Embaixo da Pele escrita por Ca_Dream


Capítulo 13
A outra face da noite


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais uma capítulo. Preparem seus corações.



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Elise encarava o teto de seu quarto no Royal Hôtel.

Não conseguia tirar Erik da cabeça. Eles iam se separar e não havia nada que ela pudesse fazer. Sua tia era sua guardiã legal. Se ela decidisse que Elise deveria viajar para Londres, ela iria.

Sentiu seu coração se apertar no peito.

Ela o amava tanto. Em tão pouco tempo, tinha se apaixonado completamente por Erik. E sabia que podia fazê-lo feliz. Ele finalmente teria paz. Poderia viver de verdade. Sem ter medo de ser desprezado por seu rosto. Sem ser condenado como um monstro.

Ninguém tentara conhecê-lo antes. Mas Elise podia enxergar a alma dele. Podia vê-lo de verdade.

Mas agora toda a felicidade tinha acabado.

Alguém bateu na porta do quarto, mas ela não respondeu.

Sua tia Isabelle entrou, sentando-se ao lado dela na cama. Elise continuou com a cabeça apoiada no travesseiro. Tentando esconder as lágrimas. Isabelle acariciou seu cabelo.

–Elise? – sorriu para a menina. – Eu falei com Erik. Ele me parece um homem bom. Especialmente, bom para você.

–Ele é. – Elise concordou.

–Eu gostei dele.

–De quê isso adianta, tia? Você não vai me deixar ficar.

–Como eu disse, gostei dele. – continuou a mulher. – Eu disse a Erik que vocês têm minha benção.

Elise a olhou, espantada. Como se não pudesse acreditar no que acabara de ouvir. Sentou-se no colchão, ajeitando sua postura.

–Você vai me deixar ficar em Paris? – um sorriso começou a formar-se em seu rosto.

–Não. – Isabelle percebeu o olhar confuso da sobrinha. – Eu disse que vocês têm a minha benção. Não sou contra o casamento de vocês dois. Mas eu não posso simplesmente concordar que você fique na cidade. Que tipo de vida vocês teriam aqui?

–Eu não entendo.

–Erik e eu concordamos em uma coisa. O casamento vai acontecer. Mas somente se ele vier conosco para Londres.

–Mas, tia... – Elise estava aturdida. – A senhora disse vir conosco para Londres? E pedir que ele abandone tudo?

–Ele concordou.

–Concordou? – Elise rezava para que aquilo não fosse apenas um sonho.

–Disse que faria qualquer coisa por você. Sem hesitar.

–Ah, tia! Obrigado! – Elise se jogou nos braços dela e Isabelle a abraçou. Feliz por ter conseguido resolver toda aquela situação.

Elise mal se continha em sua própria felicidade. Ela e Erik ficariam juntos.

–Eu preciso falar com ele. – disse se afastando.

–Amanhã. – sua tia lhe assegurou. – Já está tarde. Tente dormir um pouco. – Isabelle caminhou até a porta. Depois parou, lançando lhe um sorriso. – Se é que você vai conseguir dormir.

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Elise subiu mais uma vez as escadarias da ópera de Paris. Mal tinha chegado à metade do hall, quando Meg surgiu, vindo alegremente falar com ela.

–Elise! O que você está fazendo por aqui? – a loira perguntou segurando suas mãos. – Veio se despedir antes de viajar?

–Na verdade, ainda vou ficar mais alguns dias na cidade. Tenho algumas coisas para resolver. – respondeu.

–Mas por quê? Achei que você viajaria imediatamente com seus tios.

–Você ainda não contou a ela, Elise? – Madame Giry perguntou aproximando-se das duas. Ela parou, apoiando-se na bengala. – Elise vai se casar.

–Se casar? – Meg soltou um gritinho de excitação. – É o rapaz do baile?

Elise confirmou com a cabeça.

–Eu sabia. Sabia que você estava apaixonada por ele. – a bailarina continuou.

–Assim que ele soube que ela viajaria, ele a pediu em casamento. – Madame Giry continuou. – Não é romântico?

Elise olhou para ela, espantada. Como Madame Giry poderia saber daquilo?

–Você tem que me contar tudo. – Meg exigiu, olhando para Elise.

–Mais tarde, Meg. – a mais velha insistiu. – Elise, se você puder me acompanhar.

A menina seguiu a senhora até seu escritório.

A primeira vez que estivera ali, fora meses antes. Quando tinha vindo à ópera pedir abrigo após a morte de seus pais.

–Imagine qual não foi minha surpresa ao descobrir que você iria se casar. Ou melhor, com que você iria se casar. – Madame Giry lhe lançou um de seus conhecidos olhares severos. - Foi um verdadeiro ultraje vocês dois esconderem tanto de mim.

Elise permaneceu calada, sem saber o que dizer. Mal sabia aonde aquela conversa iria chegar.

–Erik me contou sobre o romance de vocês dois. Ele disse que está indo embora. – Madame Giry suspirou e seu olhar pareceu acalmar-se um pouco. – Você deu a ele uma nova chance de viver. Eu cuidei dele o quanto pude durante todos esses anos. Prometa que agora você vai cuidar dele também.

Elise sentiu seu coração se acalentar ao saber que não era a única a se importar com Erik.

–Eu vou Madame. Pode ter certeza de que eu vou.

Elise deixou a sala se encaminhando as muitas passagens secretas da ópera. Seria a última vez que andaria por ali.

Ao chegar ao covil, encontrou quem justamente precisava encontrar.

Correu para os braços de Erik e ele abraçou, tirando-a do chão. Fazendo-a rodopiar. Os dois riram e sem dizer nada, beijaram-se com uma força que somente um casal de apaixonados seria capaz de ter.

–Você vai mesmo ir para Londres? – Elise perguntou sem fôlego.

–E para onde mais eu iria?

–Mas, Erik, você vai mesmo abandonar tudo por minha causa? Essa ópera é a sua vida. – Elise tinha medo de estar exigindo demais. Tinha medo de que ele se arrependesse.

–Eu não tenho vida aqui, Elise. – Erik olhou ao redor do covil, não ia sentir falta do lugar. – Estou cansado de me esconder.

–E você vai mesmo ir para outro país por causa de uma garota apaixonada?

–Eu vou para outro país para ficar ao lado da mulher da minha vida. – ela acariciou o rosto dele. Mal podia acreditar. Ele realmente a queria. – Não se preocupe, sua tia fez questão de acertar todos os detalhes.

–Ela disse que temos que casar antes da viagem. Ela não permitiria que compartilhássemos o mesmo teto antes disso.

–Eu sei. E ela tem razão. – ele apertou os braços ao redor da cintura dela. Trazendo-a para mais perto. – Logo, você será minha mulher.

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Ouviu o trote do cavalo atrás de si. Elise virou a cabeça para encontrar Erik envolto em uma densa capa preta. Ele desceu do cavalo, encaminhando-se para ela.

–Antoinette me entregou seu bilhete. – enquanto ele falava, névoa se formava devido à temperatura. – Está muito cedo para você já estar de pé, meu amor. – Erik apertou as mãos enluvadas sobre os braços dela. – Por que você queria me encontrar no cemitério?

Elise se envolveu nos olhos cinza dele. Apertou ainda mais o buquê de peônias rosa que segurava em suas mãos.

–Eu não queria vir sozinha. – a voz dela tremeu. Se era devido ao frio ou a situação, ele não soube dizer. – Eu precisava me despedir. – os olhos verdes dela se prenderam ao portão de ferro do cemitério.

Os dois caminham entres as lápides e estátuas angelicais. Havia muito neblina e o chão estava completamente molhado devido ao orvalho da manhã. Chegaram ao túmulo de seus pais.

Elise depositou as flores no chão. Ficou olhando o nome de seus pais encravado na pedra. Lágrimas se formaram em seus olhos. Enquanto as últimas lembranças felizes que tinha com sua família lhe assombravam a mente.

Erik permaneceu em silêncio, respeitando o momento dela. Ele a envolveu com sua capa, tentando não apenas protegê-la do frio, mas também da dor. Elise recostou a cabeça no peito dele. Ele a envolveu em seus braços e ela sentiu como se aquele fosse o lugar mais seguro do mundo.

–Minha mãe teria gostado de você. – ela disse.

–Você acha? – ele perguntou duvidoso. Em sua cabeça, Erik achava que estava longe de ser o noivo que qualquer pai desejaria para sua filha.

–Tenho certeza. Ela teria gostado de você pelo simples fato de você me fazer feliz. – um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. – Meu pai, por outro lado. Teria acusado você de tentar levar a menininha dele embora.

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Já era tarde da noite. A maioria dos cidadãos estava em suas casas, dormindo. Menos Erik e Elise. Os dois se encontravam em uma pequena capela nos arredores de Paris.

Tinham explicado ao padre sua história. Ou quase isso. O padre sabia que os dois eram jovens apaixonados que viajariam juntos. Os dois precisavam se casar, pois a família da moça não aceitaria que eles vivessem em pecado.

O sacerdote concordou. Aceitando o pedido deles de fazerem uma cerimônia simples na calada da noite.

Erik não podia arriscar ser visto ou reconhecido por alguém. Não se importava em não ter um grande casamento. Ou uma grande festa. Contanto que pudesse ter Elise. Olhou para ela. Estava tão linda quanto sempre. Elise usava um vestido branco e simples. E apertava sua mão com uma força esmagadora.

No dia seguinte, começariam sua viagem para Londres. Deixariam as lembranças e as mágoas de um passado obscuro para trás. Começariam uma nova vida. Juntos.

O velho padre começou a cerimônia.

–É de livre e espontânea vontade que você o aceita como seu legítimo esposo?

–Sim. – Elise responde.

O senhor então se vira para Erik.

–É de livre e espontânea vontade que você a aceita como sua legítima esposa?

–Sim. – Erik concorda sem hesitar.

Foram declarados casados.

Elise e Erik deixaram a capela às pressas. Ele a ajudou a subir no cavalo e os dois começaram seu retorno para o centro da cidade.

O vento frio era cortante, mas Elise mal notava. Não enquanto estava nos braços de Erik. Chegaram aos fundos da Opera Populaire. No dia seguinte, iriam embora. Encontrariam os tios de Elise na estação de trem.

Mas aquela noite era só deles.

Erik passou os braços pela cintura e pernas de Elise. Tirando-a do chão.

Ela riu.

–O que você acha que está fazendo? – perguntou divertida.

Ele a apertou mais contra si, acostumando-se com seu peso.

–É uma tradição, não é? – Erik respondeu. – O noivo deve carregar a noiva.

Assim que entraram no covil, Erik se dirigiu a cama. Colou Elise delicadamente sobre o colchão, sentando-se ao lado dela.

Elise tirou a máscara de seu rosto, acariciando a face deformada. Erik fechou os olhos, aproveitando o toque dela. Quando tornou a abri-los, as íris verdes encaravam as suas cinzas.

Ficaram assim por um momento, sem quebrar o contato visual.

–Eu te amo. – sussurraram ao mesmo tempo. Os dois sorriram antes de se inclinar para se beijar.

Elise não sabia o que fazer.

Erik nunca tinha estado com uma mulher.

Pouco a pouco, os temores foram apagados.

Antigamente, Erik tinha a noite como a inspiração para a sua música. Agora, ele e Elise descobriam a verdadeira paixão que se escondia silenciosamente na escuridão.

Ele a ajudou a retirar o vestido e logo o resto das roupas juntaram-se ao chão. Renderam-se ao desejo. Visceral e desconhecido. Continuaram a se beijar enquanto descobriam as partes mais secretas do corpo um do outro.

Erik se admirava com a beleza dela. A maciez de sua pele. Elise se entregava a ele. Sem medo e sem vergonha. Os dois sucumbiam um ao outro.

Daquele ponto em diante, não havia mais volta.

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No dia seguinte ao de seu casamento, Erik e Elise deixaram Paris juntamente com os tios dela. Seguiram de trem até chegar à região portuária de Calais.

De lá pegaram um barco que os levaria para a Inglaterra. Estavam sobre o Canal da Mancha, onde o Oceano Atlântico se unia ao Mar do Norte.

Elise se enrolou na cama. Odiava viagens de barco. Só queria que Erik chegasse logo. Como se ouvisse os pensamentos dela, segundos depois, ele passou pela porta do quarto.

Ela apertou os joelhos contra o peito. Observando enquanto ele se desfazia do casaco e dos sapatos para entrar na cama. Erik a abraçou e Elise apoiou as costas contra o peito dele.

–Você demorou. – ela disse.

–Estava conversando com Thomas. – ele respondeu. – A melhor hora para ficar lá fora é à noite. Tem menos pessoas. Menos gente para encarar minha máscara.

–Sobre o que vocês estavam conversando? – Elise perguntou curiosa.

–Negócios. – Erik desconversou. Ela sabia que ele não iria responder.

–Amanhã ao meio-dia, chegaremos ao Estreito de Dover. E depois, Londres.

–Londres. – ele repetiu a animação dela.

–Você tem que saber. – ela disse se virando um pouco nos braços dele. – Os ingleses são muito sérios e sucintos. Mas às vezes eles conseguem ser tão fofoqueiros quanto os franceses. Eles são apenas mais discretos.

Erik riu, acariciando o cabelo dela.

–Por que você saiu tão cedo no jantar, hoje? – ele perguntou. – Isabelle me disse que você não gosta do mar. Você fica com enjoo de viagem?

–Não. Não é isso. – Elise sentiu-se uma boba. – É que eu não gosto do mar à noite.

–Por quê?

–O oceano sempre fica mais agitado quando anoitece. As ondas ficam mais fortes. E há sempre o risco de uma tempestade.

–Você fica com medo? – ele olhou dentro dos olhos verdes dela. Os olhos mais bonitos que já vira.

Como que para confirmar os pensamentos de Elise, o barco deu um solavanco. Fazendo os dois balançarem.

–Viu só? – Erik não disse nada. Inclinou-se na direção dela. Traçando uma linha de beijos em seu pescoço. – Você está tentando me distrair?

Ele enterrou a mão nos cabelos dela e Elise repuxava a camisa dele, enquanto os dois se beijavam.

Erik nunca chegou a responder a pergunta dela. Também, nem precisava responder.


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