Embaixo da Pele escrita por Ca_Dream


Capítulo 14
Nova Terra


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, mil desculpas por demorar tanto a postar. Com o final da história chegando, foi ficando mais difícil de escrever. Mais aqui vai um capítulo novo para vocês. Aproveitem!
P.S: muito obrigada pela recomendação.



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Elise observou a chuva bater contra a janela da sala. Chuvas abundantes eram comuns para o clima da Inglaterra.

A temperatura havia caído um pouco, mas nada que pudesse tornar-se desagradável. Suspirou.

–Ficar encarando a janela não vai fazer com que eles cheguem mais rápido em casa. – virou-se para sua tia. Ela remexia distraidamente o cabelo loiro e liso. Ao mesmo tempo em que tomava uma xícara de chá.

Um dos grandes vícios dos ingleses.

–Tia Isabelle. – Elise respondeu pensativa. Sentou-se em uma das poltronas da sala.

–O que está incomodando você, minha querida? – Isabelle se endireitou no sofá em frente à sobrinha.

A menina olhou ao redor antes de continuar.

–Essa história de Erik e Tio Thomas saírem juntos para resolver negócios. O que eles andaram fazendo o dia todo? Erik está me escondendo alguma coisa. Eu sei disso.

Sua tia lhe lançou um olhar divertido.

–Relaxe. Homens são homens. Principalmente quando se trata de negócios. Talvez Erik esteja planejando alguma surpresa. – sua tia parecia feliz demais com o comentário.

Isso não passou despercebido a Elise.

–O que eu acho – a mais nova disse. – é que todos sabem o que está acontecendo. Menos eu.

Isabelle apenas sorriu.

–Erik não mentiria para você, não é mesmo? – Elise teve que concordar. Ele jamais esconderia algo dela. – Sabe, foi uma surpresa para mim você ter se casado com ele.

Elise sabia que ela estava apenas mudando de assunto.

–Como assim?

Sua tia tomou mais um pouco de chá.

–Sempre achei que você acabaria se apaixonando por Raoul. Vocês dois sempre foram tão amigos. Raoul era um rapaz doce e bonito. Não teria sido surpresa que vocês anunciassem um namoro.

Elise se segurou na cadeira. Quase tivera um surto com o comentário. Deus graças aos céus por Erik não ter ouvido aquela conversa. Ele com certeza teria um ataque do coração.

–Meu deus, tia. É claro que não. Raoul e eu sempre fomos bons amigos. Nada mais. Isso nunca passou pela minha cabeça.

Elise remexeu na saia do vestido. Envergonhada pelo comentário. Isabelle pareceu achar engraçada sua reação e continuou a provocá-la.

–Me conte. Nunca aconteceu nada entre vocês? Nem mesmo um único beijo?

Elise sentiu suas bochechas corarem. Ela e Raoul eram melhores amigos. Ele era um ótimo rapaz, mas nunca teria se apaixonado por ele. Antes que pudesse responder qualquer coisa, ouviu a porta da frente se abrir.

Erik e Thomas entraram, pendurando suas capas molhadas no hall. Assim que os dois chegaram à sala, Elise se levantou. Indo direto para os braços do seu marido.

Erik a recebeu com um sorriso, imediatamente passando os braços ao redor de sua cintura. As roupas dele estavam geladas, devido ao clima lá fora. Mas ela não se importou.

Ele acariciou os cachos dela. Observando seu rosto.

–Você está corada. – Erik então olhou para Isabelle. – Sobre o que vocês duas estava conversando?

A mulher apenas sorriu. Um sorriso tão bonito que poderia ter conquistado até um rei. Dividiu um olhar cúmplice com a sobrinha.

–Estávamos relembrando a infância de Elise. Lembra-se daquela vez que você insistiu para seus pais contratarem um professor de piano? Uma semana depois você disse que não estava aprendendo nada. E resolveu aprender sozinha como tocar.

Erik retornou seu olhar para a esposa.

–Você fez isso?

–Ele era um péssimo professor. Acredite, eu estava melhor sozinha. – Elise sorriu matreira. – Isso surpreende você?

–Nem um pouco. – Erik respondeu. Ele inclinou-se para frente, capturando os lábios dela.

–Vamos Thomas. – Isabelle sussurrou. – Os pombinhos precisam ficar a sós. Ethan deve estar sentindo nossa falta lá em cima. – os dois tomaram o caminho da escada, despercebidos.

Elise e Erik finalmente se separaram.

–Tenho uma surpresa para você. – ele falou.

–Tem? – ela perguntou curiosa.

Ele confirmou afirmativamente com a cabeça.

–Eu comprei uma casa para nós.

–Você o quê?

–Eu sei que deveria ter avisado a você. Mas eu queria que nos tivéssemos um lar só nosso. Thomas me ajudou com os papéis.

–Você deveria ter me avisado, não deveria gastar tanto assim sozinho. Nós temos o dinheiro da minha herança.

–Você tem o dinheiro da sua herança. – Erik continuou. – Elise, eu me recuso a usar um dinheiro que é só seu. Posso cuidar das coisas, sozinho. Eu tenho dinheiro suficiente do meu tempo na ópera.

Elise revirou os olhos para ele. Orgulho masculino.

–Onde fica a casa?

–No interior. A quatro horas de viagem daqui. Poderemos visitar seus tios quando quiser. – ele a observou com olhos atentos. – Você está com raiva de mim?

Elise sabia que não estava com raiva. Sabia que Erik tinha razão. Não podiam ficar na casa de seus tios para sempre.

–Não, não estou. – ela espalmou as mãos no peito dele. – Mas da próxima vez que você precisar tomar uma decisão importante, tem que falar comigo.

–E como eu vou surpreender você?

Ele acariciou o rosto dela e Elise fechou os olhos por um momento.

–Quando podemos nos mudar?

–Quando você quiser.

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A cidade de Ascot estava localizada no Condado de Berkshire, a poucas horas de Londres. Era no interior do país, mas, apesar de pequena, a cidade era conhecida por ficar nos arredores do Castelo de Windsor. Pertencente à família real.

Erik e Elise haviam se mudado pouco tempo depois de ele anunciar a compra da casa. Ascot era uma cidade simples, porém tinha sua beleza natural. O lugar perfeito para começar uma vida nova. Onde Erik e Elise seriam apenas recém-casados, sem que ninguém soubesse sobre o passado deles. Onde ele não precisaria ser julgado por seu rosto.

A casa era enorme. Com cômodos a perder de vista. O primeiro andar era coberto por janelas de vidro. No dia em que chegaram, Elise surpreendeu-se com o fato de que Erik havia preparado tudo sem que ela soubesse. A casa estava completamente mobiliada e decorada elegantemente. Cada espaço tinha sido especificamente planejado. Havia uma biblioteca enorme. Duas salas de música. Uma para ela e outra para ele. Elise só podia imaginar como Erik tinha conseguido tantos instrumentos em tão pouco tempo. Uma sala para reuniões, onde se podiam receber alguns poucos convidados. Tinham um pequeno estábulo no quintal, para os cavalos. Sem falar no esplendoroso jardim.

Até os empregados já haviam sido contratados. Rose, uma moça de bochechas rosadas e cabelos escorridos, cuidaria da limpeza da casa e dos afazeres da cozinha. Ela não era muito mais velha do que Elise. Rose tinha a beleza desenhada em seus traços. Elise tinha sentido uma pontada de ciúmes. Mas Erik nunca lhe dera motivos para que o ciúme criasse raízes em seu coração. John, um senhor de quase quarenta anos, tinha a jovialidade apagada em seu rosto devido aos anos de trabalho. Ele cuidaria da limpeza e segurança da propriedade.

Obviamente, os dois eram de inteira confiança.

Com a nova vida estabelecida, tudo com o que Erik teve que se preocupar foi em arranjar um emprego. Isso não se mostrou um problema. Logo. Suas habilidades como arquiteto ficaram conhecidas e ele ganhava dinheiro fornecendo projetos pela região.

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Elise se remexeu mais uma vez na cama. Sabia que estava no meio da madrugada. Mesmo assim, não conseguia dormir. Erik ainda estava na biblioteca. Trabalhando em alguma planta de um projeto.

Ela suspirou, ajeitando os lençóis. Encarou o quarto escuro, observando as sombras que se formavam. Ouviu passos no corredor. Segundos depois, Erik abriu a porta. Ele entrou silenciosamente, fazendo de tudo para não acordá-la.

Ele finalmente olhou para a cama.

–Elise? Você ainda está acordada? – ele começou a trocar de roupa.

–Estou sem sono.

–Você não dormiu nenhum pouco?

–Dormi. Mas acordei no meio da noite. E não consegui dormir mais. – Erik levantou as cobertas, deitando ao lado dela.

O silêncio tomou conta do quarto. Ele fechou os olhos para descansar. Mas, a cada dois minutos, Elise se mexia um pouco. Ás vezes, até virando de lado. Ela tentava ser sutil em seus movimentos. Para não atrapalhá-lo. Erik percebeu que ela estava inquieta demais.

–Elise? – ele chamou, olhando-a de soslaio. Ela virou-se para ele.

–Desculpe. Estou incomodando você?

Erik apoiou o cotovelo no colchão. Virando o perfil para ela.

–Você não seria um incômodo nem se tentasse.

–É que eu estou muito agitada. Acho que ainda não me acostumei a esse lugar.

Erik percorreu a mão pela cintura dela, causando a Elise pequenos arrepios.

–O que você acha de fazermos um piquenique amanhã? O clima está ótimo. Poderíamos pegar os cavalos e ir até o lago.

–Seria maravilhoso. Assim eu poderia gastar mais um pouco de energia.

Não falaram mais nada. Elise, aparentemente, não havia relaxado. Ainda estava acordada.

Bem... Erik pensou.

Ele a beijou, pegando Elise de surpresa. Mas a surpresa foi substituída pelo desejo. Logo, Erik estava por cima dela na cama. Seus corpos se entrelaçando levemente. Elise afastou os lábios dos dele.

–Erik, eu ainda não consigo dormir.

–Eu sei. – respondeu com a voz rouca.

Elise sorriu no escuro enquanto ele se inclinava para beijá-la.

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–Olhe só isso. – Elise falou, adentrando a biblioteca com um sorriso estampado no rosto. – Uma carta de Raoul. – ela levantou a mão, mostrando o envelope que segurava.

Erik tirou os olhos do livro que lia, fechando-o ruidosamente e colocando-o sobre a mesa. Elise sentou-se na poltrona em frente à dele.

–E o que o seu querido amigo Raoul diz? – Erik pergunta.

Elise continua, ignorando o sarcasmo na voz dele.

–Ele nos parabeniza pelo casamento. E deseja que sejamos felizes com as escolhas que fizemos. Christine e ele ainda estão viajando. Itália, dessa vez. E tem mais uma novidade. Christine acaba de descobrir que está grávida.

–Espero que a criança se pareça com a mãe. – Erik murmura baixinho.

No entanto, Elise ouviu. Ela ergueu uma das sobrancelhas para ele. O que foi o bastante para que Erik se calasse.

–Vocês tem que parar com esta inimizade. Vocês dois. – Elise alcançou a mão dele por sobre a mesa, entrelaçando os dedos dele nos seus. – Eu estava pensando em convidar Raoul e Christine para uma visita. E seria maravilhoso se nenhum de vocês ficasse lançando olhares mortais ao outro. Acha que pode fazer isso por mim?

Erik suspirou, balançando a cabeça afirmativamente.

–O que eu não faria por você?

Elise sorriu para ele.

–Foi por isso que me casei com você.

Erik apertou a mão dela.

–É mesmo? Achei que tivesse sido por causa do meu charme irresistível.

–Isso também.

Erik a observou atentamente. A todo o momento, Elise demonstrava um pouco do amor que sentia por ele. Fosse por meio de um toque, um olhar, um sorriso. Sentiu-se o homem mais sortudo do mundo por tê-la ao seu lado.

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Elise desceu as escadas devagar aquela manhã. Mais sonolenta do que de costume. Encontrou Rose na sala de jantar, arrumando o café-da-manhã.

–Bom dia, Rose. – falou, puxando uma das cadeiras para se sentar.

–Bom dia senhora. – Rose foi até ela, servindo-lhe leite quente em uma xícara.

–Meu marido já saiu?

A outra confirmou com a cabeça.

–O senhor Destler saiu com John assim que o dia amanheceu. Eles foram ao centro para comprar algumas ferramentas para a propriedade.

Elise concordou com um menear de cabeça. Erik tinha a habilidade de ir e vir sem ser notado. Resquícios dos anos em que passara na ópera, estreitando-se por corredores sem ser visto ou ouvido.

Ela serviu-se de um pedaço de bolo e algumas torradas. Quando terminou o desjejum, se levantou para sair da mesa. Mas assim que ficou de pé, sentiu-se enjoada.

Apoiou-se na cadeira.

–Está tudo bem, senhora? – Rose perguntou atrás dela. Elise virou-se para a moça com um sorriso amigável nos lábios.

–Eu estou bem. – respondeu. – Mas acho que vou ir me deitar um pouco.

Ela foi em direção às escadas, indo direto para seu quarto. Assim que entrou, Elise deitou-se na cama. O enjoo aumentando a cada minuto que se passava. A cada náusea, ela tentava controlar a urgência de colocar todo o café-da-manhã para fora.

Elise não era boba. Ela estava atrasada e agora com os enjoos. Sabia o que aquilo significava. Erik e ela estavam casados há tão poucos meses. Ela estava grávida.

Momentos depois, Erik entrou no quarto, examinando-a completamente antes de se aproximar.

–Elise? – ele sentou-se ao lado dela na cama. – Rose me disse que você estava passando mal.

Ela não respondeu. Estava tomada por sua descoberta.

–Você está bem? Está doente? Quer que eu chame um médico? – ela levou uma das mãos aos lábios dele, silenciando-o. Tantas perguntas só fizeram seu enjoo aumentar.

Ele a olhou, preocupado.

–Eu não estou doente. Mas suponho que precise de um médico para confirmar. – respondeu.

–Confirmar o quê?

Elise se virou para ele, os olhos dela fixando-se nos cinzas dele.

–Erik, eu estou grávida.

Ele piscou demoradamente, como que absorvendo as palavras dela.

–Grávida? – repetiu. Aquela fora a primeira vez que Elise vira Erik quase gaguejar. Ela apenas confirmou com a cabeça. – Eu vou ser pai? – um sorriso enorme apareceu no rosto dele.

Quem um dia imaginaria que ele se tornaria pai? Que ele teria uma família?

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A música ecoava por toda a casa. Era incrivelmente bonita e ao mesmo tempo, melancólica. Quem foi que disse que a tristeza não possuía sua própria beleza?

Elise seguiu pelo corredor, abrindo a porta da sala de música sem ser percebida. Erik estava de costas para ela. Os dedos percorrendo as teclas do piano. Como sempre, quando ele tocava, parecia que Erik era transportado para outra realidade. Uma realidade que era só dele.

Elise caminhou até ele com passos silenciosos. Deixou que suas mãos descansassem sobre os ombros dele. No mesmo instante em que ela o tocou, Erik parou de tocar. Ele a puxou para ele, fazendo com que Elise acabasse sentada em seu colo. Ela levou a mão à máscara, retirando-a e colocando-a sobre a tampa do piano. Elise acariciou a bochecha dele e Erik fechou os olhos, como sempre fazia quando ela tocava sua face deformada.

–Por que uma música tão cheia de tristeza, meu amor? – ele tornou a abrir os olhos quando ela terminou de falar.

Erik acariciou a barriga dela, que começava a aparecer pelo vestido. Elise já estava com três meses. Ela colocou a mão por cima da dele, dando um sorriso triste.

–É por causa do bebê? Você está triste por causa do bebê?

–Não. É claro que não. – Erik respondeu, pegando o rosto de Elise entre as mãos e ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. – Nunca estive mais feliz do que quando você me disse que estava grávida.

–Então, o que é?

–Eu tenho medo.

–Medo de quê?

Ele baixou o olhar.

–De que o bebê seja como eu.

Elise sentiu seu coração se apertar ao ouvir o que ele disse. Erik tinha medo de que o bebê fosse como ele. De que a criança nascesse com o rosto deformado. De que o filho deles fosse rejeitado pelo mundo e tivesse uma vida miserável. Do mesmo modo que Erik tivera.

Agora foi a vez de Elise segurar o rosto dele entre as mãos.

–Erik, me escute... – mas ele não deixou que ela falasse.

–Não, Elise. Não há nada que você possa dizer. Foi irresponsabilidade minha. Como eu pude arriscar passar esse rosto a uma criança inocente? Foi pura ingenuidade pensar que eu poderia ter uma vida normal. Uma família.

Elise sentiu vontade de esbofeteá-lo.

–Não diga isso. Nós somos sua família. Não fale como se fosse desistir de nós. – Erik sabia que a estava magoando. E não havia nada que ele odiasse mais nessa vida do que magoá-la. – Eu amo você. E eu amo nosso filho. Não importa como ele nasça. Nós iremos protegê-lo e cuidar dele.

–Se ele for como eu, o mundo irá rejeitá-lo.

–O mundo é muito tolo. – Por que ela tinha que fazer isso? Fazer tudo soar tão fácil. Erik queria tanto acreditar nas palavras dela. – Nosso filho será lindo. – ela continuou.

Erik sorriu.

–Só se ele for como você.

Elise balançou a cabeça.

–Não. Se ele for como você. Você é lindo, Erik.

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Os meses passaram depressa. Os incômodos da gravidez eram tão grandes quanto à ansiedade de ter o bebê nos braços. Felizmente, Erik e Elise não voltaram a discutir sobre o que aconteceria se o bebê tivesse o rosto do pai. Ao invés disso, os dois apenas sonhavam como seriam suas vidas quando o filho nascesse. Como qualquer pai faria.

Elise tinha chegado ao nono mês de gestação. Era cansativo se locomover com a barriga já crescida. Às vezes era difícil dormir porque o bebê se agitava muito durante a noite. Quando isso acontecia, Erik cantava para o bebê. Isso parecia acalmar a criança e fazia com que Elise conseguisse dormir.

Era fim de tarde e Elise estava sentada no sofá, se distraindo com algum livro. De repente, sentiu uma dor aguda no meio das costas. A pontada a pegou de surpresa, mas logo passou.

–Rose. – chamou alto. A menina logo apareceu na sala. Correndo para o lado dela. – Me ajude a ir até o quarto, está bem? Acho que preciso me deitar.

Elise segurou as duas mãos de Rose e ela a ajudou a se levantar. Quando Elise ficou de pé, sentiu um líquido escorrer no meio de suas pernas. Uma pequena poça de água formou-se no chão. Rose seguiu seu olhar. Um olhar de pavor apareceu no rosto da empregada.

–Senhora, a sua bolsa estourou! – ela virou-se para sair, mas Elise segurou seu braço, a fazendo parar. – Eu preciso chamar o senhor Destler. Ele está lá fora com o John.

–Acalme-se, Rose. Eu estou bem. Me ajude a ir até o quarto primeiro. Aí você poderá chamar meu marido.

A menina fez como lhe foi ordenado. Seguiu guiando Elise pelas escadas e a deixou confortavelmente na cama de seu quarto. Depois, saiu correndo porta afora.

Erik logo apareceu, correndo pelas escadas e abrindo a porta como um furacão. Elise lhe ofereceu um sorriso tranquilizador. Ele foi para o lado dela, segurando sua mão.

–Você está bem? – ela confirmou com a cabeça. – John já foi buscar ajuda. – Erik parecia extasiado. Sem saber o que fazer.

Elise apertou sua mão com força.

–O que foi? – perguntou preocupado. Ele verificou seu rosto, achando-a mais pálida do que de costume.

–Só uma contração. – ela riu. – Você parece mais desesperado do que eu.

Afinal de contas, era ela quem teria o bebê.

–Eu estou.

Longos minutos se passaram antes que o médico e a enfermeira chegassem a casa. O sol já tinha começado a se por, anunciando a noite que se aproximava. Naquele instante, as contrações de Elise atingiam um espaçamento cada vez menor entre elas.

A porta do quarto foi aberta mais uma vez, revelando um casal de jovens.

–Senhor Destler? – o médico o chamou. – Seria melhor se o senhor esperasse lá fora. Preciso fazer alguns exames na sua esposa.

Erik, muito a contragosto, acatou o rapaz.

–Não se preocupe. – a enfermeira o tranquilizou. – Eu o chamarei quando chegar a hora.

E fechou a porta. Deixando Erik do lado de fora. Ele andava para lá e para cá, nervoso. Mais um pouco e realmente abriria um buraco no chão. Uma hora depois, Elise entrou em trabalho de parto.

Mesmo com a insistência do médico para que Erik ficasse do lado de fora, ele voltou para o quarto. Não ficaria longe de sua esposa numa hora dessas. Erik ficou ao lado de Elise na cama, deixando que ela esmagasse sua mão cada vez que sentia dor.

As contrações viam fortes e rápidas. Elise empurrava com toda a força que tinha. Nada no mundo a teria preparado para aquele tipo de dor. Parecia uma onda que percorria todo o seu corpo.

–Vamos querida. – a enfermeira a incentivou. – Só mais uma vez e está tudo acabado.

–Está tudo bem. – Erik sussurrou em seu ouvido. – Estou aqui com você.

Elise podia sentir o suor escorrendo por sua testa. Fez força uma última vez. Sentiu-se ser partida no meio. E então a dor desapareceu. Um choro, alto e forte pode ser ouvido por todo o quarto.

O médico examinou a criança. A enfermeira logo tratou de limpá-la, envolvendo-a em um manto antes de entregá-la a mãe.

–É uma menina. – sussurrou para Elise.

Erik prendeu a respiração.

Elise recebeu o bebê com um sorriso. Assim que a menina estava em seu colo, parou de chorar. Como se soubesse quem ela era. Observou a mãe com olhinhos atentos.

Erik se aproximou, com um olhar de pura adoração e devoção em seu rosto. Pegou a mãozinha do bebê na sua. Como um ser tão pequeno poderia lhe trazer tanta felicidade? Sua filha era perfeita. Tinha todos os dedinhos do pé e da mão. Era do tamanho que qualquer bebê deveria ser. E ela não havia herdado seu rosto. E mesmo que tivesse, Erik duvidava que pudesse achá-la menos perfeita.

–Ela tem os seus olhos. – sussurrou para Elise. O bebê o observava com os mesmo olhos verdes e tempestuosos da mãe.

–E ela tem o seu cabelo. – Elise respondeu. A menina tinha o mesmo cabelo castanho, quase sem cor, do pai.

–Você tem um nome? – Erik perguntou, ainda sem tirar os olhos da filha.

Elise olhou para ele e então para a filha. Não demorou muito para que a resposta deixasse seus lábios.

–Helena.


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