Ressurgente escrita por Let B, Muh


Capítulo 59
Capítulo 59


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao nosso fim. Demorou, mas chegou rs
Quero agradecer a todos que nos acompanharam nessa fic, sempre comentando, favoritam e recomendando, talvez sem vcs não teríamos chegado até aqui. Foi uma estrada longa rs
Quem nunca comentou, essa é a chance final hein fantasminhas apareçam p deixar um último adeus!
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/480904/chapter/59

P.O.V CALEB 

Antes do ataque 

Caleb mordia o lábio e esfregava as mãos na calça. Ele andava cautelosamente no meio do grupo que escoltava Tobias e Damon para o prédio onde o Doutor estava com sua irmã. Caleb junto com ex-membros da Audácia e alguns membros da Revolução estavam encarregados de cuidar do resto da cidade. 

Fazia tempo que Caleb não tinha estado em um conflito de tal magnitude e isso o deixava extremamente nervoso. Se não era bom em nada desse aspecto quando novo, imagine agora. Respirou fundo, enxugando o suor da testa. 

Eleonor estava ao seu lado, determinada como nunca. Caleb a admirava com certa inveja, parecia confiante. Ao perceber o nervosismo de Caleb, ela acariciou seus ombros e sussurrou no seu ouvido. 

— Vai dar tudo certo. — sua voz era delicada — Relaxe. 

— Eu espero. — ele riu seco. 

Tobias, mais ao longe, parecia tão nervoso quanto o próprio Caleb, entretanto, o homem estava mais preocupado com Beatrice do que consigo mesmo. Damon estava ao seu lado, alheio, parecia pensar, ele suspirou alto enquanto encarava Tobias conversar no rádio com Meg. 

Zeke, que até então estava conversando com um de seus amigos, aproximou-se de Caleb sorrateiramente e colocou a mão calma em seu ombro. 

— Você parece que vai ter um curto-circuito. — comentou. 

— Besteira. — Caleb gesticulou com a mão. Sentiu seu rosto ficar vermelho e o suor frio escorrer pela nuca. Sentia-se como um adolescente acanhado. 

— Só não... fique no caminho. Sabe? — ele ria, como se estivesse só brincando, mas Caleb percebia a verdade por trás do sorriso. 

— É, vou me esconder na lixeira de algum beco imundo e esperar acabar. Não se preocupe. — ele disse sarcástico, e Zeke levou na palhaçada também. 

— Pobre lixeira, eu diria. — antes de responder a ele, Zeke foi para perto de Tobias e Damon, provavelmente aguardando qualquer ordem vinda de Michell do outro lado da linha. 

Caleb cruzou os braços em derrota. E enquanto isso, ouviu Eleonor rindo baixo ao seu lado, ela mordia o lábio como se quisesse esconder que estava quase gargalhando. 

— Ele é gente boa. — ela riu. 

— Ah, por favor, nem foi tão engraçado assim! — resmungou — Eu posso lutar também. 

— Eu sei que pode. — sua mão foi parar nos cabelos de Caleb e fez movimentos leves, relaxantes. Ele passou o braço em sua cintura e a puxou para perto, o calor de Eleonor era aconchegante — Mas a outra possibilidade não é, hm, tão difícil de acontecer assim. 

Dessa vez ele chacoalhou os ombros em uma risada leve e natural. 

— Cala boca. 

Eles mantiveram-se naquela posição apenas relembrando as estratégias de combate que eles iriam utilizar, e que Eleonor ajudou a reformular. 

— Então — Tobias vociferou — em alguns minutos nós vamos começar, tudo bem? Todos sabem o plano, então assim que saímos daqui vocês vão fazer barulho para atrair o máximo de soldados.  Entendidos? 

Todos assentiram, alguns desdenhosamente. 

— O grupo que está com o meu irmão — Damon continuou — vai pegar a maioria desprevenido. De surpresa. E esse fator é muito importante. Então, não ferrem com isso. E lembrem-se que os soldados do nosso lado estão de capacete cinza, não queremos “acidentes”, não é mesmo? 

— Certo. — Tobias pigarreou — Enquanto isso eu e Damon vamos entrar naquele prédio e acabar com aquele filho da puta. Então se preparem, cinco minutos. 

Caleb sentiu o peso da arma em sua cintura, a pegou com delicadeza. Conferiu se estava travada antes de colocar a munição, e respirou fundo. Eleonor apenas conferia sua munição em sua bolsa. 

Cinco minutos as vezes parece muito. Mas aqueles, ah, passaram como se fossem míseros segundos. 

  

... 

Durante a luta 

  

Todo aquele conflito parecia ótimo no papel, na teoria que Tobias havia proposto e repetido diversas vezes para o grupo. E por um momento foi ótimo, os membros da Revolução foram na frente atirando para os lados e acertando em alguns soldados, eles estavam sendo liderados por uma mulher chamada Amara — ela parecia saber o que estava sabendo. 

Poucos momentos depois, os soldados que vinham com Mitchell chegaram, trazendo junto os pacientes. 

Uma coisa que Caleb temia era a falta de experiência dos pacientes, mesmo com um pouco de treinamento. Afinal, os seus inimigos são soldados treinados e, teoricamente, mais experientes. Todavia, Caleb via uma fome que brilhava nos olhos de cada um. Vingança? Esperança? Não sabia dizer. 

Mesmo assim, ainda havia aqueles que estavam com medo, que se fingiam de fortes enquanto suas mãos tremiam ao disparar um tiro. Eles estavam em pânico, e o medo estava estampado em suas expressões, e vê-los assim fazia um calafrio percorrer a espinha de Caleb. 

Não posso entrar em pânico, ele pensou. 

Ficou realmente complicado quando um paciente levou um tiro bem na frente dos colegas, um tiro no peito. Caleb estava por perto quando o garoto — ele era bem jovem — colocou a mão no peito assustado e gritou em puro terror antes de desabar no chão e começar a convulsionar com sangue jorrando da ferida. 

Depois disso, tudo que viu foram jovens desesperados abandonando suas armas e correndo sem direção. Com isso, os mais experientes tentavam controlar aqueles desesperados e tinha aqueles que se aproveitavam da situação para atirar no inimigo que também estava distraído naquela confusão toda. Os outros pacientes tentavam ajudar os colegas, e isso incluía Eleonor, que correu para ajudar e Caleb a perdeu de vista. 

E isso o estava deixando a beira do pânico. 

— Ei! — ele viu um membro da Revolução e o segurou pela manga da camisa. — Por favor! 

O homem virou assustado e virou a arma para a cabeça do rapaz. 

— Ficou maluco!? 

— Você viu a Eleonor? 

— E eu vou saber quem é?  — puxou o braço com violência — Sai daqui. 

Caleb trincou os dentes e percebeu a loucura que estava fazendo, então correu. Correu. Correu. Ele não ia realmente se esconder em um beco, afinal, ele ainda tinha um pouco de honra que gostaria de manter. Bem pouca, mas tinha. 

Ele parou apenas quando não tinha mais ar, e teve que recuperar o fôlego. Cambaleou até uma parede e apoiou-se nela.  A arma estava firme em suas mãos, porém travada. Caleb, então decidiu, destravá-la. Em um lapso de coragem pensou em procurar nos cantos da cidade aqueles que estavam escondidos. 

O que durou poucos segundos, pois um tiro voou perto de sua orelha. Caleb se encolheu assustado e rapidamente olhou para trás. Um soldado inimigo o olhava com os olhos semicerrados, fechando a cara e continuou a apontar a arma. 

— Droga! — ele resmungou — Garoto, você tem sorte que eu sou ruim de mira. Odeio isso, sinceramente. Fica parado aí enquanto te acerto. — Caleb correu — Ah, claro. Por que facilitar sua morte? 

Ele não olhava para trás quando o barulho de outro tiro ecoou, e esperou a dor que não veio. Sorte é ele errar dois tiros, pensou, talvez o universo me queira vivo. Ele sorria timidamente enquanto recuperava a confiança. Quase teve vontade de virar e ver se acertava o filho da puta, contudo, não abusaria da sorte. 

— Caleb! — ouviu — Pode parar de correr agora. 

Era feminina. Meg. 

Caleb virou, se sentindo um tanto tonto. O homem que antes mirava a arma para ele estava caído no chão, imóvel. Meg olhava para ele com a sobrancelha erguida, o rabo de cavalo que começava a se desfazer e o rosto suado mostrava o esforço que ela estava fazendo. Ele apertou o passo para chegar até ela. 

— É. — Meg cutucou o homem com o pé, conferindo se ele estava mesmo morto. — De nada. 

— Obrigado. — agradeceu trêmulo. — Só quero que isso termine logo. 

— Aparentemente, não falta muito. — Daniel surgiu, aproximando-se com calma — Além disso, boa, Meg. 

— Acho que estou na sua frente agora.  — ela sorriu. 

— Você não viu os dois soldados que eu peguei lá atrás? Ha ha! 

Ela revirou os olhos. 

— Vocês estão competindo mortes? — ele torceu o nariz. 

— Bem, Caleb. Fazemos o que temos que fazer, não é? Para libertar a sua cidade. - Daniel respondeu com acidez. 

— Pois bem. — disse Meg — Não vamos fazer isso tomando chá e comendo biscoitinhos. 

— Se bem que seria ótimo se fosse assim... — Daniel ponderou. - Se os biscoitinhos fossem de chocolate, claro. 

Caleb puxou todo ar possível antes de soltar um longo suspiro, que mal podia ser ouvido devido a toda a confusão em volta. 

— Certo, certo. — gesticulou com as mãos — O que estão fazendo aqui? Quer dizer, fora do palco principal. 

Daniel umedeceu os lábios. 

— Há boatos que o Doutor já bateu as botas. Então, alguns soldados, que devo ressaltar estão em maior número, estão fazendo tudo possível para que isso aqui vire um inferno. Há até cidadãos que pegaram suas armas em casa e saíram nas ruas para lutar, estão expulsando diversos soldados de prédios e casa. É incrível. — ele suspirou — Mas claro que alguns deles estão morrendo também, então está uma confusão pior que eu imaginava que pudesse ficar.          Eu e Meg estávamos dando uma procurada em soldados que decidiram ser espertos , fugindo daqui. 

— Nossas ordens são prender, e matar, se necessário. Eu até tenho várias algemas aqui, e das boas. — Meg levantou levemente os cantos dos lábios — Mas eu não sou policial para ficar prendendo todo mundo né? Se bem que já algemei um monte em placas de rua. 

— Você trabalhou na polícia daqui, não? — Daniel balançou a mão — Quer dizer, ... 

— Você entendeu.  — Meg o cortou, sua expressão se tornou um tanto mais dura como se Daniel tivesse estragado uma frase planejada em sua cabeça. 

— Oh, nossa. — Caleb falou — Mas estamos ganhando? 

Daniel deu de ombros. 

— Eu diria que sim. Só vejo um monte de desesperados agora. Temos que chegar ao Major para que ele declare uma redenção oficial. Só espero que não haja muitos civis feridos. 

— Isso é ótimo! — alegrou-se — E como está minha irmã? Se o Doutor está morto... Falando nisso vocês viram a Eleonor? Sabem se ela está bem? 

— Não se preocupe. — Daniel sorriu — Vi sua amantezinha colada com a Amara, elas parecem que estão fazendo um ótimo trabalho em manter a calma de alguns pirados aí. 

Uma calma instantânea atingiu seu peito, como se todo o estresse e o peso que carregava em seu coração se amenizasse. Ele relaxou os ombros. 

— E Beatrice? 

Caleb percebeu o olhar preocupado que Meg trocou com Daniel. 

— Por favor, não digam que ela... — um calor subiu dos pés à cabeça de Caleb. 

— Não! — Meg exclamou — Ela está viva... por enquanto. Tobias a levou para o hospital e ela foi para cirurgia, eu acho. Não sabemos o que aconteceu depois. 

Tanto a respiração quanto o coração dele estavam mais rápido. Parecia que ia entrar em colapso. 

— Tenho que ir para lá! 

— Tudo bem. — Meg concordou — Eu te ajudo a chegar lá. Daniel, você... 

— Vou ficar por aqui. Vou ficar bem. — respondeu prontamente. 

— Certo. Vamos, Caleb. 

No momento que eles começaram a seguir para o caminho, dois soldados surgiram furtivamente e foram na direção de Meg e Daniel que estavam mais perto. 

Daniel rapidamente pegou uma faca e partiu para cima do soldado com uma velocidade incrível. Caleb não prestou tanta atenção nele, pois Meg estava em uma situação pior, o soldado a agarrava por trás impedindo seus movimentos. Meg grunhiu. 

Caleb, por impulso, agiu rápido e sem pensar. Segurou o soldado pelos ombros e o empurrou na parede, sua mão segurou o cano quente da arma que parecia queimar sua mão, tentando impedir que o soldado atirasse em seu peito. A arma disparou, ele sentia dor e umidade. Ignorando a dor, ele conseguiu inverter as posições entre eles, de forma que encaixou o soldado perfeitamente em seus braços e aplicou força no pescoço do homem até a falta de ar o fazer desmaiar. Caleb o soltou no chão, o soldado caiu em um baque surdo. 

Suas mãos foram diretamente para a área que doía e sentia que o sangue escorria da sua lateral direita. Queria gritar pela dor, mas a única coisa que se permitiu fazer era deixar lágrimas deslizarem pela bochecha. 

Meg se aproximou dele, levantando a blusa para ver o ferimento. Daniel também foi ver, ele parecia bem e carregava uma faca ensanguentada. 

Ela suspirou aliviada. 

— Foi de raspão só, Caleb. Você vai sobreviver. 

— Eu vou? — ele sorriu. 

— Obrigada por me ajudar. 

— Admito que não esperava aquilo de você. — Daniel esclareceu. 

— Ok, Ok, de nada. Mas aquele hospital não me parece uma má ideia agora. 

Meg riu e ofereceu seu ombro para Caleb, que aceitou sem hesitar. Ele estava realmente feliz. 

  

P.O.V MEG 

Meg já teve alguns momentos felizes em sua vida, que a faziam sorrir até hoje. Ela também teve vários momentos que foram horríveis, que a fizeram questionar sua própria existência. Por um tempo, ela teve que viver sem um sentido de vida, sem um real motivo para acordar de manhã, além dos instintos básicos para a sobrevivência. São esses momentos cinzas que todo ser humano precisa passar para se tornar quem é de verdade, e Meg sabia disso. 

O sentido de vida que ela criou para si mesma era lutar pelo o que acreditava — por um país melhor — e isso lhe deu motivos para seguir em frente e, na verdade, sempre daria. Por tudo isso, não conseguiria descrever em palavras a felicidade que sentiu quando — depois de levar Caleb ao hospital e pedir para Eleonor acompanhá-lo — viu Damon subir em um banco junto com um cara velho com roupas do exército. Ele colocou um megafone na boca do homem. 

— Eu, Major Jimmy Novak, declaro oficialmente a redenção de todo o batalhão e ordeno a meus homens largarem as armas e aceitarem a prisão. 

Apesar do tom imperativo, o homem parecia derrotado e triste. Meg chegou a ter pena de quão miserável e frágil aquele homem parecia no momento. 

— Então, ganhamos, filhos da puta! — Damon gritou, e todos o acompanharam. 

Soldados não podem ignorar a ordem dada por seus superiores, é como eles são treinados afinal. Portanto, assim que o Major se pronunciou, Meg conseguia ver os soldados relutantemente colocando as armas no chão e erguendo os braços. Sinceramente, era um dos melhores sentimentos do mundo. 

Podia ouvir que agora quem fazia o pronunciamento era Mitchell, que logo passou a tarefa ao presidente. O áudio era horrível, mas ouvir a voz sedosa do homem em uma saudação pelos esforços de libertar a cidade de uma tirania, fez todos se sentirem especiais. 

Com o coração disparado e a emoção presa na garganta, ela vasculhou a multidão até encontrar quem queria. E correu em sua direção. 

Christina pareceu brevemente assustada pelo repentino contato, mas assim que sentiu um par de braços a apertando pela cintura como se fosse uma das coisas mais preciosas do mundo, ela reconheceu quem era. As mãos de Christina acariciaram o rosto e cabelo de Meg, ela também estava transbordando felicidade. 

— Você está suada. — Christina comentou. 

— Sua cidade está livre. — Meg respondeu — Isso não é incrível? 

— É, claro que é. Finalmente. Acho que a segunda vez é ainda melhor. 

Meg abraçou Christina mais forte contra si, ambas estavam suadas e imundas — fato — porém, ela não se importava. Ouvia os gritos animados dos civis como se pertencesse aquele lugar, como se conhecesse aquelas pessoas. 

— Eu te amo. — ela sussurrou. 

  

P.O.V CALEB 

  

Mesmo que tivessem ganhado, agora Chicago teria que passar por um tremendo processo de reabilitação por tudo que havia sofrido naqueles últimos dias. Ainda tinham centenas de corpos espalhados pelas ruas, os hospitais estavam lotado e as pessoas tinham medo de sair à rua. 

Caleb estava preocupado com sua irmã, pois não tinha notícias dela e Tobias tinha sumido da sala de espera. Pelo menos, era o que Eleonor havia lhe contado. 

Ele estava ótimo, mal precisou de três pontos para fechar a sua ferida, já que a bala não havia ficado alojada em seu corpo, e um monte de analgésicos para parar dor. Estava o dia inteiro mexendo na televisão e acompanhando as dezenas de noticiários que falavam dos acontecimentos de Chicago, o mundo e o país pareciam bem chocados. Caleb se sentia reconhecido e isso o fazia bem. 

Os nomes do presidente e o de Damon — como o adorável e destemido líder da Revolução — tinham sido citados em todos os canais. Os de Daniel e Meg também tinham aparecido uma ou duas vezes. Misteriosamente, Beatrice não fora em momento algum citada, o que era, no mínimo curioso, já que parte daquilo, se não tudo, havia começado por causa dela. Pelo o que parecia, estavam tentando abafar o escândalo que ocorreria, caso as nada convencionais experiências do falecido doutor fossem divulgadas. 

— Eu me sinto ótimo tendo ajudado a Meg, faz essa dor ter sentido. — Caleb compartilhou seu pensamento em voz alta. 

Ao seu lado Eleonor parecia inquieta, ela segurava a barra da camisa com força e mordia os lábios. Fingia prestar atenção nos noticiários, mas ele percebia seu olhar distraído. 

Mais cedo ela o deixou por mais ou menos uma hora e meia, e desde então estava assim. 

— Você deveria estar feliz. O que foi? — questionou Caleb. 

— É só que... bem... — ela suspirou fundo — Caleb, eu acho que se você é altruísta assim, — ah, ironia que Eleonor não entendia, mas fez Caleb soltar um riso nasal — deveria ajudar os pacientes. Você sabe tirar isso das nossas cabeças, nos dar nossas memórias de volta! Eu queria saber se ao menos tenho uma família para visitar nesse Natal. 

Caleb riu tristemente. 

— Eu poderia tentar, mas nem sei se vai dar certo. O que Charles me ensinou... bem, tem tantas coisas que eu poderia fazer com esse conhecimento. E uma delas seria ajudá-los. Eu poderia reabrir o Hospital, lá tem todos os equipamentos e infraestruturas necessárias e... 

— Ei — Eleonor o interrompeu — Só não se torne que nem ele. Nos ajude. 

— Eu poderia continuar uma parte das pesquisas do Doutor... Mas o governo nunca aprovaria isso. O presidente deve querer que todas as pesquisas do Doutor sejam apagadas da história do país. Não? 

— É, ninguém está falando disso. Acho que vão tentar encobrir a história, mas acho que será impossível, são tantos pacientes... Os que sobreviveram não conseguiram sair de Chicago, houve uma ordem do presidente que eles permaneçam aqui, até saberem o que vão fazer com eles, e comigo. O que acontecerá com eles, Caleb? O que acontecerá comigo?  

— Ei, ei. — disse como forma de conforto — Eu trouxe a maior parte dos estudos comigo, poderia continuá-los aqui mesmo, em Chicago, você pode ficar comigo também. Mas, Eleonor, você tem que entender que alguns dos seus colegas não são muito aptos para viver em sociedade, não é mesmo? Aquele lugar ferrou muito com eles. O governo não vai deixar que eles saiam por aí a vontade. Sou cientista, mas até eu mesmo sei que essa história de ressuscitação de seres humanos é um dilema difícil, moralmente não sei se isso é correto. E eles ainda tem que fazer exames para se certificar que vocês são, bom, normais. Tipo, vivos. 

— Eu sei, mas você não acha que algum deles merece algo melhor? 

— Sim, é verdade. Eu posso... estudar, experimentar. Ver o que pode ser feito no futuro, talvez. Mas não devíamos contar para ninguém, Beatrice não iria gostar nem um pouco disso. 

— É, ela não iria. Mas eu podia tentar ser normal, certo? Aqui com você. — ela escorregou a mão para segurar a de Caleb. 

— É, seria bom— ele sorriu acariciando a bochecha dela — Eu nunca vou me tornar ele, está me ouvindo? Nunca. 

  

P.O.V BEATRICE 

Alguns dias depois

Ela abriu os olhos lentamente. Todo o seu corpo doía e ela sentia-se tão perdida! Onde estava mesmo? O que tinha acontecido? 

Olhou em volta, e viu Tobias sentado de cabeça baixa. Ainda não tinha percebido que havia acordado. Ele estava tão diferente! A barba tinha crescido, as roupas pareciam sujas e ele parecia mais magro. 

Ela gaguejou, chamando a atenção dele, que levantou prontamente sorrindo. 

— Ei, olha quem voltou. - ele disse se aproximando. Ela sentiu os dentes trincarem quando ouviu "voltou". Não, de novo não. O desespero dela deve ter transparecido em sua face, pois Tobias logo esclareceu. 

— Não quis dizer voltar, do tipo, voltar dos mortos. Você só ficou alguns dias inconsciente. – Beatrice respirou aliviada. - Era melhor eu ter dito "Ei, olha quem acordou". Desculpe. Eu só estou um pouco nervoso. Você estava bem mal, e teve que passar por uma cirurgia, que, droga, demorou horas, e eu estava com tanto medo. Mas os médicos disseram que você ia ficar bem, que você só precisaria de alguns dias de descanso, mas eu só conseguiria acreditar realmente nisso quando você finalmente acordasse. E você realmente passou um bom tempo dormindo. E, agora, aí está você. 

— Isso foi profundo. – falou devagar. - Desculpe por ter feito você passar por isso. O que aconteceu? Eu lembro do Doutor, mas e o resto da cidade? Terminou? 

— Sim. - ele disse afagando os cabelos dela. - Mas não se preocupe com isso agora. Primeiro, você precisa ficar completamente bem. 

... 

— Então, Chicago voltou ao normal? - ela perguntou. Christina, Meg e Daniel estavam em seu quarto. Logo ela poderia sair do hospital, teria ainda que fazer um pouco de fisioterapia, mas o médico disse que ela já estava quase 100%. 

— Defina normal. - Christina respondeu. Meg riu. - Estamos bem. A maioria dos soldados já saíram da cidade. Os que ficaram estão apenas para proteger o presidente. 

— Anh? - Beatrice respondeu chocada, quase derrubando a gelatina que estava comendo. - O presidente está aqui? 

— Sim. E isso tudo graças a mim, devo lembrar. - Daniel respondeu fazendo a Meg e Christina revirarem os olhos. - Eu e Damon estamos entrando em um acordo de paz com ele.  

— O que mais eu perdi? 

— Bem... - Começou Christina relutante. - Muitas pessoas acabaram morrendo, muitas pessoas de Chicago. Inclusive, sua sogra. Ela estava escondida na cidade esse tempo todo, mas sabe-se lá o porquê, resolveu sair justo no momento que o confronto começou. 

Beatrice sentiu o choque. Não havia gostado de Evelyn, e nem iria chorar pela morte dela. Mas, ela era a mãe de Tobias e lamentava profundamente que ele estivesse passando por isso. Ele não tinha contado nada para ela em todos os dias que ficou no hospital. 

— O pessoal do hospital é o maior dos problemas atuais, não se sabe ainda o que vai ser feito em relação a eles. - Meg explicou. - Bem, estão avaliando um a um. Os que são loucos mesmo e perigosos terão de ser enviados para outro hospital psiquiátrico, não há o que fazer em relação a isso. Os que são loucos, mas não perigosos entrarão, pelo menos inicialmente, para algum grupo de acompanhamento, não sei bem o que isso quer dizer, mas parece melhor que ficar em um sanatório, não é? Agora, os casos parecidos com o seu são mais complicados. Tecnicamente, eles estão livres. A questão é para onde irão. Eles nem lembram de quem são, e mesmo se forem atrás dos registros do Doutor e descobrirem, será que é uma boa ideia voltar para suas famílias? Como poderiam explicar isso? - Beatrice pensou e realmente achou que isso poderia trazer mais confusão. E pior, questionamentos. E se todo o país descobrisse que havia uma maneira de trazer de volta seus familiares e pessoas amadas que haviam morrido? Isso seria uma confusão tremenda. Meg continuou: - Por isso, que eu disse tecnicamente livres, já que o governo não pode permitir que eles saiam por aí simplesmente. Então, ao que parece, eles ganharam uma nova identidade e serão realocados. E por realocados entende-se ficar em Chicago mesmo, afinal, já tem gente aqui o suficiente sabendo sobre o que aconteceu de verdade com eles. Acho uma ótima ideia, mas você já deve imaginar que nem todos eles ficaram satisfeitos com isso. Seu irmão está envolvido, pode perguntar mais para ele. 

— Ah, imagino. - Beatrice concordou. 

— Nem Caleb nem Tobias contaram isso a você? - Christina perguntou chocada. 

— O lema do momento de Tobias é: "quando você sair do hospital, eu te conto tudo. Não adianta ficar se preocupando com essas coisas agora". - ela respondeu imitando a voz de Tobias. - E Caleb só chorou e disse o quanto estava feliz por eu estar bem. Eleonor veio com ele, mas só disse que iria ficar por aqui mesmo, não que eu já não desconfiasse disso. Acho que perdi uma sogra, mas ganhei uma cunhada.  

— Pois é. - Christina comentou. - Confesso que antes de Eleonor surgir, eu achava que era mais fácil você ganhar um cunhado. 

As duas riram. Beatrice não podiam negar que era estranho ver Caleb tendo uma vida amorosa.  

— Acho que hoje mesmo todos nós já estaremos de partida. - Daniel disse. Depois olhou divertido para Meg. - Menos Meg, é claro. Parece que ela gostou mesmo de Chicago. Quem diria, não é? - Ele levantou-se e a abraçou, sem apertá-la muito. - Vim me despedir de você, Bea. Sabe, vou realmente sentir saudades suas. 

— Eu também. - Ela respondeu. - Mas estou feliz sabendo que toda essa guerrinha entre Governo e a Revolução acabou. Adeus, Daniel. E obrigada. 

— Ah, adeus não. Vamos pensar num até logo, que é melhor. Não dizem que o mundo é pequeno... Quem sabe? - Ele levantou e foi até as outra duas, colocando um braço em volta de cada uma. - Vocês têm certeza que não querem vir comigo também? Esse negócio de relacionamento entre apenas duas pessoas é tão cafona! Nós poderíamos formar um trio e tanto. 

— Adeus, Daniel. - Meg respondeu ríspida, mas depois sorriu, se despedindo dele. 

... 

Algum tempo depois, foi a vez de Damon visitá-la. Ele não tinha vindo nenhum único dia e Beatrice imaginava que o motivo era não ter que encontrar ela e Tobias juntos ali, e nem a encarar por ter fugido do que eles tinham combinado.  

Ela estava do lado de fora do quarto, tomando um chá e observando como a cidade estava, quando viu ele se aproximando. Parou ao lado dela, mas sem olhá-la. 

— Você já sabe que estamos partindo? - Ele perguntou. 

— Sim, Daniel me contou. 

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, um esperando o outro dizer algo. 

— Sabe, eu poderia dizer que não valeu. - Ele quebrou o silêncio. - O nosso acordo não era necessariamente eu matá-la, mas sim garantir que você permanecesse morta, caso viesse a morrer. E bem, você ainda estava viva naquela hora. 

Ela tomou um gole do chá pensando. Humpf! Que gosto horroroso aquela merda tinha! 

— E eu poderia questionar... Mas acho que você está certo. - Ela deu uma ligeira pausa. - Você disse que poderia dizer... E então? Por que você não dirá? 

— Você tomou um tiro por causa dele. - Beatrice sabia que ele estava se referindo a Tobias. Era uma meia verdade, ela não tinha pensado muito quando foi para cima do doutor, matando-o. - Sou um cara inteligente. Sei quando já perdi uma luta. - Ele parou e finalmente olhou para ela. - Preciso dizer que espero não te ver nunca mais, Beatrice. 

Ui, aquilo doeu. 

— Eu entendo. - E de fato, entendia, apesar de tê-la deixado magoada. Mas ela também merecia se sentir assim. Quantas vezes não o magoara? - Obrigada por tudo, Damon. E me desculpe por tudo. 

— É, que seja. Não foi nada demais. Vou sentir um pouco a sua falta, é claro, e alguns homens que trabalhavam comigo morreram. Mas o que é isso no final? Também conseguimos algo realmente muito bom.  

Ele virou para ela, e ela virou-se para ele, imaginando que Damon fosse dar um abraço de despedida, mas em vez disso, a beijou. Beatrice deixou que a beijasse, sôfrego e desesperado. Tobias com certeza não gostaria daquilo, mas ela não pôde negar a Damon. Considerando tudo que o fizera ele passar, tinha uma dívida muito grande para pagar e ele estava cobrando um preço baixo.  

Ele quebrou o beijo e se afastou, indo embora, parecendo estar, ao mesmo tempo, profundamente triste e feliz. 

— Adeus, Beatrice. - Ela o olhou triste. Seria a última vez que o veria ou ouviria a voz dele. 

Fechou os olhos por alguns minutos relembrando cada pequeno momento que vivera ao lado dele e de cada um dos outros da Revolução. Os maravilhosos, os bons e até os ruins. Como se estivesse em um enterro, despediu-se mentalmente deles, sabendo que só restaria essas lembranças para recordar. Sabia que por mais frio e distante que Damon tivesse se mostrado, ele também deveria estar pensando nas mesmas coisas que ela. 

  

...  

  

Ela ainda estava no mesmo lugar, quando Tobias chegou. 

— Tudo bem? - Ele perguntou. Ela ainda estava um pouco abalada, não era tão fácil e nem um pouco indolor fechar, ou melhor, trancar, um capítulo da sua vida, mesmo que você mal pudesse esperar para começar o outro. 

— Sim. - Ela respondeu e percebeu que Tobias sabia que ela estava mentindo. - Bem, vai ficar. Só preciso de um tempo. 

— Acho que você tem muitas coisas para me contar, não é? - Ele disse levantando a sobrancelha. Ele não parecia bravo, na verdade, sorria, mas parecia também curioso.  

Ela tinha muita coisa para contar ainda a ele, era verdade. Mas não agora. Talvez, amanhã, ou daqui há um mês, ou daqui há um ano. Aos poucos, ou talvez, tudo de uma vez. Só o tempo diria quando ela estaria pronta. 

— Falando em contar, por que você não me contou sobre sua mãe? Estou me sentindo uma vadia egoísta, imagino o quanto você estava sofrendo esse tempo todo e eu aqui sem nem... 

— Minha mãe morreu do mesmo jeito em que viveu: numa guerra. - Ele respondeu irônico, mas cabisbaixo. - Eu tive um tempo para assimilar a morte dela, enquanto você estava inconsciente. Estou ainda triste por isso, e acho que uma parte de mim sempre estará. Mas, por enquanto, quero me concentrar no futuro, o que acha? Nós pensarmos no futuro. 

— Acho ótimo. - Ela disse encaixando a mão dela na dele. - Você acha que se eu fizer um bolo de chocolate para você, talvez, você se sentiria melhor? Quanto eu sair do hospital, é claro. 

Ele demorou um tempo para perceber. Perceber que ela lembrava disso, que ela lembrava. Quando a ficha caiu, o sorriso dele aumentou. 

— Não sei, Tris. - Ele disse beijando-a levemente. - Sinceramente, eu acho que um bom bolo de chocolate pode melhorar quase tudo. 

  

P.O.V DAMON 

  

Ele estava terminando de arrumar suas coisas quando Mitchell apareceu acompanhado pelo presidente. Ele e o representante maior do Governo se encontrando casualmente como se fossem colegas. O quão mais bizarro aquilo poderia ficar? 

— E aí, cara? - Mitchell franziu o rosto em desagrado ao ouvi-lo chamando o presidente de cara e não por algum ridículo título pomposo. Ele balançou os ombros como se dissesse que não poderia fazer nada quanto àquilo, sempre tivera problemas com essa parada de figura de autoridade, a não ser que essa autoridade em questão fosse ele.  

— Damon. - o presidente respondeu tranquilo, não parecia se importar com ele o chamando de cara, como se ele fosse um cara comum e não o presidente. Na verdade, ele até parecia gostar de ser tratado como um cara comum, o que era uma merda, já que Damon quase estava gostando do cara, ops, presidente. - Queria dizer a você que estou muito feliz pelo nosso acordo. Como já devo ter repetido algumas dezenas de vezes, desculpe-me por isso aliás, acredito que o mais importante para o nosso país no momento é a união entre todos que desejam fazer deste um lugar melhor e acho que a hora disso acontecer finalmente chegou. Estou muito ansioso por trabalhar junto a vocês. - Ele esticou a mão o cumprimentando respeitosamente e Damon a apertou em retribuição. - A partir de agora entraremos em uma nova era. 

Damon confirmou com a cabeça e o presidente saiu para resolver outras coisas. Mitchell permaneceu um pouco mais. 

— Comporte-se, rapaz. - Mitchell o alertou. - Estarei de olho em você. 

Damon soltou uma gargalhada. 

— Eu estaria profundamente decepcionado com você se fosse diferente. 

Mitchell saiu resmungando o quanto esses membros da Revolução só poderiam ser completamente loucos. 

  

...  

  

Quando já estavam cruzando a fronteira da cidade, Daniel resolveu começar a atormentá-lo.  

— E então, bro? - ele disse se divertindo. - Você não vai atrás de Connie agora, né? Por favor, diga que não. 

Damon o olhou como se ele estivesse maluco por pensar nisso. 

— Claro que não. - respondeu mal humorado. E não pretendia mesmo. O que ele precisava agora era de um tempo sozinho. Ele sempre havia emendado um relacionamento atrás do outro, para poder conseguir superar o anterior. E isso não tinha dado muito certo, né? 

— Não acredito nessas coisas religiosas, mas preciso dizer algo. - Ele parou um momento tentando criar um clímax. - Amém!  

Damon balançou a cabeça como se achasse todo esse papo de Daniel muito infantil.  

Olhou novamente para a cidade, pensativo, e depois sorriu. Ele havia dito a Beatrice que sabia quando tinha perdido uma luta, e era verdade. O problema foi o beijo. A forma como ela, mesmo inconscientemente, havia correspondido. Havia, ao menos ainda, desejo ali. Agora ele não tinha tanta certeza se aquela luta realmente já estava encerrada. Não tinha tanta certeza se havia perdido. 

Mas isso não era hora de pensar essas coisas. Só o tempo responderia àquilo. E as coisas sempre estavam mudando, então, quem sabe? 

Claro que ele seguiria sua vida daqui para frente, mas como seu irmão sempre dizia: "o mundo era pequeno".


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não briguem cmg pelo final meio aberto! Vcs sabem que amo o Damon e queria deixar um pouquinho de esperança para ele tadinho.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ressurgente" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.