Elder Tale – Bandeirantes do Ipiranga escrita por Daihyou


Capítulo 13
Capítulo 12 - Fagulha




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Mal me lembro de como eu cheguei a cabana. Sei que, diferente da vez em que eu desmaiei na porta, ninguém se pôs a me levar. Lan consolava Catherine, enquanto me mantinha longe dela. Parece que Fan Chau Lan sentiu algo sombrio vindo de mim no momento em que eu saí antes. Já era a terceira na minha conta.

Me levantei com uma dor generosa no corpo, mas não me queixei. Sabia que tinha extrapolado quase todos os meus limites humanamente possíveis.

Espera... Humanamente possível? Bah, piada de mau gosto. Estou preso em um jogo. Algo humanamente possível já se foi no momento em que pisei neste lugar

De qualquer modo, estava com dor demais e sem paciência para ligar para a reação de todos, então desci sem camiseta até a cozinha, me servindo com o que tinha lá. Foi quanto eu ouvi um grito agudo.

–AHHHHH!! – Pela curta fração de segundo em que derrubei meu café da manhã, o grito era da Lan

–Ei, menos. Mal abri o olho, sabia? – Comentei secamente.

–S-senhor. – Gaguejou. – S-sua... sua p-pele...

Daí foi que eu me dei conta. Putz, de todas as mancadas, tirando ontem, essa foi a pior. Cocei a cabeça olhando para Lan sem jeito.

–Vamos fazer disso um segredo entre nós três ok? Não quero que ninguém, especialmente Catherine, fique sabendo do que tenho.

Lan, mesmo ouvindo minha explicação, ainda parecia incrédula sobre o que via

–Mas isso e uma doença?

–Na verdade é um item. Eu tenho que usá-lo toda hora. Infelizmente, o constante uso me altera visualmente.

–Mas que diabo de item é esse?

–Nas antigas versões de Elder Tales, bem lá no beta brasileiro, eu achei esse item depois de uma raid entre os maiores níveis. Na verdade eu dei uma de lixeiro, por assim dizer. Enquanto eles celebravam entre eles, fucei os corpos dos monstros enquanto eu tinha o nível 70 e peguei este item.

A mesma se aproxima, tocando um dos pontos onde já não parecia “normal”.

–Sabe – Comentei. – Ainda que não pareça, ainda é a mesma sensação de você me cutucar com o peito nu sabia?

A mesma fica corada e sai correndo de lá logo depois que eu disse aquilo.

Mulheres... Mesmo em jogos, continuam com velhas manias. Me virei e retomei meu café da manhã. Para evitar futuros incidentes, busquei no meu inventário e logo vesti um . Ao menos, além da proteção simbólica, eu podia me mover livremente na casa sem ser surpreendido por outra reação adversa. Azure apareceu logo depois, com extremo mau humor.

–Café....café...

Apontei a mesa da cozinha, onde ele rapidamente se serviu do café, como um vampiro sorvia sangue.

–Dia Azure. – Agora sim ele estava “conversável”

–Ah... Dia Padre. – Respondeu. – Ouvi a Lan gritando

–Ela me viu sem camiseta.

Azure na hora começou a rir.

–Ah meu... Como que você foi dar um mole desse?

–Sei lá – Indaguei. – Depois de ter apagado ontem, não tava ligando muito antes.

Azure se ajustou na cadeira. Foi naquele momento que eu percebi.

Fazia quase duas semanas que eu entrei neste jogo, e eu nunca falei deste modo tão despreocupado ou informal. Eu sempre tentava manter o controle sobre tudo que acontecia ao meu redor, como se estivesse gerindo o próprio jogo. Mas depois que perdi o controle ao resgatar Catherine, comecei a ligar menos e menos para as formalidades.

Acho que finalmente comecei a voltar a minha “humanidade”.

–Tá viajando novamente Padre? Foi falar com Deus?

Maldito Azure!

–Vá com Deus, a paz e o livramento, praga. Se achar um buraco, cai dentro e não volte!

Rapidamente me vesti e fiquei me indagando sobre o que eu esqueci. Por um momento em que eu estava com a cabeça mergulhada em pensamentos enquanto colocava uma vestimenta mais leve, com armaduras idem, ouvia uma voz estranha na porta do meu quarto.

–S-senhor.

Era Lan, que parecia tomar cuidado com cada passo que tomava. Francamente, essa menina...

–Sabe que não mordo ne? – Comentou mais descontraído.

Fan Chau Lan sabia que eu era tudo, menos descontraído. Mas como os últimos dias não foram normais, ela tinha ciência que eu podia me dar ao luxo, e logo se aproximou.

–E-eu... eu queria... pedir descu- Não aguentei e já silenciei ela no indicador.

–Se você pretende se desculpar, esqueça. Estou ciente que você deu o sangue, literalmente, pra segurá-los. E eu jamais teria conseguido rastreá-los se você não tivesse segurado o tempo que segurou.

A mesma tentou suprimir uma lágrima que teimou em verter do rosto dela. Baguncei os cabelos dela.

–Bah! Odeio ver uma mulher chorar por minha causa. Corta essa! – Comentei já me virando de costas e voltando ao meu quarto.

Não vi a reação dela, mas por ter vivido em bairro militar eu conheço o barulho de alguém fazer posição de “sentido”. Francamente...

Logo depois de me vestir com meu equipamento padrão, como guerreiro-fantasma, eu retomei minha posição na sala de estar, com o mapa da cidade no meio da mesa. Tomei uma caneca cheia de café e logo depois recebi uma Ligação.

[Padre!] – Era o Azure. – [Padre, deu ruim aqui!]

Respirei fundo. Lá vinha mais uma

[O que foi? Tô aqui esperando o Raika chegar pra eu zarpar pra resolver a quest.]

[Esse que é o problema. Eu já achei o Raika, e to preso com ele em uma Dungeon.]

“Acho que vou precisar de mais café”

[E por que entrou em uma Dungeon?]

Ouvi Azure murmurar algo baixo antes de responder.

[Sabe o que é, é que eu tava vendo na lista, que posso fazer uma poção com a fada]

Reviro os olhos naquele instante.

[Vou lembrar de não ingerir nada verde esse mês. Bom, se o Raika está contigo, eu vou pra cidade. Tenho que terminar a quest e caçar alguém.]

[Denovo? Deixou alguém vivo lá ontem?]

[Na verdade...] – Comecei respirando fundo. – [Acredito que eu fui seguido e essa pessoa me viu no meio da luta. Quando reparei, sumiu como um relâmpago.]

[Parece difícil.] – Comentou Azure. – [Antes você resolver do que eu. Boa sorte!]

Desliguei no ato. Maldito Azure...

Depois de rever a quantidade de poções, eu me retirei do local. Sabia que se houvesse problemas, seriam menores a ponto de Fan Chau Lan conseguir se defender sozinha. Depois do incidente, tinha notado que a mesma ficou com certa resistência, como se a experiência da derrota tivesse trazido ela a nossa realidade “cruel” em jogos online. Como eu e Azure somos calejados em falhas de comportamento humano, em jogos online, não sofremos muito. Ao menos Lan conseguiria ser mais impiedosa com quem invadisse a casa ou tentasse levar Catherine novamente. Depois de ponderar isso, começava a chegar devolta ao centro da cidade.

La dentro, percebi os olhares frios que a maioria do povo-da-terra mandavam ao me ver, apenas retomando seus afazeres logo depois ou saindo de perto, como se eu fosse um leproso. Apenas abafei um riso. Parece que não será apenas no mundo real que eu irei experimentar tal sensação.

A medida que continuava caminhando, percebi novamente que eu estava sendo seguido. Estranhei um momento, pois não tinha subclasse para poder detectar desse jeito, logo deduzi que meu instinto ainda funciona, mesmo nesse mundo. Sorte minha. Prossegui com a minha averiguação na cidade, enquanto via algumas figuras conhecidas, alguns aventureiros que já tinha visto no parque da cidade. E mesmo por eles, quase todos, fui recebi com frieza, assim como foi com o povo-da-terra. Parece que serei o “nobre” mais odiado da cidade, uma vez que mais da metade do comercio da cidade está em minhas mãos. E não pretendo ceder sem um preço alto.

E novamente, senti uma fagulha passar pelo meu corpo, e me fez ficar alerta, embora só tenha ficado parado.

“Aqui? No meio da cidade?”

Foi então que percebi que era apenas um aviso. Logo depois que eu vi, o ar em meus pulmões começou a faltar, e rapidamente fui até a praça central, me sentar. Já tinha perdido a conta do quanto andei. E de lá mesmo, na minha falta de ar, um estranho perfume de flores passou perto, e eis que eu ouvi uma voz, ecoando.

–Huhu... Vejo que estão com minha pequena...

Eu gelei. Dentre todas as possibilidades, justamente aquela que eu salvei ao invés de jogá-la ao fogo junto com os aldeões...

“Mas como? Eu só lembro das linhas de texto. Como aquela descrição está tão vívida em minha mente?”

–Ora... Sabe o que dizem. – Respondeu a voz. – Pode-se sentir o que vem do coração, mesmo que sejam palavras ao vento.

“Ferrou...” – Ela lia meus pensamentos.

Naquele instante eu percebi, todos os olhares incertos de quase todos da cidade, o porque que fui atacado e também porque minha paranoia está tão justificada.

Já começou a próxima etapa da missão. A antiga vai revelar-se e tentar levar a jovem para tomar seu lugar. Da ultima vez, sem querer, acabei contribuindo pra isso, mesmo que eu quisesse salvar a moça ao invés de jogá-la ao fogo, como tentaram antes, tentei salvá-la.

–Parece que todas as mulheres que tenta salvar... Acabam mortas... Querido.

Cerrei os punhos e comecei a suar frio. Aquele antigo ego, o ego furioso que surgiu e eu apaguei quando ele apareceu teimou em surgir. Juntei as mãos em símbolo de meditação e o empurrei devolta as trevas de minha mente com todas as forças.

–Ora querido. Parece que não sou o único monstro que deve se preocupar.

Naquele instante, que percebi alguém “invisível”. Eu lembro desse tipo de pessoa, pois já fui igual. Mesmo com aparência diferenciada, a pessoa já tem tanto rancor das massas publicas com tanta ênfase e por tanto tempo, que criou uma “barreira”, não querendo criar vínculo, logo sendo invisível para os alienados. Levantei o rosto, olhando a pessoa.

Percebi quase depois de olhar cima-baixo que era mulher, trajava uma manta cor de sujeira, cabelo espetado de mechas longas de cor branca com leves tons amarelados como se tivesse tons de trovão, olhos cor de topázio, embora eu só conseguisse ver apenas um olho. Uma armadura leve, escura com detalhes esverdeados era o que se enxergava por baixo da manta. E logo depois eu vi uma espada descomunal nas costas dela. E também vi que ela não veio apenas para dar um oi.

–Caçador de pessoas... – Murmurou a mesma. – Muito lento...

O punho cerrado estava pronto, só tinha uma chance. Ameacei sacar a espada, mas o saque dela foi muito rápido, como eu temia.

“Maldita assassina”

Foi então que concretizei meu plano, com a mão elevada, não poderia dar um soco, mas um golpe com o cotovelo é outra história. A cara dela nem teve tempo de processar o acerto, que a vez pular pra trás, já empunhando a espada.

–Você dizia? – Comentei secamente, com “aquilo” gritando pra pular e finalizar isso.

Porém tinha ciência que uma fera não liquidaria essa espadachim. Percebi que ela também carregava um monstro dentro de si, e que estava mais acostumada que eu a usá-lo, o que me faria ficar em desvantagem.

Não. Teria que enfrenta-la como um homem. Apenas me ajustei enquanto saquei minha espada. Percebi que éramos opostos, uma vez que a espada dela tinha atributos de força e pouca durabilidade, e a minha espada concedia vitalidade e tinha alta durabilidade. Porém apenas me defender não vai me conceder a vitória.

–Hn. Quebrarei em dois golpes... – Respondeu baixo a mesma.

“Ora” pensei “É dia de ler a minha mente agora?”

Apenas me preparei com tudo o que podia, embora ainda não tinha passado a sensação de que estava sendo seguido, quando avistei uma sombra enorme, como uma besta, carregando um machado, e logo depois sumiu, quando a assassina veio a meu encontro. Vejo que hoje não será um dia de trivialidades, mas sim de grandes jogos.


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Notas finais do capítulo

Aew, mal começa o mês e consigo postar o capítulo. Vejamos, tenho agora que me preocupar com um planeswalker verde e um fantasma de uma glória que já será expurgada. E que seus votos de longa vida não se percam ao vento.



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