Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 39
Cupido na área... Pelo menos eu imagino que deve ser um Cupido. Estou com falta de explicações plausíveis


Notas iniciais do capítulo

Hell Martins, que está acompanhando minha história e deixando alguns comentários. Eles ajudam para caramba, saber como a história está sendo recebida.



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Preparamos as coisas para sair de Manhattan.

Megan está quieta, e Jene parece meio abalada. Pode parecer maldade da minha parte tê-la levado junto se eu sabia que teríamos de matar o cara, mas ela deve aprender. Vamos matar muitas coisas.

Já estamos a meio caminho de Denver quando começo a falar.

— Foi necessário. Não foi agradável, mas era preciso. — Acho que a maior parte é tentar me convencer. Sou capaz de matar quando é preciso. Bote uma criatura do sobrenatural na minha frente, que arranco sua cabeça com prazer. Mas um humano... Meu trabalho deveria ser proteger os humanos. Bom, ele não é realmente um humano. É do sobrenatural também.

— Era realmente? — Jene pergunta. — Eu sei que temos que por o peso da humanidade na frente, mas... Não sei. Ele parecia pacífico.

Meus ombros caem.

— Ele era um Cristo. Ele pertence ao sobrenatural. Se a escolhe fosse um humano comum por dezenas de humanos, eu teria hesitado. Mas como ele não era... Tenho que salvar o máximo possível que conseguir, e as vezes isso nos obriga a fazer escolhas difíceis. Se não tivéssemos matado, os Ceifeiros iriam se meter. Eles são bem severos com essa história de trazer os mortos de volta. Se fossem se meter no caso dele, isso ia causar muitos problemas. Manhattan iria virar um pesadelo. — Olho para Megan. — Você não hesitou por um momento sequer quando pedi para atirar.

Megan apenas fica olhando pela janela, como se não a visse.

— Eu sabia de tudo isso. Quando o último Cristo morreu, isso causou guerra entre humanos e entre o sobrenatural. Se deixássemos os Ceifeiros se meterem... Demônios iriam aproveitar, fantasmas iriam aparecer. A própria expectativa de vida humana iria mudar. Você não disse que quando Ceifeiros aparecem em algum lugar as pessoas começam a morrer só pela proximidade com eles? — Ela não espera a resposta. — Queria não ter que ter feito, mas foi preciso.

Depois disso ficamos em silêncio. Decido ir para Larkerville. Jene precisa de algum treinamento, e eu de uma pausa. Se não fosse o constante stress pelos casos em sequência, não teria ficado duvidando da minha escolha de matar Robert. Apenas teria apertado o gatilho e fim de papo.

Depois de alguns dias na estrada, finalmente chegamos. O jipe de Joe está estacionado como sempre na frente da lojinha. Vivo me perguntando por que ele, já que passa o tempo todo aqui, não estaciona na garagem na parte de trás.

Tenho certeza que Joe nos notou. Ele é capaz de reconhecer o Dodge de longe, e também não tem muitas pessoas que conhecem esse lugar e ouvem AC/DC o tempo todo. Hells Bells!

Desço do carro e me estico. Dou uma olhada de relance pelo local. Parece tudo em ordem.

As garotas me seguem até a loja. Os sinos de vento tocam quando abro a porta.

Lá dentro tudo continua igual, mas um pouco diferente. Parece que Joe deu uma retocada. O mesmo cheiro de sempre: Menta, óleo de motor e café. Mas a caveira de touro sumiu, e o ambiente foi reorganizado para contar com mais algumas mesas. O balcão está maior, com uma estante com bebidas atrás. Agora realmente está parecendo um bar, mesmo ainda tendo peças de carros e armas nas paredes.

Joe aparece atrás do balcão, entrando pela portinha agora quase escondida. Está de jeans, uma regata branca manchada de óleo e o boné virado para trás.

— Já voltaram? Como foi o caso em Manhattan? Vocês... — Ele parece notar Jene, e para no meio da frase. Ela se apruma ao meu lado. — Quem é a novata?

— É tão visível assim? — Megan pergunta, indo se sentar numa das cadeiras no balcão. — Que ela é novata?

Joe dá os ombros.

— Nunca vi ela antes. Por isso supus.

Dou os ombros e vou me sentar ao lado de Megan. Jene me segue, parecendo meio nervosa. Então noto que ela dá um pequeno estremecimento, e volta a relaxar.

— Não, esperem, não digam. Duas Cocas? E para você, ah...

— Jene. — Jene se apresenta. — Uma Pepsi, garçom?

Joe bufa bem humorado.

— Sou Joe. — Ele vai até o frízer e tira quatro latas de refrigerantes. Atira uma Coca para mim e outra para Megan, e alcança a Pepsi para Jene. — Então, como foram? E ela... Você, onde entra nessa história?

Joe se vira para Jene nessa última parte. Ela cora imperceptivelmente.

— Vou deixar para o Lian explicar.

Joe olha para mim. Tomo um gole da Coca e começo a explicar. Ele ouve tudo atentamente, as vezes olhando para Jene quando ouve partes relacionadas a ela. Explico os dois casos, Manhattan e Forks. Joe se surpreende na parte do Cristo, mas não interrompe.

— Achei que o nome seria nephelin, filho de Anjo com humano. — Joe comenta depois que termino.

— E é, só que tem uma pequena diferença. O Cristo é filho de um Anjo com um humano. O nephelin é filho da casca de um Anjo com um humano. Sabe, normalmente os humanos sobrevivem depois de hospedar um Anjo, e os Anjos não ficam muito tempo. Então se depois de tiver hospedado um Anjo e ele já tiver ido embora, você tiver um filho, ele se torna um nephelin. Ganham algumas “bênçãos”, por assim se dizer. Para ser um Cristo o Anjo precisa ainda estar dentro do corpo.

Joe acena com a cabeça, entendendo.

— E você matou ele?

— É, Megan acertou o tiro no coração. — Respondo normalmente. Não vou contar a história inteira, tem coisas que eles não precisam saber, para seu próprio bem. Coisas que talvez nem Robert saiba, embora ache que por ele ter se entregado tão fácil...

— Então você é a filha do John? Conheci o velhote. E agora quer ser Caçadora? — Joe se volta para Jene.

— É, pode se dizer que sim. Minha vida estava monótona mesmo.

— Acredite, estava. A vida de um Caçador é agitada até demais.

— Tipo atendente de bar? — Jene aponta suavemente. Joe solta uma risada.

Os dois ficam se olhando, meio como se procurassem alguma coisa, como se esperassem alguma coisa. Tento conter o sorriso e olho para Megan. Ela também parece estar segurando o riso, e pisca para mim. Ops, cupido na área!

Termino a Coca e me levanto.

— Bom, chega de folga. Vem cá Jene, quero ver uma coisa.

Jene me segue curiosa até o lado de fora. Megan e Joe vem atrás. Joe se recosta ao lado do jipe para assistir, e Megan sobe do teto e fica com as pernas jogadas para baixo.

Vou até o Dodge e pego uma pistola. Então vou até o lado da loja, ou melhor, agora é um bar, e pego cinco garrafas vazias. Levo elas até a carcaça de um carro e largo uma do lado da outra. Então recuo até estar afastado dez metros delas.

Tiro o pente e verifico as balas, então verifico a arma. Parece tudo em ordem. Tiro as balas do pente e deixo apenas uma no topo. Recoloco o pente e engatilho a arma. Miro e disparo, acertando a garrafa da ponta esquerda. Cacos de vidro voam para todo lado. Tiro o pente e recoloco todas as balas, então coloco o pente de novo na pistola.

Faço um aceno para Jene. Ela já deve ter adivinhado o que vem aí, não é boba. Ela anda até onde estou, e fica me olhando.

— Hora do treino com armas de fogo. O primeiro teste é simplesmente para melhorar a mira. Tentar quebrar todas as quatro com só um pente. Já deve ter visto pessoas atirando, mas vale alguma instrução. — Entrego a pistola para ela. — Não vou te ensinar exatamente como pegar a arma e como mirar, e coisas do tipo. Isso vai aprender na prática, e sozinha. Cada um faz do jeito que mais se adapta a si mesmo. Mas o básico é importante. Essa pistola não tem trava, então é só atirar. Puxe o gatilho até o fim, e recue o dedo. Se manter ele pressionado, ela vai continuar disparando quando as balas forem colocadas na agulha. Ajuste o olho com o cano no começo, para pegar a manha das miras e...

Ela interrompe minha explicação, levantando a pistola e disparando três vezes numa rápida sucessão. Três garrafas lançam cacos para todos os lados.

Olho para ela aparvalhado.

— Onde aprendeu a atirar assim?

Jene dá os ombros e responde, com algum orgulho na voz.

— Meu pai. Ele me ensinou, e também me levava junto quando ia caçar ursos. Já sabia atirar melhor que a maior parte dos caçadores habituais.

Então parece que John não a mimou, e tentou manter longe do perigo. Apenas queria deixá-la longe do sobrenatural, só isso.

— Aposto que ele sempre imaginou que um dia você precisaria saber atirar, sempre temeu que o sobrenatural o caçasse. Com que armas sabe atirar?

— Rifle e pistola. — Jene responde.

— Hummm... — Vou até o Dodge e atiro uma escopeta para ela. Jene intercepta a arma no ar, guardando a pistola na cintura do jeans. — Tente acertar a última com uma escopeta de cano serrado. Já vou avisando que é diferente o jeito de atirar. Terá de se aproximar um pouco. Com mais de cinco metros fica difícil uma boa precisão.

— Preferia uma espingarda de caça. — Jene murmura ao se aproximar das garrafas. Ela levanta a escopeta e ajusta o olho ao cano, então recua a cabeça e atira, apoiando o cabo no ombro. — Ai!

O tiro sai torto, esburacando o metal do carro. Jene solta um grito e cambaleia para trás, largando a escopeta no chão. Ela consegue manter o equilíbrio e fica massageando o ombro. Reprimo um sorriso.

— O coice é maior, e tente não atirar apoiando do ombro. Deixe ela na altura da cintura, esticando os braços para segurar. Com o tempo pega prática de compensar o coice, tenho certeza. Mas agora, chega de armas por enquanto. Você parece já saber, apenas terá de manter o que sabe praticando. Joe pode ajudá-la nisso.

Jene olha de relance para o jipe, de onde Joe está observando o treino. Ela endireita a coluna.

Vou até o Dodge e pego uma faca de caça. Uma das minhas reservas, que não vou dar minha própria faca. Se bem que, desde que a faca dos curdos que eu tinha se dissolveu no combate contra Harren, estou precisando de uma faca. Bom, eu ainda tenho uma das minhas. A que dou para Jene é uma das reservas. Cabo simples de madeira, lamina serrilhada até um pouco antes da metade, e curva até a ponta.

Balanço ela na pala da mão, então atiro num movimento circular. Jene segue a faca com o olhar, então ergue a mão no momento exato para interceptar.

— Eu sei lutar com faca. — Ela me fala.

— Muita gente sabe. Conhece alguém que é capaz de matar um urso com apenas um golpe? — Jene balança a cabeça. — Imaginei que não. Vai precisar aprender as manhas de um Caçador. Não somos apenas lutadores. Aprendemos todos os golpes baixos, e a lutar contra criaturas que querem arrancar nossa cabeça.

Começo a entrar em posição, então hesito. Primeiro, será melhor ela aprender combate corpo-a-corpo desarmado antes. E também para lutar com ela...

— Ei, Megan, pode vir cá?

Megan pula de cima do jipe e anda rapidamente até onde estamos, curiosa.

— Que foi?

— Pode cuidar do treino de luta dela?

Megan sorri.

— Medo de levar uma surra?

Reviro os olhos.

— Na verdade, não. Apenas você é melhor que eu em combate mano a mano, se bem que eu atiro melhor. E também, por questões que você é uma garota. Será melhor para um treino que contém, hã... Contato físico direto, e as vezes com partes meio pessoais. Então... Eu cuido do treino teórico, e você do de luta. Tchauzinho!

Antes que ela possa responder, saio correndo até o jipe. Quando chego lá e me viro, noto que as duas estão conversando. Então elas se afastam um pouco e tomam posição de combate.

— Cinco dólares na Jene. — Joe fala assim que pulo para cima do jipe.

Olho para ele cético.

— Feito. Mas você está louco, Megan vai acabar com ela.

Joe bufa rindo.

Não dá outra. Em vinte segundos de luta, Megan está com Jene imobilizada no chão.

— Pague. — Falo para Joe, estendendo a mão.

Ele faz uma careta e me entrega uma nota de cinco dólares. Ah, nada como a visão de uma boa grana para alegrar nosso dia.

Ficamos observando o treino. Jene é boa, não podemos negar. E aprende rápido. Mas Megan... Quem vê ela, acha que é alguma modelo ou coisa do tipo, mesmo com o visual rockeira e tals. Mas na verdade, pode levar um campeão de vale tudo peso pesado a nocaute sem sequer soar. Nunca vi alguém lutar tão bem. Ela tem o que eu chamo de instinto assassino. Sabe por instinto onde atacar e como lutar, o que faz com que seja uma ótima lutadora. Tem talento, luta por instinto, sem esforço.

Uma vez até tentei lutar com ela, para ver do que era capaz. Eu sou mais forte, e sei lutar bem o bastante para contornar quase qualquer problema. De fato, também levo um campeão de vale tudo ao chão. Mas Megan me deu uma surra. É sério.

Elas só param ao anoitecer. Até lá, estão as duas ofegantes e suadas. Mas Jene conta também com as roupas sujas de terra de todas as vezes que Megan a jogou no chão. Estou começando a ficar com pena. Amanhã ela vai ter tantos hematomas que nem vai conseguir se levantar.

Depois das duas lutadoras tomarem um banho, jantamos. Pizza de micro-ondas. Quando se é Caçador, você come muita comida de micro-ondas, lanches (tipo hambúrguer com fritas) e miojo. A não ser quando come em algum restaurante, daí normalmente tenta manter algum padrão mais saudável. Mas no geral, passamos muito tempo fugindo ou da policia ou de fantasmas para ficar cuidando do que comemos. Desde que seja comestível, está servido.

Me espreguiço e me afasto da mesa.

— Alguém está a fim de um filme?

— Qual? — Megan pergunta. — Ursinho Puff?

Atiro a lata de Coca, vazia, é claro, em Megan. Ela este bem acostumada com isso e apenas levanta o pulso rebatendo a latinha.

— Errou. — Ela aponta simplesmente. Joe e Jene riem. Joe está acostumado, e Jene vai se acostumar, mas mesmo assim...

— Eu estava pensando em algo mais... Irônico. — Levanto o DVD para eles verem. — Quem está a fim de O Exorcista?

O filme foi legal.

Sabe, um Caçador olhar filmes de terror não deixa de ser uma boa dose de sarcasmo temperada com duas doses de humor e uma de loucura. Em metade dos filmes pensamos: Se fosse tão fácil. Na outra pensamos: Bando de noobs, cuidava desse aí facinho. Então é isso que cria o humor e a loucura.

Estou meio poético ou deprimido hoje? Sei lá. As vezes acontece.

O treinamento de Jene segue a passos rápidos. Logo ela já viu quatro temporadas inteiras de Supernatural, e consegue responder facilmente meus questionamentos sobre o sobrenatural. Ela já havia olhado a maior parte das temporadas, mas é diferente depois que se sabe que é tudo verdade.

No combate com armas de fogo, logo a mira dela supera a de Joe e fica quase no nível da minha. E eu tenho uma mira realmente boa. Ela provavelmente poderia ser considerada atiradora de elite do FBI sem nenhum esforço.

O treino com Megan também evolui. Ela melhora na luta, e mais de uma vez eu e Joe entramos no treino para praticar lutas em desvantagem numérica, em vantagem numérica, em duplas, e em várias situações diferentes. Jene também aprendeu a lutar mano a mano, com lâminas e na base do improviso. Essa última categoria corresponde a 97% dos casos que nos metemos. Megan ainda luta melhor, mas Jene não é ruim. Bom, não sei se existe algum humano que lute melhor que Megan. Bem, vamos considerar, nenhum deve ter crescido treinando para matar criaturas com força e velocidade sobre-humana.

As vezes alguns Caçadores aparecem. Alguns são meus conhecidos, a maioria não é. Mantenho-me fora do caminho deles. Soube de muitos casos, tanto pelos Caçadores quanto pela mídia local, mas decidi me manter fora por enquanto. Até Jene completar o treinamento padrão. Então vou levá-la para nos ajudar ativamente em um caso.

Uma das últimas coisas que ensino para ela, e que ela pega bem rápido, e a enrolar os outros.

Isso tem muitas subcategorias. Mentir sem ser pego, falsificar documentos, aplicar golpes, se passar por outras pessoas, blefar, interrogar, etc. Ela pega rápido a maior parte. Tem alguma dificuldade em falsificação e em golpes, mas pelo menos não tem aquela limitação “isso não é certo” que aparece em vários Caçadores por aí. A maioria dos Caçadores tenta combater o sobrenatural e jogar limpo. Por isso que a taxa de sobrevivência de um Caçador é 10%; Só nós, os que jogam sujo, sobrevivem a mais de um ou dois casos. Não dá para vencer o sobrenatural seguindo regras humanas. Ou você segue regras humanas e permanece no mundo humano, ou vai pro sobrenatural e deixa de lado as limitações anteriores.


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Notas finais do capítulo

Meio monótono, mas vai começar a esquentar.



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