Esquecer você escrita por Mariii


Capítulo 3
Parte I - Duvido


Notas iniciais do capítulo

Gosto muito desse capítulo... É uma das cenas que mais gosto de imaginar... Espero que vocês também!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/477886/chapter/3

Molly abriu os olhos vagarosamente. Sua cabeça doía e quando tentou se mexer, percebeu que seu corpo também. Algo a estava prendendo no lugar e ela não conseguia se mover. Seus olhos doeram com a claridade que vinha pela janela. Percebeu com um susto que estava na sala, mais precisamente no sofá.

Uma onda de pânico correu pelo seu corpo. Lembrava que tinha bebido muito na noite anterior, que havia dançado até que seus pés doessem. E então lembrou de Sherlock. Lembrava de que não se separaram desde que ele fora até a pista de dança. E quando chegaram em casa, eles ficaram conversando no jardim. Sherlock tinha proposto um acordo maluco que ela, por sua vez, aceitara. Eles tinham entrado depois disso, sentando-se no sofá. Nesse sofá. Seu coração disparou quando olhou para sua cintura e viu que o que a segurava no sofá era o braço de Sherlock. Sentiu o rosto queimar.

MEU. DEUS. Eu não sonhei tudo aquilo. Tudo aconteceu. A conversa, o acordo, JUNTOS. Isso vai ser muito embaraçoso...

Lentamente, da forma mais delicada que conseguiu, retirou o braço dele de cima da sua barriga. Quando se sentiu livre, levantou rápido demais e sua cabeça rodou. Usando todo seu autocontrole para não cair em cima de Sherlock e piorar tudo de vez, conseguiu se manter em pé e correu para cozinha.

Reuniu os ingredientes e fez o chá mais forte que pode. Quando foi servir, a xícara escorregou da sua mão. Mil pedacinhos se espalharam pelo chão. Mas isso não foi o pior. O pior foi o barulho que fez. O resultado desse barulho foi que pode ouvir que alguém se mexia no sofá. E no sofá só estava Sherlock. Ele acordara.

–- -- --

Sherlock acordou assustado com algum barulho que vinha não se sabe de onde. Ele também não sabia onde estava. Demorou alguns segundos para acostumar-se com a claridade. Tentou se espreguiçar e esticar o corpo, que estava todo dolorido. Dormiu em uma posição não muito confortável. Percebeu que sentia um perfume vindo da sua própria roupa. Um perfume que não era o seu.

De repente seu cérebro recebeu uma alta dose de informações da noite anterior. Música. Dança. Ciúme. Molly. Casa. Água. Bilhar. Acordo. Juntos. Sofá...

O que foi que eu fiz?

Sentou-se no sofá e começou a pensar em tudo que tinha acontecido e como agiria a partir dali. Não sentiu-se propenso a cancelar seu acordo. Mesmo agora que não estava sob o efeito do álcool, sabia que queria passar esses dias em companhia de Molly. Ela iria embora depois, ele voltaria para o trabalho. Nada seria afetado em suas vidas, era a oportunidade perfeita de aproximação que ele estava esperando. Mas precisava expor isso a ela, não queria que ela se iludisse com um relacionamento. Sherlock ainda era casado com o trabalho.

Isso fazia de Molly sua amante? Riu com o pensamento.

Não deixaria que ela rompesse o acordo. Acordo era acordo. E ele sabia que ela precisava disso tanto quanto ele. Ainda não sabia o que juntos significaria, mas ficar mais próximo a ela, mesmo que fosse só jogando conversa fora, já deixaria as férias mais animadas para ele. Não deixaria que se envolvessem fisicamente, isso poderia dar trabalho na hora de se separarem. Seria difícil, levando em consideração o efeito que ela estava causando nele ultimamente. Mas não era um homem como outro qualquer e teria que bloquear esses instintos.

Ouviu que ela estava na cozinha. Parecia que o barulho que o acordou tinha vindo de lá. Decidiu que tentaria conversar com ela e expor alguns limites do acordo. Seria um pouco constrangedor, mas era necessário.

–- -- --

Enquanto recolhia os cacos da xícara que estavam pelo chão, Molly ouviu Sherlock se aproximar. Percebeu no mesmo instante que seu rosto ficava vermelho.

– Molly, seria muito gentil da sua parte se quando as pessoas estiverem dormindo, você não derrubasse coisas.

– E seria muito gentil da SUA parte se você me ajudasse a recolher o que quebrou. – Não era porque estava morrendo de vergonha que não rebateria as grosserias de Sherlock. Fazia muito tempo que não se calava diante das frases ácidas que ele dizia a todo instante.

Com um suspiro resignado, ele se abaixou para ajudá-la a recolher o que faltava. Apesar da maquiagem borrada dela e do fato de seus cabelos estarem despenteados, ele ainda a achou linda. Precisava urgentemente parar com esses pensamentos se quisesse ficar próximo a ela sem se envolver.

Era necessário quebrar o clima de embaraço que pairava entre eles, então decidiu que seria o momento perfeito para conversarem, já que estavam ocupados recolhendo caquinhos.

– Espero que você não alegue amnésia alcoólica para desfazer nosso acordo, Molly.

Sentiu que ela congelou por alguns segundos. Pelo menos ela lembra.

– Eu me lembro de ter aceitado e não quebro meus acordos, por mais insensatos que eles sejam.

Molly não imaginava que ele falaria desse assunto tão rápido. Uma parte dela esperava que ele acordasse sem se lembrar do que tinham conversado. Mas a outra parte, uma parte mais forte, diga-se de passagem, esperava justamente por isso. Queria muito ficar próxima a ele. E a ideia partindo dele tornava tudo mais interessante.

– Você considera insensato passarmos o tempo juntos?

Levantaram-se quando ela terminara de pegar o último pedaço de porcelana. Molly o encarou.

– Insensato é você propor um acordo desse tipo quando está bêbado. E eu aceitar estando nas mesmas condições. – Não aguentou segurar a expressão séria, e riu envergonhada.

– É um ótimo argumento, mas está feito. Só quero que algumas coisas fiquem claras entre nós. – Molly percebeu que nesse ponto ele voltara a ser o detetive frio e racional que conhecia. - Voltando para casa, nossa vida segue o mesmo rumo de antes. Eu vou voltar para o meu trabalho e você para o seu, em Nova Iorque.

Sherlock se sentiu estranhamento vazio ao dizer essas palavras. Viu um pequeno vestígio de tristeza nos olhos de Molly e não gostou nem um pouco disso. Começava a achar que tinha feito uma besteira completa com esse acordo.

– Eu não deixaria meu trabalho por você, garotão. Espero que você tenha isso em mente quando vier correndo atrás de mim. – Não permitira que Sherlock pensasse que ela ficaria atrás dele como um cachorrinho. Se era uma semana que ele queria, teriam uma semana. E ela faria o possível para ser um furacão na vida dele e transformá-la um jeito que ele nunca poderia imaginar.

– Muito engraçado, Molly Hooper. – Deu seu sorriso mais falso para ela. – Aproveitando o início do nosso acordo, me sirva um pouco desse chá.

Ela ergueu a sobrancelha para ele.

– Está vendo aquele bule? Espero que você saiba o que seja um. Nele encontra-se o chá. Basta colocar em uma xícara e beber.

Piscando um dos olhos para ele de forma provocante, Molly saiu da cozinha, deixando-o com uma expressão de perplexidade.

–- -- --

Apesar do acordo de ambos, o dia transcorreu sem grandes novidades. Todos ficaram próximos o tempo todo. Só quem estava atento, no caso John e Mary, percebia os olhares trocados entre Sherlock e Molly a cada cinco segundos. Olhavam-se como crianças que compartilhavam um segredo.

– Mary, veja isso. Pelas minhas contas já é o trigésimo olhar trocado por eles. E ainda acompanhado de sorrisinhos eventuais. – John estava boquiaberto. Quando Mary contara da cena que presenciou pela manhã, ele não tinha acreditado. Mas agora, vendo isso, alguma coisa de muito diferente tinha acontecido.

Mary somente sorriu, com a expressão de “eu não falei?” estampada em seu rosto. Estava se divertindo observando os dois amigos agirem de forma tão engraçada.

O que será que está por vir?

–- -- --

Molly sentia seu coração saltar a cada vez que encontrava o olhar de Sherlock. E mais ainda quando ele sorria, com os cantos dos lábios, para ela. Esperava que uma aproximação maior partisse dele, mas percebeu que ele não o faria. Ou a estava testando ou não sabia como se aproximar. Ela queria acreditar na segunda opção e com isso teve uma ideia.

Após o jantar, todos se reuniram no jardim, em volta da piscina. Molly decidiu que era hora de colocar seu plano em prática e contava com a ajuda de Mary. Mesmo as duas não tendo conversado, Molly percebeu que Mary tinha sacado o que estava acontecendo.

– Bom, pessoal, como a noite está linda e eu comi além do que devia no jantar, vou aproveitar para fazer uma caminhada pela praia. Alguém se dispõe a me acompanhar? – Rezou para que isso funcionasse.

– Eu vou com vo...

– Eu lhe acompa...

Molly prendeu a respiração. Sherlock e Lestrade tinham respondido juntos. E uma expressão assassina tomou conta de Sherlock. Como sairia dessa agora? Olhou apreensiva para Mary e viu quando a amiga deu uma cotovelada em John.

– Ahn... Lestrade! Deixe que Sherlock acompanhe Molly, eu preciso de um parceiro para o bilhar.

– Sherlock poderia...

– Não, Sherlock não poderia. – John sorriu e Lestrade ficou confuso. Agradeceram aos céus pela lentidão de Lestrade em ver coisas que estavam abaixo de seu nariz. Mary e Sra. Hudson sorriam para Molly. A mais velha fez-lhe um sinal de positivo quando achou que ninguém olhava.

Preciso lembrar-me de agradecer por ter amigos psicopatas.

Sherlock fez sinal para que Molly fosse a sua frente e a seguiu. Finalmente estariam a sós.

–- -- --

Caminharam em silêncio pela praia. Molly só tinha planejado até ali e agora não sabia o que fazer. De repente teve uma ideia um tanto absurda. Riu consigo mesmo, não tinha nada a perder e estava decidida a aproveitar todos os momentos.

– Eu duvido que você me pega.

– O que?

– Se eu correr, eu duvido que você me pega.

– Eu porque eu deveria pegar você? – A expressão de incredulidade de Sherlock a divertiu.

– Porque eu DU-VI-DO!

Dando um ligeiro empurrão nele, saiu correndo pela areia. Sherlock nem se moveu.

– Vamos lá, Sherlock! Você prometeu!

– Prometi o que? Que correria atrás de você que nem uma criança?

– Você prometeu que faria coisas normais. Vamos lá, Sherlock!

– E isso é normal?

Ela sabia que se ele desse duas passadas a alcançaria com facilidade. Além de muito mais alto, estava em bem melhor forma física que ela. Mas a sensação de provocá-lo e as expressões de horror que apareciam em seu rosto valiam a pena.

Viu quando ele suspirou resignado. Teve um segundo para se virar e continuar a correr antes que ele partisse em seu encalço. Como previsto, não demorou muito para que ele a alcançasse e quando ele a agarrou pela cintura, suas pernas se chocaram os desequilibrando, fazendo com que os dois caíssem sobre a areia.

Molly sentiu seu braço arder e sabia que tinha ralado, mas quando olhou para Sherlock e o viu cheio de areia, qualquer sensação de dor sumiu de sua mente e ela teve um ataque de riso. Nunca na vida imaginara ver uma cena daquela. Para sua surpresa, após alguns momentos com uma expressão de puro espanto no rosto, Sherlock também desatou a rir.

– Eu disse que seria divertido!

– Você está me drogando para que eu aceite fazer esse tipo de coisa? – Sua expressão era de felicidade, seus olhos brilhavam.

– Talvez. – E riu perversamente para ele.

Ficaram deitados na areia, próximos. Sherlock citava o nome de várias substâncias que ela poderia estar inserindo em sua comida, ela por sua vez observava as estrelas, sorrindo, e dando as razões do porque cada substância não funcionaria.

– Duvido de mais uma coisa.

– De novo, não. – Murmurou ele.

– Duvido que você entre no mar.

– A água está congelante, Molly Hooper.

– Jura? Duvido mesmo assim.

– Estou vestido.

– Pode tirar as roupas. – Molly olhou para ele maliciosamente. – Prometo não olhar.

– Você primeiro, então.

– O que? Tirar a roupa?

Ele riu da expressão chocada dela.

– Não, entrar no mar, é claro.

– Juntos, então.

– Com roupa ou sem roupa?

– Sem gracinhas, Sherlock Holmes. Com roupas.

– Que pena. – Ele suspirou e ela gargalhou novamente.

Aproximaram-se do mar e quando molharam os pés pensaram em desistir, mas nenhum ia dar o braço a torcer agora. Continuaram caminhando. Molly não percebeu quando Sherlock ficou alguns passos atrás dela. A água estava nos seus joelhos quando ele pulou sobre ela e a derrubou na água.

– Filho da mãe! – Molly levantava-se totalmente molhada, tinha engolido água e estava congelando. – Jogo sujo, Sherlock! Isso vai ter volta! Pare de rir!

Sherlock, tão molhado quanto ela, ria tanto que a barriga começava a doer. Nunca tinha se divertido tanto. Mesmo o frio que sentia não era suficiente para fazê-lo parar de rir. Molly estava com raiva dele, muita raiva. Viu quando ela começou a avançar na direção, brava, linda, totalmente molhada. Tantas coisas que queria fazer com ela agora...

– Você não queria entrar na água?

Como ele consegue ser tão perfeito todo molhado e cheio de areia?

– Não com um imbecil pulando sobre mim. – Não conseguiu ficar séria e retribuiu o sorriso dele. – Olhe para nós agora. Precisamos voltar, não quero passar o resto das férias doente. Ele assentiu, pensando que poderia passar a noite olhando para ela naquele momento.

Voltaram caminhando vagarosamente para casa. Molly tremia com frio e isso a fez se aproximar de Sherlock sem perceber. Em determinado momento, suas mãos se chocaram. Ela desencostou a mão rapidamente, mas para a sua surpresa Sherlock a segurou.

Percorreram o caminho de mãos dadas, sem nenhuma palavra.

Você está ultrapassando limites, Sherlock. A parte racional de sua mente cismava em aparecer em momentos inoportunos. Dessa vez, ele decidiu ignorá-la. Eu simplesmente não me importo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam de me deixar um comentário dizendo o que acharam! :D