Eu achava que eu pudesse me proteger de qualquer coisa. Eu era tão diferentes dos outros lobos... tão inteligente, gentil, compreensiva, esperta... e eu podia ver que, naquele momento, os homens fardados sabiam de alguma coisa que eu e Thunder não fazíamos nem ideia.

“Eles sabem o que está acontecendo. E estão com medo disso, seja lá o que for”, pensei.

— Thunder? — perguntei, olhando-o bem nos olhos, tentando arrancar dele qualquer mensagem possível, qualquer sinal sobre o que eu deveria fazer agora.

Enquanto olhava para Thunder, tive um flash, uma série de lembranças começou a aparecer na minha cabeça.Papai dizendo coisas do tipo “Você é especial, querida. Especial mesmo. Às vezes, os outros lobos têm medo de quem é diferente. E o medo faz com que eles fiquem bravos e irracionais”. Mas todos os pais acham que seus filhos são especiais, né?

De repente, mais três vultos saíram do meio das sombras. Dois deles tinham armas presas ao cinto. A situação já estava fora de controle, de verdade. Armas? Soldados?

— Essa é a loba? — Quando andaram em direção à luz, vi dois homens, o alto que estava perguntando sobre mim, um que segurava uma corrente e...Byron?

Byron era um lobo da minha alcateia, um ano mais velho que eu. Até onde eu sabia, ele fora exilado da minha alcateia ao tentar roubar o posto de Alpha de papai.

— O que você está fazendo aqui, Byron? — Thunder rosnou. – Saia daqui.

Percebi que Thunder já o conhecia.

— Quero ver você me fazer sair daqui — Byron disse a Thunder e então abriu um sorriso mostrando as presas, agora feitas de prata. Na hora, eu me lembrei de todas as vezes que o tinha visto na alcateia e pensado: “Mas que imbecil!”.

Ele tinha pelos castanhos e olhos cor de avelã, frios como os de uma iguana.E ali estava aquele moleque insuportável, escoltado por dois soldados de uniformes escuros e brilhantes, que chegavam acima dos joelhos, e capacetes de metal.

— O que você está fazendo aqui? — fiz a mesma pergunta do Thunder.

—Luna— Byron disse sem mudar o tom de voz —De agora em diante, você precisará lutar para sobreviver.

Um dos homens andou em minha direção. Instintivamente, mostrei as minhas presas a ele, como uma ameaça silenciosa. Para a minha surpresa, os soldados pararam na hora e eu me senti forte, mesmo que só por um momento.

Estreitei os olhos. Olhar de novo para aquele puxa-saco do Byron, que usava uma coleira brilhante, me deu mais

— Vocês não podem simplesmente aparecer aqui e nos pegar...

— Luna Angeli! — Byron me interrompeu, sem educação alguma, veio em minha direção e sorriu – Eu posso fazer oque eu quiser.

Ele deu um sorrisinho sarcástico para Thunder, que, creio eu, poderia cortar boa parte do pescoço dele usando apenas suas mandibulas.

Acho que não é difícil ficar se achando quando se tem dois soldados armados à disposição.

— Luna tem razão. É loucura demais! — Thunder respondeu, exaltado.Os músculos de seu rosto se contraíam , seus olhos castanhos brilhavam de raiva. — Essa coisa de rinha não existe! Lendas são um monte de besteira. Quem você pensa que é, seu cara de doninha? Um personagem de Punhos de Aço?

Byron olhou calmamente para Thunder.— Calado! Thunder levantou bruscamente e avançou na direção de Byron, que foi puxado para trás.

Byron ficou atrás dos soldados enormes, com um sorrisinho malicioso.

— Levem os dois para o furgão – Um dos soldados ordenou.

Lati e tentei me soltar, mas era como tentar sair de uma gaiola feita de aço. Braços duros como pedra me puxavam em direção à porta. Consegui virar o pescoço e olhar para Thunder, que me olhava e dizia “vai ficar tudo bem”. Mas eu via as lágrimas em seus olhos.

Quando cheguei á porta, me senti envolvida por uma brisa, como se um vento forte e quente estivesse soprando contra mim. Imediatamente, o sangue subiu para a minha cabeça e o suor pareceu pular da minha pele e fritar até virar vapor. Ouvi um zumbido ao meu redor e então... Uma bocada no braço esquerdo do soldado. Uma cicatriz que ele carregaria para o restante da vida dele.