Alarde dos corvos escrita por Jhonatan Nic


Capítulo 6
Capítulo 6 - Um novo amanhecer




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A lua nunca estivera tão linda. Eu poderia passar aquela noite inteira assistindo ela vagar pelo céu, já que meus pensamentos não me deixariam dormir tão cedo.

Fui até a sala de estar e vi que a televisão estava desligada e que ninguém mais estava lá, somente os sofás que formavam um grande "U" e a mesinha de centro. Em cima dela estava a capa do filme que tinham assistido, "Glue", que eu nunca tivera visto antes. Caminhei então até a cozinha, que também estava vazia e silenciosa. Na pia de mármore, percebi os pratos e copos sujos daquele jantar assim como as caixas de lasanha estufando a lixeira ao canto do cômodo.

"Talvez fosse um pouco tarde para lavar toda a louça" Pensei. Peguei o celular e vi que eram 04:18 da manhã. Custei a acreditar que fiquei todo aquele tempo na janela, pensando sobre tantas coisas ao mesmo tempo, como se estivesse premeditando todos os meus medos acontecendo denovo e denovo. Decidi então que precisava dormir um pouco, ou pelo menos tentar.

Voltei para a sala de estar e sentei num dos cantos do "U" que os sofás formavam. Antes que viesse a minha mente fechar os olhos, recostei a cabeça e fiquei observando o teto branco de reboco e as marcas que suas falhas formavam; Talvez fosse somente coisa da minha cabeça, mas eu podia ver uma grande ave marcada no teto da sala, como se fosse uma grande águia de asas abertas, mas sem bico. Sendo ou não uma grande coincidência, aquilo foi o suficiente para me distrair e em poucos minutos eu caí no sono.

Me vi então num cubículo ladrilhado completamente branco, com nada além de uma porta frontal e uma cadeira de madeira no centro, no qual eu estava sentado e de braços atados a ela pelos apoios laterias por cordas bem grossas. O lugar estava completamente iluminado e limpo, mas do lado de fora podiam-se ouvir muitos gritos de dor, como se pessoas estivessem sendo mutiladas.

De repente a porta de madeira se abriu bruscamente, entrando na sala um sujeito de jaqueta de couro preta aberta e uma camiseta branca por baixo, com o número "298" pintado a mão de preto e uma bandana de tecido preto opaco, assim como uma máscara, cobrindo da boca para baixo, até o final do rosto. A calça jeans escura e o tênis estavam muito marcados por sangue e em sua cintura havia um suporte com um revólver do lado direito e uma faca do lado esquerdo.

Ele andou até mim e puxou a faca, cortando em seguida as cordas que atavam meus braços à cadeira.

— A sua sorte é que eu sempre vou estar aqui pra te salvar. — Disse o sujeito com a voz abafada pelo tecido que cobria sua boca, mas cuja voz me parecia muito familiar.

Ele estendeu então a faca para mim segurando pela lâmina, como se estivesse me oferecendo;

— Tem certeza que quer sair daqui? — Ele perguntou. — Acho que nunca mais vai poder voltar. Mesmo que tente, essa porta vai deixar de existir.

Olhando para o rosto do sujeito eu tinha a certeza de que ele era alguém que eu conhecia, mas quando tentava ver os detalhes eu simplesmente perdia todo o foco, como se algo me impedisse de saber quem ele era.

Por algum motivo eu peguei a faca de sua mão, analisando por um tempo seu cabo e seus detalhes, como se ela fosse um objeto perfeito que eu estaria procurando durante muito tempo. A lâmina era praticamente branca e seu brilho chegava a ser ofuscante, tendo gravada próximas ao cabo as palavras "Recon Scout VG-1 San Mai".

Quando voltei minha atenção para o rapaz ele simplesmente havia desaparecido, mas ainda podia sentir sua presença no ambiente, de forma bem fraca.

Levantei-me e fui em direção a porta, abrindo-a lentamente em seguida. Ela dava para um corredor muito extenso, longo a ponto de não ser possível de se ver com clareza o que havia ao final dele. As paredes eram extremamente pretas, como se fossem barreiras de pura escuridão e vácuo. O chão era de carpete com uma cor de brasas, que de certa forma chegava até mesmo a exalar calor, dando a impressão as vezes de que algumas palavras estavam escritas sobre ele.

Fui caminhando ao longo do corredor, ouvindo sussurros de vozes conhecidas que iam aumentando e logo já era possível até mesmo distinguir quem e o que estavam dizendo. Acredite, as vozes diziam coisas que me deixavam incrivelmente triste e angustiado, coisas que não teria nem mesmo coragem de querer lembrar. Os diálogos ficavam cada vez mais altos, me fazendo andar cada vez mais rápido até que então já estava correndo.

Enquanto corria, senti algo como uma mão segurar bruscamente a minha perna, me fazendo cair com um impacto muito grande; O desespero me fazia continuar seguindo em frente me rastejando, mas logo outras mãos surgiam e me seguravam, me puxando e me arranhando com muita força, como se quisessem arrancar meus membros.

Os arranhões era cada vez mais forte e eu já podia sentir eles rasgando a minha pele, causando uma dor alucinante. Os gritos de dor e o choro que eu ouvia ficavam cada vez mais alto, fazendo eu ter a sensação de que alguma veia da minha cabeça iria se romper a qualquer momento.

Acordei então do meu terrível pesadelo, completamente assustado e ofegante ao som do meu celular tocando e com a luz do sol penetrando as brechas das janelas e chegando ao meu rosto. Ninguém havia aparentemente acordado ainda e o ambiente estava calmo e vazio, me deixando um pouco mais tranquilo sobre a primeira noite. Rapidamente o puxei do bolso, tendo então a surpresa mais aliviadora da minha vida ao ver quem estaria ligando; Caio Corajo.

Atendi então a ligação, nas expectativa de que tudo estivesse bem ou fosse realmente ele me ligando.

— Alô?! Caio?!!

— Jhon?! — Ele me respondeu entusiasmado, deixando-se perceber o alívio em sua voz.

— Puta merda cara, sabia que você estaria vivo! Você está bem cara? Estão todos bem?

— Sim, sim, eu estou bem, consegui chegar em segurança no Walmart e acampei aqui essa noite no ultimo andar mas... — Sua voz falhou por um momento, fez uma curta pausa, suspirando. — Minha vó, minha mãe o os outros não tiveram tanta sorte no caminho...

— Cara... — Esperei por um momento, tentando pensar no que dizer para não piorar a situação. — Sei que é difícil pensar em qualquer coisa numa situação assim mas tem que focar em se manter vivo agora. Eu estou num lugar seguro, dividindo casa com mais oito pessoas, tenho certeza que tem lugar pra você aqui... Como está a situação aí fora?

— Não sei se dá pra sair sozinho daqui... pelo barulho deve ter muitos deles nos dois andares abaixo e pela janela dá pra ver uns 20 lá fora...

— Não se preocupa cara, estou indo te buscar, se acontecer qualquer coisa me manda uma mensagem ou sei lá... Prometo chegar logo.

— Ok cara... até... não demore cara, não sei quanto tempo vou ficar seguro.. — Disse ele em tom baixo, encerrando a ligação.

Mesmo que estivesse bem ainda me sentia muito preocupado em relação a ele. Estava preso em um Walmart, completamente cercado, contando comigo para que eu chegasse a tempo e tirá-lo de lá e se não conseguisse ele iria simplesmente morrer. "Tudo bem, você tem um carro" eu pensei inicialmente mas depois me perguntei; "Será que um simples Gol aguentaria atropelar tantos zumbis?". Essa era a questão.

O que eu precisava era pensar em uma boa estratégia. Fui para o lado de fora dos muros da casa e observei os veículos que estavam parados ao longo das ruas, quando avistei algo que me deu uma das ideias mais brilhantes que eu já tive; Uma ambulância, a cerca de 100 metros à direita, com alguns poucos zumbis à caminho.

Voltei então para dentro e entrei silenciosamente em um dos quartos, procurando no guarda-roupa algo que me servisse e encontrando apenas uma camiseta completamente branca. Peguei a barra de metal que havia deixado encostada ao sofá e saí novamente, indo agora em direção da ambulância.

Eu tinha que calcular cada movimento a partir daquele momento. Eu não sabia quanto tempo teria. Não sabia se meu plano daria certo. Só sabia de uma coisa; Eu tinha que salvá-lo.


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