Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 60
Correndo para longe de encrencas... Na direção de outras.


Notas iniciais do capítulo

Só para especificar, cronologicamente se passa depois da quinta temporada e de Lúcifer e Miguel irem pra Jaula. Mas antes dos leviatãs. Sam e Dean estão caçando (Dean já saiu de casa).

Não vou seguir o enredo da entrada dos leviatãs, mas algumas coisas que aparecem nas próximas temporadas podem aparecer aqui, como algum monstro ou coisa do tipo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/477213/chapter/60

— Recapitulando, é tudo verdade — Jene está dizendo quando entramos. — Toda a história...

— É verdade — Sam completa.

Jene e Joe estão parados um do lado do outro, observando os Winchester, um pouco incertos. Dean já parece à vontade, escorado na parede de braços cruzados, com um meio sorriso no rosto. Sam está mais desconfortável. Ele me fita novamente, e franze o cenho, como se estivesse tentando se lembrar de algo. Faço meu melhor para ignorar.

— O que significa que temos problemas — eu afirmo. Eles nos observam. Pestanejo um pouco antes de explicar. — O demônio que metei. Azazel devia ser o único olhos amarelos.

OS dois se entreolham, parecendo preocupados. Não posso culpá-los, considerando sua história com o amarelão.

— Vamos começar do começo. O que o demônio queria?

Solto um suspiro. Isso vai demorar. Resumo o mais rápido possível minhas últimas caçadas estranhas, mesmo para nossos padrões estranhos. Deixo de fora o que sou capaz de fazer. Termino com a história dos zumbis e o que o demônio falou. Por último, conto o mesmo que falei para Megan. O novo Apocalipse.

Ficamos em silêncio depois disso. Começa a cair a ficha da enormidade da situação. Além disso, acho que nunca vi seis Caçadores no mesmo recinto sem ser um bar. Meus pensamentos voltam para a Winchester, trancada no porta-malas do Dodge. Mordo o lábio. Ela complicou as coisas. Chego a desejar que não tivesse encontrado-a. Vinte balas...

Finalmente alguém quebra o silêncio. Dean dá um passo para frente esfregando as mãos.

— Bom, parece que estamos no fim do mundo de novo. Essa conversa sobre massacres me deu fome. Alguém quer torta?

Aceitando a ótima e sensata sugestão do Dean, decidimos sumir da cidade. Sam informa que estamos alguns a quilômetros de Las Vegas, no meio do deserto. Comemoro em silêncio. Eu adoro Vegas, é meu habitat natural.

Enquanto os Winchester vão pro Impala, vou até um GTO laranja estacionado ao lado do Dodge. Abro a porta e sorrio ao ver as chaves na ignição. O demônio não parece ter se preocupado com roubos. Estico a mão e pego as chaves.

— Ei, Joe — atiro as chaves para ele, que as intercepta ainda no ar. Olha para elas, então para o carro, e por último para mim.

— Tem certeza cara? — Ele pergunta incerto. — Sabe, é de outro Caçador e...

— Ele não vai mais ocupar. — Afirmo, indo para o Dodge. Não preciso dizer por que não vai mais ocupar. Morto, na cidade subterrânea.

Jene vai com Joe, como sabia que faria. Seguimos os Winchester para fora da cidade. Fico desconfortável ao me lembrar que três carros como os nossos vão chamar atenção juntos, mesmo em Vegas. Isso vai ser um problema.

Ligo o som e deixo Highway to Hell tocando. Meu álbum favorito do AC/DC. Preciso de algo familiar. Depois de alguns quilômetros começo a relaxar e um meio sorriso surge em meus lábios. Megan percebe.

— Parece confiante. — Comenta.

— E por que não estaria? — Pergunto. — As coisas estão se normalizando. Estou no meu carro, ouvindo minhas músicas, com minha linda namorada no banco do carona, indo para Vegas. Acabamos de dar uma surra em um demônio e matamos centenas de zumbis. Uma vitória.

— E John morreu. — Megan me lembra. Faço uma careta. Ela me conhece bem demais. Sabe como reajo a esse tipo de coisa, e como falar comigo.

— Estou tentando ver pelo lado positivo. Tentando ignorar as baixas sérias e a possível destruição da civilização mundial atual. — Reviro os olhos. — John foi como um pai para mim, por muito tempo. Mas... Ele morreu como queria. Como viveu. Protegendo aqueles que precisam, enfiando o pé na bunda de alguns desgraçados sobrenaturais, lutando. — Olho para Megan. — Ele pode ter parado de caçar por causa de Jene, mas foi um Caçador, um dos melhores. E teve a morte de um Caçador. — Olho novamente para estrada. — Sinceramente, depressão e choro não combinam comigo. E posso imaginar o que John me diria se me visse deprimido. Algo do tipo: Levante a cabeça, idiota. Pare de chorar como um bebê e vá matar alguns desgraçados por mim.

Megan morde o lábio, mas não consegue se conter e solta uma risada. Um som bom de ouvir.

Rio junto, a sensação é agradável. Continuamos rindo, até que se torna algo histérico, incontrolável. Tudo que passamos é surreal. A caçada, a previsão de apocalipse, as mortes... Estamos esgotados, mortos de cansaço. Nossos nervos estão em frangalhos. É compreensível que estejamos rindo como malucos chapados. E a enormidade da situação, o karma desgraçado, o maldito azar de estar metido nisso... Sinceramente eu pisei nos calos de alguém sem saber. Minha vida é uma piada. Se existem mesmo as Parcas que tecem o fio da nossa vida, com o nosso destino, elas devem estar tecendo o meu em arame farpado.

Dean reduz a velocidade e fica parelho conosco, do lado esquerdo. Ele grita para nós:

— O quanto isso aí corre?

Abro um sorriso malicioso.

— Mais que essa lata velha! — Grito de volta.

Ouço a risada de Dean.

— Cinquenta dólares para o primeiro que chegar em Vegas! — Ele grita.

— Duzentos! — Grito de volta.

— Feito! — É tudo que ouço antes de ele pisar fundo. Megan me olha com um sorriso confiante e divertido.

— Mostre a ele.

Piso fundo. Na marra, não sei qual ganharia, um Impala ou um Dodge. Mas esse Dodge não é original de fábrica, se é que me entendem. Dei uma... Turbinada. Dean vai se arrepender.

Vejo pelo retrovisor Joe aumentar a velocidade também. O GTO tem potência o bastante para nos acompanhar, só não sei se ganha. Megan pega o celular e liga para ele. Explica a aposta, e ele aceita. Solto uma gargalhada, um pouco maníaca, talvez. Quatrocentas pratas na mão.

Acelero, emparelhando com Dean. Observo sua careta quando me vê, e ele pisa fundo. Faço o mesmo, observando o velocímetro passar dos cento e vinte por hora.

O deserto passa num borrão por nós. A passagem dos três carros levanta nuvens de poeira. Saímos da estrada secundária e entramos na rodovia. Placas e out doors passam voando, sem dar tempo de lermos. Cento e trinta e cinco.

Megan começa a rir. O vento entra pelas janelas, jogando seu cabelo para trás. Ela se segura no pega-mão do teto e solta um grito. Acelero ainda mais.

Cento e oitenta.

Devemos estar a apenas alguns quilômetros de Vegas, com as cercanias da cidade visíveis. Pare evitar multas e outras complicações, a corrida vai só até o começo da cidade. Então é melhor parar de brincar e dirigir sério.

Duzentos e dez.

Me aproximo do Impala e encosto ao lado de Dean. Ele olha alucinado para o próprio painel e para mim. Joe está atrás de nós, na nossa cola, mas parece ter exigido tudo que o GTO aguenta.

O ponteiro do velocímetro continua se movendo, para números cada vez maiores, se aproximando da velocidade máxima. O motor é um leão rugindo furiosamente abaixo do capô. Tomamos a frente e deixamos o Impala para trás.

Las Vegas se estende à nossa frente. O trânsito agora é demais para essa velocidade, então piso no freio.

Péssima ideia.

Dizer que quase capotamos é pouco. O Dodge praticamente saiu pulando pelo asfalto. Megan continua gritando, mas agora não sei se é entusiasmo ou pavor. Estou duro no banco, segurando o volante fazendo o possível para não piorar a situação.

O Dogde começa a girar e sai da estrada. Levantamos areia e poeira enquanto giramos, até parar com um tranco, a trezentos metros da rodovia. Las Vegas brilha como sempre a nossa direita.

Meio que saio meio que me jogo para fora do Dodge. Megan faz o mesmo. Ficamos por alguns segundos deitados na areia quente, respirando fundo, então nos levantamos, gritando como loucos. Não podemos evitar. A adrenalina ainda corre forte pelo corpo.

Alguns segundos depois Deans encosta o Impala ao lado do Dodge, seguido por Joe. Jene pula do GTO e vem correndo na nossa direção. Joe faz o mesmo.

— Vocês são malucos! — Ela exclama, me dando um soco. — Quer morrer?

Apenas dou os ombros, ainda sorrindo e respirando fundo. Jene tenta, mas não consegue ficar brava por muito tempo. Abre um meio sorriso.

— Ok, apenas não faça mais isso, certo? Quase me matou de susto.

— Tenho que admitir, você tem estilo. — Ouço Dean comentar. Ergo o olhar e vejo ele e Sam parados alguns passos atrás de Jene. Então Dean faz uma careta. — E aparentemente tem duzentos dólares também.

Meu sorriso se alarga. Sam apenas balança a cabeça, rindo, e volta para o Impala. Dean pega a carteira resmungando e me paga. Olho sugestivamente para Joe. Ele também resmunga mas me paga. Enfio o dinheiro no bolso. Vai ser útil.

— Agora — ouço Sam pedir do Imapala. — Se vocês não se importam, podemos ir para Vegas? Antes que alguém chame o FBI?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Caçador" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.