No dia seguinte, depois de lamber as feridas, estamos sentados no balcão da loja. Joe tomando uma cerveja, eu prefiro um Coca. Megan, nada. Estou meio enfaixado, mas me recupero bem rápido. Imagino que amanhã já esteja quase normal. O pulso mau me incomoda.

— Então — pergunto, depois de um tempo. — O que é a outra coisa que você disse que tinha para me falar ontem? Com os Wendigos, isso meio que nos distraiu.

Joe ri com o eufemismo.

— Trabalho, é claro.

Ele procura alguma coisa no bolso da jaqueta, então me atira um jornal dobrado. Pego ele, e abro na primeira página. Meu estomago se revira com o que leio.

— Só pode ser piada! — Reclamo.

— O que foi? O que é? — Megan pergunta, se esticando por cima do balcão para ler. Entrego para ela o jornal. Quando lê a noticia, pragueja em voz alta.

Ela devolve o jornal, meio nauseada. Pego ele, e fico olhando a noticia:

Aumentam os Desaparecimentos: Policia Teme Atividade de Gangue

Em seguida, a explicação da notícia, com uma foto de um ponto de exclamação.

— Vitimas aumentando, não é? Dez mês passado. 30 no começo desse mês, 40 na semana seguinte, 55 semana passada, e nos últimos três dias, 60 pessoas desapareceram. Sabe o que isso significa, não é? — Joe pergunta.

Assinto, olhando para baixo. É, isso vai ser difícil.

— 195 pessoas mortas? — Megan fala. — E a polícia só teme atividade de gangue? Isso é completamente fora do normal!

— É, para você ver... — Joe replica, tomando mais um gole de cerveja.

Megan olha para mim.

— Isso é um ninho, certo?

Aceno com a cabeça vagarosamente, detestando ter que concordar.

— Uns cinco ou seis, na verdade. Os Vampiros estão se reproduzindo numa velocidade fora do comum. Provavelmente tentam transformar todos os que pegam. Nem quero pensar quantos Vampiros são necessários para precisarem de 60 pessoas em uma semana. — Tomo mais um gole de Coca. — Talvez uns 120 Vampiros. Boa parte deles... Bom, são novatos.

Dou os ombros, mas fico preocupado mesmo assim. O único meio de matar um Vampiro é cortar a cabeça fora, e eu vou levar pelo menos uns dois meses para matar tudo isso sem botar os outros na minha cola.

— Bom, eu vou junto então. — Megan diz.

Olho para ela como se tivesse acabo de propor comer um balde de excremento de Lobisomem.

— Como é? — Pergunto, certo que não ouvi direito.

— Você ouviu. Vou junto. Estou nessa. — Megan fala tranquilamente.

— Mas e a loja?

— Ninguém passa por aqui. E Joe pode ficar cuidando para mim.

— Espere aí, como assim eu posso ficar...

— Você pode ficar cuidando, não é Joe? — Megan pergunta, lhe lançando um olhar assassino. Sua voz fica suave, e bem perigosa. Joe tem o bom senso de concordar.

— É claro.

— Então, resolvido. — Megan fala animada.

— Você não vai não, são 120 Vampiros. Isso vai ser muito perigoso. — Destaco.

— E é exatamente por isso que quero ir, seu bobo. Não estou muito afim de aparecer num funeral.

Fecho a cara. Por mais que eu esteja feliz por Megan querer ir numa Caçada comigo, o fato de ser provavelmente a Caçada mais perigosa que já me meti nos últimos anos tira totalmente essa felicidade. Por que ela não vai numa mais calma, como um espírito ou coisa do tipo?

— Está bem. — Digo por fim, sabendo que ela não vai desistir. Megan sorri e comemora, e não posso deixar de abrir um sorriso também.

— Por onde começamos? — Ela pergunta, animada.

— Bom, talvez pelo local onde estão a maior parte dos desaparecidos. — Olho para ela. — Quem está a fim de um passeio para Seattle?