Nico

Quando acordei Jason não estava mais ali. Supus que ele foi embora em algum momento da manhã quando Zeus e Hades chegaram. E meu pai confirmou isso quando fui perguntar a ele sobre o motivo de ter saído ontem à noite. Segundo ele, o jantar entre a banda havia chamado bastante atenção e alguns repórteres acharam que seria uma boa ideia ir até o trabalho do meu pai, – que agora também era do trabalho de Zeus – quando foram perceber tinha uma manada de jornalistas plantados lá na frente querendo informações sobre a banda, então os dois foram até o local e chamaram a polícia para tira-los de lá. Mas não adiantou muita coisa, meu pai teve que dar algumas entrevistas para dizer que Blood Of Death não iria retornar. Pelo modo como ele falou isso percebi que no fundo, ele queria retornar, apesar de não admitir eu sabia o quando ele gostava de fazer shows e ter uma plateia delirando a sua frente enquanto tocava guitarra.

Eu estava saindo do banheiro apenas com uma calça e uma toalha pendurada no pescoço quando vi uma coisa que não estava ali antes de eu ir tomar banho.

–Olá, traidor – Disse Thalia, sem levantar o olhar da tela do computador.

Franzi o cenho, Thalia estava com olheiras e seus olhos estavam vermelhos, não era difícil deduzir que passou a noite inteira chorando. Mas mesmo assim sua expressão estava neutra.

Ouviu-se uma série de gemidos vindo do computador.

–O que está fazendo? – Perguntei, indo até ela.

–Você tem um bom gosto para pornô gay – Thalia desligou o computador com um click.

Me sentei na cama ao seu lado, seus olhos azuis me encararam com certa irritação.

–Você não cumpriu sua parte do trato.

–Ah – Passei a toalha pelos meus cabelos negros, numa falha tentativa de esconder meu rosto.

–Sem essa, Nicolas.

Suspirei, sabia o que tinha acontecido, estava estampado na cara de Thalia.

–É por isso que você está assim? – Questionei.

Ela desviou o olhar, encarando os próprios pés.

–Mais ou menos.

Por um momento pensei que ela fosse começar a chorar, mas não, ela não é desse tipo de garota.

–O que aconteceu então? – Perguntei.

–Eu terminei com Luke, eu acho.

Arqueei as sobrancelhas.

–Acha?

Thalia bufou.

–Nós brigamos feio e eu meio que falei pra ele nunca mais me procurar. Mas acho que terminamos, afinal eu gritei com ele e o chamei de canalha mentiroso. E depois eu meio que dei um tapa nele. Mas eu acho que devo pedir desculpas mesmo por ter o chamado de riquinho metido e ter jogado um suco de acerola na cara dele.

–Isso é bom?

Ela se deitou na cama, com a barriga para baixo e enterrou a cabeça em baixo do travesseiro.

–Claro que não, seu idiota – Sua voz saiu abafada mas eu pude entender – Bom, depende do ponto de vista.

Me deitei ao lado dela, encarando o teto.

–Pelo meu ponto de vista isso é bom – Ela levantou o rosto e me encarou – Você merece alguém melhor do que ele.

–Isso é tão clichê.

–Mas é verdade.

–Você nunca conversou de verdade com ele.

Me virei de lado e a analisei.

–Gosta mesmo dele?

Ela hesitou por um momento antes de responder.

–Talvez – Falou mordendo o lábio inferior.

–Então se gosta dele faça com que ele saiba disso e se ele corresponder a esse sentimento, vai saber que é certo.

Thalia jogou o travesseiro na minha cara.

–Isso foi muito sentimental. Não vá fazer eu chorar de novo – Disse, meio rindo.

–Pelo menos eu fiz você rir.

Me levantei da cama e peguei uma camiseta preta no guarda roupa.

–Então por que é que você não cumpriu a sua parte do acordo? – Perguntou Thalia, sua expressão não estava mais tão triste como a minutos atrás.

–Porque – Falei pondo a camiseta e jogando a toalha num canto qualquer – Quando cheguei em casa Jason estava aqui e....

–Meu Deus! O que vocês fizeram?

Contei a ela o que aconteceu na noite anterior.

–Dormiram juntos é? – Falou ela, com um sorriso malicioso nos lábios.

–Não foi nada disso que você tá pensando – Mordi o lábio inferior, olhando para meu celular em cima da cômoda – Ele me convidou para ir ao cinema e....

–ESPERA! – Ela gritou me interrompendo. Com um pulo Thalia se levantou da cama, me assustando – Você tem um encontro?

Thalia me encarou, esperando pela resposta.

–Não acho que isso seja um encontro – Falei lentamente – É só um filme.

A garota arqueou as sobrancelhas, como se não acreditasse nas minhas palavras.

–Nicolas – Ela disse com calma e me segurando pelos ombros – Vocês vão estar um do ladinho do outro, em um lugar escuro, dividindo um saco de pipocas, suas mãos vão se tocar e quando você perceber estará com ele em um motel!

Dei uma risada.

–Isso não vai acontecer, não é um...

–Isso é um encontro! Você tem um encontro!

–Quem tem um encontro?

Dei um giro de 180° graus e encontrei meu pai em frente a porta.

–Nico tem um encontro – Falou Thalia na maior cara de pau.

Abri a boca pra dizer alguma coisa mas nenhum som saiu. Não sabia o que dizer.

Meu pai arqueou as sobrancelhas.

–Sério? Qual é o nome dela? – Alguma coisa no tom da sua voz soou irônica. Era quase como se ele me desafiasse a responder sua pergunta.

–Ahn, eu...e-ela...ele – Tentei falar – E-eu...Eu não tenho um encontro! – Disse com uma mistura de irritação e nervosismo.

Thalia soltou uma risada nasal.

Meu pai tinha uma expressão divertida no rosto, o que me deixou um tanto intrigado.

–Pelo amor de Deus! Eu só vou ao cinema com Jason – Disse eu – E isso não é um encontro! – Praticamente gritei.

Hades riu de canto.

–É claro. Esteja em casa antes das onze. Não importa se hoje é sábado e amanhã você não tem aula, se chegar meio minuto que seja depois desse horário eu vou te expulsar de casa – Ele falou e então deu as costas.

Thalia me olhou, como se soubesse de algo que eu não sei.

...

–O zíper da tua calça está aberto.

Ele olhou para baixo.

–Não, não tá.

–Okay, vamos resolver esse problema.

Jason soltou uma gargalhada e eu o acompanhei.

–Essa é péssima – Falou, ainda rindo.

–Mas é legal. Diga uma melhor.

–Tudo bem – Jason pigarreou e pensou por uns segundos – Você gosta de estrelas?

–Estrelas? – Falei confuso e curioso para qual seria o rumo disso - Sim.

–Que bom – Deu um sorriso, mostrando suas covinhas – Porque eu conheço um motel com cinco.

Eu ri, aquilo definitivamente não era um encontro. A mulher a nossa frente nos lançou um olhar reprovador e se levantou, sentando uma fileira a frente.

Estávamos no cinema, havia meia dúzia de pessoas ali. Tínhamos chegado quase uma hora antes de o filme começar e no momento estávamos sentados bem no fundo da sala, faltava vinte minutos para as 19hrs, horário que o filme começaria. Nesse meio tempo nós dois compramos pipoca e conversamos sobre bobagens e coisas aleatórias. Por exemplo, eu soube que Jason estava na cidade por tempo indeterminado e um dos motivos principais era para cuidar de sua avó. E também descobri que a tal Piper não tornou a ligar para ele.

–Essa não foi muito melhor – Disse eu, me referindo a cantada super tensa que ele havia falado.

–Melhor que a sua.

Eu ri enquanto abria minha lata de Coca-cola.

–Esse filme é mesmo bom? – Ele perguntou, enchendo a boca de pipoca.

–O livro é extremamente foda. Você devia ler o livro, livros são sempre melhores que suas adaptações cinematográficas.

–Hm, hm – Jason disse, mastigando a comida.

Tomei um longo gole da bebida. Quando Thalia disse que eu tinha um encontro pensei que Jason tinha entendido tudo errado porque eu definitivamente não queria um namorado, mas agora que estávamos ali eu percebi que de fato não era um encontro. Éramos apenas amigos, rindo e falando asneiras.

Ficamos em silencio por alguns minutos. Duas meninas de mãos dadas sentaram na nossa frente, aquilo me chamou a atenção não porque elas estavam de mãos dadas mas porque uma delas tinha o cabelo azul e a pele extremamente branca, parecia uma boneca.

A sala escureceu e o filme finalmente começou. Se passaram vários minutos no qual eu comia pipoca e encarava fixamente a tela na minha frente. O filme era bom, uma boa adaptação, mas não chegava nem aos pés do livro, como sempre. Quando minha pipoca acabou eu roubei o saco de pipoca de Jason, já que ele colocava uma pipoca de cada vez na boca, o que era um tanto irritante, minha intenção no início era ficar com o alimento todo para mim mas concordamos em dividir. E não, nossas mãos não se tocaram daquele jeito romântico e clichê que acontece em todo filme.

Em um determinado momento as duas meninas a nossa frente começaram a se beijar. Eu só percebi isso quando senti Jason se mexer meio desconfortável no assento. O loiro começou a encara-las, meio em estado de choque. Segurei uma risada. Esperei que ele desviasse o olhar, mas isso não aconteceu. Peguei meu celular do bolso e mandei uma mensagem.

“Pare de encara-las!”

O celular de Jason vibrou segundos depois. Ele leu a mensagem e sussurrou para mim:

–Como você tem meu número?

Ri baixinho e peguei meu celular novamente.

“Eu tenho meus contatos”

Ele recebeu a mensagem e bufou.

–Eu estou aqui, fale comigo – Disse.

“Não” respondi por mensagem.

“Você é idiota” Recebi a mensagem dele.

“Não mais idiota que você, encarando as cola velcro ali”

“Tá, mas isso é estranho. Não acha isso estranho?”

Ergui o olhar e vi as meninas que pareciam estar quase se comendo.

“Não, e elas não parecem achar muito estranho também” Mandei o sms.

“Tem razão”

“Porque acha estranho?”

“Porque é. Não sei. Será que elas não acham estranho? Tipo, são duas garotas”

“Você acharia estranho?”

“Oque?”

“Beijar um garoto. Um beijo de verdade, com língua e tudo”

“Não sei”

“Quer experimentar?”

“Como é?”

“Posso te beijar?”

O observei pelo canto do olho, ele riu.

“Mas é claro” Respondeu, seus lábios formavam um sorriso.

“Eu estou falando sério. Posso te beijar?”

Mordi o lábio inferior.

Jason leu a mensagem, seus dedos deslizaram lentamente pela tela do celular, ele pareceu hesitar antes de responder pois demorou mais tempo que o normal. O dono dos olhos azuis soltou a respiração que estava prendendo e finalmente apetou o botão.

“Sim” Recebi a mensagem segundos depois.