Utopia escrita por Renata Salles


Capítulo 5
Achado


Notas iniciais do capítulo

"Talvez eu sempre tenha me sentido mais confortável no caos."



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Alice e Rosalie cantarolaram o caminho inteiro que finalmente poderiam me mostrar seu presente. E que eu amaria. E que era o melhor presente de todos. E que ficou perfeito…

Eu já estava tropeçando de sono quando avistei as formas gentis da Choupana, e fiquei instantaneamente desperta e animada novamente, radiante. Não conseguia acreditar que após três longas semanas eu finalmente estava em casa. Em casa!

Meus pais se abraçaram com tanto amor que não pude evitar sorrir.

Para mim este Chalé é mais que uma humilde residência perfeitamente isolada pela floresta, mas a representação de todo o amor incondicional dos meus pais um pelo outro, a vida pós-morte de minha mãe, o ápice do romance nada natural entre uma humana e um vampiro, e nosso pequeno adendo de três em uma família de nove, que apesar de não ser exatamente perfeita, é muito feliz e se ama muito. Eu os amo muito.

Aparentemente, no que dizia respeito as áreas comuns, a reforma havia sido superficial, restringindo-se a mudanças na decoração, e a parede entre a sala e a pequena cozinha, que continha armários e eletrodomésticos novos, desapareceu, abrindo o ambiente.

Por sinal, um desavisado pensaria que não havia cozinha na casa, uma vez que geladeira era revestida da mesma madeira escura dos armários; o que a denunciava era a pia discreta no balcão e o fogão anexado à ilha que também era minha mesa de refeições.

Encarei meu pai com os olhos arregalados ao perceber que não havia mais um banheiro no corredor, e temi que tivessem me expulsado de casa, uma vez que ele existia apenas para o meu uso, mas Edward riu balançando a cabeça e me envolvendo em um abraço.

— Você precisa ver seu quarto! — Rosalie cantarolou saltitante.

Segui-a.

Rosalie e Alice entraram na frente, falando sem parar sobre suas referências e os detalhes da decoração, mas eu não estava prestando atenção. Estava sem palavras e emocionada por estar novamente em meu quarto, aquele que era realmente meu, feito para mim, e que continha as minhas coisas.

Nunca me considerei uma pessoa apegada, egoísta ou materialista, e acredito que ninguém me contaria se eu fosse. Não me orgulhava de minha grosseria nas últimas semanas, odiava ser uma garotinha mimada; apenas descobri que ter o meu espaço é algo fundamental para mim, sem isso me perco completamente.

E meu espaço foi revigorado.

Os móveis, antes infantis, embora discretos, foram substituídos em uma decoração jovem, as paredes brancas agora tinham um tom muito discreto de azul, meio cinza até — era como a poeira do universo resumida de forma gentil em tinta. Até mesmo o piso de tábua corrida fora substituído por uma cor mais sóbria e adulta. Me joguei sobre a cama de casal.

— Venha ver seu guarda-roupa! — suplicou Alice com tom vibrante.

Ela abriu o espelho do outro lado do quarto e entrou. Segui-a incrédula.

Mais que uma porta, o espelho levava a um closet generoso. Analisei-o. Havia outro espelho na extremidade, e uma porta perto da entrada: um banheiro com direito a banheira e tudo mais… Era lindo.

Agradeci envolvendo-as em um abraço. Alice falava sem parar sobre roupas enquanto eu encarava minha madrinha com um sorriso.

Rose estava certa, o seu era o melhor presente.

Quando minhas tias partiram e meus pais me deixaram a sós, comecei a abrir e guardar os presentes dos amigos que compareceram à festa. Entre eles havia caixa de madeira com desenhos entalhados, com cartão preso a fita que a envolvia:

Querida Renesmee,

Uma garotinha muito esperta uma vez me disse que em um mundo de sonhos a verdade se esconde, e que é capaz de encontrá-la somente aquele que olha para dentro e se encara.

Você não é mais aquela criança, então receba este presente para lembrar-se dela. Jamais esqueça de si mesma.

Te amamos amiga!

Sophia e Seth

A caixa na verdade era um porta-joias, e continha uma boneca de porcelana com cabelos cor bronze e olhos castanhos como os meus.

Sorri agradecida e posicionei a caixa na estante, guardando as joias que usara durante minha estadia na casa dos meus avós.

— Onde colocarei você? — murmurei para a boneca.

Encarei-a e minha mente vacilou.

Somente naquele momento me dei conta do que havia feito: eu estava noiva. Noiva!

Uma série de inseguranças surgiram e meus joelhos vacilaram.

O que eu diria a minha família? Qual seria a reação dos meus pais? Eu os deixaria partir para outro país sem mim? Eles me deixariam ficar? Eu teria coragem de abandoná-los por Jacob? Eu queria mesmo isso?

Aqui e agora, forcei minha mente a focar.

Levantei com certa dificuldade: eu tremia de ansiedade, mas precisava me mover; não queria que meu pai descobrisse antes que eu contasse. Mas eu queria contar?

Me lembrei de um colar que minha mãe havia sido presenteada pelos Volturi em seu casamento: ouro trançado em uma corrente grossa, quase em escamas, que eu quebrei o fecho há alguns anos. Na verdade pode-se dizer que estava mais para um empréstimo, uma vez que o interesseiro líder do clã esperava vê-la usando a joia ostentosa em sua guarda, mas servir não faz muito o tipo Bella, que acabou deixando o colar em minha posse, e depois de usá-lo como brinquedo por um tempo, era hora de transformá-lo em decoração, afinal, pode ter sido um presente indesejado, mas era realmente lindo.

Procurei-o pelo quarto.

— Mãe? — chamei, indo para a sala.

Respirei profundamente. Meus pais estavam trancados em seu quarto. Suspirei.

Fui em direção à porta do outro lado da sala e entrei no pequeno escritório que chamo carinhosamente de quarto da bagunça, embora ele não seja de fato bagunçado. Sentei na velha cadeira de balanço da minha mãe, que pertenceu a minha avó, Renée, e que Bella trouxe para cá quando meu avô se casou com Sue. Olhei ao redor. Se eu fosse minhas tias, onde o guardaria?

Havia uma caixa de madeira toda entalhada debaixo da escrivaninha que me chamou a atenção por A) não estar posicionada como se fizesse parte da decoração e B) por estar trancada com um cadeado.

Abri a gaveta da escrivaninha encontrando o diamante perdido. Caminhei até a porta, mas hesitei.

Nada nunca é trancado.

Olhei o corredor. Quando minha mãe quer a atenção do papai só para ela, Bella costuma estender seu poder para isolá-lo, de modo que Edward parava de escutar pensamentos alheios… Quando eu teria uma oportunidade como essa novamente?

Eu conhecia os entalhes.

Peguei a caixa e corri para o meu quarto, colocando-a escondida em meio as roupas do closet, encostando-me na estante a frente.

Era muito errado sequer pensar abri-la, e, no entanto, a curiosidade fazia meu estômago doer. Somente Jacob fazia aqueles padrões.

Examinei a fechadura, devia ser uma chave pequena… Peguei um abridor de cartas. Não poderia ser tão difícil.

Mas era.

Após dois minutos arranquei o cadeado com um tranco e sorri vitoriosa.

Passei as pontas dos dedos pelos entalhes no interior da tampa:

Até seu coração parar de bater

Havia vários papéis e cartas dobradas, riscadas, amassadas e manchadas; entradas de cinema, notas de compra de peças de moto, um álbum de fotos, uma pulseira com um lobo de madeira, entre outras coisas. No fundo havia um caderno, com o nome de minha mãe escrito com sua letra na primeira página.

Voltei para o quarto e me escondi debaixo das cobertas. Não podia acreditar que minha mãe tinha um diário.

Encarei a porta fechada. Por fim abri-o na primeira data.

Minha mãe narrava em detalhes sua chegada a Forks, como conheceu os Cullen e como ela e meu pai começaram sua relação; as dificuldades com alguns nômades e sua experiência quando meu pai a deixou.

Sabendo o que sei, entendia meu pai, apesar de não achar que ele estava certo em abandoná-la. O medo dele causou muita dor a ela.

Me perturbava saber que eu poderia fazer algo do tipo a Jacob.

Prossegui com a leitura, embora o relógio da mesa de cabeceira indicasse quatro e meia da manhã.

Jacob era apenas uma pessoa eternamente feliz, e carregava essa felicidade como uma aura, dividindo-a com quem quer que estivesse por perto. Como um sol na terra, Jacob sempre aquecia quem estava em seu campo gravitacional. Era natural, fazia parte de sua personalidade. Não surpreendia que eu ficasse tão ansiosa para vê–lo.1

Sorri, era mesmo “mau de Jacob”. Eu me sentia da mesma forma.

Estava lutando para manter minhas pálpebras abertas, o sono travava uma luta desleal contra a curiosidade. Sol na terra… Bocejei. Talvez outro dia.

Fechei o diário e guardei-o embaixo do colchão. Apaguei as luzes e entreguei-me ao bom e velho mundo dos sonhos.

Acordei por volta das onze e me vi sozinha. Minha mãe explicava em um bilhete que a família ia para o Alasca decorar a casa nova e que voltariam no final na tarde.

Respirei profundamente. Eu estava encrencada, muito encrencada.

Liguei para Jacob na esperança de que ele se juntasse a mim, mas ele disse apenas que tentaria vir me ver no almoço, o que era o mesmo que dizer que não havia possibilidade de ele aparecer.

Há três anos Jacob e Seth se tornaram sócios de uma oficina mecânica na estrada principal que leva a La Push, que teve sucesso absoluto, é claro. Então abriam mais duas oficinas da Companhia Grande Lobo, uma em Forks, e outra em Portland, cada uma levando como título o sobrenome de um dos sócios, sendo a primeira a Black’s Grande lobo. Atualmente estão construindo uma grande oficina em Seattle.

Com a vida de empresário/mecânico e com as rondas da matilha, ficava cada vez mais complicado vê-lo, apesar de ele se esforçar muito para dar conta de tudo.

Fui ao meu quarto com uma xícara de chá, não faria mau algum ler mais um pouquinho… Liguei o som com uma lista de reprodução enorme, peguei o diário e me sentei no peitoril da janela.

Do ponto onde parei na noite anterior em diante, a relação entre minha mãe e Jacob ficava confusa, e era cada vez mais difícil de acreditar que o interesse que ele demostrava por ela e o fato de que ela nunca o recusou, e até apoiava suas investidas, eram coisas da minha cabeça perturbada e ciumenta.

Li mais algumas páginas e o ar parecia não querer chagar a meus pulmões. Eu fitava o diário tentando entender, eu precisava entender do que ela estava falando, pois algo estava muito errado. Eu estava entendendo tudo errado.

Respirei profundamente e voltei-me ao diário, mas a cada página, a cada frase, eu não sabia se ficava com raiva ou decepcionada.

Eu o fitava. Ele não era o meu Jacob, mas podia ser.(...) De muitas maneiras verdadeiras, eu o amava. Ele era meu conforto, meu porto seguro. Naquele exato momento eu preferia que ele me pertencesse.2

Larguei o diário e fui buscar um copo d’água, precisava respirar.

Não podia ser verdade. Aquilo não deveria ter acontecido.

Aquele livro de lembranças cheirava podre, algo que não era exatamente cheiro, mas me causava náuseas. Voltei convicta a desvendar os mistérios dos que me cercam, e absorver as verdades que eles se recusam a contar.

Era tarde demais para me preocupar com as coisas que eu não deveria saber. Eles deveriam ter se importado com consequências.

Zanguei-me com Bella por ter usado Jacob enquanto Edward não estava por perto, e por tê-lo abandonado quando o outro ressurgiu. Ela amava meu pai, tudo bem, ele estava em apuros e a descrição do resgate foi realmente desesperadora e heroica, mas nada justifica sua atitude quando eles retornaram de Volterra. O que ela esperava? Queria ter os dois sem que alguém fosse sacrificado?

Então as coisas foram ficando cada vez piores.

Minha mãe estava realmente em perigo com vampiros sendo criados apenas como distração, em um jogo de gato e rato onde ela era a presa indefesa, o que a fazia passar cada vez mais tempo com Jacob, e seus flertes ficavam cada vez menos discretos enquanto ela era puxada de um lado a outro pelo lobo e pelo vampiro, como em um cabo de guerra. E todos os sentimentos ruins que eu tinha pelo imprinting amplificaram em um milhão de vezes, pois eu não precisava daquilo, eu deveria ter uma escolha.

E pela primeira vez, Jacob me causava repulsa.

Eles se amavam, esse era o segredo. Minha mãe e meu noivo se amavam.

Mas pode-se realmente amar duas pessoas ao mesmo tempo? Que tipo de amor traidor é esse?

De qualquer forma Bella pode ter demorado muito para admitir que se sentia atraída por Jacob, mas eu não precisava de tanto. Era obvio, e ainda assim ela aceitou se casar com meu pai, para então beijar Jacob. E Edward estava tão cego de amor que aceitou um descarado “eu amo mais você”. Era inacreditável! E embora soubesse que minha raiva estava me fazendo ser dura demais, eu não conseguia me sentir mal por isso.

Se o mundo fosse o lugar sadio que deveria ser, Jacob e eu ficaríamos juntos. E teríamos sido felizes. Ele era minha alma gêmea nesse mundo.3

Tapei a boca. Meus olhos embaçaram-se com lágrimas, meu coração retraía-se e meu estômago revirava.

— Não! — ofeguei em meio ao choro descontrolado.

Ofegante e trêmula, tentei obrigar o ar a chegar a meus pulmões, mas ele parecia ser lâminas que me dilaceravam de dentro para fora. Como pude ser tão cega?

Havia uma Polaroid da festa de ontem em um porta-retratos ao lado da minha cama. Na fotografia, eu estava sentada no colo de Jacob, enquanto minha mãe, de pé atrás da cadeira, repousava a mão em seu peito, e Edward, ao seu lado, abraçava a esposa e tocava meu ombro. Todos estavam felizes, sorridentes.

Por que Jacob mentiu para mim durante todos esses anos? Por que disse que eu era a única?

Abracei o quadro.

Eu não conseguia parar de pensar em como seguiria me enganando e sendo enganada; aqueles eram o homem que dizia ser meu por toda a eternidade e a minha mãe.

Voltei ao diário.

A narração de Bella sobre seu casamento de fato correspondia ao álbum de fotos, que não continha a visita inesperada de um Jacob altamente temperamental.

Então houve um salto de datas, e de “indo para a lua de mel” ela narrava uma gestação terrível, falando sobre o quanto ela queria aquele bebê indesejado que todos chamavam de coisa, de como ninguém além de Rosalie conseguia entender sua vontade de ter aquele filho que os demais apenas queriam que ela abortasse. E por fim, nas últimas páginas, ela dizia como Edward estava desesperado para salvá-la ao ponto de convencer Jacob a oferecer um jeito menos “insano” de ter um filho.

Mesmo que esse filho fosse de Jacob.

Aquilo foi demais.

Eu estava hiperventilando, caminhando em círculos pelo quarto e chorando sem parar. Não conseguia parar de imaginar minha mãe grávida de Jacob e meu pai… como ele pôde propor uma coisa dessas?

Fui ao banheiro para lavar o rosto. Parecia que minha cabeça explodiria a qualquer momento, os pensamentos pesavam em minha mente e, entretanto, eu não sabia o que estava pensando, não sabia o que estava sentindo ou como devia agir, não sabia de mais nada; apenas tinha consciência de um buraco negro que se abrira em meu peito.

Olhando meu rosto inchado no espelho, não sei quanto tempo passou, eu tentava encontrar respostas para minhas perguntas, mas apenas conseguia visualizar o espectro dos meus medos tomando forma.

— Nessie. — Uma voz me puxou de volta à consciência. Paralisei em pânico. Era ela, eu podia sentir seu cheiro mais forte conforme se aproximava.

Olhei-me no espelho: meu rosto ainda estava um pouco inchado, meus olhos e bochechas vermelhos. Lavei o rosto mais uma vez.

— Filha, ainda está de pijama! — Franziu o cenho. — Estava chorando?

Tentei encontrar minha voz, mas não pude, minha garganta estava fechada e lágrimas invadiram meus olhos. Minha mãe me segurou no exato momento em que meus joelhos cederam, e eu não lutei.

Ficamos assim por muito tempo: ela me consolando e eu querendo morrer, mas em algum momento o desespero passou e minhas lágrimas secaram.

— Meu amor… O que houve? — perguntou.

Respirei profundamente.

— E… — limpei a garganta. — Eu não quero que nada mude.

Lágrimas solitárias escorriam por meu rosto.

— Querida, acredite em mim, ninguém quer separá-la de Jacob e ele não a abandonaria por nada no mundo! Vocês vão encontrar uma maneira de fazer isso dar certo, acredite em mim, a distância não é nada quando a gente ama.

Apenas balancei a cabeça de cima para baixo.

— Vou me trocar.

Nos levantamos.

— Estarei aqui se precisar.

Encarei-a.

— Eu sei.

Ela se retirou para que eu tomasse um banho, e assim que saí do banheiro a encontrei sentada em minha cama, arrumando o tapete com os pés.

— Está melhor?

Chacoalhei a cabeça de cima para baixo sentando no parapeito da janela ainda de toalha, escondendo o diário sob uma almofada.

— Onde está o papai? — perguntei com a voz estrangulada.

— Ficou na casa dos seus avós, estão jogando batalha naval no rio.

— Quais são as duplas?

— Seu pai e Carlisle, Alice e Emmett, e Jasper e Rose. Esme é a juíza.

— O que acontecerá com quem perder?

— Terá de comer uma beterraba inteira! — respondeu fazendo uma careta.

— Eca!

— Mas você deve comer, mocinha!

— Aposto que quando era humana não te obrigavam a comer isso.

— Não me obrigavam porque eu comia por conta própria.

Revirei os olhos.

— Que horas são? — perguntei.

— Cinco e meia.

— Droga! — Levantei em um pulo indo para o closet. — Ainda nem sei o que vestir!

Não sei se queria ver Jacob, mas também não podia ficar em casa. Para falar a verdade, queria apenas me enterrar em um buraco com mais de sete palmos, mas levaria muito tempo para encontrar um bom lugar e cavar sozinha, e Edward logo voltaria para casa.

— Quer ajuda? Eu disse a Alice que não viesse te ajudar a menos que ligasse para ela…

— Obrigada.

Entramos no closet e tomei todo o cuidado para que minha mãe não visse a caixa.

— Alice precisa me fazer um mapa! — resmunguei abrindo uma das gavetas da extremidade.

Minha mãe riu. Olhei dentro da gaveta e senti-me corar, fechando-a instantaneamente. Eram conjuntos de lingeries de todos os tipos e cores, com direito a cinta liga e tudo mais…

Bella abaixou a cabeça, balançando-a de um lado para o outro.

— Alice… — murmurou rindo.

Continuamos a busca.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Claro.

— Se pudesse voltar no tempo e mudar algo, o que mudaria?

— Que pergunta é essa?

— Só… responda. Seja o que for.

— Tudo bem, vejamos… — refletiu. — Não sei se mudaria algo. As coisas boas e ruins que aconteceram foram necessárias para estarmos aqui hoje.

— Mas não faria nada diferente?

— Não. De onde surgiu tanta curiosidade?

— Você é feliz?

Essa pareceu realmente surpreendê-la. Bella se aproximou com a expressão doce.

— Como poderia não ser? Sou casada com o amor da minha vida, tenho uma família linda e uma filha perfeita. Se existe alguma certeza nesta vida, é a de que tudo acaba como deve ser. — Ela respondeu com tanta convicção que não pude contestar.

Escolhemos uma calça jeans, uma camisa xadrez e botas.

— Filha, quero te dizer uma coisa: Jacob é um rapaz incrível que te ama muito, mas não apresse as coisas. Sei que você não é mais uma criança, que tem suas necessidades, mas dê tempo ao tempo. Tudo acontece como e quando tem que acontecer.

Balancei a cabeça, concordando.

— Vou receber seu pai enquanto termina.

Ouvi a porta da sala se abrir e o cheiro de Edward invadiu a casa. Afastei todo e qualquer pensamento, concentrando-me no que estava fazendo.

Sophia escolhia uma roupa quando o celular tocou; seu coração acelerou ao reconhecer o número.

— Uau, finalmente se lembrou que eu existo! — alfinetou ela.

Ele riu.

— Ora, não exagere, sabes que está sempre comigo, em meu coração.

— Sei… Como você está?

— Bem. E a senhora?

— Com saudades.

— Sempre.

Sophia suspirou

— Alguma novidade?

— Não, mas infelizmente acredito que não poderemos nos ver tão cedo. — Disse observando se havia movimentação perto da fonte a sua frente. Seguiu caminhando.

— Esta foi sua escolha…

Ele sorriu amargo e virou-se para olhar a torre atrás de si, o relógio marcava três horas da manhã e em breve humanos estariam por toda parte, ele não tinha muito tempo. Aventurou-se rapidamente pelas estreitas ruelas escuras.

— Como anda Seth, está cuidando bem de ti? Já que me trocou por ele…

— Ele está bem, e você sabe que eu não te trocaria por nada no mundo!

Ele suspirou.

— Sim, eu sei. Mande lembranças por mim.

— Claro.

Silêncio.

— Aconteceu alguma coisa? Você parece triste… — Sophia perguntou preocupada.

— Estou bem, apenas morro de saudades de ti.

— Você sabe que pode vir quando quiser, estarei sempre te esperando de braços abertos.

— Tu sabes que ainda que quisesse não poderia. E meu lugar é aqui.

— Não queria te aborrecer.

— Não me está a aborrecer, é que…

Eric parou em silêncio, a brisa gelada da madrugada trouxe consigo um cheiro doce, puro e quase infantil que ele bem conhecia. Jane estava se aproximando.

— Preciso desligar agora. Te amo.

Sophia suspirou pesadamente.

— Também te amo querido.

Ela desligou e jogou o celular sobre a cama. Respirou profundamente com a mão no peito.

— Amor, cheguei! — disse Seth adentrando a casa minutos depois.

Sophia respirou aliviada. O timing perfeito evitaria um assunto que ela sabia que o incomodava.

Seth adentrou o cômodo e a beijou.

— Você ainda está de toalha! — disse com um riso na voz.

— Você sequer tomou banho ainda!

— Tem razão… Quer tomar banho comigo?

— Nós vamos nos atrasar…

Seth a pegou no colo e a levou de volta ao banheiro.

Tomei coragem para esperar na sala.

Edward estava acomodado com minha mãe encostada em seu peito enquanto assistiam Orgulho e Preconceito pela bilionésima vez. Sentei no braço do sofá e Edward apoiou seu braço em minha perna.

Logo a campainha soou.

Enquanto Jacob falava com meus pais eu sai e entrei no carro, cruzando os braços em frente ao corpo.

— Não se preocupe com ele — disse ao entrarmos na autoestrada.

— Com quem? — perguntei sem encará-lo.

— Com seu pai. — Permaneci em silêncio. — Ele não vai nos espionar hoje — afirmou com um sorriso presunçoso.

— Como? — Mirei-o, sendo inundada por uma série de sentimentos: raiva, amor, decepção… tudo ao mesmo tempo.

Ele riu, dando de ombros.

— Cobrei alguns favores da sua mãe.

— Que favores?

— Não se preocupe com isso. Você é toda minha essa noite — disse segurando minha mão.

Mordi o lábio em uma tentativa falha de sorrir.

 

 

1 Citação de Lua Nova – Capítulo 6, Amigos, página 109.

 

2 Citação de Lua Nova – Capítulo 18, O enterro, página 292.

 

3 Citação de Eclipse – Capítulo 26, Ética, página 425.

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Notas finais do capítulo

Então né... deu ruim.

Me conte o que achou!



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