Os Guardiões escrita por Mariane, Amanda Ferreira


Capítulo 48
Sob Pressão


Notas iniciais do capítulo

Oiiiie gente, então somos monstros, sim concordamos.
Mas desculpas! A gente tá cada dia mais atoladas, perdoa os hiatos e não desiste da história!
A gente ama escrever, amamos vocês, demoramos porque realmente a vida ta difícil.
Mas por favor, não nos abandonem!
Obrigadaaa



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/479772/chapter/48

***

O conselho estava mais uma noite reunido. Desde o dia do incêndio havia mais e mais reuniões como aquelas. E por mais que eu me esforçasse, meus pais estavam decididos a me deixar no escuro. Tentei descobrir algo por conta própria outras vezes, mas tudo me levava ao mesmo lugar. Nada. 

Até que finalmente uma noite enquanto passava pelo corredor escutei uma conversa diferente do normal. 

— Valentim ele nos jurou lealdade. 

— Mas ele é filho dela. - respondeu meu pai. - Madalena, você sabe que te amo, mas você não está vendo as circunstâncias. Está muito suspeito. 

— Meu amor, não podemos tirar conclusões precipitadas. - respondeu minha mãe com a voz exausta. 

— Mas e os ataques à barreira? 

— Eu entendo. - ela murmurou - Mas ele só pediu asilo, não deveríamos desconfiar, porém entendo que um inquérito deveria ser aberto. 

— Sim. O culpado há de ser punido. 

Depois daquele dia comecei a suspeitar exclusivamente do novato, tudo o que estava disponível era que seu nome era Ethan Damon, tinha 18 anos e não participava de nenhuma atividade guardiã. As poucas vezes que o via era à noite, sempre caminhando sozinho e geralmente em lugares desertos. Infelizmente minhas investigações nunca davam em nada. Ethan não conversava com ninguém além dos anciões, o que complicava ainda mais minhas descobertas.

...

— Vai sair? - perguntou Julieth vestindo minha camisa. Eu tinha acabado de acordar, pretendia sair sem que eu a acordasse, mas fracassei miseravelmente.

Desde que comecei a procurar pistas sobre os acontecimentos bizarros em Ilheias, Julieth também passou a se interessar, aonde eu ia ela queria estar e por mais que eu tentasse disfarçar ela sempre descobria uma forma de ir junto.

— Hm, o que? - me fiz de sonso. 

— Daniel, eu sei que você vai procurar o tal garoto de novo. - falou se ajoelhando na cama. Infelizmente não pude deixar de notar as curvas delicadas dela apenas coberta pela minha camisa. - Quero ir. 

— Por favor, Ju, eu prefiro que você fique. 

— Não! Estou cansada de esperar você voltar. Eu sou uma guardiã, o perigo faz parte de quem sou. - falou me encarando com aqueles olhos grandes e revoltados. - Não gosto quando você me trata assim, me sinto inútil. 

— Você não é Ju. Por favor, você sabe que não é isso. - falei me sentindo culpado. Chantagem emocional, eu odiava aquilo. - Você é a pessoa mais forte que eu conheço. Eu só não vejo a necessidade de você ficar se arriscando. 

— Nem eu, mas eu nunca te impedi de ir. - ela bufou.

— Ok Julie. - cedi. - Eu nunca o encontrei de dia, então acho melhor deixarmos para a noite. 

Ajoelhei-me na sua frente e beijei seus lábios.

— Enquanto isso podemos nos divertir por aqui. – falei beijando seu pescoço e deslizando as mãos por baixo da camisa.

— Ah... Eu sei onde ele fica de dia. Fiz umas pesquisas também. - falou tranquilamente como se aquilo não fosse nada demais. 

— Você o que? – parei o que estava fazendo e a encarei.

— Ah, você não achou mesmo que eu iria ficar quietinha enquanto você saia? 

Por um segundo eu quis ter uma crise de ciúmes, mas por frações de instantes pensei na possibilidade de ela se irritar e não me contar mais nada, então simplesmente fiquei mudo.

Ela sorriu vitoriosa e passou as mãos pelo meu cabelo me beijando. Depois pulou da cama e vestiu sua roupa.

Enquanto tomávamos café ela contou que Ethan passava todos os dias no museu e na biblioteca, que ele lia muito. 

— Ele me parece bastante normal para ser franca. - continuou - Mas sempre que eu me aproximo sinto uma coisa estranha. 

— Você já se aproximou dele? 

— É modo de dizer. - respondeu revirando os olhos. - Enfim, você vai ver só. 

Depois do café caminhamos até a biblioteca, infelizmente ela estava vazia, mas então quando íamos embora Ethan surgiu como se estivesse brotado das sombras. 

Parou na nossa frente e sorriu sutilmente. Pude repara-lo melhor. Tinha a pele bronzeada, cabelos pretos encaracolados caindo livres sobre a testa, um rosto tranquilo para alguém suspeito e olhos negros como jabuticabas que pareciam obscuros.

— Me procurando? - perguntou olhando-nos. Sua voz era firme e senti minha pele ficar arrepiada. ( Agora entendi a sensação estranha de Julie).

Julie ficou pálida como papel enquanto eu tentei disfarçar o máximo minha surpresa, talvez sem sucesso. 

— Sim. - falei em ímpeto de coragem. - Queríamos conversar com você. 

— Conversar comigo... Conversar sobre o que? - perguntou como se estivéssemos o convidando para sair. 

— Sobre você. Quem você é o que está fazendo aqui. 

— Ethan Damon - falou estendendo a mão - Vim conhecer minha família. Ou uma parte dela, pelo menos. 

— Sua família, que família? – indaguei erguendo uma sobrancelha.

— Vocês ora bolas! Os guardiões. – ele sorriu deixando o braço cair ao lado do corpo já que eu não apertei sua mão.

— O jeito que você fala nem parece que é um de nós. - Ju falou estranhamente - Quem você é de verdade?

— Querem mesmo saber? – sorriu torto. - Perguntem aos seus pais, tenho certeza que eles terão o prazer em contar. - falou acenando. - Agora tenho algo importante a fazer. 

— Não terminamos a conversa cachinhos! – gritei.

— O tempo é longo guardião. – ele se virou e saiu.

Bufei impaciente. Que tinha algo errado, tinha.

***

— Ethan. - falou Mayara tranquilamente entrando na sala como se estivesse nas nuvens. 

— Acho que de todas as pessoas desse lugar, você é a única que não me abomina. - respondi me sentando em um dos seus sofás de veludo. Poucos tinham acesso a sua casa. Mayara era muito reservada e por ser quase uma deusa todos a levavam tão a sério que a mantinham em uma redoma de vidro. - Estou morto de fome... 

— Quer me acompanhar? - perguntou puramente por educação - Vou tomar café agora. 

 - Adoraria, priminha. - respondi com um sorriso provocador.  

— Algo aconteceu para que você venha até aqui? - perguntou enquanto sentávamos a mesa, minutos depois suas servas preencheram toda a mesa com diversos tipos de comidas. 

— Kora está impaciente. Ela sabe que a ruiva conseguiu a adaga. - falei passando calmamente manteiga numa fatia de pão. - Creio que não demorará muito para Eva chegar, e se minha irmãzinha diabólica vier, não sei o que será de vocês. 

— Tenho certeza que Kate virá a tempo. - falou confiante tomando um gole de chá.

— Eu não contaria com isso. – neguei com a cabeça. - Sei que você acredita que sua irmã é superpoderosa, incrível e blá blá blá. - falei mordendo um pedaço de brioche - Mas Eva é eficiente em tudo que faz, eu tentei mesmo atrasar os planos de minha mãe, mas nem ela é tão estúpida quanto gostamos de acreditar. Uma hora ela vai perceber que estou contra ela. 

— Uma façanha que eu não esperava de você, admito. - respondeu Mayara desdenhosa. – Afinal aquele incêndio misterioso teve o toque de suas mãos.

— Não sou de me gabar, mas foi realmente bom. – sorri presunçoso. – Foi uma distração. Se não o fizesse Kora logo saberia de que lado estou.

— Não sei se consigo acreditar em você Ethan.

— Não acreditou que eu ficaria com ela? Kora é louca, ela matou meu pai sem piedade e Eva é uma psicopata patológica. 

— Lamento te ofender com esse pensamento, mas de onde você veio, poderia esperar tudo de você. 

— Eu acho que não. - continuei - Eu sei que você me monitorava. Sabia que eu não me envolveria. 

Ela deu de ombros, um gesto tão singular em comparação a ela. 

— Muito bem, voltando ao que falávamos. - prossegui - Acontece que os seus guardiões também estão brincando de curiosos e me preocupo que possa afetar meu disfarce. - comentei - Preciso do meu quê de dúvida. 

— Acredito que seu disfarce está mais do que seguro. Só continue bancando o recluso misterioso. – ela sorriu. - Algo que você finge muito bem por sinal. 

— Sim, sou muito bem em enganar as pessoas.

— É ai que mora o problema. – ela me fitou com seus olhos violeta. – Será que poderei realmente confiar em você ou terei que destruí-lo eu mesma?

Engoli o pedaço de pão e respirei fundo.

— Não será necessário Mayara. – afirmei. – Não é porque nasci nas sombras que devo ser como elas.

— Estou contando com isso.

***

O vampiro me fuzilou parecendo zangado.

 - Chica! - falou - Pare de zanzar de um lado para o outro, estas me deixando loco! 

Continuei pisando firme andando freneticamente pela clareira.

Desde que saímos do hotel estivemos em constante mudança.  Alex sempre dizia que nunca estávamos seguros por mais de três dias no mesmo lugar. Era muito perigoso. 

Parávamos apenas para caçar, sim caçar. A ideia no início me abominou, a simples ideia de machucar alguém para o meu prazer me apavorou. Alex não pareceu preocupado, falou que uma hora eu cederia à sede e aos meus instintos proporcionando um show de horrores ou simplesmente morreria. No início eu resisti o máximo, porém meu corpo ficava cada dia mais fraco e as dores cresciam freneticamente, até que um dia durante uma de nossas viagens encontrei o cheiro de algumas pessoas que acampavam por perto. 

O momento durou pouco, mas o medo que me consumiu depois fez com que aquela cena se repetisse na minha memória eternamente, eu simplesmente esqueci como controlava meu corpo e num piscar de olhos estava a menos de um metro com os meus joelhos flexionados, pronta para atacar. 

Era um casal apaixonado, mas o namorado saiu para pegar água deixando a mulher sozinha.

 Alex me segurou e me mostrou exatamente o que eu faria. Ele encostou os lábios frios no meu ouvido e sussurrou as palavras com uma mistura de espanhol.

— Sem estardalhaço. - falou ainda me segurando tão forte que fez meu corpo inteiro se contrair - Usted tiene que se aproximar sorrateiramente, as presas tiene que serem cravadas directamente na jugular para no fazer muita sujeira, segure forte, para que la niña não fuja.
Cuidado para no matar, no creo que usted queira una consciência pesada. Fique atenta a los batimentos cardíacos: se estiver muito espaçado pare.

Respirei fundo e quando meus pés se moveram eu disparei numa velocidade incrível pegando a pobre mulher de surpresa. Não deu tempo dela gritar, pois tampei sua boca e ouvi seu coração batendo acelerado, sua pulsação fazia minha boca ficar seca. Senti as presas surgirem rasgando minha gengiva e sem pensar a cravei em seu pescoço.

Gemi de prazer com o delicioso sabor. Desceu queimando garganta abaixo e eu apertei o braço da mulher com mais força do que deveria.

Eu podia ouvir seus batimentos ficando cada vez mais lentos e seus olhos se revirarem.

Então senti dedos afundarem na pele do meu braço.

— Já chega Yvana! – Alex falou.

Eu não conseguia parar. A sensação era boa demais.

— Yvana yo disse já chega! – ele soletrou cada palavra me arrancando do pescoço da mulher e me jogando longe.

Fiquei de pé num pulo e rosnei. Sim! Eu rosnei. Avancei na sua direção, mas ele me pegou de surpresa segurando meu pescoço e tirando meus pés no chão. Encarou-me e seus olhos ficaram totalmente negros e ele mostrou as presas grandes e rosnou de volta.

Engoli em seco e me senti vulnerável com a sua presença. Ele me largou e pegou a mulher que se debatia no chão. Ele segurou seu rosto entre as mãos e olhou fixamente em seus olhos.

— Usted está bien. – falou com uma voz quase angelical. – Nada aconteceu aqui. Usted só se assustou com el vento, correu e se machucou. – ele sorriu.

Ela ficou quieta e logo concordou.

Ele ficou de pé e veio na minha direção agarrando meu pulso e me puxando para longe.

Eu me sentia um monstro, a simples hipótese de matá-la fez com que eu tivesse ânsias de vômitos. 

— Te no a matou. Supere isso, ou nunca se alimentará. – ele falou como se lesse minha mente.

...

Depois disso foi ficando mais fácil. Às vezes eu tentava conversar com Alex, ele não contava nada sobre ele, nunca. A única coisa que falava era maneiras de me proteger, ou algo relacionado ao vampirismo. Coisas que ele julgava essencial. Contou-me como fez a hipnose na mulher que mordi pela primeira vez. Disse que era algo adquirido com o tempo.

Às vezes, eu pensava que tudo o que ele falava era uma brincadeira para me assustar. Eu tentava puxar assuntos profundos sobre sua vida antes de ser transformado, mas ele nunca respondia. Com o tempo passamos a só caminhar. Eu não dizia nada e ele também não. 

...

Sentei-me na cama enquanto ele estava sentado no chão com as pernas cruzadas e olhos fechados. Olhando assim ate parecia uma estatua. Seus cabelos cor de areia faziam um belo contraste com a pele branca.

— Eu prefiro caçar animais. – falei.

Ele se virou lentamente e me fuzilou.

— No sabe qual a regra para meditação? – perguntou. – Silencio.

— Vampiros meditam? – falei sarcástica.

— Después de tantos años vagando, haces cosas do tipo.

— Isso é tão irônico. – ri. – Mas como eu disse, prefiro pegar animais.

Ele riu balançando a cabeça.

— Por acaso estas dentro de un libro? No seas ridícula.

— O que? Posso ter escolha.

— Sí, pero los animais usted terá que matar ou no serán o suficiente.

— Poxa. Não me imagino matando coelhos por ai.

Ele gargalhou vindo para a cama e se jogando nela.

— Chica isso se llama seleção natural. El mundo não aguentaria tanto cocô de coelho se não fossem mortos.

— Você é um ser desprezível. – resmunguei.

Ele voltou a rir e fechou os olhos.

— Alex?

— E usted é tão irritante...

— Nunca mais poderei andar a luz do dia? – perguntei me lembrando que estávamos presos naquele quarto porque o sol brilhava la fora.

Ele se sentou revirando os olhos.

— Alguna vez já viu filmes de vampiro? Vampiro de verdade.

Assenti.

— Los vampiros reales no pueden, o morrem. Es una maldição. – suspirou. – Agora pare de fazer perguntas idiotas.

— Desculpe senhor rabugento. – cruzei os braços com força.

Finalmente a noite chegou e voltamos a jornada. Saímos do hotel direto para a floresta.

Estávamos caminhando e eu pedi para parar. Não comíamos a doze horas e eu já estava ficando fraca. Ele cedeu dizendo que não poderíamos demorar muito porque ali era território de lobo. 

 - Eu não entendo. – comentei. – Porque essa richa entre lobisomens e vampiros?

— Usted lembra da seleção natural que yo falei? Es basicamente isso. – respondeu olhando para os lados.

— Mas não estão do mesmo lado? – perguntei. – O lado do mal...?

— No estoy en lado nenhum já faz alguns años. No me importo com essa briga ridícula das deusas. Só caço os lobos por diversão e para ficar vivo.

— Ainda não consigo entender.

— La única cosa que usted precisa entender es que su amiga estas numa grande confusão.

— Kate?

Ele assentiu, mas algo nas sombras chamou sua atenção.

— Precisamos partir. – falou pegando minha mão.

Andei apresada atrás dele, mas eu tinha a sensação de que estávamos sendo seguidos.

— Alex...

Ele se virou como um raio e me empurrou ate uma arvore colocando um dedo sobre meus lábios.

— Shii... Es tarde. – falou me olhando e de repente ele não estava mais ali.

Alguma coisa o pegou e o arrastou. Soltei um grito na escuridão e fiquei agarrada na arvore.

— Alex? – gritei sem resposta.

Encolhi sentindo que algo estava próximo e o rosnado me deu certeza. Uma sombra saiu. Tinha o tipo físico de um lobo só que umas cinco vezes maior. Seus pelos eram castanhos e seus olhos tinha um leve brilho amarelado.

Eu estava apavorada e ele me mostrou os dentes.

Acho que era meu momento de correr, mas meus pés não se mexiam.

O lobo rosnou de novo e eu não tive ação quando ele pulou em cima de mim. Ele pegou meu pulso me arrastando para longe da arvore e depois bateu suas enormes patas no meu peito me derrubando. Quando seus dentes avançaram para o meu rosto eu levei as mãos batendo com força nele. Comecei a me debater gritando coisas sem nexo. Quando abri os olhos Alex estava em pé atrás dele, o lobo se virou, mas não foi tão rápido. Alex o pegou pelo pescoço e torceu. Ouvi o som de seus ossos se quebrando e ele caiu sem vida ao meu lado.

— Usted estas bien?

Eu estava atônita, então ele me puxou me colocando de pé e segurando meu rosto entre as mãos.

— Yvana?

Meus olhos tomaram foco e ele me pegou contra seu peito me apertando em seu abraço.

— No mundo sobrenatural o mais forte vive. – ele falou me olhando. Uma sombra pairava sobre o seu rosto.

— Tem mais deles?

— No. – ele sorriu de lado. – Vamos.

Caminhamos poucos metros onde um lobo estava caido.

Alex limpou o sangue das mãos e encarou o lobo que se contorci. Ele ainda gania perto da árvore. Alex parou de frente para o lobo que agora se transformara em homem de volta, era magro, deveria ter dezessete anos no máximo, o cabelo estava molhado e grudado no rosto com o corpo coberto de feridas. 

— O que está acontecendo? Yo teno um pacto com seu alfa. - falou chutando o garoto forte, tirando outro ganido de dor dele. - A matilha de Lucas me deu imunidade seu saco de pulgas. 

— As leis morrem junto com os alfas. Não somos mais a matilha de Lucas, ele era um líder fraco! 

— Como assim? - rosnou Alex - Quem é seu alfa agora? 

— Gabriel. O Gordo. - cuspiu o lobo - Agora você está perdido sanguessuga. Iremos caçar sua espécie e aqueles guardiões até o inferno. 

— Então nós encontramos lá. - respondeu Alex pisando no pescoço do agora homem até que um som de osso quebrado fez com que ele tirasse o pé. O garoto tombou no chão com os olhos vazios e o pescoço torto. 

— Vamos loirinha, temos muito o que fazer. Se Lucas morreu, estamos con grandes problemas. - falou com a voz diferente da despreocupação habitual.

— Lucas?

— O irmão de Nicolas Heenk.

— Eles são irmãos? – essa era novidade. Onde a Kate foi se enfiar?

Alex revirou os olhos e pegou minha mão me arrastando.

Nicolas tinha poderes, Kate também e Lucas era um lobisomem. Poxa vida!

— Como assim? – eu queria respostas. – Lucas está morto? Coitada da Kate.

— Yo não tenho certeza. Mas se estiver a sua antiga matilha vira atrás de nós.

— Você fez um acordo com ele? – ergui uma sobrancelha.

— Tive una luta com Lucas e sua parceira lobo, despues fizemos un acordo para que ele não me incomodasse e nem yo, mas acabei quebrando a promessa caçando a loba mais tarde.

— Você a matou? – perguntei horrorizada.

— No. Só queria me divertir. – ele passou por algumas arvores.

— Se é nômade, por que se incomodam com você?

— Digamos que yo tengo irritado algunas matilhas muito poderosas e estejamos em um grave perigo. 

 ****

 Sair de Ilheias estava se tornando quase uma rotina, uma hora, Jeniffer cobraria todos aqueles favores, e eu não saberia o que pediria. Passavam da meia noite quando sai de casa, a proteção da barreira ficava reduzida para poupar energias, e era a única chance que eu tinha.

Convenci Leninha a ficar quieta e não falar com ninguém. Tentei fazer o menos de barulho possível, meus pais estavam no conselho e nada podia me impedir, nada, até esbarrar em Daniel.

 - O que você faz aqui fora a essa hora? - sussurrei estreitando os olhos.

 - Te pergunto o mesmo. - exasperou regulando a respiração e pondo as mãos no peito. - Onde você está indo?

 - Não é da sua conta Mozart!

 - Você não deveria estar acordada, o toque de recolher já passou. - continuou desconfiado.

 - Daniel sai da minha frente. - pedi com a voz tremendo. Eu podia sentir minha raiva escapando por meio dos meus poderes, mas se eu levantasse um dedo contra Daniel todo o meu plano iria buraco a baixo. O barulho seria alto o suficiente para acordar às pessoas e eu seria severamente punida por tentar escapar.

 - Não até você me contar o que está acontecendo. - ele cruzou os braços determinado a não desistir.

 Suspirei o xingando mentalmente, se lutássemos eu com certeza poderia ganhar, ou talvez não, já que a muito tempo Daniel não era mais uma criança.

 - Lucas está em perigo. - suspirei - Eliza me ligou mais cedo desesperada, eu preciso ajudá-los. Por favor, agora saia da minha frente.

 - Como assim? A Liz está bem? Eu vou com você. - afirmou severamente.

 - NÃO! - gritei tão alto que fiquei com medo de alguém ouvir.

 - Isso não foi um pedido Margareth! Eu vou. Se Liz está com ele, pode estar em perigo ou até mesmo ferida.

 - Você não vai...

 - Maggie quando foi a última vez que você viu seus irmãos? Isso mesmo! A mais ou menos um mês. A última vez que vi a Eliza ela tinha 13 anos. - falou tão calmo que soou mais uma ameaça - Vamos! Ou daqui a pouco alguém vai notar nossa presença.

 Ameacei dar um chilique, mas me contentei em respirar fundo e continuar andando, chegamos na falha da barreira em menos de dois minutos, Jeniffer conseguiu nos tirar de lá não antes de me olhar significativamente. Meu favores estavam crescendo e eu estava começando a ficar preocupada.

 Caminhamos na floresta em silêncio, Eliza tinha me dado as coordenadas horas antes, eles estavam em uma caverna na parte leste da floresta, ela tinha improvisado ataduras e remédios de acordo com as ordens que dei, mas a preocupação de algo estar errado não parava de me assolar.

Depois do que pareceram horas comecei a ouvir gritos inconfundíveis. Desesperada corri o máximo que pude até que os vi, Lucas estava deitado apenas de calça com o tórax exposto suado e o cabelo grudado no rosto, Eliza andava de um lado para o outro como se estivesse tentando cavar um buraco, enquanto Lucas gritava e se contorcia.

 - Lucas, Lucas... Aí meu Deus isso... - gritei quando me aproximei o suficiente para ver a extensão da ferida, me ajoelhei e então abri a mochila freneticamente. Lucas estava com um rasgo na lateral do pescoço que se estendia até seu ombro. - Isso está preto!
E estava, a ferida estava começando a apodrecer na borda além de estar obviamente infeccionada, havia uma grande probabilidade de estar com hemorragia. Primeiramente tirei o soro do bolso e comecei a limpar o máximo que pude. Lucas continuava a se contorcer o que impedia que eu olhasse com clareza a profundidade do ferimento ou até mesmo qualquer outra coisa.

 -  Daniel, Eliza venham cá. Segurem ele, por favor! - gritei salivando de raiva.

 Os dois se aproximaram e enquanto Daniel pressionava os ombros, Eliza segurava as pernas de Lucas. Durante todo o processo Lucas gritou e se debateu até não poder mais, mas por fim consegui suturar e limpar a ferida inteira.

 Quando terminei com a parte externa, foi a vez da parte externa. As únicas formas de curar um lobo que foi ferido por um alfa era aplicando uma cura de flor muito rara que só crescia em Ilheias ou usar o sangue do alfa que machucou o lobo.Assim que tirei o tubo do bolso joguei três gotas na boca de Lucas e em alguns segundos ele parou de se mexer e dormiu.

 - E agora? - perguntou Eliza roendo as unhas que não tinha. Encarei-a curiosa, depois de todos aqueles anos ela ainda gostava de Lucas?

 - Lucas vai dormir por no mínimo dois dias. A cura externa é muito mais fácil que a interna. - respondi limpando as mãos na calça.

 - E o que faremos até la?

 - Esperamos. - suspirei.

 - Como assim?

— Eliza...

— Só isso? A grande Margareth Heenk,a santa dona da verdade só vai me dizer isso?

 - Eliza você pode nutrir esse sentimento patético por ele, mas não se esqueça que Lucas é meu irmão antes de ser qualquer coisa sua. - rosnei - Eu fiz o que pude, não sou nenhuma curandeira profissional.

 Eliza rosnou baixo e então se jogou no chão. Ignorei o ataque de chatice dela e me sentei ao lado de Lucas olhando-o. Lucas estava diferente desde que o vi, seu cabelo estava mais longo, estava mais magro, com olheiras profundas e a pele áspera. Fiquei um bom tempo acariciando-o até que senti alguém se aproximar.

— O que você quer Daniel? - resmunguei enquanto ele se sentava.

 - Nada. - respondeu olhando para Eliza como se visse uma miragem.

 - Está tudo bem entre vocês? - me forcei a perguntar.

Ele suspirou e desviou os olhos dela e fitou os pés.

 - Vai, pode falar. Temos dois dias atoa mesmo, preciso me distrair. - respondi com uma pontada de curiosidade.

 - Imaginei que ela ficaria feliz em me ver. - respondeu dando de ombros - Não a vejo desde aquele dia.

 - É... Parece que foi ontem. - respondi olhando para Lucas que agora dormia mais relaxado.

— Sabe, eu até entendo que ela esteja mudada, mas somos gêmeos. - continuou - Não deveríamos ter uma ligação especial? Poxa, eu senti falta dela todos esses anos. Mas quando a vi, ela me ignorou.

 - Dê tempo a ela. - respondi olhando as estrelas. - Aconteceu muita coisa que você provavelmente não sabe. Eliza era apenas uma criança apaixonada quando se perdeu. Ela cresceu fora de Ilheias, longe de você... Não me surpreenda que esteja diferente.

 - Uma criança apaixonada. - cuspiu como se a palavra fosse venenosa. - Parece que os Mozart estão fadados a sofrer por vocês.

 - Você não está insinuando que a culpa foi de Lucas, ne?

— Sinceramente, não. Se tivesse sido você no lugar dele eu iria. - ele comentou casualmente, mas o peso das palavras pairou pesadamente no ar. Olhei para Daniel por um minuto, todo mundo sabia da paixão platônica dele por mim, não era nada demais. Por um segundo me senti mal, ele era fofo, mas parecia tão diferente do que eu lembrava.

Ele me olhou perfurando meus olhos com os seus. Sorri de lado e ele retribuiu, minha respiração ficou pesada e eu recusava a me sentir constrangida pelo seu olhar.

— Maggie! - Eliza falou ao meu lado e eu pulei do lugar assustando Daniel que caiu da pedra sujando sua roupa na terra.

— O que foi? - perguntei atonita.

— A matilha está vindo. Possa ouvi-lá. - ela falou. - Nos encontraram.

Olhei para Daniel e sua expressão era indecifrável. Ele assentiu para mim transmitindo confiança e falou:

— Então acho que teremos uma boa luta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado, beijos Mandy e Mari



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Guardiões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.