Utopia escrita por Renata Salles


Capítulo 23
Obscuro


Notas iniciais do capítulo

Estou tentando aprender quando investir e quando largar… Apenas não sei se arriscarei novamente quando tudo é tão incerto, quando o futuro é tão obscuro.



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Leia o post de abertura!

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Emma franziu o cenho ao olhar pela janela.

Jacob estava encostado em seu carro preto segurando uma folha sulfite milagrosamente seca, com direito ao desenho tosco de um trenó e a mensagem:

Ho ho ho

Expresso de Natal!

Ela respirou profundamente revirando os olhos e saiu para o jardim balançando a cabeça de um lado para o outro.

— O que está fazendo aqui? — Perguntou colocando o casaco. Jacob fez uma careta balançando a folha. — Como sabe onde eu moro?

Ele corou.

— É uma cidade pequena... — Jacob observou os ombros dela tensionarem. — Mas muito segura — completou rapidamente.

Ela o encarou por um longo minuto, suas bochechas e a ponta do nariz vermelhos pelo frio.

— Então está bom, obrigada pela visita — respondeu caminhando rapidamente de volta para casa.

— Emma, espere — suplicou se aproximando. Havia uma sombra obscura em sua expressão. — Por favor, venha comigo! Se eu ouvir mais alguma coisa relacionada a Renesmee ou sobre... — Jacob piscou lentamente e encarou seus pés. Respirou profundamente. — Eu vou explodir — terminou quase com um sussurro. — Eles não entendem. Só querem ajudar, mas tudo que falam me... — Jacob se calou com a testa franzida.

— Eu sei — disse Emma com um olhar que parecia enxergar sua alma.

Jacob sorriu e o brilho brincalhão voltou aos seus olhos.

— Meu cunhado é policial e Charlie também vai estar lá, se te deixa mais tranquila. — Ela sorriu com uma careta irônica. — E é claro que eu sou uma companhia absolutamente incrível...

Emma suspirou.

— Está bem Jacob, eu vou me trocar... — disse com uma careta. — Espere no carro.

 

 

— Não gosto de encarar a vida como uma guerra — comecei —, são as pessoas que pensam assim que acabam sempre começando uma, seja em casa, no trabalho, entre países, raças ou torcidas organizadas. A guerra se dá por quem não se basta consigo mesmo, e por isso busca subverter seus semelhantes e a natureza, em um complexo incessante de superioridade ou de inferioridade, que nada mais é que uma forma de tentar superar o vazio. Entendo, porém, que conflitos sejam importantes para a manutenção da vida e do Estado.

Aro me encarou com uma expressão gentil.

— Eu não esperava nada mais, minha querida. Você é uma jovem apaziguadora, do tipo indispensável em tempos em que o diálogo se torna difícil. — Suspirou. — Pode parecer surpreendente para você, mas eu também não gosto de conflitos, é para este propósito que temos Caius. Tudo em nossa organização tem um motivo muito específico, inclusive a gestão.

Tomei fôlego, mas hesitei.

— Diga o que quer dizer cara mia — incentivou ele.

Sorri, sem graça.

— Quando vocês foram a Hoquiam por mim e minha família eu perguntei a Carlisle por quê seus amigos queriam nos machucar... — Aro fechou os olhos com pesar e respirou profundamente; fiz uma careta e ele sorriu comigo. Mordi o lábio. — Ele me respondeu que bem ou mal, os Volturi existem para manter o equilíbrio, e que por muito tempo vocês foram conhecidos como Aro, o sábio; Marcus, a união; e Caius, o justo. Foi por isso que achei que poderia te mostrar minha história aquele dia, e pedir para que não nos machucasse; pensei que se o senhor fosse realmente sábio, então me ouviria e me entenderia. Mas quando Caius executou Irina...

— Por favor, nos perdoe por isso — interrompeu parecendo realmente constrangido. — Irina de fato teria de assumir as consequências de sua imprudência, mas tenho certeza de que poderíamos ter chegado a um consenso melhor com mais diálogo por parte de todos os envolvidos naquela terrível situação. Todavia, é fatídico que governo algum está imune a alguns excessos, infelizmente faz parte de nossa natureza sermos falhos e arrogantes; me sinto extremamente envergonhado em relação os nossos erros. — Com um suspiro sua expressão mudou para uma gentileza conspiratória. — Contudo, devo admitir, embora não me orgulhe, que existem alguns vampiros com dons específicos que me encantaria que fossem somados à guarda, alguns de sua família, inclusive. Veja, devo pensar como um governante: os dons dos meus queridos asseguram a moral do nosso clã, e é isso que garante que os outros respeitem as leis que formulamos para a nossa segurança e bem-estar. Naquele dia desventurado em que nós e sua família quase nos enfrentamos eu me deixei ser cegado pela ganância, e isso quase acabou em uma verdadeira tragédia! Estamos todos enfrentando as consequências desde então: agora quase todos de nossa espécie ou nos teme ou nos desafia, e não é para uma coisa nem outra que existimos. A confiança, como disse anteriormente, é algo delicado, e talvez nós a tenhamos forçado demais.

Aro suspirou pesadamente e se levantou, caminhando até uma árvore não muito mais alta do que eu a minha direita, encarou seus galhos perdido em pensamentos por um minuto.

— Quanto a Caius... — continuou. — Bem, ele é um general, o era antes mesmo de se tornar um vampiro, e, se me permite, seu tempo era um tanto brutal. Todavia, meu querido irmão é notavelmente bom em suas funções, apenas não consegue ver a lei como algo flexível — ergueu os ombros com uma careta inocente.

Pensei a respeito recordando que, de fato, os membros da guarda que são efetivamente soldados, como Felix e Demetri, encaram Caius com uma subserviência diferenciada. Fazia sentido que isso se desse pelo fato deste antigo ser seu superior — imagino que um soldado não se comporte da mesma forma com seu rei de que se porta frente a seu general, que de certa forma não deixa de ser um tipo de pai para ele, até certo ponto.

— É por isso que precisam uns dos outros — concluí.

Ele me encarou.

— Exatamente! Nossa tríade é o que nos permite alcançarmos a justiça plena, ou ao menos que sejamos sensatos. — Aro ficou em silêncio brevemente, então continuou. — Não queríamos interferir nos assuntos dos outros então nos isolamos em nosso refúgio, pedindo apenas que nos informassem quando criassem novos vampiros; é nosso dever manter certo controle populacional, uma proporção considerável entre humanos e vampiros deve ser mantida. — Balancei a cabeça, concordando. — Acredito que nossa postura tenha nos colocado em falsa posição de superioridade, talvez sejamos demasiadamente conservadores, e isso contribuiu para que nos vissem como tiranos.

— Se me permite — ele acenou com a cabeça para que eu prosseguisse —, certamente não ajudou, mas talvez sua postura de adquirir dotados tenha contribuído ainda mais para a construção desta visão; ascendeu certa suspeita, pelo menos. De acordo com os que conheci, posso afirmar que vampiros são criaturas essencialmente egoístas e, principalmente, egocêntricas, que acreditam por definição que nada nem ninguém está acima deles, nem mesmo outros de sua própria espécie; os irrita seguir regras ao menos que eles mesmos as tenham criado e, por isso, se voltariam contra o poder dos Volturi mais cedo ou mais tarde. Todavia, podem ser mais facilmente persuadidos a servir. Vampiros que não se alimentam de sangue humano, por outro lado, atendem consideravelmente menos a essas características, mas são mais emotivos, e isso pode ser tanto um grande defeito quanto uma grande qualidade.

Aro me encarou por um longo minuto com uma expressão indecifrável, então acenou com a cabeça e seguiu explorando seu pequeno jardim completamente absorto em pensamentos, falando quando lhe ocorria algo de que imaginava que eu deveria ou gostaria de saber sobre a guarda ou sobre a doutrina dos Volturi.

— Me fale sobre Alec — pedi.

Ele não pareceu surpreso.

— O que gostaria de saber?

— Por que ninguém gosta dele?

— Alec é muito poderoso e reservado, não se deixa influenciar pelos outros, o que o faz parecer orgulhoso e apático.

— E ele não é?

Aro me encarou com os olhos cheios de piedade, mas não respondeu minha pergunta, contando o que eu verdadeiramente queria saber como se estivesse lendo meus pensamentos.

— Alec passou por coisas difíceis. Sofreu acusações, foi castigado, descriminalizado e espancado durante toda a infância por algo que podia fazer, mas não entendia; foi abandonado por seu único amigo, que partiu quando a vila começou a se agitar; foi hostilizado e tratado como um demônio por todos que conhecia, viu sua irmã sofrer por diversas vezes sem poder ajudá-la, e então foi queimado vivo ao lado dela. Não exija gentileza de alguém que não a conhece.

— E seus pais? Como permitiram que algo assim acontecesse? Não perceberam que em algum momento a vila se rebelaria?

Ele me encarou com pesar.

— Seus pais acenderam a fogueira.

Senti meu queixo cair com o choque, e o peso das coisas horríveis que disse a Alec tomou conta de mim. Eu havia sido cruel sem sequer saber do que estava falando. Não havia desculpa.

Aro fingiu não ver a culpa estampada em meu rosto.

Finalmente falamos sobre minha primeira tarefa: discutimos vários pontos do livro A Arte da Guerra e Aro me contou algumas de suas experiências que o fizeram concordar, discordar ou aperfeiçoar esses pontos ao longo dos séculos. Passamos então a discutir sobre as motivações e justificativas para uma guerra, e fiquei mais do que satisfeita em saber que tal barbárie era quase inadmissível para ele.

— São as consequências... As escolhas que precisam ser feitas. — Esclareceu. — A brutalidade da guerra corrompe tudo que é belo e puro, e a vida é tão preciosa e delicada para ser desperdiçada e atacada dessa forma!

— Ouvi dizer que para haver paz é preciso primeiro uma guerra.

— Essa afirmação é adotada por humanos fracos com pouca ou nenhuma perspectiva, pois existe paz entre todas as outras espécies de animais na natureza, sem nunca ter havido uma guerra. A natureza tem seu jeito duro, mas justo, onde tudo tem um propósito e cada um desempenha uma função muito específica: sobreviver. A espécie humana faz qualquer coisa para fingir que não faz parte desse sistema, e justifica sua sede de sangue e sua crueldade em ameaças e guerra. A vida é um mistério maravilhoso, senhorita, é nosso dever respeitá-la.

Sorri.

— Justo. Mas então qual é o motivo das punições com morte se o objetivo dos Volturi é preservar a vida?

— É compreensível que se faça tais questionamentos senhorita — respondeu com um tom bondoso. — Quando Caius, Marcus e eu nos unimos ninguém entendia bem o que nossa condição e sede significavam, encontrar respostas para nossa existência se tornou meu propósito. No entanto, os vampiros quase em absoluto não se preocupavam com o equilíbrio, a vida não tinha valor para eles; eram cruéis e descuidados, e histórias começaram a se espalhar rapidamente, os humanos passaram a procurar formas de nos enfrentar, não eram mais tão inocentes, embora tivessem poucos recursos. — Ele parou, refletindo. — Me desviei do assunto?

Ri.

— Não. Por favor, continue.

— Ah, bem, quando Caius, Marcus e eu fundamos o clã Volturi nossa intenção era apenas pedir um pouco de cautela por parte dos vampiros, mas fomos ignorados e ridicularizados até que os boatos e o medo tomaram proporções perigosas — suspirou. — Em alguns momentos, quando você vê algo que ninguém mais consegue enxergar, é preciso decidir se você ficará apenas olhando, ou se será corajoso o bastante para impedir que coisas ruins aconteçam. Não vimos outra opção a não ser enfrentar o clã Romeno, narcisista e hipócrita, que governava até então, e fazer com que nos ouvissem.

— Uma guerra justificável... — ponderei.

— Sim, embora tenhamos tido muitas perdas; apenas não percebemos o que nossa demora em decidir agir, o que aquela guerra longa demais havia possibilitado. — Aro balançou a cabeça de um lado para o outro. — A Igreja Católica se ergueu rapidamente como uma instituição poderosa e influente, que se aproveitava da pobreza e do medo. Foram tempos terríveis estes que os humanos chamam de Idade Média, mas na verdade a barbárie começou muito antes. Escolhemos não interferir no começo, pois os humanos precisam seguir seu próprio caminho, e então era tarde demais, se tornou maior que nós. Os humanos estavam completamente fora de controle. Tivemos que fazer muitas escolhas difíceis para reestruturar certo equilíbrio, sem nos envolvermos diretamente.

— Sinto muito por isso.

— Não lamente — disse com a voz doce. — Agora, respondendo sua pergunta, nossa história não nos permite concedermos segundas chances; se o fizermos, perderemos a paz que lutamos tão arduamente para conquistar com tanto sacrifício, pois os vampiros não respeitariam mais nossas regras, como você mesma disse.

— Entendo. O que pretendem fazer com os que os desafiam?

— Por hora devemos treinar nossos guardas, melhorar nossas defesas, nos manter em contato com aqueles em que confiamos e, com sorte, em algumas décadas deixarão de tentar nos desafiar.

Encarei-o incrédula.

— Você não acredita mesmo nisso, não é?

Aro parou a minha frente.

— O que você me sugere?

— Que siga os conselhos de nosso amigo Sun Tzu: conheça seu inimigo e acabe com sua motivação, atraia-os com uma isca irresistível e eles mostrarão como se organizam.

O riso contido de Aro logo se tornou histérico.

— Você me deixa a cada dia mais orgulhoso, minha adorada Renesmee.

Sorri.

— Obrigada.

Mas uma sombra atravessou seus olhos, e Aro se sentou ao meu lado com uma seriedade incomum. Ele respirou profundamente.

— Não sei uma forma delicada de dizer, então serei direto: Leonard Armanno Donatello, unido recentemente a Tanya Denali, está morto.

Meus olhos arregalaram.

— O que houve?

— Ninguém sabe. Mas Leonard era um membro importante da revolta, ele que os uniu, praticamente. É certo que seremos responsabilizados.

Engoli a seco.

— Então é um bom momento para aquela isca. Eles estão feridos, não pensarão com cautela.

Os olhos de Aro faiscaram.

— De fato.

Ficamos em silêncio por um momento.

— Posso lhe pedir algo? — perguntei.

— O que estiver ao meu alcance minha querida.

— Sei que sou consideravelmente fraca e que vocês não teriam motivo algum para me levarem em uma eventual batalha, mas vi um grupo treinando técnicas de combate no jardim do castelo e gostaria de participar.

Ele sorriu satisfeito.

— Mas é claro — respondeu automaticamente, então me encarou com a testa franzida. — Para falar a verdade é uma ótima ideia! Conhecer e exercitar seus limites físicos pode ajuda-la a desenvolver e a controlar seu dom. Informarei Felix sobre sua decisão e o auxiliarei a formular um treinamento que exalte suas qualidades.

— Obrigada mestre.

 

 

Emma hesitou.

— Você tem certeza de que isso é uma boa ideia?

Jacob franziu o cenho.

— Não vai dizer que está com medo!

— É claro que não! Mas sua família não achará esquisito receber uma desconhecida na ceia de Natal?

Ele segurou o riso com um sorriso brincalhão, sem perceber que não sorria há muito tempo.

— Te garanto que a noção deles de esquisito está muito distante disso!

— Se você está dizendo... — afirmou incerta.

Jacob adentrou o pequeno sobrado de um azul desgastado e portas e janelas brancas sem bater, e logo foi rodeado por garotos quase tão grandes quanto ele. Emma se encolheu perto da porta, apenas observando, tinha esperanças de parecer parte da mobília se ficasse suficientemente parada.

Enquanto observava seu estranho acompanhante ser cumprimentado com tapas fortes demais nas costas, percebeu que a última vez que esteve em um ambiente com tanta gente havia sido no tribunal, quando depôs contra os membros do Cartel. Jacob a encarou no exato momento em que este pensamento se refletia sutilmente em sua postura, e surgiu do meio dos corpos parando ao seu lado para apresentá-la.

Emma esperou pelo ar constrangedor e pelas trocas de olhares conspiratórios que nunca aconteceram, então tentou ao máximo sorrir e gravar o nome de todos, se esforçando para lembrar como a cartilha da boa convivência comum não dita e não escrita define que se deve se comportar nessas situações, mas na verdade suas tentativas não passavam de uma sombra de luz em seu rosto.

Ninguém perguntou de onde ela veio ou o que fazia, ou qual era seu grau de afinidade com o quileute, e Jacob esteve o tempo inteiro ao seu lado, explicando os assuntos e incluindo-a nas conversas. Aos poucos Emma percebeu que a simpatia daquelas pessoas não estava carregada de pena nem de interesse, e começou a se sentir menos intrusa, um pouco mais parte de algo.

Com o estranhamento diminuindo gradualmente, a conversa fluía cada vez mais naturalmente. Emma logo percebeu a curiosa gratidão que iluminava as feições de Rachel Black cada vez que seus olhares se cruzavam, e que se traduzia em uma simpatia delicada; riu das piadas que Billy fazia para que ela não ficasse tão sem graça, e fez uma nota mental de nunca se aproximar da floresta ao saber do ataque de um lobo que Emily havia sofrido.

Emma conversou um pouco com o xerife Swan, que por algum motivo pareceu sem graça ao contar a Jacob que sua filha estava a caminho.

— Hmm... Edward vem com ela? —  o quileute perguntou com a expressão tranquila, mas com os dedos fechados em uma bola.

— Sim — confirmou Charlie. — Já devem estar chegando.

Emma observou uma veia pulsar na têmpora de Jacob.

— Que bom. — Disse com um sorriso caloroso.

Leah se aproximou tocando o volume médio em sua barriga.

— Jake, você pode me emprestar a Emma um minutinho? As garotas estão reclamando que não sou muito útil na preparação da ceia quando estou apenas provando tudo, mas o que posso fazer? Parece que estou comendo por um time de futebol inteiro!

— Seria mais fácil se você e esse leãozinho não estivessem tão focados em comer toda a ceia sozinhos — disse Rachel ao se aproximar, tocando a barriga da amiga.

— Ai! — reclamou Leah. — Ele ouviu você.

— Ah, desculpe a tia bebezinho! — disse Rachel ternamente. — Você pode comer o quanto quiser, está bem? — Em seguida ergueu os olhos para encarar Leah. — A sua mãe, por outro lado...

— Para! — resmungou Leah com uma careta, então encarou Jacob parecendo desolada. — Você falou com o Seth hoje? Ele não atende o telefone há dois dias!

Como se estivesse apenas escondido esperando para fazer uma entrada triunfal no momento propício, o rapaz adentrou a casa marchando parecendo não ver nada a sua frente. Leah encarou Jacob como quem pede por ajuda enquanto o irmão passava cumprimentando a todos sem qualquer sentimento.

Ele franziu o cenho ao ver Emma, mas manteve a compostura ao ser apresentado; então seu olhar finalmente cruzou com o de Jacob e eles se encararam fixamente. Jacob se aproximou e o abraçou, falando algo em seu ouvido, mas Seth apenas se afastou e balançou a cabeça de cima para baixo sutilmente.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Jacob com um tom baixo e firme, segurando seu braço sem romper o contato visual, e o garoto pareceu ter de fazer um esforço tremendo para mover a cabeça de um lado para o outro.

 Jacob apenas afirmou com a cabeça com a expressão serena, mas Emma teve a impressão de sentir o corpo dele aquecer ao seu lado.

— Vamos? — perguntou Rachel recuperando a conversa anterior à perturbada chegada do amigo.

Emma encarou a mão de Rachel estendida casualmente em sua direção, então respirou profundamente tocando a ponta dos dedos dela por um breve momento, e a seguiu até a cozinha.

Jacob ficou tão feliz e impressionado com aquele pequeno acontecimento que mal percebeu quando Seth passou pela sala de jantar e saiu para o jardim dos fundos coberto de neve branca e fofa, demorando para segui-lo. Ele recebeu um olhar significativo de Sue ao passar pela cozinha e encontrou Seth cortando lenha.

— Assim você vai abrir um buraco no chão — disse com tom brincalhão apesar de estar falando sério, mas Seth sequer o encarou, apenas pegou outro pedaço de madeira para picotar. Jacob se aproximou, tirando o machado da mão do amigo. — Cara, qual é? Fala comigo! O que aconteceu?

Seth suspirou pesadamente. A esposa havia pedido para que não contasse a ninguém sobre seu retorno, mas o lobo seria incapaz de mentir para o seu Alfa.

— Sophia — respondeu simplesmente.

— Descobriu alguma coisa?

— Descobri? — repetiu irônico com um riso nervoso. — É — ponderou —, descobri que ela não sabe ser honesta; descobri que tudo em torno dela é abafado por mentiras.

— Mano, o que houve?

Seth o encarou e toda a decepção pareceu transbordar de seus olhos e escorrer por sua pele.

— Não quero falar sobre isso agora.

Jacob assentiu.

— Tudo bem. Quando quiser conversar...

— Obrigado cara.

Eles ficaram em silêncio por longos minutos.

Jacob devolveu o machado ao amigo que voltou à sua atividade sadia, ficando ao lado dele para garantir que não se ferisse, enquanto observava a movimentação na cozinha. Seth o encarou com a testa franzida.

— O que está rolando entre você e aquela garota?

— Quê? — perguntou assombrado.

Jacob imaginava que suporiam que havia um envolvimento romântico entre ele e Emma, e estava preparado para encarar os olhares e comentários com sorrisos e silêncio, mas não imaginava que tal absurdo pudesse vir de seu melhor amigo que conhecia bem como era estar amarrado a um imprinting.

— Eu garanti que a protegeria, e que maneira melhor de deixá-la a salvo que trazê-la para perto de nós? — rebateu chateado. — Além disso, minha consciência não a deixaria passar o Natal sozinha; aquela garota precisa de apoio, está destruída! O que mais poderia haver entre nós Seth?

— Desculpe, não queria te ofender! É só que parece que você... — se calou hesitante.

— Parece que eu o quê?

Seth o encarou seriamente.

— Você sabe que todos nós vamos garantir a segurança dela, e que todos queremos que ela fique bem e que reconstrua a sua vida — parou para tomar coragem, escolhendo com muito cuidado as próximas palavras —, mas cara, eu me preocupo com você, porque se envolver com a história dela não vai mudar nada que já tenha acontecido. É horrível, eu sei, mas foi um acidente Jake, a garota morreu. Não importa o que você faça, isso não é reparável. Você precisa seguir em frente.

Jacob fechou os olhos e encarou o chão. Todos tentavam confortá-lo de alguma forma, mas ninguém realmente pensava sobre ela; ninguém entendia como era rever o acidente todas as noites em pesadelos e passar cada segundo do dia imaginando a vida que Angie Jones jamais teria.

Ele respirou profundamente, se esforçando para recuperar a aparência de tranquilidade que lutara tanto para adquirir.

— Me ver acompanhado deixou meu pai bem feliz — comentou sorrindo.

— Não só o seu pai... — Seth ponderou observando Rachel dizer algo que fez Emma rir sem graça na cozinha. — Sério, sua irmã vai assustá-la. Está me assustando, pelo menos.

— Eu sei! — afirmou com um sorriso. — Fico feliz que elas tenham se dado bem, espero que virem amigas...

Seth o observou complacente por um longo minuto, então voltou para sua lenha.

Não demorou até que Charlie os chamasse segurando firmemente uma lata de cerveja, afirmando que não sabia como eles não estavam congelando. Os rapazes entraram carregando um pouco de suprimento para a lareira e se misturaram ao bando que fingiu não notar sua ausência.

 

 

Retornei triunfante ao castelo da guarda, pronta para confrontar Alec e fazê-lo aceitar minhas desculpas, mas meu humor foi destruído ao cruzar com Jane que descia as escadas com ímpeto e uma expressão mais amarga que a usual. Logo notei Eric observando-a sair no início das escadas.

Não sei se foi o vento frio que fez o calafrio percorrer minha espinha.

Eric escorregou para o chão e afundou a cabeça nas mãos, permitindo que seu corpo chacoalhasse com o choro. Me aproximei como quem não pisa em chão firme e me ajoelhei a sua frente imersa pelo sentimento de impotência; então me permiti sentir repentinamente agradecida pelo espírito natalino causar depressão em uma quantidade espantosa dos meus colegas de casa, de modo que a maior parte deles ou havia saído, ou estava trancado em seus aposentos.

O arroubo de Eric estava a salvo, ninguém o veria fraquejar.

Esperei-o se acalmar, assombrada por uma pontada de pânico ao notar o líquido vermelho escorrendo em seu nariz.

— Está sangrando!

Eric piscou lentamente e limpou o sangue com uma calma que me deixou atônita.

— Com que frequência isso acontece? — perguntei temendo a resposta.

— O veneno está me matando lembra? Lentamente, mas ainda assim...

Toquei seu rosto engolindo minhas lamentações.

— Ela sabe?

— Não — respondeu preciso.

— Eric, Jane merece saber.

— Para quê? Acabou.

— Mas...

Ele se levantou, interrompendo.

— Estou faminto! Vamos ver se conseguimos fazer algo comestível hoje?

Eric estava sendo modesto, ele cozinhava muito bem e fez um robalo maravilhoso. Fizemos o jantar e vários aperitivos e levamos para a Torre Sul que Eric havia decorado com velas. Ele acrescentou um pequeno bar muito conveniente debaixo do quadro manchado que marcava seu trágico amor perdido, e ambos concluímos que teríamos suprimento suficiente para passarmos a noite se quiséssemos.

Depois de muita insistência e duas garrafas de vinho finalmente contei sobre as visitas de Selas e sobre o que ele me mostrou por acidente no dia em que caí da torre, e Eric contou um pouco mais sobre sua história com Jane e o que havia ocorrido aquela tarde. Foi impossível esconder minha decepção e surpresa ao saber que Alec havia sido enviado a uma missão sozinho sem data para retorno, e as perguntas referentes ao meu interesse por ele acabaram me levando a falar sobre Jacob entre a terceira e quarta garrafas.

Somente no dia seguinte percebi o que a repentina viagem solo de Alec significava, e o perigo que ele estava correndo.

 

 

Emma colocava a cheirosa e famosa torta de maçã de Sue — a qual havia ouvido a respeito durante toda a tarde — na mesa pronta para a ceia; o movimento fez com que as mangas de sua blusa subissem, expondo as cicatrizes em seu pulso. Paul, que estava bem a sua frente, sentiu um calafrio de revolta e Rachel, ao seu lado, grudou os olhos no prato. Emma abaixou as mangas rapidamente em um hábito automático que havia desenvolvido, perdida demais em sua mania para pensar que alguém poderia ter notado as marcas quando inesperadamente e sem pensar, Jacob se levantou abruptamente e a envolveu em um forte abraço.

Inconsciente do que ocorria na sala de jantar atrás dele e em um timing surpreendente, Charlie abriu a porta para receber sua filha e o genro.

O sorriso de Bella ao ver o pai após meses de conversas ocasionais pelo telefone logo se transformou em um rosnado baixo. Edward tocou suas costas em um aviso silencioso quando os lobos à mesa a encararam com expressões variadas entre constrangimento, confusão e suspeita, enquanto ele se esforçava para entender quem era a humana e qual era sua ligação com Jacob através dos pensamentos dos presentes.

Nenhum dos dois jamais cogitou a possibilidade de ver Jacob com outra pessoa, embora ambos acreditassem que ele merecesse ser feliz.

Bella logo se recompôs e passou a cumprimentar a todos educadamente, enquanto Emma se sentia confusa com a atitude de Jacob e hipnotizada com a perfeição perturbadora do casal recém chegado.

Não demorou até que ela percebesse que havia algo errado.

Jacob ficou repentinamente muito quieto e obscuro, e cada vez que a mulher, Bella, lhe dirigia a palavra parecia intencionalmente provocá-lo; seu marido parecia irritado, mas assim como os outros, tentava amenizar a situação constrangedora.

— Até quando pretendem ficar na cidade? — perguntou Charlie esperançoso.

— Algumas semanas — respondeu Bella com aquele tom provocativo, ignorando seu marido imóvel ao seu lado encarando-a com uma interrogação nos olhos.

— Ótimo — soltou Jacob com um sorriso forçado.

— Você parece muito bem, Jake. Não entendo porque estavam tão preocupados... — alfinetou Bella.

— Ah, você sabe como é né Bells? Nem todo mundo pode fugir dos seus problemas.

A tensão entre eles parecia fazer o ar se tornar mais denso.

— Como foi a viagem, queridos? — perguntou Sue.

— Foi muito tranquila Sue, obrigado por perguntar — respondeu Edward educadamente.

— Edward é um bom motorista, ele costuma prestar atenção na estrada.

— Bella! — repreendeu Charlie.

Jacob se levantou tremendo com a expressão ressentida a encarando fixamente, então saiu para o jardim sem dizer uma palavra.

— Está satisfeita? — irrompeu Edward.

.

Emma saiu para o jardim coberto de neve enrolada em seu casaco, encarando o céu repleto de nuvens escuras.

— Parece que vai nevar.

Jacob finalmente a encarou.

— Sinto muito por isso.

Ela ergueu os ombros.

— O que é o Natal sem um drama familiar?

Ele a encarou com um sorriso.

— É, foi intenso!

— Aham! — hesitou. — Mas deve realmente ser difícil para as pessoas que eram próximas a ela te verem acompanhado.

Jacob a encarou surpreso.

— Como você...?

— Faz parte das minhas funções identificar relações. Ou fazia...

— Eles são... — engoliu seco — a família da Renesmee.

Emma concordou com a cabeça. Eles ficaram em silêncio observando os flocos de neve que começavam a cair.

Jacob respirou profundamente e pegou uma foto em sua carteira. Parecia ter pertencido a um anuário: uma garota de cabelos castanhos com as roupas das líderes de torcida do colégio de Forks.

— O nome dela era Angie Jones. Ela tinha dezessete anos quando eu a matei. — Jacob fechou os olhos com força. — A estrada estava tão escura aquela noite! Ela apareceu do nada, eu...

— Ah Jake, que droga — foi tudo que conseguiu dizer com a respiração parecendo presa nos pulmões, ondulando. Emma encarou o céu, deixando que o silêncio os envolvesse.

 

 

— Meus senhores, por favor, me deixem ir até ele! — pedi.

Alec não enviava notícias há três dias.

— Ao contrário da senhorita, Alec é um soldado treinado e bem preparado — começou Caius. — Estava ciente dos riscos quando aceitou a missão.

— De fato é um bom soldado, mas ainda pode ser pego desprevenido — insisti. — Por favor, não o deixem sem reforços.

— Senhorita Cullen, você sequer pode proteger a si mesma, como poderia oferecer reforços?

Aro, que estava durante todo o tempo recostado em seu trono apenas me avaliando, finalmente decidiu se envolver.

— Ele está em Aberdeen.

— Obrigada mestre! — disse correndo para a saída.

— Ela o colocará em risco! — arquejou Caius.

— Tenha um pouco de fé, irmão.

 

 

— Eu era noiva — Emma rompeu o silêncio.

Jacob a encarou com os olhos arregalados.

— Nos conhecemos na faculdade em uma festa de fraternidade, ele estudava Filosofia e eu Ciências Sociais; nos demos muito bem imediatamente e ficamos juntos desde então. Namorávamos há cinco anos quando noivamos. — Ela respirou profundamente. — Estava perto da data do casamento quando tudo aconteceu. Me disseram que ele ficou louco quando fui sequestrada, que me procurou por toda parte; mas quando acordei no hospital, quando ele soube o que fizeram comigo... — uma lágrima solitária escorreu por seu rosto. — Ele não conseguia olhar para mim. Começou a me visitar cada vez menos no hospital, até parar de ir.

— Covarde! — rosnou Jacob com os dentes trincados.

— Não! Foi melhor assim. Tudo acontece por um motivo Jacob.

.

 

Dave forçou a entrada quando a secretária afirmou que Megan Davies, promotora do estado de Nova Iorque, não estava em seu gabinete.

— Eu vou chamar a segurança! — afirmou arrumando o cabelo.

— Está tudo bem Sarah. Feche a porta por gentileza.

A garota saiu com uma careta.

— Feliz Natal Dave. Aposto que não veio me trazer um presente.

— Por favor, me diga onde ela está.

“Direto”, ela pensou com aprovação.

— Ivy está sob o Programa de Proteção à Testemunha, não é mais minha responsabilidade. O que o faz pensar que eu saberia para onde a levaram?

— Porque você é a porra da promotora! — gritou. — Se não sabe certamente pode descobrir!

Ela respirou profundamente.

— Não Dave, não posso.

— Me diga pelo menos o nome que deram a ela — implorou.

Megan avaliou seu desespero por um momento.

— Não é assim que funciona. Pense bem! Se eu pudesse encontra-la Ivy não estaria a salvo. O Programa de Proteção à Testemunha é feito exatamente para que ninguém a encontre. Você poderia estar com ela, você sabe; já fez sua escolha.

Dave soltou o corpo na poltrona de couro, apoiando a cabeça nas mãos. Cada vez que fechava os olhos conseguia ver o verido de noiva que ela usaria protegido por uma capa em seu armário.

— Eu não estava pensando direito.

— E agora não pode voltar atrás.

Megan observou as lágrimas escorrerem pelo rosto dele e se aproximou com um suspiro.

— Eu sei que você a ama, e exatamente por isso deve se confortar com a certeza de que ela está segura. Aceite Dave, você nunca mais irá vê-la novamente.

.

Seth se levantou pálido e gelado antes que Bella pudesse concluir seu relato sobre a misteriosa morte de Leonard.

— Eu preciso ir.

— Mas, Seth... — começou Bella.

— Claro, até logo amigo — afirmou Edward com um olhar significativo antes que os outros pudessem protestar.

Seth acenou com a cabeça e saiu pela porta com a sensação de carregar o mundo nas costas. Estava tão confuso e com a cabeça tão cheia de ideias vazias que voltou caminhando para casa, sentindo o vento frio em seu rosto e aproveitando a paisagem monocromática.

Consciente de que o mar de sua vida jamais seria calmo e conhecido como ele gostaria, Seth respirou profundamente o ar da liberdade condicional pela última vez, e adentrou a casa.

Sophia estava sentada no chão sobre o tapete branco felpudo com um vestido de seda de um rosa suave e uma taça de vinho na mão. Parecia ao mesmo tempo forte e quebrada em sua preciosidade única. Lágrimas escorriam por seu rosto sem qualquer esforço enquanto ela assistia ao vídeo de seu casamento com o álbum de fotos a sua frente.

Não houve tempo ou energia dedicada a disfarces.

Sophia apenas ergueu o rosto e o encarou livre de qualquer barreira, ainda que não pudesse lhe dar as explicações que ele merecia.

Ela contemplava sua perda.

— Leonard está morto — anunciou Seth. Sophia apenas respirou profundamente e tomou um gole de vinho.

A reação dela não era a que Seth esperava, ainda que no fundo ele soubesse que havia algo errado com esta nova versão dela — na verdade, ele sempre soube que havia uma escuridão obscurecendo sua luz pura.

Seth se aproximou com o coração batendo pesado e forte.

— O que você fez?

Sophia o encarou displicente.

— Quer saber se o matei?

Seth trincou os dentes, a verdade dita em voz alta pesando sobre seus ossos.

— Quero saber o motivo.

Eles se encararam intensamente por um minuto antes que um soluço rompesse o silêncio e a distância entre eles. Seth se aproximou e a amparou enquanto ela chorava.

— O que está havendo Sophi?

— Eu sinto muito! Se soubesse o que ele fez! — Soluçou afundando o rosto no pescoço do marido. — Eu tive tanto medo! Jamais os colocaria em perigo, mas se soubesse na época o que sei agora, o que vai acontecer, eu nunca, nunca, teria partido! Eu sinto muito! Por favor, me perdoe! O tempo... Não temos — sua voz era um sussurro engasgado. Sophia estava inconsolável e desesperada.

Havia muito a ser dito, mas sabendo que não teria suas respostas, Seth preferiu se ater aos pontos mais problemáticos enquanto ela estava frágil.

— O que vai acontecer, amor?

Os soluços pararam com uma respiração profunda, Seth pôde sentir o coração culpado dela ficando mais pesado enquanto sua expressão se tornava obscura.

— Meu pai está vivo — disse distante. — Ele me disse...

— Como? O que ele disse?

— Tempo — soltou exausta se deitando no peito dele. — Eu te amo. Por favor, confie em mim.

— Como poderia confiar em você se você nunca é honesta?

O silêncio intoxicou o ar em torno deles por longos minutos.

Seth apenas sentiu a respiração dela contra seu peito.

 

 

***

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