Esquecer você escrita por Mariii


Capítulo 6
Parte I - Partida


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo para o fim da primeira parte. Sim, Sherlock está sendo idiota. Sim, dá vontade de espancá-lo... hauahuahaua
Prometo que ele pagará por isso... :D



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Como podia ter feito isso com ela? Sherlock, já vestido, andava pela sala recolhendo os pequenos botões de sua camisa, tentando não pensar na cafajestagem que tinha acabado de fazer. E estava falhando terrivelmente.

Ele tinha se aproveitado dela. Era isso que ela estaria pensando nesse exato momento. Sherlock havia perdido a cabeça. Não que ele fosse inocente nessa história, tinha deliberadamente colocado um preservativo no bolso da calça. Um lado seu esperava e queria que tudo isso acontecesse. Mas, depois, quando caiu em si, percebeu o tamanho da besteira que cometera. Tinha dado esperanças à Molly, esperanças infundadas. Não tinha a menor chance de ele manter qualquer tipo de relacionamento amoroso após essas férias. Iria voltar ao trabalho, e só.

Se isso estava tão claro assim, por que se sentia tão mal? Esses dias com Molly tinham sido tão... especiais. Tinha feito coisas que jamais pensaria fazer. Imagine, correr pela praia, entrar em um mar congelante... E de roupas! Mesmo assim não se sentiu bobo fazendo tudo isso. Sentiu-se feliz. Livre, talvez.

Às vezes se pegava pensando que talvez conseguisse ficar mais próximo dela quando voltasse à realidade. Será que precisava mesmo escolher entre o trabalho e o relacionamento?

Ele logo afastava essas dúvidas. Qualquer tipo de envolvimento atrapalharia suas investigações. Precisava se manter focado, e nunca conseguiria com ela distraindo-o dessa maneira.

O único problema era que mesmo sabendo tudo isso o buraco que se formara em seu peito continuava a crescer.

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Molly subiu as escadas com o máximo de dignidade que conseguiu reunir, mesmo estando nua. Na verdade, esse era o menor de seus problemas no momento. Sentia-se totalmente humilhada. Como poderia pensar que Sherlock iria querer algo com ela além de usá-la? Tantas vezes ele a usou só para conseguir o que queria, dessa vez não foi diferente. Só foi mais... íntimo.

Quando chegou ao quarto e fechou a porta, deixou que as lágrimas rolassem. Enfiou-se debaixo do chuveiro, queria arrancar de si todo o cheiro de Sherlock que ficara em sua pele. Esse pensamento a fez chorar mais ainda. Lembranças recentes não paravam de passar por sua mente. Deixou que a água escorresse por seu rosto, pedindo que levasse embora tudo que sentia. Não funcionou, a dor continuava insistindo em perfurá-la.

Custava a acreditar que tinha se enganado tanto. Ela viu em seus olhos, por breves momentos, sentimentos que não pode definir. Não era nada do que ela já tinha visto vindo do detetive. O jeito com que ele aproximou dela, como segurou sua mão na praia, o olhar doce. Será que tinha se enganado quanto a tudo isso?

Não importava.

Pensou em Nova Iorque, em como ela partiria logo que voltasse de viagem. Como esperava começar qualquer tipo de relacionamento, ainda mais com Sherlock, que estava sempre ocupado?

Estava tentando se enganar, é claro. Sabia que ao menor sinal de Sherlock, ela largaria tudo e continuaria em Londres. Por ele.

Terminou o banho, vestiu seu pijama confortável e enfiou-se na cama. Ainda sentia algumas lágrimas teimosas que insistiam em sair dos seus olhos. Ainda teria um dia e meio pela frente, e não fazia ideia de como seria encarar Sherlock. Teria que vestir uma máscara de frieza, nem morta deixaria que ele a visse acabada, não daria esse gostinho para ele. Muito pelo contrário, estaria linda amanhã, mesmo que isso custasse todas suas forças.

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Ela acordou com a claridade que invadia o quarto. Não viu Sra. Hudson em sua cama, todos já deviam ter descido. Na noite anterior ouviu quando todos tinham chegado, mas fingiu que dormia quando Sra. Hudson adentrou ao quarto. Demorou horas para dormir e agora percebia que tinha acordado tarde.

A noite de sono tinha feito bem a ela. Ainda sentia-se triste, mas não com raiva. Sabia que Sherlock sempre colocaria seu trabalho à frente de tudo e não poderia exigir algo diferente dele. Qualquer coisa que não fosse isso o faria perder a essência. Ela sabia. Mas também sabia que ele não precisava ter feito uma escolha tão radical. Molly nunca o faria escolher entre o trabalho e ela.

Ao menos ela poderia provocá-lo mais um pouco ao longo do dia. Não pretendia deixá-lo ver como ela se sentia, mesmo sabendo que não era muito provável conseguir esconder algo de Sherlock. Com esse pensamento, levantou-se e escolheu um short branco, o mais curto que tinha em sua mala. Apesar de Sherlock pensar que não, ela reparou o quanto ele olhava para suas pernas. Para completar, vestiu uma bata cor de rosa com um generoso decote. Olhou-se no espelho e agradeceu por não ter ficado com os olhos tão inchados ou vermelhos. Uma leve maquiagem e ninguém saberia que ela tinha chorado boa parte da noite. Gostou do resultado final. Não estava exagerada, mas chamaria atenção. Sua pele tinha ganhado um pouco de cor nos dias em que tomou sol, e isso estava dando um toque especial ao visual.

Colocou um pouco do mesmo perfume que usou na noite anterior, calçou os chinelos, respirou fundo e preparou-se para descer às escadas.

–- -- --

Sherlock tampouco dormiu a noite inteira. Precisava que essas férias acabassem logo para se focar em outras coisas. Sabia que essa ideia de férias não daria certo. Todo esse calor, nenhum crime, muita bebida, pouca roupa. Lembrou-se do corpo de Molly e quis bater com a cabeça na mesa. Por que esses pensamentos tinham que invadir sua mente assim, sem pedir licença?

Todos tomavam o café da manhã alegremente, conversando sobre a noite anterior. Perceberam que Sherlock estava com um péssimo humor, e como isso não era novidade, ninguém se importou.

Em algum momento alguém perguntou sobre Molly. E Sherlock ergueu a sobrancelha, estava preocupado com ela. Com o que ele tinha causado a ela. Pensava se ela sairia do quarto, e se por lá ficasse, qual explicação daria a todos. Não tinha ideia de como olharia para aqueles olhos castanhos e como se sentiria pior do que já estava ao ver sofrimento dentro deles.

Formulava várias teorias quando ouviu que Molly começava a descer as escadas. Nenhuma teoria englobava o que ele viu quando olhou para ela. Sentiu que o ar faltava.

Parecia que nada tinha acontecido. Não havia sinal de que na noite anterior lágrimas tinham inundado os olhos dela.

Você esperava que ela rastejasse por você?

Molly sentou-se à mesa, em frente a Sherlock, dando bom dia para todos de forma casual e sorridente. Exceto por um momento de hesitação quando olhou para Sherlock, não se via nenhum sinal de nada que tinha acontecido na noite que passara. Alguém tinha ficado muito boa em esconder sentimentos. Sentiu o perfume dela e ondas de imagens tomaram seu cérebro. Queria poder tomá-la ali mesmo, naquela mesa.

O esforço para parecer natural estava exigindo muito de Molly. Ela achava que tinha feito um bom trabalho, Sherlock parecia intrigado, com raiva até. A parte mais difícil foi comer de forma normal, para ninguém questionar sua falta de apetite. Participou das conversas o máximo que pode e até se divertiu. Não tinha como não rir com John e Mary.

Após o café, Molly decidiu manter-se o mais distante possível de Sherlock, portanto, foi para o mar com Sra. Hudson e Lestrade. O dia transcorreu sem maiores incidentes. Molly percebeu a forma que Sherlock a olhava toda vez que se encontravam e isso dava a ela uma satisfação pessoal. Mas mesmo assim, a tristeza ainda a consumia. Ficou aliviada quando o dia acabou e ela pode se recolher ao quarto, onde poderia desabar.

Continuava pensando que Sherlock estava errado. Conseguia entender os motivos do detetive, mas não era certo. Tudo que tinham sentido não podia ter sido só algo de momento. Mas tudo tinha acabado e, amanhã, iriam embora. Tudo voltaria à normalidade cinza de sempre.

–- -- --

Sherlock encarava o teto, deitado em sua cama. Pensava novamente em tudo que tinha acontecido. Em tudo que ELE tinha provocado. Insistiu para ficar junto dela e depois, quando tudo tomou outra dimensão, voltou atrás. Estava confuso, não entendia porque se importava tanto. Ele sabia que tinha agido feito um idiota e a imagem que passou era que a tinha usado. Mas, não era isso que estava tirando seu sono. Ele estava com medo, e não estava confortável com esse sentimento. Tinha medo de estar fazendo a escolha errada ao se afastar de Molly. Levou a mão aos olhos. Não havia o que fazer. Estavam partindo amanhã, a vida teria que voltar a ser como era. Não podia se envolver com Molly.

Não será um pouco tarde para isso, Sherlock?

Cale a boca!

Odiava sua consciência.

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Pela manhã todos arrumavam seus pertences, fazendo as malas. Partiriam após o almoço. Molly organizou tudo com rapidez, não tinha deixado muitas coisas espalhadas e queria ter tempo para se despedir do local.

Caminhava calmamente pela praia, molhando os pés e olhando para o mar. Tanta coisa tinha acontecido em tão poucos dias. Sentiria saudades desse período, mesmo que não esteja acabando da melhor forma.

Assustou-se quando percebeu uma presença ao seu lado. Não tinha ouvido Sherlock se aproximar.

Continuou olhando o horizonte, esperou que ele começasse a falar.

– Queria me desculpar, Molly.

Ela o encarou. Sentia-se serena próxima ao mar. De repente tudo que acontecera parecia estar atrás de vidro embaçado.

– Você não precisa dizer nada, Sherlock. – Estava sendo sincera, ouvir as desculpas dele não mudava o modo como ela se sentia. E sabia que a única coisa que gostaria de ouvir, ele não iria dizer.

– Não importa. Eu devia ter parado com aquela ideia estúpida. – Arrependeu-se de usar essa palavra, mas agora já tinha dito. Sempre fazendo bobagens, Sherlock.

– Está tudo bem. Você escolheu seu trabalho, Sherlock. – Sentiu-se triste, sabia que ele não se desculpava só por tê-la magoado, mas sim por ter se aproximado dela. Isso a machucou mais. Molly continuava olhando para ele. Levou a mão gentilmente a seu rosto, acariciando-o. – Era uma escolha que não precisava ser feita. – Disse com doçura.

Retirando a mão ela começou a se afastar, a conversa não levaria a lugar algum. E ela acabara de dizer aquilo que mais o preocupava: estar errado sobre a escolha que fizera. Mas, ela também estava partindo.

– Você também escolheu seu trabalho, Molly. – Ela ouviu a voz baixinha de Sherlock à suas costas, quase como um sussurro.

Ela se virou novamente para ele, toda a dor de ter sido deixada por ele apareceu em seus olhos.

– Bastava um sinal, Sherlock. – Disse tão baixo quanto ele. Mágoa e frustração foram alguns dos sentimentos que Sherlock leu em seus olhos.

Dizendo isso, ela correu para casa. Quase derrubou Mary ao passar pela porta. A amiga a amparou, e percebeu toda a dor que Molly estava sentindo. Deu um forte abraço nela.

– Nós já estamos partindo, querida. Tudo vai dar certo.

Molly assentiu, mas não tinha certeza do que “dar certo” significava. Subiu para o quarto, achou um papel e uma caneta e começou a escrever. Lá ficou até que a chamassem para ir embora.

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O trajeto de volta para casa não teve a mesma animação da ida. Molly se encostou em um canto e fechou os olhos, assim ficando por quase todo o caminho, chegando a cochilar em alguns momentos. Não olhou para Sherlock, que por sua vez não falou uma palavra desde que entrou no carro. Os outros, percebendo o clima estranho que pairava, tentaram manter uma conversa corriqueira que acabou ficando artificial.

Era fim de tarde de um domingo, o avião de Molly partiria na sexta-feira a noite. Ela já tinha deixado todas as suas coisas arrumadas, não teria muito trabalho com o que faltava. Agradeceu a John e Mary quando eles o deixaram em seu apartamento.

– Entregue a Sherlock para mim, John. – Colocou um envelope na mão do amigo e ele assentiu.

Com a promessa de que apareciam lá para fazer um jantar de despedida, abraçaram Molly e partiram. Sentiria falta do casal. Muita falta.

–- -- --

A semana passou voando. Molly se manteve ocupada a maior parte do tempo. Estava realmente feliz quando John e Mary cumpriram o prometido e apareceram com Sra. Hudson e Lestrade para sua despedida. Sherlock não viera. Tentaram justificar que ele estava em meio a um caso importante, mas ela sabia que não era verdade. Era como se ele respondesse a sua carta dizendo: Está vendo, meu trabalho ocupa todo meu tempo.

Divertiu-se mesmo assim. Eram seus últimos dias na cidade, não deixaria que nada a abalasse.

Não podia negar que por vezes uma tristeza a dominava. Não queria que tudo tivesse terminado assim. E no fundo, ainda nutria a esperança de que Sherlock aparecesse para pedir que ela ficasse.

A sexta-feira chegou, e Mary insistiu em levar Molly até o aeroporto. Despediram-se calorosamente quando Molly precisou embarcar. Prometeram que iriam se falar sempre e se visitar quando pudessem.

Sentada em sua poltrona no avião, ela olhava pela janela e gotas de chuva batiam no vidro. Sherlock não apareceria.

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Sherlock tocava violino em sua casa, olhando para a rua através de sua janela. John estava com ele, sentado em sua poltrona. Sherlock tinha voltado estranho da viagem e ainda não se recuperara. Parecia estranhamente... triste.

– Sherlock, eu já te perguntei várias vezes e vou perguntar de novo. Por que você não faz algo quanto a isso?

John já havia insistido várias vezes para o amigo procurar Molly e resolver logo essa questão. Percebia o sofrimento que Sherlock tentava disfarçar. Nesse momento, sentiu raiva da teimosia do detetive.

Sherlock apenas o encarou, sua face parecia esculpida em gelo.

– Não há o que fazer, John. – Ele sentia a carta que Molly enviara por John ainda em seu bolso.

Olhando no relógio, John pensou que não havia mesmo. O voo de Molly acabara de partir.

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Uma lágrima escorreu pelo rosto de Molly quando o avião saiu do chão. Não, Sherlock não apareceria.


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Notas finais do capítulo

Aguardo os reviews! #exigente
hahahahahaha