Ou talvez finalmente eu houvesse enlouquecido, chegado a um estado onde eu comprava pessoas a anjos? Ou demônios.

Macbeth me abraçou logo me soltou e olhou nos meus olhos, e que olhos lindos ele tinha.

- Não precisa me contar se não quiser.

Olhei pra ele tentando entender, o que ele queria me dizer com isso? Bem, deduzo que se ele está nesse lugar, já passou por alguma daquelas salas, me senti enjoada.

Um longo suspiro veio dele. Ele andou até a porta e me olhou como se eu fosse um filhotinho que precisava de atenção e cuidados. Odiei essa sensação.

- Você viu não é?

- Vi o que?

- As salas, as torturas, as crianças... Quer que eu continue? Sei tudo o que acontece aqui.

- Você sabe tudo? Então por que deixa que isso aconteça?!

- Por que simplesmente tem que acontecer... Veja é algo complexo de mais pra você nesse momento, esqueça o que viu, será melhor.

- Acha que manda em mim?

- Não, mas é um conselho de alguém que quer o seu bem, não acho certo você ter que passar por isso.

Olhei para o quadro novamente, era uma mulher com suas filhas sorrindo e brincando junto com empregados e outras pessoas, parecia um lugar muito feliz. A mulher mesmo em forma de pintura era de uma beleza incrível, junto com suas filhas, mas havia algo mais, havia um pequenino no quadro, um garotinho.

- Esta é minha família, minhas irmãs e eu.

Olhei pra ele fascinada, era perfeito, realmente perfeito, cada detalhe.

- É um lindo quadro.

- Ou era para ser, isso é algo que realmente aconteceu, há muitos anos atrás.

- Deve ser uma boa lembrança.

- Um das poucas...

- Como?

- Todos se foram, há muitos anos atrás, Sobramos penas eu e meus empregados, minha família foi para uma viajem. Eu fiquei em casa, pois tinha aula de piano eu iria no dia seguinte ao encontro dele, mas algo terrível aconteceu, de modo que eles nunca chegaram ao seu destino e eu os perdi.

- Eu sinto muito.

- Está tudo bem, como eu disse, isso foi há muito tempo atrás.

Uma ponta bateu no meu peito, acho que afinal todos têm historias tristes que não querem recordar, ou lembranças boas que nos deixaram marcas.

- Veja, se minha pequena cria não veio parar no quarto de um dos meus hospedes temporários, que irônico.

- Pelo menos Caim não está aqui para atrapalhar.

A conversa entre os dois e o modo como Marcus chegou me assustaram, era como se nada existisse, as salas, as crianças, nada parecia real.

- Como assim: Pelo menos o Caim não está aqui para atrapalhar? Eu fui tão convidado quanto você meu adorado Macbeth.

- Falando no diabo...

Um foi ríspido com o outro, mas era uma cena até engraçada de se olhar, o modo como pareciam se odiar, mas ao mesmo tempo poderiam cultivar algum tipo de amizade, em geral era algo que eu ainda não entendia.

- Bem, acho que já passamos tempo de mais com os hospedes, não é Sofhia?

- O que está acontecendo?

Perguntei confusa, eram tantas conversas, um brigava com o outro, mas ao mesmo tempo sorriam, e contavam piadas, me senti profundamente perdida.

- Haverá uma reunião de cavaleiros!

- Um o que?

- Simples minha Sofhia, é quando, Eu Marcus reúno vários cavalheiros de nossa sociedade para festejar!

Marcus me disse isso sorrindo, senti uma ponta de falsidade e bipolaridade, as pessoas deste lugar definitivamente me assustavam, viam oque acontecia, mas não ligavam? Fazia bailes enquanto outros eram torturados?! Eu tenho remorso disso.

- Outro maldito baile...

Murmurei em tom baixo, de modo que achei que eles não escutariam, mas acho que nada escapa dos ouvidos do Marcus pelo modo que ele me olhou, parecia um tanto curioso.

- O que houve Sofhia? Não gosta da ideia?

- Sofhia minha querida, será divertido, eu te prometo.

- Caim, eu não quero promessas suas!

Falei extremamente irritada, essa situação, o que mais poderia acontecer? Este lugar era completamente louco!

- Você conhecerá os membros do conselho, Será muito bom para você.

- O que quer dizer com isso Marcus?

- Logo entenderá.