Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 41
Muito obrigado, pombo!


Notas iniciais do capítulo

Los Angeles! Ou, Os Anjos! Será que terá algo a ver? Boa pergunta.



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Ah, nada como estar na ativa novamente. Los Angeles é bem longinho, mas eu sobrevivo.Estou curioso para saber o que é o caso. Não achei nada na internet, nem mesmo procurando no sistema da policia. O que é razoavelmente surpreendente.

Paramos num dos nossos bons e velhos hotéis beira de estrada. Nunca nos decepcionam. E sempre consigo alguma fofoca com o dono ou com outros hospedes. E dessa vez não foi diferente.

Depois de deixarmos as coisas no quarto, eu desço e encontro casualmente o dono do hotel. Depois de algum papo, consigo arrancar dele a história.

Algumas pessoas sumiram de modo estranho. Nenhum sinal de arrombamento, de luta, nada que indique um seqüestro. É como se elas tivessem decidido simplesmente sumir. Só que alguns casos não batem com isso, como um garoto antes de uma prova final importante e uma mulher no dia do casamento. Está bem, a mulher no dia do casamento é bem plausível. Muitas decidem não casar em cima da hora, mas é muita coincidência ela ter sumido de propósito por três semanas!

Eu pergunto se ninguém tem uma hipótese sobre o que isso pode ser. Normalmente as hipóteses malucas do povo e dos supersticiosos são as que mais batem com o caso de verdade. E não dá outra.

O dono do hotel olha em volta, então me pergunta com um sorriso presunçoso no rosto.

— Você é supersticioso Albert? — Albert é meu nome falso.

— Depende... Adoro histórias de terror, mas não sei dizer se fantasmas existem ou não. Nunca vi um. — É claro que seria mais verdadeiro eu dizer que ainda não vi um essa semana.

Curt, o dono do hotel, sorri e começa a falar num tom agourento.

— Pois vai passar a acreditar. Essas pessoas... Elas não sumiram. Elas foram chamadas. Chamadas por seus entes queridos falecidos! — Ele põe ênfase na última palavra, fazendo-a soar assustadora. E merda, parentes falecidos? — Todas essas pessoas sofreram chamados. Um ente familiar ou amigo próximo que já morreu falou com eles, e então os chamou, e eles foram. Nunca mais foram vistos. Alguns dizem que morreram e foram para junto dos falecidos, outros que vagam por aí procurando falar novamente com seus familiares, e outros dizem que... Ainda estão por aí procurando uma nova vitima!

Ele faz garras com as mãos. Teria sido mais surpreendente e assustador se uma pomba não escolhesse esse exato momento para cagar em sua cabeça.

— Maldito animal. — Ele murmura e entra no hotel para se limpar. Quando está fora do alcance da audição, solto uma gargalhada.

Entro no quarto novamente, ainda rindo. Megan está na cama, jogando um punhal para cima e aparando na mão. Jene está na internet, fazendo sei lá o que.

— São cinco vitimas. — Falo para elas. — Consegui os nomes e endereços, vamos tentar descobrir alguma coisa com as famílias, e... — Conto para elas o que Curt me falou, tirando o suspense e o excremento de pombo.

Megan fica pensativa.

— Fantasmas? Ou então algum médium?

— Sei lá, mas coisa boa não é. Vamos tentar primeiro descobrir com as famílias, e descobrir quem são os entes falecidos, se possível.

Megan assente.

— O que estamos esperando? Vamos lá.

Não conseguimos nada com as famílias. Eu interroguei duas, e deixei as outras três para Megan e Jene.

Back in black, I hit the sack
I've been too long, I'm glad to be back
Yes, I'm let loose from the noose
That's kept me hangin' about

Pesco o celular no bolso e olho para o visor. Megan. Atendo.

“Ei, Lian? Descobriu algo de útil?”

— Nada. — Respondo. — Estou começando a achar que essa história de “parente morto” é só um exagero do público mesmo.

“Bom, eu acho que não. Descobri algo bem interessante. Uma mulher de 60 anos, uma das vitimas, estava fazendo sexo por telefone com o marido. Só que o marido morreu faz 10 anos. Isso mudou completamente meu entendimento da palavra ‘necrofilia’.”

— Isso me soa familiar. — Eu digo. — Alguém passou aí e ouviu você dizer isso, então deu uma olhada estranha?

“Não, estou sozinha. Está pensando o mesmo que eu?”

— Que é coincidência demais com Interurbano? Sim, estou pensando. Será que é um crocotta?

“Talvez. Ainda pode ser um médium ou coisa do tipo, mas...”

— Vamos ver o que Jene consegue, então investigamos nessa linha.

“Certo, te encontro em dez minutos. Beijo.”

— Beijo. — Desligo e coloco o celular no bolso. Hummm... Crocotta. Talvez. O ruim só seria descobrir onde ele está. Esses bichos não são fáceis de se achar.

Em quinze minutos, chego até o hotel. Megan e Jene já estão ali, com cara de funeral. Tipo, a nossa cara de funeral. Um humano comum fica triste ou deprimido ou alegre (acredite em mim) num funeral. Para nós, funerais significam mais trabalho.

— Nem precisam dizer. Quem morreu?

Ambas me olham sem entender, com a expressão distante. Ergo uma sobrancelha questionador. Agora sou eu que não estou entendendo nada.

— Entrevistei as pessoas. — Jene começa a falar, ainda com a expressão distante. — Pelo que descobri, uma delas sumiu ao ir encontrar um “amigo”. Fucei um pouco e descobri que o amigo já está morto. Então, bom, parece que estamos com algum problema do tipo “já morreu” em mãos.

Megan solta um longo suspiro, um pouco divertido.

— Lian e eu pensamos em um Crocotta. Claro, vai ser muito fácil achá-lo. Ele pode se disfarçar de humano, então pode ser qualquer um. E Los Angeles só tem uns 3,7 milhões de habitantes. Moleza de achar o bichinho. Até a virada do século devemos achar.

Faço uma careta.

— Não sei se vai ser tão difícil, mas precisamos pensar nisso. Um modo de achar...

Balanço a cabeça a saio de novo. Jene ergue uma sobrancelha, mas Megan me conhece bem o bastante e nem sequer estranha. Quando temos um caso, fico bem mais hiperativo.

Circulo pela a cidade, e por fim entro em um prédio comercial. Ele é alto, isso eu posso dizer. Subo até o terraço e me debruço na mureta que percorre todo o perímetro do telhado. Dali posso ver a cidade toda, e também o mar a distancia. Consigo também ler o “Hollywood” gigantesco.

Hollywood gigantesco...

Me emperiquito, focando o letreiro. Em Vegas, você vê letreiros luminosos e telões a cada metro. Em Manhattan é possível estar conectado à internet em qualquer parte da cidade. Mas... Los Angeles é conhecida pela industria cinematográfica, de músicas e games... Basicamente uma cidade feita em cima de comunicação eletrônica. Daqui, um crocotta poderia enviar um sinal para qualquer lugar da cidade, do estado, ou do país. Poderia até talvez enviar à outros lugares do mundo.

Retrocedo por um momento, e me lembro do comportamento estranho de Jene. Tenho um pressentimento que isso é importante, e meu instinto nunca me enganou, mas não sei o que fazer com isso, então eu arquivo essa ideia.

Agora o foco é o crocotta. Saio do prédio e volto para o Hotel. Megan está sentada na cama, com os fones plugados no celular e os olhos fechados, mas posso ver que está acordada.

— Toc toc. — Eu brinco. Ela abre um olho. — Tive uma ideia.

Explico para ela sobre o meu insight. Megan ouve atentamente, então fica pensativa.

— Se for um crocotta, vai ser impossível achar em meio a...

— Não é um crocotta. — Megan fala alheia, ainda olhando para longe pensativa.

Olho para Megan surpreso. Ela devolve o olhar.

— Que foi?

— Como assim não é um crocotta? E como pode ter tanta certeza?

— O que? Mas eu não falei... — Ela para a frase na metade, me olhando sem ver, confusa. Então engole em seco. — Ah, bom, eu acho que falei.

— Jura? — Deixo um pouco de sarcasmo transparecer.

Megan dá os ombros.

— Não sei como, mas apenas sei. Foi apenas algo que me ocorreu, que não é um crocotta. Não sei por que pensei nisso, mas tenho certeza. Não é.

Fico olhando para ela por um momento, então deixo isso para lá. Podemos discutir esses pressentimentos depois. Pode até ser alguma coisa parecida com a visão que ela teve um tempo atrás...

— Afinal, onde a Jene se meteu?

— Sei lá. Ela ficou olhando por um tempo para a parede depois que você saiu, então foi remexer na mochila e pegou algo. Depois saiu também e não a vi mais depois disso.

Solto um suspiro.

— 90% de chances de ela estar prestes a se meter em confusão.

Megan me olha por um momento, avaliando o que eu disse.

— É... Vocês são bem parecidos. Eu diria que se meteu.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo muda de narrador.



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