Geralmente nos jogos que eu jogava tinha uma parte no menu que podíamos ler as características dos personagens desbloqueados, quem ele era, o que tinha acontecido pra ser daquele jeito e qual sua especialidade... Olhando pro senhor presidente na primeira eu percebi que no meu menu única coisa que constava dele era: Seu nome é Erick e ele é presidente do grêmio estudantil.

O que Edward contou era verdade? Olhei para Lesley copiando a matéria do meu lado atenta, se for verdade, por que mentiria pra mim? E se os dois tivessem mesmo algo, por que o Erick nunca tocou nesse assunto? Nunca nem mesmo citou a Lesley em nossas conversa? Eu nunca nem mesmo o vi trocando palavras com ela!

NADA faz sentido!

Ele disse “Está na hora de você começar a enxergar o que não viu enquanto jogava”... Será que tinha haver com isso? Com o fato dos dois terem algo e eu nunca ter percebido por ficar jogando? Talvez seja isso, uma forma sutil de me alertar pra não gostar dele, por isso me mandou no Edward, pra através de outra pessoa eu soubesse disso... Certo? Se bem que isso não explica por que a Lesley mentiu pra mim sobre o Edward.

–As pessoas são tão complicadas vovó.—Murmurei no jantar.

–Isso é verdade, como chegou a essa conclusão?—Suspirei afastando os pratos.

–Eu nunca dei motivos pra Lesley mentir pra mim, se ela dissesse uma coisa mesmo que ruim eu encontrava um jeito de compreender, mas... Se bem que eu nem sei se isso é verdade.—Bom o Edward disse que toda escola sabia, então não teria como ter mentido.—Eu sou uma pessoa pouco confiável?—A senhora de cabelos presos bem arrumados me sorriu.

–Você é muitas coisas: desleixada, preguiçosa, ranzinza e isso por que não vou citar o problema dos jogos, mas você conversa com quem? Iria contar pra quem? Com certeza se ela não contou não foi por falta de confiança.—Ela podia ter só dito a ultima parte.

–O Erick também não disse nada, talvez eles tenham tido algo, só que ainda sim, não sei por que não contar pra mim.—Me fitou confusa.

–O que o rapaz tem haver com isso?—Contei a ela a historia, mas só a parte do Edward me beijando e eu conversando com ele, vovó e o Erick estão associados, não queria que ela dissesse nada.—Neste caso só uma coisa que pode fazer.—Engoli seco já imaginando o que diria.—Isso mesmo mocinha, vai ter que encarar os dois e perguntar diretamente.

–To com medo do que vou ouvir...—Ela sorriu.

–A verdade pode doer, mas como dizem: com tempo liberta.—Fiz que sim sem realmente sentir melhor com aquilo.

–Se eu tivesse jogando nada disso estaria acontecendo.—Concordou.

–Querida, nada acontecia quando estava enfiada naquelas coisas.—Vou ouvir isso dela e do Erick até quando?

Eu entrei em um dilema, pergunto a ele ou a ela? Se eu perguntasse a ele iria parecer que eu estava fazendo um interrogatório, se eu perguntasse a ela, provavelmente ela ficaria muito sem graça. Talvez seria melhor uma terceira pessoa.

–Sabia que a Lesley gosta do Erick?—Cochichei pro Gregory me fitou confuso e contrariado.

–Claro que eu sei, todo mundo sabe. Por que a pergunta?—Todo mundo não, eu não sabia.

–Como é que eu nunca vejo os dois juntos? Você sabe, a Lesley é a Lesley.—Fiz um sinal de ‘corpo violão’ com as mãos, ela dá de dez em mim e muitas garotas ali, era o pro Erick estar beijando os pés dela. Eu sei que era cruel perguntar a ele por que ele gostava dela, mas não vi outro jeito.

–Não seria melhor perguntar a ela Olivia?—Retrucou medroso, estou começando a ficar intrigada com toda essa historia. Depois disso suspirou pesado.—Não me diga que até você está afim dele?! Por que toda garota legal corre atrás daquele cara? O que ele tem demais?—Garota legal? O fitei seca.

–Ohh quer dizer que agora eu sou legal? Estranho até um tempo atrás você só falava comigo se a Lesley estivesse por perto.—Engoliu seco envergonhado.

–É que...

–É que porra nenhuma! Garotos só são legais quando lhes convém, não!? Talvez seja isso que ele tenha que você não, ele é daquele jeito com todo mundo.—Apertou os olhos me encarando.

–To louco pra saber como vai contar pra Lesley que está afim do cara dela.—Revidou em vingança.

–Eu não estou! Eu só estou confusa por causa dos jogos e ele não sai do meu pé!—Mexeu os ombros suspirando.—Você fala como se fossem muitas...—Murmurei pensativa.

–Nenhuma que supere a Lesley, se eu tivesse a sorte dele...—Ahh coitado se soubesse a pouca moral que tem com ela.—... Mas eu não acho uma boa ideia você falar disso com ela.—Ela era minha melhor amiga, eu poderia falar qualquer coisa com ela.

A única coisa que consegui com o Gregory foi confirmar o que o Edward disse, ela mentiu pra mim e o cara dos computadores se quer mencionou nada. Eu respirei fundo criando coragem, eu tinha que falar com a minha amiga.

–Lesley...—Aproximei minha cadeira dela que sorriu amistosa.—...Por que nunca me contou sobre você e o presidente?—Eu não queria feri-la dizendo acusando que tinha mentido pra mim, porém o sorriso dela logo foi fechado.

–Eu e o presidente? Ficou louca? O que eu teria com ele?—Acuei um pouco, por que continuou mentindo?

–Lesley somos amigas, conheço você desde a infância, não precisa mentir pra mim.—Ficou visivelmente nervosa o que era raro se tratando dela.

–Eu não estou mentindo!—Se levantou da carteira mirando as amigas que também estranharam a atitude dela.—Qual é o seu problema? Nunca desconfiou de mim!—O meu?

–Eu não estou desconfiando de nada, só quero saber por que me disse uma coisa que não é verdade!—Retruquei me levantando também.—O que achou que eu faria? EU, logo EU?—Apontei pra mim mesma, por favor, eu era a estranha do jogos por que ela veria necessidade de esconder isso de mim ainda que eu tivesse sentimentos por ele?

–Chega Olivia!! Você não tem nada haver com isso, volte pra droga dos seus jogos!!!—Gritou furiosa, quem é essa garota na minha frente? Não é minha melhor amiga.

–Por que está falando assim comigo?—Perguntei em um fio de voz, minha incredulidade fez os meus pensamentos ficarem em choque. Como as coisas chegaram a isso? Quando foi que a ultima vez que se zangou comigo assim? Por que estava zangada comigo assim? Segurou-me pela blusa enraivecida enquanto eu fiquei estática esperando receber alguma resposta, mas tudo que ganhei foi um empurrão que me fez sentar.

–Olha só em que situação você me colocou!—Retrucou suspirando tirando um dos celulares das amigas dela jogando no meu colo.—Não vamos mais brigar por isso.—Arregalei os olhos estática a vendo sorriu largo se sentando ao meu lado, ela queria que eu jogasse? Como se nada tivesse acontecido?

Não, ela queria que eu continuasse como era antes, era isso não é? A garota mal arrumada sem opinião viciada em jogos. Voltou a conversar com as meninas sobre outras meninas rindo e fingindo que não tinha se alterado, as amigas dela me lançavam olhares estranhos algumas com pena outras sorrindo.... Quem são essas pessoas?

Me levantei notando que o recreio havia acabado e o pessoal estava entrando na sala, coloquei o celular na mesa dela sem dizer nada e andei rumo a saída.

–Olivia a aula vai começar...—Ouvi alguém me chamar enquanto caminhava pra saída da escola.—...Olivia!—Segurou meu braço e eu vi o semblante preocupado do garoto dos computadores, o empurrei cheia de raiva contra a parede.

–A culpa é sua!—Explodi furiosa correndo para a saída.

Eu ainda nem entendia por que me sentia tão horrível assim, foi só uma briga, mas em parte eu sentia como se tivesse acabado de acordar em um lugar diferente do que eu acreditei que a vida seria. Eu sempre esperei o pior de todo mundo, qualquer pessoa que fosse eu já esperava que me odiasse, mas aquela atitude da Lesley, com aquele olhar debochador dizendo ‘volte pra droga dos seus jogos’, aquela não era minha amiga. Onde estava a garota que dizia “Amizades como a nossa dura a vida inteira.”? Onde estava a única pessoa com quem troquei confidencia esses anos todos? Não era pra ser assim, não era pra vida parecer assim.

–Espera, espera, espera!—O imbecil me seguiu até o pátio da escola me segurando com força.—O que aconteceu?—Perguntou espantado com a minha ação.

–O que aconteceu!? O que aconteceu!?—Questionei com indignação, como ele não sabia?—Você envenenou a minha melhor amiga contra mim!!!—Me soltou perplexo.

–Eu!? Como? Quando?—Respirei com dificuldade.

–NÃO SEI!!—Eu não sabia de nada, sentei em um dos bancos estática, eu não sei de nada que gira ao meu redor. O fitei zangada.—Se toda escola sabe que a Lesley gosta de você, obviamente você também sabia disso!—O presidente estava confuso.

–Obviamente.—Repetiu no mesmo timbre que eu.

–Por que você mesmo não me disse?—Engoli seco notando que ele suspirou sem responder.—Lesley surtou comigo só por que eu perguntei e eu nem sei por que!! O que você fez pra ela?—O acusei puxando sua blusa nervosa e Erick me fitou sério.

–Disse a ela que só você pode ser meu player 2.—O soltei pasma. Isso queria dizer o que imaginei que fosse?

–M-m-mas ela é...—Suspirou novamente me interrompendo.

–Quem você acha que ela é? A garotinha inocente que você conheceu a dez anos atrás? É por alguns anos eu também quis acreditar nisso, mas que tipo de amiga usa a outra como pé de coelho?—Neguei no mesmo tempo.

–Ela só está zangada comigo por sua causa!—Curvou a cabeça pro lado tristonho.

–Abre os olhos, ver só o que lhe convém nem sempre é algo bom.—Eu me recusei a acreditar que tinha mais coisa, como ele podia dizer aquilo?

–Está errado! Lesley é minha amiga...

–Mesmo? Não é o que ela diz pra todo mundo.—Dei um passo pra trás.—Ela diz que só fica perto de você por pena, ela usa você como medalha de caridade.—Neguei sem incrédula.

–É mentira...—Disse com a voz falha.—...Você não conhece a Lesley!—Cerrou os olhos tirando os óculos, se aproximou de mim segurando meu rosto dei um tapa nas mão dele, porém ele me obrigou a olhar no fundo de seus olhos.

–Pensa direito, quantos Erick Adams você conhece?—Por que ele mudou de assunto.

–O que? Você ficou doido? Você é o único que eu conheço!—Tornou um olhar suplicante sem dizer nada... Pisquei varias vezes sem saber o que fazer enquanto ele me segurava daquele jeito me forçando a encará-lo.

Não, não, tinha um outro Erick da época em que ainda estava no inicio do fundamental, ele... Era o vizinho da Lesley, ela dizia ser o melhor amigo dela. O fiz soltar meu rosto fechando os olhos deixando algumas lágrimas fugirem.

–Então ela nunca gostou de mim...?—Mesmo sendo doloroso ele negou.

–Se gosta, não demonstra.—Não, isso estava tão errado, não pode ser!

–Eu vou falar com ela!—Se quer esperei ele responder, corri na frente indo até o banheiro para lavar o rosto.

Acabei entrando em uma cabine, precisava refletir o que ia dizer, tudo me pegou de surpresa, mas eu sei que não era aquilo, não podia ser... Eram quase sete anos de amizade, ela estava comigo quando minha mãe morreu, não podia ser uma pessoa tão ruim assim.

–Você viu a cara dela? Meu Deus o que foi aquilo? Que garota sonsa!—Ouvi vozes falarem enquanto entravam no banheiro, parecia as amigas delas.

–Argh eu disse pra vocês! Agora ela vai correndo pras pernas do Erick falar mal de mim, querem apostar quanto?—As meninas riram, que destino é esse que me levou ao banheiro no mesmo instante em que ela veio?

–Coitada está se achando só por que está vestindo uma roupinha melhor!—Revidou outra.—Mas o Erick vai brigar com você de novo, isso é fato.

–Tudo bem, ahh me empresta esse batom...—Fez uma pausa.—...Ela me venera, é só eu pedir pra ela não falar mais com ele e tudo volta ao normal, ela retorna pros games estúpidos dela esquece ele e o Erick torna a ser o politicamente correto comigo até o dia em que ver o que está perdendo.—Cerrei os olhos suspirando.

–Eu não entendo por que ele tem esse interesse nela! Ela é estranha tem gostos masculinos e fala de personagem de jogos como se fossem reais!—Elas riam e eu me sentia mais mal ainda.

–Você que não viu o quarto dela, coisa bizarra, parecia mais um cemitério do que o quarto de uma garota, sem contar que os primeiros amores dela nem são pessoas de verdade! Na escola do primário diziam que a mãe dela morreu de desgosto por causa dela.—Mais risadas.

Sentada na privada eu meio que me lembrei do por que dependia tanto dos games na minha vida. Eles me escondiam sempre que eu precisava, eles me ajudavam a fugir sempre que algo dava errado.... Eles me mantinham longe de pessoas como elas, longe de toda essa realidade perversa.

Ahhh eu lembrei... Lembrei por que não queria ser como as outras garotas... Lembrei por que fugia delas no fundamental... Lembrei do quanto elas sempre me odiaram.