Passamos muito tempo juntos depois daquele dia, íamos a livrarias, cinemas, museus, tínhamos muitas coisas em comum. Eu me sentia inteiramente protegida todas as vezes que ele passava os seus braços ao redor dos meus ombros. Eu me sentia muito pequena, e ele era como um maravilhoso guardião que estaria lá por mim, mediante qualquer adversidade. Sabe, pensando bem, esse é um dos erros do amor. Ele faz com que enxerguemos a pessoa amada de uma forma muito encantada, ele mascara os defeitos, mexe com os nossos julgamentos. E exatamente por isso eu estava tão despreparada para descobrir a verdade, por isso ela veio até mim de uma forma tão repentina. Seus olhos azuis, sua pele clara, seus cabelos encaracolados, o cara perfeito não era real, era uma idealização.

Lembro-me que estávamos no cinema naquele dia. Veríamos um filme que tinha acabado de estrear, que tinha recebido uma ótima crítica. Ele foi pegar a pipoca e eu estava de pé na fila do Mc Donald’s, queria muito um sundae. Sai andando com o meu sorvete em mãos, driblando as mesas da praça de alimentação seguindo em direção ao cinema, ele deveria estar com a pipoca nas mãos, mas não estava. Ele estava de pé, na porta do cinema, olhando para uma garota de cabelos claros, seus olhos brilhavam e ele mexia nervosamente em dos seus cachos. Meus pés fincaram no chão, acho que todo o meu corpo me avisou do que aquilo se tratava, porque eu não conseguia me mover. Eu só olhava. Em algum momento ele me viu, e sorriu sem graça.

“Essa é a Clarissa.” A palavra namorada nunca apareceu naquela conversa. E ele sempre me apresentava como tal. Clarissa, a sua namorada. Ela era linda, com seus cabelos castanhos caindo em ondas em suas costas, os olhos castanhos com pontinhos de verde, lábios cheios, pequena e curvilínea. Ah, eu via como ele olhava para ela. Ana. Essas três letras formavam um nome, uma pessoa, um fantasma que me assombraria dali por diante. Depois de alguns minutos incômodos ela se foi, assim como chegou ela foi embora. Mas naqueles breves momentos ela mudou tudo. E depois daquele momento, eu não era mais a mesma. O amor me mudou, e agora a desilusão também.