Uma nova escola, novas pessoas, nova cidade... Não sei como devo reagir, se devo ficar feliz ou triste... Apenas penso no que deixei pra trás, mas até que não foi muito... Tudo piorou depois daquele acidente, sim, eu sofri um acidente, e nele perdi muitas das minhas memórias. Logo após esse acidente o meu único amigo era o Ken. Eu gostava muito dele, mas assim como eu, era apenas mais um excluído, acho que isso foi mais um dos pretextos usados por ela para me mandar de volta para Paris. Claro que eu falava francês fluente, sei que minha vida no Brasil não era uma das melhores, mas eu realmente queria recuperar minhas memórias, e Ken prometeu que me ajudaria... Mas como? Ele também é francês, mas morava no Brasil....

Bom, chega de tanto drama, irei me apresentar, me chamo Lelliy, tenho 15 anos, e sou francesa, porém, até pouco tempo atrás morava no Brasil. O motivo de minha mudança para lá, foi por causa do acidente que sofri na França quando tinha 10 anos, perdi praticamente toda a minha memória, e meus pais acharam melhor voltar para o país de origem deles, pois me disseram que se eu ficasse aqui, poderia ser enganada em relação ao que realmente vivi.

Minha vida no Brasil realmente não era uma das melhores, a escola que eu frequentava, era estilo escola militar, talvez tivesse esse jeito porque o diretor era um ex militar. Para ser mais exata, eu fiquei em um internato durante 3 anos, pois no acidente, meu pai fraturou a coluna, e acabou perdendo o movimento das pernas, por isso, minha mãe teve que cuidar dele. Ela ainda tinha que trabalhar, então ficava cada vez mais difícil para nós.

A ideia do internato, foi minha a princípio. Estava cansada de ver aquela situação, estava cansada de dar prejuízos a minha família, e como a mensalidade do internato era muito baixa, e podia ser paga no final do ano, foi a melhor opção que encontrei.

Eu não estava inteiramente feliz com isso, mas o que poderia fazer? Ficar em casa só pioraria... Até consigo imaginar o quanto minha mãe ficou agoniada, com um marido impossibilitado de andar, uma filha que perdeu grande parte de sua memória, e ainda tendo que trabalhar. Então resolvi livrar ela de um pouco desse peso, isso era o mínimo que podia fazer, queria ajudar mais, mas não conseguia. Qualquer coisa que fizesse só pioraria.

Após 3 anos no internato,voltei para casa, eu estava com 14 anos, porém, minha mãe disse que aquele seria o meu último ano no Brasil, e que depois eu voltaria na França, e ficaria na casa de uma tia, porém, essa minha tia vivia viajando, então eu quase não veria ela.

Não sei o que aconteceu enquanto eu estava fora, só sei que ela disse que seria perigoso para mim continuar nesse país. Eu vinha de uma família rica, ou melhor, minha avó era rica, mas quando ela faleceu, escreveu em seu inventário que deixaria tudo o que tinha para mim, mas eu só teria acesso a esse dinheiro quando fizesse 18 anos, até o momento, eu recebia R$ 1.000 por mês. Mas de acordo com o que ela escreveu, se eu me mudasse para a França, receberia o que seria equivalente a R$ 3.000 , porém, lá isso equivale a 1.000 euros.

No inicio, minha mãe achou um absurdo, pois como uma avó em sã consciência deixa tudo que tem para a única neta, sendo que a mesma tinha 12 anos? Eu me fazia a mesma pergunta. Via a situação financeira da minha família, mas não podia ajudar, mesmo sendo rica.... Isso era o que mais me machucava.

E também o que eu menos queria era ir morar na casa da minha tia... mas seria temporário, pois estavam reformando a casa onde minha avó morava. A partir daquele dia, eu moraria lá.

A ideia de sair do internato, não foi minha, na verdade, eu não sai porque quis, eu fui expulsa por bater em uma garota. Mas ela que veio pra cima de mim... Mas como eu já queria sair de lá mesmo, nem me importei. Apenas jurei vingança a ela.

Hoje, volto para a França, apenas irei visitar um velho amigo da escola estilo militar. E sei que sentirei muita falta dele.

Fui em direção a sua casa, cheguei e toquei a campainha, ele me atendeu, e depois de explicar tudo...

– Como assim França? - ele me olhou espantado.

– Pois é... - olhei as horas no relógio- Nossa!! Tenho que ir, ou me atraso para o voo.

– Não por favor...

E agora, o que eu faço?? Tenho que ir, terei que arrumar um jeito de falar para ele que não posso mais demorar....