Embaixo da Pele escrita por Ca_Dream


Capítulo 3
Fantasma ou Homem?


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap. pra vocês! Espero que gostem.



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Elise acordou com uma dor de cabeça terrível. Abriu os olhos, mas se arrependeu. A luz só fez sua cabeça piorar. Piscou repetidamente até se acostumar com a luminosidade. Percebeu que estava em seu quarto. Levantou-se ainda tonta e devagar caminhou até o espelho que ficava paralelo a sua cama.

O espelho era um pouco maior do que ela e ficava pregado na parede. Ficou parada, observando seu reflexo. Seu vestido estava amassado e o lado direito de seu rosto estava inchado. Em sua testa, um pequeno curativo com gaze cobria seu machucado. Foi aí que as lembranças da noite anterior a atingiram. Jean, o tapa, um rosto. E uma máscara?

A porta de seu quarto abriu de repente, revelando as duas mulheres da família Giry. Meg vinha carregando uma bandeja com suco e biscoitos, que depois depositou na cama. Sua mãe vinha apoiada na bengala, esquadrinhando o quarto como se procurasse a presença de alguém.

–O que você está fazendo de pé? Vamos. Volte para a cama. – a mais velha exigiu. Fez como lhe foi ordenado.

–É Elise. Você precisa descansar. – a loira falou. – Quedas da escada são perigosas.

Quedas da escada?

–Ora Meg, não importune a menina. Deixe-nos a sós agora. – a filha ia rebater, mas calou-se sob o olhar severo da mãe.

–Do que ela estava falando, Madame? Eu não caí da escada. – Elise estava confusa.

–Para todos os efeitos, foi exatamente isso que aconteceu. – a senhora lhe lançou um olhar tão sério que ela não ousou rebater. – É melhor você comer. E não se preocupe. Você não precisa trabalhar hoje.

Madame Giry saiu. Deixando uma Elise estupefata para trás.

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Erik apertou as teclas do órgão, fazendo com que a música do instrumento ecoasse por seu tão sombrio “lar”. Estava absorto na melodia, mas não conseguiu impedir que seus pensamentos, vez ou outra, divagassem para Elise.

Podia lembrar perfeitamente das feições da moça. Os olhos dela eram de um tom incrivelmente verde. Como o oceano que vira muitas vezes em suas viagens. Como nunca notara aqueles olhos antes? Ela ficara encarando-o, momentos antes de desmaiar. Se ela se lembraria dele? Provavelmente não. E mesmo que lembrasse. Acharia que foi apenas um sonho.

A moça tivera muita sorte de ele ter aparecido enquanto aquele canalha tentava se apossar dela. Deus sabe o que teria acontecido se Erik não estivesse lá. Antoinette, quando soube, ficou histérica, claro. A menina estava sob seus cuidados. Uma coisa como essas não deveria acontecer.

Erik a acalmou, dizendo que a moça estava bem. E que ele já tinha removido o corpo do rapaz do quarto dela. Ele mesmo tinha feito um curativo na testa da menina. Por sorte, havia algodão, álcool e gaze na gaveta do criado-mudo dela. Ele não teria se dado ao trabalho. O corte nem fora tão profundo assim. Mas havia sangue demais.

Instruiu a Antoinette que mantivesse o acontecido em segredo. A mulher aceitou de bom grado. Inventaria qualquer desculpa para iludir a menina. Ele não se importou. Já tinha coisas demais com o que se preocupar.

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Elise caminhou das escadarias do último andar direto para o telhado. Finalmente, poderia apreciar um pouco a vista de uma Paris noturna. Ela caminhou pelo espaço, pensativa. Já fazia mais de um mês que estava morando na ópera e ainda não tinha recebido nenhuma outra carta de sua tia Isabelle. Isso era inquietante. Além disso, o acontecimento sobre Jean semanas atrás, continuava vivo em sua mente. O rapaz havia sido encontrado morto, no terreno por trás do prédio. Como era de costume, fofocas e conspirações se espalharam. Uma ou outra contando como o Fantasma tinha enforcado o jovem até a morte. Mas o que ela realmente não entendia, era a insistência de Madame Giry em dizer que ela havia tropeçado e caído da escada.

Passou uma das mãos sobre a sobrancelha direita. A marca que o corte tinha deixado era tão pequena que mal podia ser chamada de cicatriz. Deu mais alguns passos a frente, chegando ao limite do telhado. Recostou-se a uma das gárgulas. E deixou suas preocupações serem varridas pela bela vista a sua frente. O céu estava igual a um manto azul-escuro, bordado com estrelas aqui e acolá. No centro, uma lua cheia, brilhante e esplendorosa. Paris, uma cidade adormecida abaixo de si. Só podia imaginar o quanto aquela imagem se transformaria após ser coberta por uma grossa camada de neve.

O vento espalhou seus cabelos e Elise apertou a capa ao redor de seu corpo. Devia estar bem disfarçada ali. Com uma capa preta, no meio da noite? Se não fosse tão branca, teria desaparecido no meio da escuridão. Ouviu um barulho que a fez virar a cabeça abruptamente. Observou, mas não havia uma alma viva por ali.

Outro farfalhar. Dessa vez, Elise apertou os olhos. Ou estava louca, ou havia mais alguém com ela no telhado. Não emitiu som algum. Tinha a impressão de que se falasse, não seria correspondida. Então, pelo canto do olho, viu um tecido preto se mexer por trás de algumas estátuas. Em seguida, algo branco se agitando. Branco como porcelana.

Elise não precisou pensar duas vezes para saber o que era. Ou melhor, quem era. Tudo se encaixou em sua cabeça com um clique. O homem que a tinha resgatado a máscara branca. A mentira de Madame Giry. Os boatos que rondavam a ópera.

Era o fantasma. Sempre fora o fantasma. E aparentemente, ele estava longe de ser apenas um espírito.

–Espere. – a voz de Elise ecoou pelo espaço vazio. Nenhuma resposta. Nada além do som do vento.

Ele já tinha ido embora.

–Eu só queria agradecer. – ela sussurrou.

Erik estacionou no lugar. Observou a moça de onde estava escondido. E depois foi embora. Não podia falar com ela. Já tinha se arriscado demais.

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Elise seguiu com sua vida. Mas volta e meia, ainda pensava no encontro do telhado. Onde ele estaria agora?

Foi despertada de seu devaneio pelas costureiras ao seu redor. Todas estavam agitadas, se espremendo para passar pela porta. Ficou curiosa. Qual seria o motivo de tanto estardalhaço? Seguiu as mulheres.

Não foi nenhuma surpresa saber que o motivo do barulho se devia a mais um dos ataques de La Carlotta. Elise parou ao lado de Meg e Christine, enquanto ouvia a cantora principal gritar.

–Isto não é possível. Não é possível. – ela continuou o escândalo com seu sotaque quase impossível de entender. – Sem ensaio, como eu vou me apresentar? Deem um jeito ou eu não cantarei esta noite.

Lá estava a velha chantagem. Elise revirou os olhos. Se não cantasse ali, onde mais cantaria?

–O que foi dessa vez? – sussurrou.

–O pianista ficou doente. – Christine respondeu.

–Sem ele – Meg continuou. – ela não pode acompanhar o solo.

Elise observou Monsieur Reyer quase arrancar os cabelos e Madame Giry revirar os olhos. Hesitou antes de se aproximar da mulher.

–Eu poderia substituir no piano. – sussurrou somente para que ela ouvisse.

A mulher praticamente deu um pulo, seus olhos ganhando um novo brilho.

–Graças a Deus. Eu não aguentava mais. – a senhora se encaminhou até o senhor Reyer, sussurrando em seu ouvido. O maestro olhou para Elise, espantado.

–Tem certeza, menina? As partituras não estão aqui. Como você vai tocar?

–Já vi outros ensaios. – respondeu. – Tenho as melodias de cor. – ela parecia extremamente confiante.

Todos fizeram silêncio enquanto ela se encaminhava para o piano. E ela tocou. Com uma graça desconhecida por todos ao seu redor. Quem poderia imaginar que uma garota tão calada, guardasse tamanho talento? Ela não errou uma nota se quer.

Não prestou atenção ao que acontecia ao seu redor. Concentrou-se apenas em deixar que seus dedos corressem soltos pelo teclado. Pela primeira vez em tempos, Elise se sentiu cheia de vida. Mesmo quando o ensaio acabou e os outros foram embora, continuou tocando. Suas mãos pareciam querer fazer o teclado memorizar as melodias que aprendera em sua infância.

Naquela noite, voltou para o quarto com um sorriso no rosto. Não imaginava o quanto sentia a falta do piano, até ser apresentada a oportunidade de tocar um.

Fechou a porta atrás de si, suspirando como uma boba apaixonada. Quando sentou na cama, sentiu algo macio, diferente do lençol, tocar sua mão. Agarrou o objeto, percebendo que se tratava de uma rosa. Nunca fora a maior fã de flores, mas não podia negar. Aquela era de longe, perfeita. Não havia nenhum espinho. Suas pétalas pareciam pintadas à mão com o vermelho mais vivo da terra. Em seu caule, um laço de fita preta.

Vasculhou a cama, à procura de algo mais. Ouviu o barulho de algo se amassando. Retirou a mão, encontrando o bilhete. Na mais fina e elegante caligrafia, estava escrito:

Sei que você ainda me procura. E se você quer tanto me encontrar. É só olhar dentro do espelho.

Era uma mensagem estranha, Elise pensou. Mas mesmo assim, foi até o espelho do outro lado do quarto. Por entre o vidro, uma mão enluvada em material preto se estendia. Passado o susto inicial, seguiu adiante.

Segurou a mão. E nem se quer olhou para trás.


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Notas finais do capítulo

O que vocês estão achando da história? Comentem, please.



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