Esquecer você escrita por Mariii


Capítulo 15
Parte II - Raios


Notas iniciais do capítulo

Mais um!
Proooonto, agora definitivamente os dois vão se ver! hahahahahaha



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Sherlock ouviu passos vacilantes se aproximando do lugar onde ele estava sentado. Havia chegado mais cedo do que previra e encontrou problemas com um porteiro mal educado que não deixou com que ele chegasse próximo à casa de Molly. Um portão fechava a rua e Sherlock achou isso um absurdo. Também não contava com o calor desumano que fazia naquele lugar. Por que raios Mycroft mandou Molly morar no meio do inferno?

Ergueu os olhos quando os passos pareceram próximos. Encontrou aqueles olhos castanhos de que tanto sentiu falta. Por algum momento se esqueceu do objetivo que o levara até ali. Os olhos dela estavam brilhantes por lágrimas não derramadas. Sherlock, por sua vez, a olhava com devoção. Parecia que nem um dia havia se passado desde que se separaram. Tudo o que ele sentia invadiu seu corpo como uma avalanche.

Molly sentia todo seu corpo tremer. Lágrimas que ela tanto evitou no último ano apareceram incontroláveis nos seus olhos. Viu Sherlock se levantando e seu coração acelerava progressivamente a cada movimento dele. Sentiu medo. Medo de que ele a rejeitasse, de que não permitisse que ela explicasse ou que estivesse ali só para jogar na cara dela como estava bem.

– Eu tentei entrar, mas seu porteiro não permitiu. – Molly não conseguia dizer nada. O constrangimento de ter fingido sua morte se abateu sobre ela. – Devo observar que a morte lhe caiu bem.

Sentiu suas bochechas ruborizarem quando Sherlock tentou esconder um sorriso.

– Que tal entrarmos, Molly? Pela cor de sua pele você está habituada a esse inferno. Eu confesso que estou derretendo e não gostaria de discutir sua morte na rua.

Ela olhou para Sherlock, que aguardava uma reação de sua parte, e assentiu. Sentia-se totalmente petrificada. Começou a se mover lentamente para a portaria, esforçando-se para cumprimentar o porteiro ao entrar.

Na sala de sua casa, percebeu quando Sherlock pousou os olhos na sua pequena estátua do Big Ben. Molly passou por ele, indo para pegar água na cozinha anexa. Lembranças a invadiram quando tocou a garrafa. Até água a fazia se lembrar dos momentos com Sherlock.

Levou uma garrafa e dois copos de volta para a sala. Precisava beber algo, sentia sua boca extremamente seca. Sherlock olhou com ironia para a garrafa.

– Nós vamos discutir uma morte bebendo água? Eu preciso de algo mais forte, Molly.

– Não tenho. Parei de beber tempos atrás. – As palavras saíram com dificuldade. Mas o pânico que sentira começava a diminuir. O que estava restando era a ansiedade de saber o que Sherlock queria.

– Quando?

Por um momento, ela não entendeu a pergunta e pareceu confusa.

– Quando parei de beber? Cerca de três anos atrás.

Sherlock a encarou, provavelmente fazendo as contas. Deduziria facilmente que ela tinha parado de beber desde que eles ficaram juntos. Ela não tomaria mais nenhuma decisão sem estar sóbria.

Um silêncio pesado pairou sobre a sala enquanto eles se olhavam. Os dois queriam acabar com aquilo de uma vez. Molly pedia em pensamentos para que Sherlock a tivesse perdoado. Admirava com curiosidade a pequena cicatriz que tinha ficado em seu rosto. Sentiu uma incontrolável vontade de tocá-la. E ele mal podia acreditar estar próximo dela novamente. O perfume dela ainda era o mesmo que se lembrava. Suas mãos se contraíram involuntariamente com a vontade de senti-la. Mas não podia ser assim. Eles precisavam conversar.

– Molly, eu vim até aqui para que você me conte o que aconteceu.

– Achei que Mycroft tivesse contado. – Ela sorriu irônica.

– Em partes. Mas não me importa o que aquele idiota diz, eu quero saber de você. – Isso a pegou de surpresa. Parecia que ele estava irritado somente com Mycroft, e não com ela.

Ela decidiu que seria sincera, como tinha planejado ser durante todas as noites em que pensava em Sherlock. E quando pensava como seria no dia que tudo isso acabasse.

Agora tinha acabado.

Então começou a contar. Tudo. Desde o começo. Desde o momento que se mudou para Nova Iorque e ele nunca a procurou. Falou em como se sentiu sozinha e como sentia falta dele ao mesmo tempo em que tinha mágoas. Contou sobre a abordagem de Mycroft, e como ele fora insuportável. Como a deixou sem saída para escolher entre piorar uma crise mundial para tentar ficar com o homem que a tinha abandonado e ajudar a resolver o problema, salvando vidas.

Lágrimas começaram a rolar livremente pelo rosto dela. Molly não tentou impedir nem enxugá-las. Era reconfortante saber que pela primeira vez em três anos estava chorando pelos motivos certos. A chuva tinha começado lá fora, como se acompanhasse o choro de Molly.

Contou sobre sua vida no Brasil e como a adaptação tinha sido difícil no começo. Em como dormia abraçada com a estátua do Big Ben. Sorriu ao se lembrar de Robert e Fran, que tanto a ajudaram. E pareceu ver um pequeno sorriso no rosto de Sherlock quando contou que enganara Mycroft e descobrira seu vigia. Mencionou como sentia falta de Londres e como quase enlouqueceu com as notícias que chegavam.

Começou a contar sobre seu plano e como subornou o rapaz que a seguia. Quando mencionou sua ida a Doncaster, viu a expressão de Sherlock mudar para surpresa. Conforme ela contava que estava no hospital para onde ele foi levado quando sofreu o atentado e em como ela tentou socorrê-lo, a surpresa se transformou em dor e raiva. Agora ele parecia transtornado.

Sherlock não conseguia mais ouvir aquilo. Nunca perdoaria Mycroft pelo o que ele fizera. Ouviu vagamente Molly terminando a história dizendo que ficou com ele por alguns minutos no quarto e depois voltou para o Brasil, mas se mudou da casa que Mycroft tinha arrumado para ela e veio morar nessa, na praia.

Como tinha sido tão enganado? Como seu irmão podia ter feito isso com suas vidas? Não passaram de peças em um intricado quebra-cabeça. O sangue fervia em suas veias. Sentia vontade de quebrar qualquer coisa. De repente aquela casa, ainda que enorme, pareceu sufocá-lo.

Ele levantou-se e saiu pela porta afora. Precisava pensar. Precisava descarregar sua raiva. Precisava sair antes que quebrasse toda aquela sala.

Deixou para trás uma Molly assustada e pensativa. Será que a sinceridade tinha causado ainda mais dor?

–- -- --

A chuva não o incomodava. Pelo contrário, o frio das gotas contra sua pele o ajudavam a se acalmar. Não se conformava com o que Mycroft tinha feito. Principalmente agora, sabendo dessa última parte. Como ele podia ter sido tão cruel com Molly? Ela estava lá, em Doncaster, no meio dos atentados ajudando a salvar vidas, e de novo a única coisa que conheceu foi o sofrimento.

Sherlock chegou à praia e tirou os sapatos. Há três anos não pisava na areia. Esse tempo poderia ter sido muito menor se tudo isso não tivesse acontecido. Sentia lágrimas se misturando às gotas da chuva. Estava desesperado com todas as emoções que tomavam conta dele. Sentia-se perdido, traído, injustiçado e idiota. Como pode ter sido enganado dessa forma? Como não percebeu?

Sentia-se totalmente descontrolado. Com a fúria que corria por todos seus músculos, começou a chutar a areia enquanto gritos de pura dor escapavam de sua garganta. Não conseguia contê-los.

Nunca tinha se sentido assim. Muito menos sentindo sua sanidade esvair como agora. Nunca tinha ficado fora de controle. A dor era pior que qualquer coisa física que ele já tinha sentido.

Após descontar todo o ódio que sentia por Mycroft, sentiu-se exausto. Sentou-se na areia, deixando com que a chuva lavasse todas as lágrimas. Desejando que levasse também toda a dor. Ainda não acreditava em tudo que tinha acontecido. Precisava começar a consertar todas as coisas que seu irmão tinha destruído.

Pensava em Molly e em quantas cicatrizes tudo que ela passou deixou em sua alma, quando ela sentou-se ao seu lado. Igualmente molhada e também sem se importar com a chuva.

Ficaram olhando juntos para o horizonte, para um céu que estava cinzento como eles.

– Nunca imaginei que você acharia minha casa tão desconfortável a ponto de preferir sentar-se na chuva. – Sherlock virou-se pra ela. E então, ali estava ela novamente. Sorrindo. Como se o tempo não tivesse passado. Ainda olhando a frente, mas agora com um sorriso dançando em seus lábios. Parecia que ela tinha seus próprios meios de corrigir tudo que tinha acontecido. A chuva tinha enfraquecido, mas ainda caia sobre eles. Ele lembrou-se de como a achava encantadora molhada. Com seus cabelos desalinhados, as roupas coladas em seu corpo, a pele brilhando com cada gota que caía. Ela parecia recomposta, apesar de tudo. Molly sempre o surpreendia.

– Por que escolheu a praia, Molly?

Ela virou-se para encará-lo. Ainda sorrindo. E diferente de todas aquelas fotos, agora seu sorriso alcançava seus olhos. Gostaria de eternizar aquela imagem. Molly ergueu uma sobrancelha para ele antes de responder, como se ele tivesse feito uma pergunta tola.

– Me traz boas lembranças. – Voltou os olhos para o mar, ainda sorrindo docemente. Parecia divertir-se.

Sherlock assentiu. Sim, percebia agora que ela tinha razão. Lembranças.

– Eu vi você. Em Doncaster. Achei que fosse uma alucinação.

– Não. Não era.

Um silêncio repleto de memórias e tristeza se formou.

Para o desapontamento dele, ela levantou-se. Molly não queria mais se sentir triste por coisas que passaram. Sherlock estava ali agora, isso bastava para ela.

– Nós realmente devíamos voltar. Não sei se você sabe, mas raios costumam cair na praia quando chove dessa forma. Nós poderíamos morrer. – Estendeu uma mão para ele para ajudá-lo a levantar enquanto dizia isso.

Ele não a rejeitou e segurando sua mão, erguendo-se também.

– Seria a segunda vez. – Uma rápida gargalhada escapou dela quando entendeu o que ele queria dizer. Ele a admirou por alguns segundos antes de começar a rir também.

– Não teria volta se morrêssemos pelo raio.

– Sim, acho que você está certa. – Sherlock a admirou por alguns segundos antes de puxá-la para seus braços. Precisava senti-la contra seu corpo. Ainda não acreditava que a tinha de volta. Que tudo o que desejou durante esses dois anos tinha se tornado realidade.

Molly agarrava-se a ele. Nunca mais o deixaria escapar. Nem que fosse a última coisa que ela faria.

Com muito custo eles desfizeram o abraço e seguiram de mãos dadas de volta para casa. Ainda tinham muitos pontos a acertar.


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Notas finais do capítulo

O que acham?

Dividi o último capítulo em dois. Então teremos mais dois capítulos e um epílogo! o/