Você Ainda Não Tem 15 escrita por Sunshine


Capítulo 1
22 de Janeiro


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, esse capítulo vai apresentar mais a Luna e o contexto em que ela vive. Aconselho que enquanto leem, ouçam a música Ho Hey, de The Lumineers.
Bem, é isso. Espero que gostem!



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Eu comecei a enlouquecer quando resolvi me mudar para o Rio de Janeiro. A melhor ideia que já tive. É uma algo meio controverso, mas pelo menos é a mais pura verdade. Bem, tecnicamente a decisão nãofora minha, mas eu tentei ao máximo influenciar minha mãe de sairmos de Fortaleza. Não estava dando certo com nossa situação atual.

— Luna, ainda tem tempo de desistir. – minha mãe disse pela milésima vez naquele dia. O dia em que iríamos embora. Não queria sair da cidade que vivi minha vida toda, mas não seria tão difícil. Ao menos era o que eu esperava. Revirei os olhos quase que involuntariamente, ela estava há dias com essa conversa, mesmo que teoricamente concordando.

— Eu já consegui uma bolsa em uma boa escola e você um trabalho melhor do que o que você tinha.

— Mas e suas amigas, filha?

— Vou sentir falta delas. – admiti contra minha vontade. – Mas ainda posso conversar com Alice e Manu por telefone e computador.

Ela acariciou meu rosto gentilmente. Isabella, mais conhecida como minha mãe, sempre era muito amável. Eu tentava retribuir da mesma forma, mas certamente não era perita no assunto: "carinho". Com os cabelos de um negro levemente azulado e os olhos castanhos definitivamente idênticos aos meus, a Sra. Martins me parecia uma boneca muitas vezes, mesmo com o belo corpo que possuía para sua idade.

— Tão madura para uma menina de catorze anos... – resmungou me olhando com ternura, o que me fez sorrir e dar um beijo em sua bochecha.

— Se acalme mãe. Eu vou ficar bem. – eu disse tentando reconfortá-la, sentia-me meio culpada às vezes, ela não precisava se preocupar tanto assim comigo. Mesmo que na verdade, na verdade mesmo, eu estava morrendo de medo. Tentando parecer o mais forte possível, pois senão minha mãe desabava. Estávamos com sérios problemas financeiros e ela tinha se separado do meu pai, o famoso William Barroso. Agora estávamos saindo do Ceará para morar no Rio de Janeiro porque aparentemente estávamos com melhores oportunidades por lá.

O aeroporto de Fortaleza não era o maior que eu já vi, mas também não era o menor. Tinha tudo o que era preciso, e meus avós, meu pai e minhas melhores amigas tinham ido se despedir. Felizmente ele não trouxe a nova mulher dele, a qual eu mal me lembrava do nome e só tinha visto pouquíssimas vezes. Uma vez antes do casamento e outra durante. Com toda a certeza não fazia a mínima questão de conhecê-la melhor. Eu poderia estar enganada, mas — das poucas vezes que a vi — ela não me agradou nem um pouco. Tentava ser simpática apenas pelo meu pai, mesmo que quase sempre que se aproximavam dele eu supunha que era interesse ou uma fã. Ou poderia apenas ser paranoia de minha cabeça.

Quando finalmente cheguei ao avião, já estava lotado. As despedidas duraram mais do que deviam. E u estava começando a achar que tudo estava muito exagerado, mas talvez pudesse ser meu jeito de ser mesmo. Estava cansada quando consegui recostar no assento, suspirando de leve. Iria sentir falta daqui. Da praia, daquele lindo e selvagem mar, das idas ao “Beach Park” com minhas amigas, do shopping, até da escola. De tudo.

Acabei me lembrando de uma cena engraçada que aconteceu há um ano. Um sorriso divertido brincava em meus lábios e eu fechei os olhos, concentrando-me na lembrança. Foi quando estávamos eu e minhas amigas na minha casa por aparentemente motivo nenhum e elas estavam querendo me empurrar para algum garoto qualquer, apenas me mostrando fotos deles no Facebook. Aliás, no meu notebook. Engraçado que quando finalmente você decide ficar sozinha, aparece um monte querendo ficar com você (e suas amigas também te influenciam bastante, empurrando-te para eles).

— E esse Luna? O nome dele é Paulo e ele tem treze anos. – disse Manuela, uma de minhas amigas que tinham sérios probleminhas mentais.

Olhei de relance para a foto do garoto sem dar muita atenção. Até que era bonito, tinha cabelos castanhos que caíam sobre os olhos, que eram verdes e possuía também um lindo sorriso, mas tinha treze anos, ou seja, idiota. Poderia parecer uma forma me pensar muito infantil, mas fazia-me certo sentido.

— Não. – revirei os olhos pensando no quão ridícula fora essa ideia.

— Por que todo menino que te mostramos você sempre rejeita? – perguntou Alice, meiga como sempre.

— Simplesmente porque eles não seguem minha teoria. Além disso, não quero namorar até terminar a faculdade. — eu acho que devia parar com minhas ideias existencialistas...

— Que teoria? – as duas perguntaram em uníssono, parecia até ensaiado.

— Que os meninos são idiotas até os quinze anos. Se bem que, na verdade, só alguns ficam mais maduros e nem é tanto assim, o resto só depois dos dezoito ou sabe-se lá quando. – respondi sabiamente. Os homens, acredito eu, tem um certo problema quando chegam na adolescência, passam a pensar com os hormônios e muitas vezes esquecem do cérebro. E isso leva a muitos problemas se ele estiver em algum relacionamento romântico. Eu poderia ser uma especialista, pois é. Estou com essa ideia desde o começo do ano no qual tive esta mesma conversa.

— Nada a ver. – retrucou Manu, logo soltando um sorriso malicioso. — Não é preciso necessariamente namorar.

— Não é bem assim. – Alice balançava a cabeça negativamente.

— Observem-me imitando o Gabriel: “Oi, sou Gabriel. Então gatinha, quer ficar comigo?” – repeti a frase que ele falou quando me conheceu, só que eu fracassei completamente tentando imitar aquela voz grossa que ele tem. Um belo exemplo de garoto que não pensa com a cabeça certa. – Odeio que me chamem de gatinha. Gatos são traiçoeiros. Os cachorros que são legais.

Elas riram da minha cara emburrada que me fazia parecer uma garotinha de sete anos que havia perdido o sorvete e eu senti alguém me sacudir. Abrindo os olhos lentamente, logo a sonolência me invadiu. Eu havia caído no sono.

— Luna. Filha, acorda. Nós chegamos. – disse minha mãe. Olhei pela janela e percebi que estávamos em terra firme, com a pista abaixo de nossos pés. Depois me toquei de que estava na hora de levantar e começar a sair do avião. Dei uma olhada para dentro e vi que as pessoas estavam desembarcando.

Fomos embora comigo sem conseguir evitar procurar alguém conhecido pela ala de desembarque, geralmente havia alguém por lá. Ninguém, estávamos sozinhas no Rio de Janeiro.

Pegamos um táxi para o apartamento que decidimos alugar. Eu e minha mãe passamos uma semana aqui atrás de um lugar para morar e resolver como seria nossa rotina, além de conhecer a cidade. O prédio era bem modesto na Vila Isabel, tinha dois quartos e um banheiro. Não era nada muito chique ou modesto demais. Apenas normal. Além do preço ser "pagável" comparado aos padrões do Rio. Meu quarto era roxo com molduras de borboletas brancas e fotos espalhadas pelas paredes, havia uma escrivaninha com meu costumeiro notebook, um armário branco e uma cama, é claro. Já o quarto da minha mãe era um pouco mais sofisticado. As paredes eram beges, com uma cama de casal, um armário também branco e uma escrivaninha e um abajur perto da cama de casal. Bem no estilo dela.

Enquanto Isabella tomava banho eu pensava no que faria no próximo dia. Era meu primeiro dia de aula, justamente por isso nos mudamos de vez hoje. Sentia-me frustrada por estar em outro colégio, outra cidade, outro estado. E se eu não conseguisse me adaptar? Por mais que eu fosse responsável como minha mãe dizia, ainda tinha apenas catorze anos. Não consegui evitar a tristeza que me invadiu ao pensar em minhas amigas, iria sentir tanta falta delas...

Alice era sempre gentil e sabia dar conselhos ou me repreender quando era preciso, já a Manu me fazia acordar para a vida sempre que eu voava um pouco, mas também me fazia rir de qualquer coisa. Elas cuidavam de mim da mesma forma que eu cuidava delas.

Quando minha mãe saiu do banho eu parei de encarar o nada e peguei meu caderno de desenho, fingindo estar entretida. Odiava quando pessoas percebiam que eu estava triste, principalmente por não saber como agir. Um exemplo disso é que quando eu era pequena, meus pais brigavam muito quando achavam que eu estava dormindo, e digamos que não sou muito de dormir de noite. Logo depois da briga ia minha mãe no meu quarto e fazia carinho na minha cabeça enquanto eu fingia que dormia tranquilamente. Mas, na verdade, eu sempre chorava durante a briga e depois engolia o choro rapidamente, para logo depois deitar na cama e fingir que dormia. É de minha natureza, eu sempre achei melhor fingir que estava bem do que ver as pessoas se preocupando.

Tomei meu banho calmamente, para relaxar. Eu estava estranhando o banheiro, o cheiro do local e até a água. Era tudo tão diferente por aqui. Tipo, eu amava viajar, mas mudar de cidade... Depois do banho, arrumei minhas roupas no armário e comecei a desempacotar as primeiras caixas de papelão. Além de arrumar minhas coisas para o outro dia e ir dormir.
Tive um estranho pesadelo, sonhei que quando eu cheguei à escola todos jogaram ovos em mim, colocaram uma cobra no meu armário e ficaram dizendo que eu era feia, gorda, chata e etc. Sendo que isso nunca, em hipótese alguma, aconteceu comigo. Por que fariam isso? Não eram animais irracionais pelo o que eu saiba. Quando iam me jogar na lata de lixo eu acordei gritando: “Parem!”

“Droga.”, pensei enquanto colocava a mão na testa. Minha mãe logo entrou no meu quarto, parece que gritei alto demais.

— Filha, tudo bem? – perguntou ela preocupada.

— Tudo. Foi só um pesadelo. – olhei o relógio. Eram justamente cinco da manhã. – Vamos nos arrumar? Eu tenho aula às sete.

— Claro. – sussurrou ainda me olhando preocupada. Minha vontade era de falar um cansado "Estou bem, mãe!", mas sabia que a Sra. Martins que eu conheço bem não gostaria.

Tomei banho e fiz a minha higiene matinal e meio que pensando na vida, vesti a farda do colégio. Era uma calça jeans que eu comprei em Fortaleza, um tênis all star especialmente para o colégio e a blusa da escola. Normal. Penteei meu cabelo castanho claro, quase loiro. E por último, eu passei uma maquiagem leve. Geralmente eu não uso maquiagem, mas eu gosto de usar no primeiro e último dia de aula, em festas ou dias importantes para mim. Mas se você me ver de maquiagem sem ser em nenhuma dessas ocasiões, eu estou delirando de febre ou algo do tipo. Olhei-me no espelho apenas para confirmar se estava tudo pronto, aparentemente sim.

Ao ir para a sala, percebi que minha mãe já estava pronta e me esperando. Acredito não a ter atrasado. Pegamos facilmente um táxi até o metrô mais próximo e fomos para a minha escola. Fiquei ouvindo música no IPod que ganhara no meu aniversário passado. Claro que ele estava escondido dentro da minha bolsa, para ninguém roubar embora ainda sentisse certo receio de andar com ele por aí. Depois finalmente pegamos um ônibus e chegamos à escola. Olhei-a lembrando do meu pesadelo, iria dar tudo certo, era apenas um sonho ruim. Simplesmente não consegui evitar o suspiro que me veio e logo após entrei. Uma novata do nordeste em uma escola famosa do sudeste. Isso não iria dar certo...


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Gostaram da Luna? E a mãe dela? Vejo vocês nos comentários!



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