Ela engoliu fundo, arregalou os olhos e segurou as bordas do barco voador, com tanta força que machucou as mãos. Mas nem notou, o desespero de cair pelo nada com um exército vindo atrás dela e estando completamente fora da sua rotina fez-a se esquecer disso tudo. Kate sentiu que entrou em combustão dessa vez, todo o seu corpo queimava. Ela só estava torcendo para que o vestido ficasse intacto.

O vento cessou e o barulho nos seus ouvidos também. Estavam suspenso no nada, sem escutar nem sentir alguma coisa que não fosse o barco-voador. Então Kate sentiu algo bater em suas costas e se sentiu flutuar mais uma vez.

E caiu no chão, batendo a cabeça.

Ela gemeu de dor ao se mover. Não havia apagado nem sua visão estava prejudicada, o que ela agradeceu. Estava deitada sobre uma superfície áspera, com algumas pequenas pedrinhas pinicando suas costas, pernas e braços.

Kate deitou-se de bruços com um suspiro pesado, e usou as mão para se levantar. As chamas ainda rodeavam seus braços, mas agora em menor quantidade. Ela olhou para os lados e não viu nada além de terra vermelha e alguma ou outra planta alta seca e abandonada. Um vento leve corria por seus cabelos soltos, sujos e embaraçados. Kate se pôs de pé, cambaleante. O barco voador estava divido em três grandes pedaços, espalhados pelo lugar.

A garota pôs-se a correr, e a gritar, chamando Loki. Ele não respondia, e ela não o via em lugar algum. Seus pés descalços estavam começando a doer, as chamas a aumentar, mas ela não o via. Desesperada, sua voz adquiriu um tom histérico e lágrimas começaram a borrar sua visão.

Depois de um momento infinito, ela o encontrou. Estava no chão, deitado de costas na sombra de um dos pedaços do barco voador. Kate correu e se jogou para cima dele, machucando os joelhos. Loki estava provavelmente inconsciente, pois não havia se manifestado aos gritos nem as sacudidas que ela lhe dava.

As lágrimas de Kate caiam aos montes, sua voz estava começando a falhar. Soluços surgiram e um bolo dolorido se formou na garganta dela, sua voz foi sumindo ao longo que ela se aproximava cada vez mais de Loki. Ele continuava deitado, sem responder a Kate.

– Seu estúpido, covarde... Você não vai fazer isso comigo - ela dizia entre os soluços e as lágrimas.

Ela colocou as mãos machucadas por volta do rosto pálido dele. As lágrimas ainda caiam e seu desespero foi crescendo. Sem esperanças, deixou-se cair sobre ele, sem mais forças. Os soluços balançavam todo o seu corpo, e ela não tinha a menor ideia do que fazer. Podia até estar na Terra, mas e as coisas que estavam atrás dela? E onde ela estava, por princípio?

– Quando você vai cuidar de alguém, tente manter a calma e não chore em cima da pessoa.

Kate arregalou os olhos e levantou a cabeça. Loki estava a olhando, um sorriso leve em seus lábios. Parecia que ele sorria sem saber. Ela se lançou para seu pescoço, abraçando-o sem medir as forças, o que provocou protestos da parte dele. Kate tomou seu rosto entre suas mãos novamente, o que fez ele arregalar os olhos verdes.

– Você não morreu! - Ela exclamou alto.

– Observações mortais desnecessárias - Loki limitou-se a dizer, com uma expressão estranha no rosto. - Pode me soltar?

– Oh... Claro, claro - ela disse, desconfortável, indo para trás.

Ele se sentou, moveu as mãos e as pernas para garantir se estava tudo no seu lugar.

– Você tem alguma ideia de onde estamos? - Questionou, olhando em volta.

Kate o olhou e balançou a cabeça. Ele deu um suspiro pesado e se levantou.

– Onde você vai? - Ela perguntou, indo atrás de Loki.

– Precisamos de um lugar para dormir, além de alimento. E depois ver onde estamos para achar um lugar para se esconder.

Ambos andaram até seus pés não aguentarem mais. O crepúsculo já estava a acabar quando viram, numa formação rochosa, uma entrada. Kate tentou correr para o local, mas Loki segurou-a pelo braço.

– Deixe que eu vou primeiro. Provavelmente não há nada, mas sou mais experiente com essas coisas que você. Espere aqui - ele disse, e entrou. Kate observou sua silhueta sumir no escuro.

Seu coração batia forte, mas não estava com medo. Em alguns segundos, Loki apareceu, fazendo um sinal para que ela entrasse. Ela entrou e se jogou no chão da caverna, numa área escura, longe do Sol.

– Eu estou morta - ela disse, depois de um suspiro pesado.

Loki olhou e levantou uma sobrancelha.

– Não, nem pra tanto. Já passei por piores e sobrevivi sem um arranhão - sua voz era cheia de auto-orgulho.

– Você é mais experiente com essas coisas - ela murmurou sarcasticamente.

Ele deu de ombros.

– Verdade - admitiu.

Kate abriu a mão e moldou uma chama, iluminando o local. Seu vestido branco agora eram somente trapos sujo de poeira e um pouco de sangue, suas mãos e pés estavam imundos. Maldita hora para fugir. Nem calçada ela estava.

A boca de seu estômago apertou. Ela não havia comido desde que saiu de casa, e já havia passado-se horas. Ela franziu a testa e cerrou a mão. Loki se sentou ao seu lado.

– Você precisa dormir - ele disse, a voz leve.

– Eu preciso comer, isso sim - ela disse, irritada.

– Bem - ele disse após um instante -, se você dormir agora, talvez podemos achar uma cidade quando acordarmos.

– E você não vai dormir?

– Vou sim.

– E a vigilia?

– Ninguém vai nos incomodar. Certifiquei-me disso.

Kate o olhou.

– O que você fez?

– Eu sou um bruxo. conheço alguns truques - ele respondeu com um sorriso irônico.

Ela hesitou um pouco antes de se dar por vencida. Deu outro suspiro e se encostou no ombro de Loki, já com os olhos fechados e imersa na inconsciência.


A luz invadiu o ambiente, iluminando a poeira suspensa e os corpos dos dois, mas principalmente o rosto de Kate, que acordou. Ela olhou para os lados e viu Loki, que também dormia deitado. Ambos pareciam ter caído durante o sono, um por cima do outro. Por causa disso, o corpo dela doía mais do que na noite anterior.

Ela levantou, bateu a poeira das mãos, para dar a impressão de estar limpa, mas não funcionou. Kate saiu para fora da caverna. O Sol havia acabado de surgir, o céu ainda possuía algumas cores além do seu habitual azul. Ela olhou para trás. Ele ainda dormia. Então deu a volta na elevação que estavam, nenhum sinal de vida.

– Kate? - Escutou, quando estava de volta à entrada da caverna.

Loki estava sentado, de costas para ela.

– Aqui - ela respondeu, e ele virou a cabeça para encara-la. - Não vi nada que pudesse indicar que estamos perto de algum lugar - ela disse, se aproximando e deixando-se sentar ao seu lado.

Ela respirou fundo, desolada.

– Ei, ei, nós vamos sair dessa - ele disse, com a mão no ombro dela.

– Acho bom.

Ela se levantou mais uma vez.

– Vamos sair daqui.