As vezes você acorda e está um lugar totalmente diferente.

O barulho de um helicóptero voando foi o que me fez abrir os olhos. Uma luz fria, esbranquiçada, invadiu as persianas e inundou a sala. Como se fosse dia.Mas eu sabia que não era.

Olhei em volta e me dei conta:

Eu não estava mais em Alaska. Com certeza não.

Ouvi uma batida forte de coração.

Latejando. Fazendo pressão.

O que está acontecendo?

Fui cambaleando até a beirada da jaula, forçando meu corpo a voltar para a vida depois de ter desmaiado de sono, e olhei por entre as barras de ferro.

Dei um passo para trás, fechei os olhos, abaixei e balancei minha cabeça. Não tinha como eu ter visto o que vi. Aquilo eram mesmo centenas de cachorros de todas as raças de grande porte, todos machucados e com marcas de cicatrizes?

Minha caverna não ficava perto o bastante da cidade para estar na rota de paradas de dias comemorativos, e muito menos era costumeiro ter cachorros todos machucados trancafiados em jaulas.

Balancei a cabeça e dei uns pulinhos, como se estivesse fazendo meu aquecimento. “Acorda, Luna!” Bati minha cara nas grades só para garantir. E então olhei de novo. Lá estavam eles. Cães trancados e machucados. Centenas deles. De todas as cores possíveis.

Apenas um pensamento insistia em se repetir na minha cabeça:

“Isso não pode estar acontecendo”.

Então, me lembrei dos humanos caçando nas regiões perto da caverna, de mim avisando a todos os outros lobos da alcateia para ficarem longe desses humanos.

Eu não tinha entendido nada daquilo até aquele exato momento.

Antes que eu pudesse juntar as peças do quebra-cabeça,um homem parou em frente a minha jaula. Recuei alguns passos até sentir a jaula atrás de mim. Já dava para saber que ele não estava ali para me proteger. E eu precisava dar um jeito naquilo.

Mas bem quando comecei a rosnar, um ferro atingiu minha cabeça, me deixando atordoada.