Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 38
Medidas drásticas...


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer a LanaReys pela recomendação (e pelo elogio à minha pessoa).

Esse é o último capítulo da saga do Cristo de Manhattan. Depois desse, vem um caso novo.



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— Tem certeza que isso vai funcionar? — Megan pergunta.

— Não. — Eu respondo.

— Bom, então vamos logo. — Jene interrompe.

Saímos do Dodge, indo em direção a casa do médico. Robert mora numa casa relativamente grande no Brooklyn.

Cada um de nós leva Óleo Sagrado em vez da habitual água benta nos cantis. Um punhal de prata e o armamento comum, com exceção de Jene. Ainda não pude ensiná-la a atirar, mas deixei com ela minhas soqueiras. Ela é boa o bastante no mano a mano para ajudar. Mas não espero um combate, isso é só precaução.

Entramos pela janela, indo dar na cozinha. Ela está escura, então nos guiamos pelos contornos. Meus passos são tão silenciosos que é impossível ouvi-los. Megan também, embora um ouvido atento note o suave roçar dos All Star no chão. Jene é a que tem menos prática, mas mesmo assim está indo bem. Com a TV ligada na sala de estar, ele nunca vai nos ouvir.

Quando chegamos perto da sala, faço um sinal para elas pararem e vou até a entrada. Espio pela porta, tomando cuidado. Robert está olhando um daqueles programas de auditório. Se pegar a arma e atirar agora, é impossível errar. Saco o Colt lentamente. Ele está carregado com balas comuns. Faço mira na parte de trás de sua cabeça, puxo o cão da arma e coloco o dedo no gatilho. Mas algo segura meu dedo, impedindo que eu atire.

Fico ali, hesitando por alguns momentos, então recoloco o Colt na cintura.

Faço sinal para Megan e Jene me seguirem, e entro na sala.

O médico nos nota rapidamente, pulando da poltrona onde estava sentado e nos fitando assustado.

— O que é isso? O que estão fazendo? Agente Jaime, mas o que é isso? Por que estão invadindo minha casa?

Ele recua um pouco, indo para perto de uma cômoda.

— Megan, se ele tentar pegar a arma na gaveta de cima da cômoda, atire na mão dele.

Megan saca a pistola, mas a deixa apontada para o chão. Robert empalidece, e isso confirma que acertei sobre a arma. Foi um blefe, mas deu certo. Eu não tinha certeza sobre uma arma, mas... Ele é americano. E por ir pra perto da cômoda numa situação de perigo...

— O que querem? Olhe, agente Jaime, deve estar ocorrendo um engano aqui, eu...

— Eu não sou agente, e meu nome não é Jaime. Sou um Caçador.

Reconhecimento passa pelos olhos de Robert. A conduta hesitante some, e ele se para ereto, ficando calmo.

— Entendo. — Ele responde simplesmente. — Quando descobriu?

— Na entrevista. Tinha Óleo Sagrado na minha mão.

— Óleo Sagrado — Robert murmura. — Então funciona comigo também?

— Sim... Mas não tinha certeza. Descobri no dia. Desde quando você sabe sobre...

Deixo a frase no ar.

— Há alguns anos. Descobri que podia fazer coisas... Inexplicáveis... Quando tinha uma emoção forte. Começou quando meu gato morreu, e eu ressuscitei ele. Depois daquilo, encontrei um Caçador. Ele me explicou tudo.

— Você sabe por que estou aqui, não sabe? — Eu pergunto.

— Sei... Sei desde que resolvi trazer aqueles de volta. Alterei a ordem natural das coisas, não é? Pois bem, estou pronto para encarar as conseqüências.

Ele abre os braços e olha para Megan, com curiosidade franca no rosto, como se estivesse esperando para ver o que ela vai fazer. Megan olha de relance para mim, desconcertada.

— Não vai tentar fugir? — Pergunto, curioso. Não esperava por essa.

— Não, se você acha que devo morrer, irei morrer. Apenas — ele ergue um dedo. — Quero que entenda o que está fazendo e por que trouxe os dois de volta. — Ele faz uma pausa. Eu aceno concordando, e Robert se senta na poltrona, relaxado, como se ninguém estivesse apontando uma arma para ele. — Quando vi o corpo chegando no necrotério... Sempre soube que teria de agir com cuidado. Que meus poderes eram perigosos, e que são mais uma maldição do que uma benção, mas não pude resistir. Vendo as famílias sofrerem... Foi me dado o poder, por que não aproveitá-lo para ajudar os outros? Alguns podem dizer que é meu dever. Nunca vi assim. Meu antecessor tentou, e morreu cedo. A humanidade não está preparada para o sobrenatural, por isso vocês, Caçadores, existem. Mas... Não pude me conter. Devo desculpas por isso. Em ambos os casos, foi demais para mim.

Saco um punhal e fico jogando ele de uma mão para a outra, pensativo.

— Concordo com você. Seu poder deve ser usado, mas... Você está certo. A humanidade não está preparada. Isso não muda o que tenho que fazer. Desculpe, mas é necessário.

— Eu sei. — Robert suspira. — Desculpe pelo incomodo que causei. Queria ter sido mais forte. Só, seja rápido, está bem? Minha coragem não durará para sempre.

Aceno que sim, concordando.

Faço um gesto para Megan.

O tiro soa abafado graças ao silenciador.

E acerta certeiro o coração.

Robert se inclina para trás, com o rosto em paz, e cai da poltrona. O sangue começa a sair do buraco da bala. Solto um longo suspiro.

— Vá em paz, Robert Harlam. Esse foi o fim do segundo Cristo. Que sua alma descanse em paz.

Saiu meio religioso? Não era minha intenção. Apenas... Sei lá. Queria que isso não tivesse sido necessário.

— Vamos, a policia vai chegar em breve. — Falo para as garotas. Saímos dali. Dou um último olhar antes de pular a janela. Ninguém seria capaz de dizer o que aconteceu entre aquelas paredes. A TV continua ligada no programa de auditório.


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Notas finais do capítulo

...

R.I.P.



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