muitos momentos felizes, também...

Não lembro quando escrevi isso, acho que no mesmo dia em que o meu atual ex, terminou comigo. E bom, concordei com o que escrevi, as vezes quando leio textos antigos meus, tenho inspiração para novos, com se fosse uma fênix. Do antigo nasce o novo. Das cinzas deste texto sai um outro, um novo.

Depois de mais duas horas escrevi a carta.

Coloquei em um envelope e fui trocar de roupa...

– Para onde a ruivinha vai? – Perguntou o Caique a me ver com um shorts jeans e uma blusa de manga curta branca com uns desenhos lindos.

– Vou colocar a carta em um lugar especial. – Disse terminando de calçar meu AllStar preto.

– Não quer fazer amanhã não? Já esta muito tarde, não quer dormir antes do sol nascer?

– Hoje não quero dormir, aliás, você me deu uma boa ideia. Se troque, vamos para o parque, guardar a carta e ver o sol nascer. Que tal? Como antigamente? – Dei aquele meu sorrisinho que o convencia a fazer o que eu queria.

– O que você não me pede sorrindo que eu não faça chorando? – pegamos um cobertor, a carta e vi Caique pegando algo em sua mesinha, não liguei e fomos a pé para o nosso Parque do Ibirapuera, apelidado carinhosamente de “Nosso Caro Ibira”.

Chegando lá fomos para onde eu e me ex terminamos, estendemos o cobertor e nos sentamos para conversar.

– Estar aqui, não te faz pensar? – perguntei para Caique sem olhar em seus olhos, estava observando o horizonte, onde o céu escuro clareava, como se a natureza me avisasse “Acalme-se sempre vem a luz após a época de trevas” era tão lindo, tão poético, tão sincero... Na natureza não existe espaço para a mentira, apenas a sinceridade da mais pura beleza.

– Pensar em quê? – Caique fala com suavidade, naturalmente atingido pela verdadeira e única beleza de se ver a noite amedrontadora se transformar em mais um dia belo e tranquilizante.

– Em como mudamos desde que chegamos aqui. – Nós e nossos amigos nos encontramos aqui todo final de semana e nos juntamos com outros grupos conhecendo sempre mais gente, eu já frequentava esses encontros, ou eventos como chamamos, a quase um ano. Muita coisa havia mudado.

– Na verdade sim. Eu mudei para melhor, me dediquei a conhecer gente nova aqui, tenho amigos verdadeiros agora, sou mais feliz agora.

– Sim...

– Sabe, queria que você lesse isso para mim. – Diz ele me entregando uma folha. Hesitante

– "Não sou uma princesa, não moro em um castelo, não sou delicada, nem amável, não tenho um príncipe, mas vivi um conto de fadas, como? Bom, nem sempre o nosso único e verdadeiro amor é o nosso príncipe e nem sempre termina com 'Felizes para sempre', pra ser um conto de fadas, basta você decidir se quer, afinal quem disse que pra viver um conto de fadas você precisa ser a princesa no castelo? Não existe regras nos contos e muito menos na vida” Um textinho meu, antigo... Por que você...?

– O que aconteceu com a garota que o escreveu? Você viveu um conto de fadas, por que não acredita mais neles? “nem sempre o nosso único e verdadeiro amor é o nosso príncipe e nem sempre termina com 'Felizes para sempre'” E se o Mateus só foi mais um príncipe que virou sapo? Vai sofrer com isso? Minha ruivinha... Siga em frente.

– estou tentando...

– Sim, você deu um passo hoje escrevendo essa carta, mas pare de se prender ao passado, deixe suas mágoas nessas cartas, deixe-as aqui e não as leve de volta. Você só vai viver um conto de fadas, de verdade, uma vez só, e quando isso acontecer, não perca esse momento perfeito, não o deixe escapar, viva este conto de fadas se quiser, pois acho que ele já começou quando sua história com Mateus acabou. Efeito fênix, certo?

Eu sorri pra ele com lágrimas nos olhos.

– Efeito Fênix.

Cartas para ninguém

O amor é algo tão... Não sei, eu não me sinto sábia ou com moral suficiente para falar o que é o amor, afinal, nunca amei de verdade... Ou nunca fui amada, sinceramente não vejo diferença... Acho que já cheguei a amar alguém, não ligo para a humilhação amorosa que passarei depois de alguém ler, se isto virar uma carta e não mais um de meus textos inacabados dentro de uma gaveta, mas o nome desta pessoa é... Bom, deixarei o segredo para o final.

Estou te escrevendo, ou escrevendo para ninguém, pois, meu amigo Caique disse “Escreva cartas... Cartas para ninguém vai te ajudar a desabafar” então fiquei pensando... Talvez... Afinal, porque não? Sempre quis tentar de tudo, fazer de tudo para nunca perder nada, quem sabe, se eu não o fizer, perca coisas que me farão falta, e o pior: terei a eterna duvida de como seria minha vida se tivesse escrito as cartas.

Minha vida? Bom, sou adotada, minha mãe morreu de câncer uns 3 anos depois que nasci, e nunca quis saber qual o câncer que a tirou de mim, para que sofrer mais? Pode ser estranho, mas têm certas coisas que prefiro manter no desconhecido, algumas coisas eu prefiro não saber, considerando o fato de que corro atrás da verdade sempre que possível... É um tanto curioso preferir manter algumas coisas no desconhecido... Adoro esta palavra, tão simples e misteriosa... Faz-me querer saber mais, e acredito que o fato de eu não querer saber qual câncer matou minha mãe me deixa com uma dúvida e me faz querer conhecer mais sobre ela, afinal correr atrás da verdade, não é sempre achar a verdade, e sim conhecê-la. Já deu para ver minha obsessão pelo desconhecido né? Bom, eu sou assim, gosto de conhecer, não descobrir, alimento em meus pensamentos a “teoria da consequência” que fala como tudo na vida é consequência de outras consequências de outras consequências e por ai vai... É apenas uma teoria superficial e mal estudada, pois eu sempre estou ocupada escrevendo, lendo ou sendo feliz, e toda noite, me ponho a pensar sobre essa teoria... E sobre o que Sócrates me diria, me aconselharia, acho que ele não me daria conselhos, pois o silencio de seu mestre é o mais sábio conselho que ele poderá lhe dar... Difícil de entender? Bom, um mestre lhe daria o conselho, lhe guiando em seu próprio caminho, agora um bom mestre o deixaria trilhar seu caminho sem guias. Eu, sempre trilhei sem guias, acho que é por causa disso que sempre estou triste, ou decepcionada com alguém, isso é bom para aprender a andar sozinha sem a ajuda de ninguém, pois sempre vai ter um dia onde teremos de enfrentar as coisas sozinhos, e quando este dia chegar pretendo estar preparada e não sofrer na solidão ou não conseguir enfrentar nada sozinha. Bom, as coisas acontecem assim do nada.

Vou te contar o que me está fazendo mal nesses últimos dias... Eu estava ficando com o Mateus, mas ele mentiu pra mim, se dizia apaixonado, mas depois de uns tempos terminou comigo e agora esta com uma loira mais... Perfeita... Nada contra loiras, claro, mas trocar uma ruiva por uma loira é uma Humilhação, pois todos mantêm a ingênua ideia que ruivas e loiras naturalmente tem um rixa, e este acontecimento é como se dissesse “As loiras ganharam”. Não ligo, mas os comentários me irritam...

Estou cabulando aula desde então, vou para o parque onde conheci esse meu ex, Mateus, e fico no bosque exatamente no lugar onde terminamos, para refletir talvez, ou simplesmente esperando para o “efeito fênix” acontecer. Efeito fênix, é quando uma coisa nova nasce de uma coisa antiga, nesse caso, quando uma coisa boa nasce de uma coisa ruim. Não estou no clima para sair ou gostar de alguém, não sei se acredito mais nas palavras de alguém, estou muito machucada, e faz uma semana já, e eu cansei de chorar, de ser a vítima, mas não adianta eu tentar melhorar as pressas, só piora quando você força a situação. Hoje fiquei com um garoto, só por ficar, não espero que ele me ligue, na verdade, nem quero. Sinceramente quero um tempo só comigo e com meus cigarros... Sim eu fumo, na verdade havia parado, mas voltei a uma semana, e estou tentando parar de novo. No dia do ocorrido fumei três maços em três horas perdida em meus devaneios sobre o porquê do ocorrido... Estou perdida neste labirinto que é a minha mente, meus pensamentos. Estou perdida, presa num labirinto sem saída.

Para ninguém, minha gratidão,

Abraços, Alguém.


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