O Meu Muro Caiu, literalmente escrita por Carol Araujo


Capítulo 24
Capítulo 24 - O casamento


Notas iniciais do capítulo

bom, desculpe a demora. Os meus últimos capítulos sempre são os mais demorados, eu não sei por que. Bom, aproveitem até a ultima palavra.



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    O vento estava batendo no meu rosto com uma fúria tão grande, que quase desmanchava o coque do meu cabelo, que já tinha alguns cachos que conseguiram escapar.  Bufei e olhei ao redor, a igreja era um pouco pequena, e parecia menor ainda com todos os enfeites para o casamento: buquês, flores e fitas. Parecia o casamento dos sonhos, para uma garota que gostasse de casamento, o que não é, exatamente, o meu caso.

- Por que você está tão quieta? – A voz de Mateus me fez acordar de repente dos meus pensamentos.

- Ah, só pensando – Eu olhei para seu rosto sereno, e o que eu devia acrescentar, ele estava incrível com aquele terno preto, bom, ele fica lindo de qualquer jeito – E você?

- Pensando em quanto você está linda – Ele riu, eu rolei os olhos.

- Fala sério

- Nunca falei tão sério na minha vida – Ele falou e agarrou minha cintura, eu arfei agradecida, eu estava com frio, e ele estava muito quente. Por isso eu não consegui acalmar as borboletas no meu estômago. – Sua mãe está demorando.

Eu não falei nada em resposta, eu não a vi hoje realmente, só por uns minutos de manhã, no que ela foi correndo para o salão de beleza, me deixando sozinha em casa. Quem me arrumou foi minha tia que veio me pegar de tarde para me vestir, e num instante o tempo passou, e já era a hora do casamento.

- Posso pegar minha filha emprestada por uns minutos? – Ouvi a voz do meu pai abafada, seus poucos fios brancos nos seus cabelos pretos brilhavam ao luar, apesar de um sorriso cansado estar no seu rosto, ele não chegava aos seus olhos, que estavam tristes.

- Claro Senhor – Mateus falou, ele sussurrou rápido nos meus ouvidos, que ia voltar já e foi embora.

 Meu pai pegou minha mão em silêncio e me levou para um canto mais afastado da igreja e dos inúmeros convidados, embaixo de uma árvore. Eu andava com dificuldade com os sapatos estúpidos de salto, que já devia estar formando bolhas enormes no meu pé, mas meu pai me segurou antes que eu caísse de cara no chão, sapatos idiotas.

- O que foi que aconteceu, pai? – Perguntei a ele quando paramos, tentando entender sua expressão.

- Ah, querida, você está linda hoje – Ele sorriu fraco, afagando minha bochecha.

- Obrigada – Eu falei um pouco lisonjeada.

- Bom, filha, eu sempre soube que você é contra a sua mãe e... Gabriel. Eles vão se casar hoje, você tem que aceitar, que sua mãe está feliz com ele, está realizada. É melhor você aceitar – Ele falou, com seus olhos azuis sem vida, eu fiquei calada, pensando.

- Pai, você aceitou? – Falei em dúvida.

Ele ficou calado, mas depois respondeu:

- É claro que sim, eu amo sua mãe, eu quero que ela seja feliz. Se ela quer ser feliz com ele, tudo bem para mim.

Eu fiquei em dúvida ao quanto isso, mas assenti, concordando.

- Ok pai, tudo bem, eu estou começando a aceitar – Eu falei, não sabendo se era verdade ou uma simples mentira

- Que bom filha – Ele me abraçou por um tempo, até que um som de carro começou a se aproximar. Era minha mãe chegando na limusine alugada.

Voltamos ao nosso canto, na frente da igreja, Mateus se aproximou de mim, mas não falou nada, ficamos esperando, calados, minha mãe sair do carro. Seu vestido reluzia na mais mínima iluminação, se tornando levemente notável. Seu cabelo curto estava solto, com seus cachos loiros expostos, e estava perfeitamente maquiada. Senti um embaraço dentro de mim, ela realmente estava feliz, tanto que seu sorriso se alargou a me ver. Eu assenti quieta, tentando sorrir de volta. Será que eu sempre estava errada? Será que Gabriel é realmente o certo para minha mãe? Não o meu pai? Perguntas surgiram de repente na minha cabeça, mas nada de respostas, aquela ligação seria um engano?  Minha mãe caminhou até mim, mas foi cortada por minha tia, que parecia um pouco aflita com alguma coisa, que falou por uns minutos. Minha mãe assentiu e foi até meu pai.

- Oi, Roberto – Minha mãe falou nervosa

- Oi Ângela – Meu pai falou, também nervoso.

- É o seguinte, o meu pai ficou um pouco gripado, e não pode me acompanhar para ao altar e minha mãe ficou em casa cuidando dele. Resumindo, você poderia me acompanhar para o altar? – Minha mãe me perguntou, envergonhada. Meu pai sorriu.

- Claro que vou. – Meu pai respondeu. Minha mãe sorriu e meu pai também. Num instante, pensei que eles eram ainda um casal feliz, mas minha consciência afirmou que é claro que não era.

- Obrigada - Minha mãe sussurrou, meu celular começou a tocar. Eu atendi meio hesitante.

- Alô? – Falei.

- Oi Alexandra – Falou uma voz familiar, Pedro.

- Pedro? – Falei um pouco em dúvida.

- Alexandra, eu só quero que você seja feliz, por favor. Com quem você quiser. Fique feliz, mesmo que não seja por mim – Ele falou meio cansado.

- O quê? – Falei, mas depois desligaram, ou caiu a ligação. Olhei estranha para o celular, mas minha mãe foi até mim, tirando o rumo dos meus pensamentos.

- Você e Mateus vão na nossa frente – Ela falou para mim, com seus olhos azuis brilhando.

- O quê? – Perguntei confusa, eu iria atravessar o altar, com Mateus no meu lado, com um salto alto, um salto alto estúpido?

- Vocês vão sim, o namorado da minha filha irá atravessar o altar do meu casamento com ela, tudo bem? – Ela falou com nós dois

- Claro, Senhora – Mateus falou por mim.

              Eu tenho que mencionar uma coisa. Eu estou usando salto. E eu não sou muito boa em andar de salto, e meus pés estão me matando viva. COMO CONCORDEI DE COLOCAR ESSA MERDA?  Minha tia idiota, que merda. Bufei, e assenti concordando. Um ser não identificado me deu um buquê pequeno com flores roxas, que eu peguei nervosa, tentando permanecer calma. Quando eu vi, esse mesmo alguém me empurrou com Mateus na direção do altar, eu engoli seco e olhei para Mateus, ele só fez sorrir para mim, com aqueles olhos verdes que me provocou um frio na barriga.

    Eu sorri fraco e andamos ao ritmo da marcha, até o altar, com o padre, e umas cadeiras no lado, no que nós dois iríamos sentar, junto com meus tios. Várias pessoas me encaravam, familiares, amigas e amigos da minha mãe, desconhecidos,e é claro, a Sabrina com a mãe dela sentadas no terceiro banco, apesar de Sabrina não estar olhando para mim, o que era estranho, estava virada.

   Quase tropecei com os meus pés calejando de dor, isso é uma forma de pagar  meus pecados ou o quê? O que me salvou de despencar no tapete foi o aperto firme de Mateus, que ficou rindo abafado pela minha desastrosa tentativa de andar direito num salto alto fino de 5 centímetros.  Fomos até um canto de lado do altar e sentamos, eu respirei, aliviada por ter saído da visão de todos e por meus pés finalmente poderem descansar.

      Senti um impulso de tirar o sapato ali mesmo, mas me segurei. A marcha nupcial começou a tocar e senti todos calaram a boca e prestarem atenção a noiva. Que estava entrando junto com seu ex-marido recém chegado de São Paulo. Andaram devagar, de mãos dadas, sorrindo para todos. Eles pareciam tão perfeitos juntos, o que aconteceu com eles? Quando chegou aos pés do altar, meu pai soltou a mão da minha mãe, que segurou a do inseto. Meu pai se sentou num canto do primeiro banco, e minha mãe e o inseto se ajoelharam diante do padre, e a marcha acabou. Por que isso parecia tão errado? Minha mãe estava feliz, reluzente até.  Assenti e senti a mão de Mateus me confortando meu braço, mal percebi que meus olhos já lacrimejavam um pouco. O padre soltou aquelas palavras de sempre, que não tive o poder de absorver. Fiquei procurando no mar de convidados sentados, algum rastro de alguém tentando atrapalhar esse casamento, era o único fio de esperança que eu tinha até agora.  Mas não consegui identificar ninguém, todos estavam com o rosto sereno, ouvindo as palavras do padre.

- Você achou alguém que... – Eu sussurrei para Mateus.

- Que pudesse ser ela? Não. – Ele sussurrou de volta

- Será que ela não veio?

- Ela deve ter vindo – Ele sussurrou e fiquei calada, tentando de novo achar alguém.

         Minhas esperanças estavam quase acabando quando eu finalmente tive que entregar as alianças aos dois, cada aliança com o nome do outro. Mas, uma mulher alta, de cabelos pretos presos a um coque com óculos escuros, se levantou.

- Com licença – Ela falou, todo mundo ficou calado e olhou para ela, atentos e curiosos – Eu tenho uma objeção a esse casamento.

ALGUÉM DIZ ALELUIA? Pensei internamente, aliviada.

- E quem é você? – O inseto falou, a mulher tirou seus cabelos pretos/peruca e os óculos escuros, o que era estranho de noite.

Ela era uma ruiva com os olhos castanhos. Bonita até certo ponto.

- Eu sou sua mulher, esquecido querido? – Ela falou sombria. Outra se levantou, com cabelos castanhos e olhos também.

- Eu também – Ela sorriu mais confiante. Uma outra morena se levantou.

- Você não se importa das minhas companheiras né, Gabriel? Elas insistiram em vir ao seu casamento – Ela sorriu, só podia ser a Vanessa, do telefone.

Olhei o Gabriel/ Inseto, ele estava vermelho de raiva, ou de vergonha, eu não podia definir. Minha mãe estava calada, pálida demais para meu gosto, quase que fica da cor do vestido, devia estar meio sem respirar.

- Você me traiu, sua... Sua... Vaca – O inseto falou

- Isso aqui é uma igreja, vocês têm que ter um pouco de respeito – O padre falou abafado,alguns poucos riram, mas o inseto não respondeu.

- Bom, não sou a traidora aqui. Mas, sabia que poligamia é crime? Junto com golpe do baú? Deve dar uns bons anos de cadeia. – Vanessa sorriu.

- ISSO NÃO É VERDADE – Gabriel gritou. E depois se ajoelhou aos pés da minha mãe. Muito cara de pau.

- Por favor, Ângela, não acredite nelas. Estão só tentando impedir o nosso casamento – Ele falou ajoelhado, minha mãe começou a ficar vermelha, ficou calada por uns segundos – Nós não se amamos? Esqueceu-se de tudo?

Minha mãe jogou o buquê na cara dele, fiquei radiante por dentro.

- Sai daqui cafajeste, bem que minha filha me avisou. Alguém chama a polícia? – Minha mãe falou um pouco firme.

- Então prenda também ela, ela que armou também tudo, ela é minha companheira! – Gabriel gritou, apontando para a segunda morena. Mas ninguém se mexeu, só ouve uns murmúrios. Ele tentou correr para fora, mas meu pai o pegou antes dele fugir pela porta.

- Está pensando que vai para onde? – Meu pai falou alto. Gabriel tentou lutar nos braços do meu pai, mas não conseguiu.Algumas pessoas se levantaram para ajudar meu pai. Ouvi o som do carro da polícia chegando e de repente, levou o inseto e a ex-fiel companheira dele, com as duas mulheres dele como testemunhas, mas ficou tudo muito cheio, as pessoas rodeavam os policias, eu mesma não vi quase nada.Tudo passou  muito rápido, as pessoas ficavam ao redor ou iam embora, só que o padre resolveu evacuar todo mundo dali. Só permanecendo eu, com Mateus estático do meu lado, meu pai e minha mãe.

   Minha mãe sentou no altar, vermelha, e soltou o choro, se lamentando e se chamando de idiota. Eu fiquei com vontade de ir conversar com ela, mas Mateus ficou me refreou e me levou para fora, mesmo eu tentando correr para minha mãe, ele conseguiu  me tirar dali.

- Por que me tirou dali? Eu queria conversar com ela – Eu choraminguei.

- Para seu pai falar com ela. – Ele falou, eu olhei para trás, estava meu pai, consolando minha mãe, um do lado do outro. Eu assenti.

- Eu não esperava que fosse assim, tipo, que minha mãe iria ficar desse jeito – Eu falei, me sentindo culpada

- Mas foi melhor assim, sua mãe sabe antes mesmo de casar. Acredite nisso – Ele sorriu fraco – Ela vai superar você vai ver. – Disse ele colocando um cacho do meu cabelo para trás da orelha. E o abracei, tentando me consolar.

- Alex! – Sabrina correu até mim, sorrindo, saindo do meio da multidão, conversando com os policiais.

-Oi Sabrina – Sorri fraco e soltei Mateus, que ficou parado do meu lado

- Eu queria falar com você... A sós. – Ela olhou para Mateus, ele beijou minha bochecha, e foi dar uma volta.  Quando ele se afastou um pouco, Sabrina me abraçou.

- O que foi Sabrina? – Eu falei, tentando compreender.

- Ah, eu queria dizer meus pêsames sobre sua mãe, mas... Eu também queria te falar mais uma coisa.

- Fala.

- Sabe... Conheci seu primo. Sabe, o moreno dos olhos castanhos? O Jorge.

- Ah, o que tem ele?

- Eu fiquei do lado dele no banco, e nós conversamos... Eu gostei dele. Dá para acreditar que ele ama ler mangá que nem eu? – Ela sorriu.

- Que bom, Sabrina. Está gostando dele - Eu cantarolei, ela ruborizou.

- O que você diz sobre ele?

- Ah, ele é um gatinho mesmo. E inteligente – Eu sorri.

- Que bom, ele me deu o celular dele, tomara... Que dê certo – Ela me abraçou de novo– Vou embora Alex, minha mãe está no carro.

-Tchau Sá – Eu falei, com o velho apelido dela.

- Tchau Lex – Ela acenou e sumiu da minha visão. Ela tinha superado a morte de Fernando finalmente, e encontrado outro alguém, talvez.

- Ele é um gatinho é? – Mateus falou do meu lado, eu quase pulei de susto

- Você me deu um susto Mateus! – Eu falei, ele ficou calado, dando aquele olhar: “Eu sei o que você fez no verão passado” – O que tem eu achar meu primo um gatinho?

Ele fez uma careta, mas não disse nada.

- Está com ciúme, bobão? – Eu ri

- Vai ser ruim eu estar?

- Claro que não – Eu ri e beijei sua bochecha. – Porém, eu já conheço um galã de novela, para quê eu vou querer um priminho besta?

- E quem é esse galã? – Ele se fez de besta.

- Hm, não posso dizer – Eu ri. Olhei para a igreja, meus pais ainda estavam conversando, minha mãe tinha parado de chorar, até que eles estavam de mãos dadas. Será possível, eles dois novamente juntos?  Era bom acreditar que sim. Senti uma paz por dentro, mas fui interrompida por meus pés calejando.

- Espera aí, Mateus- Falei e empinei meu pé, tirando aquele salto idiota, e depois tirei o outro e joguei para longe. Meus pés agradeciam quando o vento frio passou por eles, livres, descalços no chão.

- Você tem idéia o quanto isso dói? – Eu falei – Isso é uma forma de tormento puro para as mulheres – Bufei.

- Graças a deus não sou mulher

- Eu digo o mesmo, deixa que eu sou a mulher aqui – Eu ri.

- Com TPM, menstruação, gravidez e o pacote todo – Ele falou.

- Não vamos falar nisso agora, ok? – Eu falei irritada.

- E a TPM começa – Riu.

- Deixa de ser besta – Eu falei rindo também. – Agora, como vou para casa?

Ele sorriu e me pegou pelos braços.

- Me diga que você estava pensando nisso desde que tirou os sapatos – Ele falou, me carregando para longe da igreja.

- Não posso dizer, de novo. – Eu sorri e o beijei, selando meus lábios com os dele.

 

FIM

 

(acabou mesmo, pessoal)

 


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Notas finais do capítulo

pois é gente, quase chorei escrevendo fim. Foi muito legal vocês acompanharem essa história até o fim. Espero que não tenham se arrependido de ter lido isso aqui por quase 5 meses? Ah, não sei, só sei que foi muito legal escrever cada capitulos para vocês, tentando fazer o melhor possível, teve momentos que eu quase desisti, mas, os reviews me ajudaram a prosseguir, quer dizer, vocês. 24 capítulos, 2 recomendações, mais de 1000 visualizações, e 94 reviews, assim termino "Meu Muro Caiu, Literalmente". Agradeço a todos que comentaram,adoro vocês, ok?


E mais uma observação, se esse último capitulo ter 10 reviews ou mais. Eu vou fazer um epílogo para vocês, contando o rumo de todos os personagens, então, caprichem!


beijos,

Carol Araújo.