The Way You Look Tonight escrita por Clarisse Hugh


Capítulo 15
Quando chega a tempestade


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi dificílimo de finalizar, porque a faculdade não dá sossego, então peço inúmeras desculpas pela demora. Espero que tenha valido a pena.



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Lado a lado, caminhávamos pelos jardins do Olimpo com tudo me conduzindo a pensar que aquele 5 de junho não passava de um sonho. Não era capaz de formular qualquer outra justificativa coerente para os sorrisos e olhares trocados, ou para a deliciosa refeição capaz de me fazer esquecer quaisquer problemas pendentes sob a minha incumbência e, acima de tudo, como dois outrora inimigos declarados eram capazes de se entender e entrarem em sintonia em tão pouco tempo. Queria poder culpar Dionísio e seu maldito vinho, mas tenho plena ciência de que o que consumimos durante a refeição não chega nem perto de nos embriagar.

Apesar de tantas questões apontando no fundo de minha mente, nenhuma delas se fazia notar o suficiente para me distrair daquele momento precioso, de uma quietude e compreensão a qual eu jamais tivera a oportunidade de compartilhar com outro deus, então eu só seguia andando, a contemplar de esguelha cada detalhe desse homem tão milimetricamente projetado para me enlouquecer e me encantar. Os passos de Poseidon multiplicavam-se de forma vagarosa a minha direita, mãos nos bolsos, a primeira casa de sua camisa desabotoada e os cabelos propositalmente em desalinho. Hesitantemente e a princípio meio tímido, é a forma com que esse moreno me dirige a palavra.

— Sei que implico bastante com você, mas gostaria que soubesse que a noite de hoje foi maravilhosa. A tempos não me divertia tanto...

— Sou obrigada a compartilhar do sentimento, foi realmente ótimo.

Aquele lugar era abarrotado das mais diferentes espécies de flores, mas naquele início de noite todos os botões desabrochados pintavam-se de um tom azulado e, apesar de ser quase inverno, o ambiente cheirava a primavera.

— Não querendo abusar de sua boa vontade nem nada, mas acontece que Afrodite me indicou uns filmes para... sei lá, auxiliar na decoração e montagem da festa e, como minha companhia não parece ser tão terrível assim, gostaria de saber se você aceitaria vê-los comigo. Sabe como é, só pra garantir que eu não durma...

Tenho ciência de que deveria me afastar antes de protagonizar alguma besteira, enquanto essa ideia de amor ainda não se enraizou totalmente em mim, mas não consigo. A possibilidade de tê-lo a meu lado é tentadora demais e, se isso é tão louco e masoquista quanto eu imagino que seja, talvez eu não seja mais merecedora da alcunha de deusa da sabedoria. É dessa forma que, mal podendo evitar estar ainda um tanto boba diante de sua presença, me pego aceitando o convite.

— Claro, e pode deixar que eu finjo não notar suas lágrimas de emoção ao final clichê da história.

Ao dirigir-lhe uma piscadela após minha frase e receber um arquear de sobrancelhas bastante surpreso e risonho em resposta, quase posso efetivamente me sentir essa mulher confiante e tentadora, muito dona de si. Acredito conhecer Afrodite um pouco melhor também, porque neste exato momento me dou conta de que flertar com os próprios sentimentos não deixa de ser um intrincado jogo de estratégia, e uma guerra só é justa se os dois lados se permitirem jogar.

— Touchè, Loira. Meu ego acaba de ser feito em pedacinhos.

— Nah, ele é grande demais para murchar por tão pouco. – sua conhecida expressão sacana, tentando insinuar um duplo sentido naquilo, me fez sorrir verdadeiramente ao empurrar-lhe de leve, logo abaixo dos ombros – Ridículo. Mas agora falando sério, que dia devo reservar em minha agenda para ver o... Droga!

— O que foi, Atena?

— Minha agendinha. Eu sempre a levo comigo e não está aqui. Devo ter esquecido na sala de jantar...

— Tudo bem, a gente volta lá para procurar.

— Não precisa se preocupar, eu vou lá rapidinho para pegar e já volto.

— Tem certeza que não quer que eu te acompanhe?

Eu já havia andado alguns passos para longe dele quando me virei, tentada demais para deixar uma oportunidade de provocá-lo passar.

— Tenho. Você ficando aqui vai me dar um motivo para voltar logo. A menos que você tenha medo de ficar sozinho no escuro...

—----*-----*------

Um tipo inédito de felicidade borbulhava em meu peito ao vê-la se afastar, tão leve e tão linda. Algo com nuances indefinidas demais para que eu tentasse identifica-las, mas que me fazia bem, tatuava a alegria em meu rosto e não apagava sua face da minha mente ao fechar os olhos. Como um boêmio apaixonado, venci uns poucos passos até beirar a fonte imponente daquele solar, tocando suave a superfície da água e sentindo sua energia como se fizera parte de mim.

Após alguns minutos, destacando-se em meio àquele silêncio contemplativo, ouço o barulho de alguém se aproximando. Viro-me com a certeza de que é Atena, a ponta da língua praticamente coçando com alguma frase provocativa sobre ela voltar correndo para mim. Mas, ao me deparar com o autor do som, percebo estar enganado. Não se trata da deusa da guerra justa vindo lentamente em minha direção para retomarmos a conversa enquanto caminhamos despreocupadamente pelos jardins.

Não. Há um adjetivo sobrando nessa função para defini-lo.

Praticamente diante de mim está o próprio deus da guerra, Ares.

— Olá, tio! O que faz perambulando por aqui uma hora dessas? – Sua voz não só quebra o silêncio como também o rasga. Seu timbre rouco e poderoso é como o ecoar de um soco num ringue vazio – Já passou da hora dos idosos estarem na cama.

— Engraçadinho.

Aproximo-me dele com um certo gosto amargo na boca e um pressentimento esquisito. Não conseguia entender o porquê dessa sensação de que as coisas iriam desmoronar. Ao contrário de algumas pessoas, eu sempre me dei bem com Ares. Éramos bons em provocar e não levar as coisas a sério demais, mas meus sentidos de marinheiro alertavam uma tempestade chegando e, até então, o mar estava calmo demais.

— Agora falando sério, eu estava indo me encontrar com Hermes. Eu, ele e Dionísio estamos querendo tomar umas e jogar pôquer. Não tá a fim de se juntar a nós?

— Tentadora a oferta de dar uma surra em vocês no jogo, mas vai ter que ficar para outro dia. Hoje eu estou... meio ocupado. – disse com a clara sensação de estampar um certo sorriso bobo de canto no fim da frase.

— Ah! Afrodite comentou mesmo que emprestou uns filmes para te ajudar nos seus planos da festa. Só imagino o quão boa deve ser essa oportunidade para importunar sua "sobrinha insuportável"...

Acompanho sua risada fracamente, um pouco desconfortável, e acrescento debilmente, tentando meio sem jeito sair dessa situação.

— Não sei não, acho que isso não é muito o que tenho em mente...

Ares fica em silêncio por alguns segundos, cenho franzido, então gargalha, batendo com a mão espalmada em meu peito.

— Agora entendi tudo! Você vai tentar conquistá-la! Assim de uma só vez vai conseguir acabar com o nariz empinado de Atena e irritar Zeus pra caramba!

— Não, Ares, eu não – o deus da guerra continua falando e não me dá ouvidos.

— Papai vai ficar irado e Atena perderia o chão! Genial, tio. Nunca seria capaz de pensar numa coisa dessas!

— Pois é, eu também não...

Quando escuto essa frase, sinto o chão se desfazer sob meus pés. Olho para o lado e sei que Atena chegou a tempo de escutar somente a última parte da conversa. Considerando todo nosso passado e como a conheço, imagino também que ela supõe ter ouvido nada além da confissão de um plano.

— Atena? O quê? Não é nada disso! Eu...

— Chega, Poseidon. – seus olhos marejados são o detalhe que me quebra e machuca mais profundamente – Será que já não tem brincado o suficiente comigo?

Ela sai sem esperar resposta, esvaindo-se em névoa e, mesmo à distância, sinto seus muros se reerguendo e a afastando de mim.


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Notas finais do capítulo

Durante o processo de escrita desse capítulo o principal mantra que eu não deixava de repetir para mim mesma foi "Please, don't make Ares an asshole", porque apesar de caber a ele a terrível tarefa de ser o responsável pelo mal entendido entre nosso casalzinho favorito, nessa história eu quero tentar retrata-lo como um bom irmão mais velho. Um cara que, apesar da casca bruta no exterior, tem uma consciência de mundo e uma percepção muito superiores à imagem de musculoso idiota que normalmente lhe é designada. A mais pura verdade é que eu gosto do deus da guerra e acho que ele merece um pouco de carinho e compreensão de vez em quando, então não o detestem logo de cara, okay?
Amo vocês, nos vemos no próximo ♥



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