Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 4
100 mil volts e um circulo de fogo


Notas iniciais do capítulo

Um pouquinho de ação. Estava ficando monótona.



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Sem pensar duas vezes, pulo da cadeira e vou para a garagem. Coloco rapidamente minhas armas no porta-malas, e tranco ele.

Corro até a porta do passageiro e abro ela. Começo a fuçar no porta-luvas, procurando.

— Vamos... Tem que estar aqui... — Murmuro. — Achei!

Puxo lá de dentro uma arma vermelha. Um sinalizador. Pego alguns cartuchos para ele, fecho a porta, e vou correndo a toda até o ferro-velho.

Paro quando chego perto do jipe de Joe. Está estacionado no perímetro de um círculo quase perfeito sem carros. Megan já está parada ali no centro, e olha para o sinalizador.

— Você está brincando, um sinalizador? — Ela pergunta cética.

— A não ser que você tenha um lança-chamas... — Replico.

Joe sai do jipe, carregando uma pistola de sinalizador também e um galão de gasolina. Ele espalha num círculo em volta da gente, longe o bastante das carcaças dos carros para evitar por fogo em algo ou deixar uma abertura.

–Seguinte, o melhor meio de matar Wendigos é com fogo, então...

— Já sabemos. — Eu e Megan interrompemos juntos. Eu continuo. — Botar fogo, sei. Eles se curam se usarmos qualquer outra coisa. Sinceramente, já matei Wendigos. Não precisa explicar.

Joe dá os ombros, e vai para o meio do círculo.

— Já sabe, né? — Digo para Megan. — Se vir algum perto o bastante, atire na gasolina no chão.

Megan revira os olhos e ergue a arma.

— Pode deixar, tenho boa mira. — Ela engatilha a pistola e faz de conta que está atirando.

Bufo, e volto minha atenção para os arredores.

— Vem cá, Joe, quantos os Wendigos mataram? — Megan pergunta, varrendo o ferro-velho com os olhos.

— Quarenta. — Ele responde simplesmente.

— Quarenta? — Engasgo. — Como?

— Demorei até interpretar os sinais. — Joe parece tenso. — Foi meio tarde. Quando os achei, dez já tinham morrido. Um espetáculo bem feio. Enquanto tentava tirar os sobreviventes, eles apareceram. Perdi 15. Então matei um, e eles começaram a me seguir. Quase não escapei.

Ouvimos um barulho, e começamos a prestar atenção em roda. Uma coceira na nuca me avisa que eles estão por aí.

— Pelo menos não é uma floresta. — Joe murmura.

Concordo com um grunhido. Mas com as carcaças de carros espalhadas por todo lado, não é muito melhor que uma floresta. Não posso deixar de ficar impressionado pelos Wendigos caçarem Joe durante o dia. Ele deve tê-los irritado mesmo, para terem continuado depois do amanhecer.

Ouço um rugido atrás de mim. Quando nos viramos, temos tempo de ver um Wendigo pular em cima de um carro. O corpo magro, com pouca carne nos ossos, cabelos ralos e olhar bestial. Joe e eu atiramos ao mesmo tempo, e de algum modo, o Wendigo consegue se desviar de ambos os disparos. Ele pula em nossa direção, mas Megan atira na gasolina, que sobe num pilar de fogo, bem quando o Wendigo passa por cima dela. Ele pega fogo como se estivesse encharcado em álcool. O monstro solta um guincho inumano, então fica em silêncio.

— Um a menos. — Megan comemora. Assinto, tentando localizar o outro. Mas ele não está em lugar nenhum.

— Talvez as chamas o tenham espantado. — Joe sugere.

— É, pode ser. — Falo lentamente, embora tenha um pressentimento que isso não é verdade. Sinto uma coceira na nuca, e olho para cima. Então grito, ao mesmo tempo que disparo. — Lá em cima!

O Wendigo, que estava pendurado na ponta do guindaste, pula para o chão, fazendo com que o tiro passe longe. Ele cai bem no meio de nós. Praguejo enquanto recarrego a arma.

Joe dispara, e erra, quase acertando Megan no ombro. Aponto a pistola para o Wendigo, mas ele golpeia minha mão, e me empurra para longe. Quase me faz cair nas chamas. Megan acerta um tiro em sua perna, então descarrega a arma na criatura. Ela parece nem sentir as balas. Se vira e ataca Joe.

Joe é um cara grandalhão, sabe, o tipo que quase nunca perde uma briga. É uns bons 20 centímetros mais alto que a criatura, mas não pode fazer nada. O Wendigo joga Joe no chão, e tenta pegar sua garganta. Joe chuta com toda a força o peito da criatura, mas mal consegue fazê-la recuar alguns passos.

Recupero o equilíbrio. Puxo uma faca de arremesso do cinto e atiro no Wendigo. Consigo acertá-lo na perna. O bicho rosna para mim, mas pego minha pistola e descarrego os 24 tiros na perna machucada. Sei que não vou conseguir matar, mesmo que atinja a cabeça, então vou pelo menos retardá-lo.

Procuro nossas armas. Ambos os sinalizadores caíram fora do círculo de chamas quando fomos derrubados. Se pelo menos...

O Wendigo rosna e tira a faca de sua perna. O ferimento começa a cicatrizar. Me preparo para tentar jogá-lo no fogo quando se aproximar, mas não é preciso.

O Wendigo paralisa. De suas costas estão saindo dois fios, que se conectam a uma arma de eletro-choque que Megan está segurando. O Wendigo se contorce, então cai no chão.

— Coma 100 mil volts, bafo de cadáver. — Megan fala para o corpo, largando a pistola.

Respiro fundo, e limpo o suor da testa. Então começo a sentir a dor. Meu pulso está torcido, talvez quebrado. E devo ter uma costela ou duas trincadas também. Me deixo cair com um silvo.

Megan corre até mim.

— Estou bem — falo entre dentes. — Só um pouco machucado.

Megan se faz que não ouviu, e tenta me examinar. Toca meu pulso, e tira logo a mão com meu gemido de dor.

— Está bem, vou escutá-lo dessa vez. O que está quebrado? — Ela pergunta.

— Pulso, mas acho que não quebrou. Duas costelas trincadas. Só preciso de descanso.

Megan me olha como se eu fosse louco, mas desiste de argumentar. Olho por cima do ombro dela, e vejo que Joe se levantou. Ele está esfregando o pescoço, com um pouco de sangue manchando a camisa. Ele pega o corpo inerte do Wendigo e o joga nas chamas.

— Vá pro inferno, desgraçado. — Joe fala, enquanto as chamas pulam ao receber o corpo. Olho de novo para Megan.

— De onde tirou o eletro-choque? — Pergunto. — E 100 mil volts?

Ela dá os ombros.

— Podia ser útil. E a maioria das criaturas sobrenaturais riria na minha cara se eu acertasse com a voltagem comum. Então consegui algumas baterias extras.

Bufo, então me contraio quanto isso causa uma pontada de dor. Me viro para Joe.

— Como vamos sair daqui? Tipo, passar pelas chamas?

Ele olha em volta, como se só agora tivesse percebido o problema.

— Ótima pergunta.


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Notas finais do capítulo

Tentem descobrir como eles fizeram. Nem EU sei. Imagino que sempre dá para esperar o fogo apagar sozinho.



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