Nos sentamos na cama, com Agatha entre nós. Izzy passou o braço em suas costas e a abraçou.

–Calma. Esta tudo bem. Quer contar o que aconteceu?

–Não, não, não! - Agatha gritava. O que diabos estava acontecendo com ela?

–Agatha, olha para mim! Vai ficar tudo bem, ok? - digo, puxando-a contra meu peito.

Depois de uns 10 minutos ela finalmente se acalmou. Pedi à Izzy que desse banho nela e depois descesse para tomar o café da manhã. Afinal, ainda eram 9:30.

Eu já estava sentado na mesa da cozinha quando ouvi o som dos passos na escada. Agatha estava ainda com o rosto vermelho, no colo de Izzy, com a cabeça apoiada em seu ombro. Ela a pôs sentada na cadeira e se sentou em seguida.

Não falamos muito durante o café da manhã, mas pude ver que Agatha estava pensativa e concentrada, até demais, no cereal à sua frente. Lancei um olhar para Izzy e em seguida para o outro lado da cozinha. Nós nos levantamos e deixamos Agatha sozinha por um instante.

–E aí? Ela falou alguma coisa para você? - falei com um tom de esperança na voz. As meninas sempre conversavam, trocavam segredos e fofocavam, certo? Por que seria diferente nesse caso?

–Nada... Tentei de tudo mas só o que ela diz é que quer os pais logo. Ela é esperta demais Matt. Não acho que ela vá acreditar realmente que os pais estão viajando, ainda mais depois do que aconteceu na casa dela.

–Ta, mas o que a gente vai falar para ela? Contar toda a verdade? E se ela sair do contr...

Não terminei de falar a frase quando todos os armários e gavetas que tinham na cozinha se abriram de uma vez e tudo o que estava dentro delas simplesmente voou pela cozinha. Tudo caiu no chão.

Corri para onde Agatha estava e no lugar daquela menina agitada e sapeca de sempre, encontrei uma menininha sem vida, desmaiada no chão na minha cozinha. A peguei no colo e subi as escadas correndo. Como eu fui deixar isso acontecer?

–Izzy! Por favor, me ajuda! - eu estava berrando de desespero. Sempre quando eu perdia o controle eu também desmaiava, mas eu sabia o que tinha que fazer para voltar. A Agatha, pequena do jeito que ela é, não sabia se ia ter tanta sorte.

–Calma! Já estou indo! - ela entrou no quarto com um comprimido e um copo com água. Sentei Agatha em meu colo e observei cada movimento que Izzy fazia. Desde colocar o comprimido na boca da pequena até fazê-la engolir com a água.

–Espera, o que é isso? - perguntei confuso.

–Depois te explico! Agora deita ela na cama e espera!

Fiz o que ela mandou e me levantei, ficando em pé ao seu lado. Cinco longos minutos de espera e ela finalmente acordou, tossindo muito. Izzy tomou a frente e se sentou ao seu lado, a ajudando a achar uma posição confortável para respirar. Ela falou alguma coisa para Agatha, mas foi inaudível para mim.

–Agatha, descansa um pouco. Daqui a pouco eu e o Matt queremos conversar com você. Izzy saiu me puxando pelo quarto e fechando a porta ao sair. Me arrastou pelo corredor e sentamos no sofá da sala de televisão.

–Aquilo é o que te faz acordar depois perder o controle.

–O que? Mas eu achava que... Eu achava....

–Sim, você achava que o seu sentimento por uma pessoa era o que te fazia voltar. E não está errado. São vários fatores que te trazem de volta, inclusive aquele comprimido que dei para Agatha e que te dou toda vez que você perde o controle.

–Por que você nunca me contou isso? E como você sabe disso?- eu pensava, todo esse tempo, que eram meus sentimentos por Izzy que me faziam acordar. Só isso já bastava para eu mesmo querer acordar.

–Tem muita coisa que você não sabe...

~*~

Alguns meses atrás

P.O.V Ester

–Izzy, preciso falar com você! Urgente!

–Claro, Ester. O que foi?

Era agora. Eu precisava falar. Isso estava me incomodando há muito tempo. O fato de Agatha ser igual ao Matt tinha uma explicação e Nathan não iria gostar nada disso se ficasse sabendo.

–Bem, o que eu quero te dizer é muito importante. Preciso que tenha consciência das escolhas que eu possa ter no futuro, mas também quero que entenda as que eu tive no passado...

Contei toda a história sobre as pessoas iguais ao Matt e lhe dei três caixas com comprimidos. Expliquei à ela o motivo e para que serviam. Depois contei como eu tinha conhecido Matt antes de qualquer outra pessoa, de como nos amamos e que, depois de tudo o que passamos, eu tive que me certificar que ele tinha esquecido tudo. Simplesmente tirei qualquer resquício de lembrança que ele tinha de mim.

–E era tarde demais. Quando descobri estar grávida da Agatha eu já estava com o Nathan, mas...- Izzy me interrompeu.

–Mas ele não era o pai. Matt é o verdadeiro pai de Agatha, por isso ela herdou suas habilidades.

Tive que fazê-la prometer que cuidaria de Agatha quando eu a deixasse. Eu não podia criar essa menina. Ela tinha que ficar com o Matt. Ela precisava de alguém igual a ela para compreendê-la e ajudá-la, coisa que eu não podia fazer.

–Quero que você e Matt tomem conta dela. Por mim.

~*~

Dias atuais

P.O.V Izzy

Bem ali, sentados no sofá da sala de televisão do Matt, eu explicava cada detalhe da história, omitindo o fato de ele ser pai biológico de Agatha.

–Então é isso... Ela já tinha armado o plano de deixar a Agatha? - ele falou incrédulo.

–Sim, mas eu tive que prometer. Eu entendi as escolhas e razões dela para fazer isso. Matt, a Agatha é igual a você! Não sabemos como, - menti - mas ela é! E o que podemos fazer? Nesse momento, só podemos esperar e cuidar da Agatha. Ajudá-la a controlar e a superar isso.

–Mas antes... Quero fazer uma coisa que eu já deveria ter feito há muito tempo.