Sendo um prédio com janelas ocupando toda a parede, Novo Pensamento – o colégio – me parecia um pouco diferente. O vidro do primeiro andar era completamente transparente, dando para ver todo o belo hall de entrada, com alguns bancos e salas (incluindo as da secretaria e diretoria), alguns jogos e uma escada ao fundo.

Quando entrei, fiquei meio constrangida com alguns olhares de garotos que eu recebia. Sabe carne fresca? Prazer, eu. Com certeza era um bando de idiotas que só queriam saber de ficar com as meninas para depois competirem entre si. Como eu disse antes, o que os hormônios não fazem? Evitei olhares e fui direto para a minha sala, tendo que subir até o último andar, sentando bem na frente e fazendo o máximo para dar a entender que não quero companhia. Mas infelizmente (ou felizmente) as pessoas vieram.

Primeiro, foi uma menina loira, de olhos verdes que me pareciam ter a mesma textura que veludo. Usava uma maquiagem forte, mas que surpreendentemente combinava perfeitamente com suas feições e tinha um estilo meio rockeira. Não sei se era o termo certo, mas me parecia algo parecido com punk, mas não tão radical. Aparentemente era simpática para vir falar comigo.

– Oi.

Olhei para trás para ver se tinha alguém atrás de mim. Ninguém. O "oi" era mesmo direcionado para mim.

– Er... oi? – a encarei um pouco confusa. Por que exatamente ela estava falando comigo?

– Aluna nova, certo? Sou Gabriela. – a garota sorriu de lado.

– Sim... sou Luna. Prazer. – sorri de volta. Mesmo não estando nenhum pouco a fim de companhia, ser educada não faria mal a ninguém.

Chegou um menino, que era loiro também, mas de olhos castanhos, usando uma calça preta e um tênis da mesma cor.

– Amor! Finalmente te achei. – eu a vi dar um pequeno sorriso como se tentasse reprimi-lo e ele dar um selinho em Gabriela. – Quem é essa?

O menino olha para mim curioso. Observo-o da mesma forma e antes que Gabriela pudesse dizer algo, eu mesma respondi:

– Sou Luna. E você?

– Daniel. Namorado da Gabi. – tirando os olhos da namorada por um segundo, ele sorriu para mim.

– Hum... – respondi apenas para não deixá-lo no vácuo. Tão lindo isso de não saber o que dizer.

– Então Luna, quer que a gente te mostre a escola? – perguntou Gabriela me olhando com expectativa.

– Claro. Obrigada. – sorri e ela parou por um momento, observando seu relógio de pulso.

– Infelizmente teremos que esperar o intervalo porque logo irá tocar o sinal. – como se fosse ensaiado, passei a ouvir o toque que avisava que iria iniciar a primeira aula, que era de História.

O assunto era surpreendentemente fácil e eu peguei rapidamente. Nunca fui de estudar todos os dias, mas sempre tirei notas boas. Nem sei o porquê. Sempre brinquei comigo mesma dizendo que era porque eu tenho uma mente mais desenvolvida do que as outras pessoas. Não consegui evitar dar um sorriso ao lembrar isso. Quando deu o intervalo, Gabi – como prefere ser chamada – voltou a falar comigo e me apresentou os amigos dela enquanto mostrava-me a escola. Anne, Josh e Lizzie.

Anne tinha um jeito meio tímido, dava para ver que ela era bem meiga e romântica e era irmã gêmea não-idêntica de Gabi. Mesmo assim eram muito parecidas, mas só fisicamente mesmo. As duas tinham cabelos loiros e feições delicadas, a diferença eram os olhos que, diferente de Gabriela, eram azuis como topázio. Tão lindos quanto os da irmã. Engraçado a forma como as duas eram gêmeas e as personalidades eram completamente diferentes. Gabriela era mais ousada e extrovertida, já Anne era mais meiga e tímida. As duas foram bem gentis comigo. Anne não usava maquiagem e tinha uma calça jeans skinny normal, percebi também que ela sempre ficava mexendo na pulseira delicada que usava no pulso, deve ser importante para ela. Usava os cabelos amarrados, mas mesmo assim dava para perceber como seus cabelos louros eram sedosos.

Josh parecia um playboy visto de longe, eu não teria me aproximado dele se Gabriela não fosse apresentá-lo para mim. Roupas de marca, cabelo arrumadinho em um topete, IPhone nas mãos. Este garoto é a prova de as aparências enganam. Ele tinha cabelos negros, com os olhos quase da mesma cor. Mas me impressionou mesmo quando começou a sorrir e se divertir com todos. Perceptivelmente bem malicioso, mas nada de insuportável. Eu já sei que vou rir muito com ele.

Elizabeth, ou Lizzie, como gosta de ser chamada é uma garota interessante. Dava para ver que tinha um tom desafiador em tudo o que fazia, quase como se pronta para a briga a qualquer momento. Tinha um instinto de proteger todos que gostava, segundo Gabi. Pelo o que me contaram, as duas já entraram em algumas brigas juntas. Suas roupas eram mais simples e práticas, a partir disso soube que ela não se importava muito com aparência. Não que a garota andasse desarrumada, mas tinha um estilo meio despojado. Usava uma calça jeans rasgada no joelho e a farda da escola, com o cabelo castanho e ondulado solto e sem maquiagem. Mas certamente não precisava, seus olhos eram de um tom cinza claro, praticamente prateados, e se destacavam em seu rosto. Realmente lindos. E se tinha uma coisa que essa jovem não parecia, era fútil.

Todos eram bem legais e simpáticos, ficamos conversando durante todos os intervalos. Apenas no último, enquanto me dirigia aos meus colegas após finalmente conseguir comprar um lanche, um menino de minha turma esbarrou em mim. Ele vestia roupas como as de Josh e também tinha cabelos pretos, só que totalmente bagunçados, o que de certa forma parecia combinar perfeitamente com ele. Outra diferença eram os olhos azuis-escuros, tenho que admitir serem lindos.

— Desculpa. – murmurei baixo e involuntariamente, na verdade eu nem precisava o ter feito, fora ele que esbarrou em mim. Além de ter melado nós dois de refrigerante. O menino ainda teve a audácia de me olhar irritado.

— Olha por onde anda, garota! – foi minha vez de ter um olhar fulminante.

— Ei, eu já pedi desculpa. E não tenho culpa se você é tão estressadinho que briga com alguém que esbarrou em você sem querer por culpa completamente sua que entrou no caminho como se achasse que todo mundo fosse te reparar e sair da frente. E nem reclamei de ter sujado minha blusa! – eu já sentia o líquido em minha pele, deixando-me com cheiro de guaraná e fazendo eu me sentir toda grudenta. Ninguém merece. Ignorei qualquer coisa que ele fosse falar e me dirigi até os meus colegas que me olhavam estupefatos.

— Você sabe quem é ele? – Anne me lançou um olhar meio torto.

— Não, mas ele foi grosso comigo porque quis.

Lizzie sorriu como se estivesse orgulhosa e me abraçou.

— Você é a irmã que eu nunca tive! É minha ídola. – eu ri alto. Mal a conhecia e eu sabia que era só brincadeira, mas foi engraçado.

— Ídola? – perguntei entre os risos.

— É. – ela riu também. – Você não imagina quanto tempo eu estou querendo fazer isso com ele!

— Ele? – realmente eu nem conhecia o garoto. Coitado, ele devia só ter tido um dia difícil, mesmo com Elizabeth parecendo desgostar do mesmo. Mas fazer o quê se tenho gênio forte?

Gabi logo se apressa.

— É. André Montez, o mauricinho do colégio, o menino com que todas querem ficar e etecetera. – ela fez um gesto com a mão indicando indiferença.

— Meu primo. – creio que ouvi Josh sussurrar, mas deve ter sido apenas impressão minha.

— Isso existe? – peguei-me soltando um sorriso debochado, mas eles pareceram confusos. – Achei que isso era coisa de filme adolescente dos Estados Unidos.

— Aqui também uma boa parte da escola sofre bullying então não se surpreenda se isso acontecer com você... – disse Anne olhando para baixo e colocando uma mecha de cabelo atrás do ouvido.

— Que idiotice! Não vou me sujeitar a eles, não me importa se vou sofrer bullying ou não. – todos sorriram.

— Bom saber que você está com a gente, somos os únicos que não ficamos como “subordinados” a eles. – Daniel fez aspas com as mãos em subordinados. – Na verdade, uma das coisas mais divertidas desta escola é brincar com a cara desses filhinhos de papai. – não pude evitar sorrir. Sinto que esse ano vai ser diferente.

Bem diferente.