Você rasgou os meus poemas, e eu desenhei no seu rosto.

Não foi nada bonito, Charles. Te ver vazio daquela forma. Você não era o meu Charles, ou o Charles Hael que cuida da namorada doente. Você era completamente um estranho. Você era vazio. Você não era nada. Nem sorria. Nem chorava. Um pequeno brinquedo. Sem expressão.

Você me assustou, Charles. Você não era mais o menino que virava homem do dia para a noite. Não era o cara que me trazia flores de madrugada porque eram bonitas demais para esperar até o amanhã. O agora era especial para você, Charles. E aquele “agora” foi o pior de toda a minha vida. Você já havia queimado várias vezes os meus rabiscos. Mas sempre tinha motivos. Ou eu bebi, ou tentei adiantar o destino humano, pixei as paredes de casa e consequentemente as suas pixações. Sempre tinha um motivo, Charles. Porque eu era quebrada, e problemática, e estava morrendo. Mas dessa vez não houve nada. Nenhuma palavra. Nenhum motivo. Você só queimou todos eles. E eu desenhei meus dedos no seu rosto porque não tinha coragem de faze-lo da forma correta. Eu estava sóbria. Viva. Pintava, desenhava, e não pixava suas pixações. Mas você queimou o meu amor, Charles. Aqueles eram só para você. Sobre nós. Sobre as vezes que existimos. E você apagou tudo aquilo. Apagou a nossa existência.

Dominika Barllet