Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 54
Lobinho Mal


Notas iniciais do capítulo

Quem tem medo do lobo mal, lobo mal, lobo mal... Sério, eu tava torcendo para a vovozinha e a chapeuzinho se ferrarem. E a anta do lobo, em vez de atacar a vermelhinha de primeira, no primeiro encontro, ah, mas nãããooo... Ele vai correndo até a casa da vovó, mata (ou não) a vovó, para então ficar esperando. E ainda fica meia hora conversando antes de atacar. Humpf!

PS: Isso não tem nada a ver com a história, só me lembrei por causa do titulo do capítulo e porque eu fico REALMENTE indignado com essa história. Ainda mais pela velha ter sobrevivido a ser comida (literalmente).

#momentodesabafo



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Sério, está se tornando clichê essa história de eu acordar de repente. Vamos pular essa parte?

Megan desceu rapidinho do andar de cima. Na verdade, devo agradecer o trabalho de açougueiro em mim para ela. Do estrupício que eu trouxe junto, bom, sobrou o John para ele. Se bem que, já que está desmaiado, poderia ser o próprio Jack o Estripador que ele nem notaria.

Pego uma garrafa d’água e fico tomando alguns goles, já que passei o dia inteiro ontem sem tomar nada, enquanto Jene, Megan, Joe e John se sentam em um circulo ao meu redor.

— Pode começar. — Jene fala.

Reviro os olhos antes de começar.

— Bom, resumindo, eu dei uma andada pela cidade. Dei uma circulada, tentando saber em que pé estão as coisas. Matei um demônio, dois metamorfos, e dissipei cinco fantasmas. O cara trouxe bastante caça para cá. — Tomo um gole da água. — Além disso, encontrei Caçadores. Pelo que entendi, somos os únicos que estamos na defensiva. Os outros estão atacando. Então passei o dia todo cirando rastros e botando os Caçadores uns contra os outros. Tive de matar três, que eram realmente bons. Mas agora é fica na nossa. — Tomo o resto da água num só gole.

— Não gosto disso. — John murmura. — Matar Caçadores... Vai contra os meus princípios.

Dou os ombros.

— Também não sou fã da ideia, mas é nós ou eles.

Ninguém mais discute. E passamos o resto do dia ouvindo tiros. Alguns bem de longe, outros mais perto. Nesses, nós ficamos atentos, mas ninguém chega muito perto.

Depois de algumas horas, eu decido fazer alguma coisa. Os tiros estão se tornando mais raros, o que quer dizer que os Caçadores estão terminando de se matarem. Uma rápida olhada para os nossos mantimentos é o bastante. Ou eu faço algo, ou vamos acabar passando fome. Ficar parado não dá.

— Ei, pessoal. Preciso contar algo.

Os quatro se aproximam curiosos. Estou parado perto da porta, e não tiro o olhar da rua quando começo a falar.

— Bom, eu investiguei um pouco mais do que quem está aqui dentro. Descobri algo muito interessante. Essa cidade, está totalmente lacrada. O céu e tudo mais... São ilusões. Estamos no subsolo. — Ignoro o espanto deles. — Vejam. É quase impossível sair. Não achei nenhuma entrada ou coisa do tipo. Bom, só uma. E ela está na ponta mais distante. A vi de longe. Mas se queremos escapar, é pra lá que temos que ir.

— E como você viu, só por curiosidade. — John pergunta.

Eu hesito. Ele ainda não sabe que sou necromante.

— Apenas vi. E vamos ter que ir pra lá. E logo.

Eles concordam, até que facilmente. Todos sabem que temos de fazer algo, e normalmente estão acostumados a me escutar. Começamos a juntar as coisas. Hesito junto à mala de munição, então suspiro e começo a esvaziá-la. Separo o melhor possível entre as mochilas, e encho a minha com a dinamite. Pode ser útil.

Dou mais uma escapa, até o marcadinho em que a Winchester está escondida. A rua está muito silenciosa, e estou com um mau pressentimento. Quando venho voltando, um arrepio percorre minha coluna. Isso não é bom.

Ao anoitecer, estamos prontos para partir. Eu uso um pavio grande, de vários metros, para conectar a munição. Do comprimento que tem, deve queimar meia hora antes de atingir munição. Ponho fogo na ponta, e saímos pela porta. Vai ser uma explosão bem grandinha. Isso vai chamar atenção, desviando de nós, e vai impedir que alguém ache aquilo ali. Deixei uma banana de dinamite no meio da munição, na ponta do fio, para garantir que exploda.

A rua está vazia, mas mesmo assim nos movimentamos com cuidado. Eu vou na frente, uns cinco metros adiantado, com uma cano cerrado carregada e batendo terreno. John fecha a retaguarda, atento para qualquer um que tente nos seguir.

Começo a ficar nervoso quando já cruzamos metade da cidade e ainda não vimos ninguém. Nem ninguém, nem nada. Seja criatura ou ser humano. E pior, eu não consigo detectar nada. Normalmente consigo sentir quando um demônio ou fantasma está por perto, mas no momento meu sentido extra está cego. É como se a cidade estivesse vazia. Estremeço e ergo a mão para eles pararem. Nos escondemos numa casa vazia, bem empoeirada. John fica do lado de fora, de guarda.

— Seguinte — eu começo, sem tirar os olhos da janela. — Isso está muito estranho. Devíamos ter encontrado pelo menos mais alguém. Mas não. Já estamos andando a mais de duas horas e não achamos nada.

— E isso é ruim? — Jene pergunta.

— Extremamente. Estou começando a ficar com medo.

Megan arregala os olhos, e Joe começa a ficar verde. Bom, acho que tenho a fama de maluco, maluco que nunca fica com medo. Entendam, eu fico com medo. Só não me deixo levar por ele. Mas em geral deve ser estranho. Nem quando estávamos enfrentando um grupo de vinte demônios algum tempo atrás eu disse que estava com medo.

— Ah, merda. A coisa está muito ruim, não é? — Jene pergunta. Eu concordo com a cabeça e abro a boca para responder, mas a voz de John me interrompe.

— Lian. Venha cá. — A voz dele é urgente. Corro para fora, com os outros na minha cola.

John está parado na esquina, olhando para um beco formado por duas casas. Ele está com o rifle de lado nos braços, então não deve ser nada perigoso. Mas está fitando algo no chão do beco como uma expressão estranha. Algo entre repulsa e pavor, um pavor instintivo, do sobrenatural. Estremeço. Para um Caçador ter esse tipo de medo...

Sigo o seu olhar, então praguejo de novo. Me agacho ao lado da coisa.

A coisa parece um cadáver. Parece. Quando vivo, devia ser um lobisomem, pois ainda conta com as características lupinas. E foi isso que me assustou, pois quando um lobisomem é morto ele volta à forma humana.

O cadáver está deformado, como se tivesse sido atacado por um animal selvagem. Pedaços do corpo parecem ter sido arrancados por mordidas, e a pupila ainda está contraída. A expressão no rosto parece ser de medo por baixo da fúria.

Examino as feridas, ignorando o cheiro muito ruim. Nenhuma mosca, nada de larvas ou insetos. E os ferimentos estão semi-necrosados, como se ele tivesse sido atacado a muito tempo. Mas pelo estado do corpo, me parece que foi recente. O sangue coagulado que está espalhado pelo beco indica que foi no inicio da manhã de hoje. Ou seja, umas quinze horas atrás.

O peito está quase destruído, e o coração foi apenas meio arrancado, ou seja, nada de briga de lobisomens. Começo a me levantar, mas nesse instante o cadáver se move.

A mão restante voa num borrão e agarra meu braço esquerdo, com muita força. Tento recuar, mas não consigo. Ouço John praguejar, mas ele não atira. A largura do beco e a nossa posição faz com que eu esteja entre John e o lobisomem. Se ele atirar, vai me acertar.

Ah, dane-se a história de John não saber que sou um necromante. Me lembro da vez em que um zumbi tentou estuprar Megan. Meu braço esquerdo começa a esquentar, e o lobisomem o larga, com a mão negra. Enquanto olho, ela se desfaz em pedaços, como se estivesse apodrecendo. A mancha de necrose começa a se espalhar pelo braço, apodrecendo a carne. Exatamente o que aconteceu com aquele zumbi.

Resgato a cano cerrado que larguei no chão ao me abaixar, e descarrego-a na cabeça do lobisomem-zumbi. Ele é atirado para trás, agora sem cabeça. Sangue voa para todo lado, um sangue grosso e meio coagulado. Massa cinzenta do cérebro mancha as paredes atrás dele.

Me aproximo e abro um frasco de álcool que trouxe comigo. Despejo metade em cima do bicho, e então risco um fósforo e atiro em cima. O fogo pega maravilhosamente bem. Me viro para os outros quatro, que estão me observando com vários graus de surpresa, terror e náusea.

— Bom, era por isso que estava com medo.


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Notas finais do capítulo

PS: Eles deixaram aquele cara lá mesmo. Já estava morto antes da explosão.



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