Caçador escrita por Lian Black


Capítulo 28
Recomeço


Notas iniciais do capítulo

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei d'aonde vem o tiro

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei d'aonde vem o tiro

Por que caminhos você vai e volta?
Aonde você nunca vai?
Em que esquinas você nunca pára?
A que horas você nunca sai?
Há quanto tempo você sente medo?
Quantos amigos você já perdeu?
Entrincheirado, vivendo em segredo
E ainda diz que não é problema seu

E a vida já não é mais vida
No caos ninguém é cidadão
As promessas foram esquecidas
Não há estado, não há mais nação
Perdido em números de guerra
Rezando por dias de paz
Não vê que a sua vida aqui se encerra
Com uma nota curta nos jornais

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei d'aonde vem o tiro

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei d'aonde vem o tiro

Por que botei a música na nota? Sei lá. Só deu vontade (não me chamem de louco, sou só maluco).



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Dessa vez não peguei o caminho mais rápido, ou corri muito para chegar. Três dias depois de sair de Seattle eu chego de novo em Larkerville. Logo conseguimos chegar até a loja. Tudo continua na mesma. Não pressinto nenhum demônio ou fantasma nas redondezas, e o Jipe de Joe está parado em frente à loja recém-lavado.

Eu entro na frente, com Megan me seguindo logo atrás. Os sinos de vento balançam lançando um som nostálgico no ar, um som que diz “casa”.

Apenas consigo ver que nada mudou lá dentro antes que Joe saia da salinha atrás do balcão com uma espingarda carregada. É, parece que todos os Caçadores são bem simpáticos a primeira vista. Parece que somos um bando de assassinos que acabaram de sair do hospício. Bom, pelo que fazemos qualquer um nos botaria num hospício, e alguns de nós realmente saímos de lá, mas isso não quer dizer que podemos sair por aí atirando nas pessoas!

Assim que nos reconhece, Joe abaixa a espingarda e sorri de orelha a orelha. Ele larga a espingarda e pula por sobre o balcão e quase quebra meu ombro (de novo) com um soco, que presumo que seja uma saudação amigável. Então abraça Megan quase quebrando suas costelas.

— Nossa! Vocês dois estão vivos! Achei que tinham morrido, depois de todas aquelas noticias sobre Seattle. Esse caso foi bem movimentado, não foi? — Joe parece estar prestes a ter um ataque de hiperatividade. E confie em mim, sou especialista nisso. Tenho um por semana. — Venham, devem estar com sede. Duas Cocas, certo?

Antes que possamos responder, não que precisássemos, Joe já pulou o balcão de novo e pegou duas Cocas. Nos entreolhamos com um sorriso, e sentamos.

Megan cutuca a espingarda com a ponta do dedo.

— O que houve com o Chevette?

Joe endireita a espinha e engole em seco, o sorriso sumindo.

— Ah, bom, sabe com é, tive que dar uma saída. Juro que fechei tudo! Mas alguém conseguiu entrar, arrombando a fechadura. Pegou algumas coisas e sumiu no Chevette. Mantimentos, em sua maioria. Não consegui achar o rastro.

Entendo num estalo. É, parece que Megan decorou todos os carros que estão ali fora, para sentir a falta de um em específico. Se bem que o Chevette que sumiu, a não ser que muito me engane, é um que mal funciona, e bem velho. Tenho quase pena de quem pegou. Tive que tirar algumas peças e tem um vazamento no tanque de gasolina, então não vão muito longe.

— Só um Caçador pode esperar abrir aquela porta ali. — Destaco, tomando um gole de Coca. — Provavelmente alguém Caçando e precisou improvisar. Mas deixe quieto.

Megan me fuzila com o olhar, como quem diz “o carro não é seu”. Rio e passo um braço pelos ombros dela. Joe nos avalia com o olhar, e então bufa.

— Até que enfim, vocês dois. Estava quase procurando um cupido para ver se dava jeito na coisa.

Nenhum de nós se dá ao trabalho de reclamar com o “até que enfim”. Afinal, eu concordo um pouco com ele.

— Alguma caça? — Pergunto.

Joe sorri.

— Não consegue parar quieto, como sempre. Acabou de sair de uma das grandes e já quer outra. — Dou os ombros. — Então, vão me contar o que aconteceu ou não?

Tomo outro gole da Coca, terminando com a lata, e começo a contar. Joe parece ligeiramente surpreso com a parte de eu ser um necromante, mas não tanto como seria de esperar. Será que ninguém mais se surpreende com o que tem a ver comigo?

Quando passo pelo diversos ataques que sofremos e os diversos massacres que efetuamos, Joe vai ficando cada vez mais boquiaberto. Até eu me surpreendo com tudo que fizemos. Na verdade, ainda parece meio estranho ter acabo. Meio... Surreal.

Quando termino, Joe assovia.

— Nossa, isso foi bastante coisa. E você tem uma irmã e nunca nos contou?

Megan dá os ombros, o que é meio difícil considerando que está encostada em mim e nenhum de nós que cair no chão.

— Nunca perguntaram se eu tinha uma irmão. Apenas um pouco do meu passado e... Isso não era importante. — Percebo que Megan ainda está cismada com o Chevette. Eita, essa aí é mais ciumenta com os carros do que eu.

Joe faz mais algumas perguntas, que respondemos. Então se estica e pega um recorte de jornal em cima do balcão. Ele atira para mim. Intercepto no ar e rio ao ver que está dobrado no formato de um avião de papel. Abro o recorte e passo os olhos pela noticia.

— Acha que é um dos nosso? — Pergunto meio em dúvida.

Joe acena com a mão.

— O cara sumiu sem deixar rastros. Sem deixar nem um rastro. Simplesmente acharam seu carro abandonado na estrada, sem sinal do motorista. A namorada afirma que ele estava indo encontrar ela, e que tinha acabado de mandar uma mensagem de texto dizendo que ia chegar em alguns minutos. Mas não chegou. E se não me engano, não é o primeiro que some lá. Dê uma fuçada na internet, você é craque nisso. Vai achar mais alguns. — Então Joe acrescenta sarcástico. — Quer ou não o caso?

— Quero. — Respondo de imediato. Aprendi que o melhor modo de manter a sanidade nessa profissão é não ficar muito tempo parado. Acabo ficando parecido com o Sherlock Holmes nisso, tirando que meus casos são mais difíceis de resolver. — Forks, lá vou eu. Queria um caso fora de Washington mas... Não se cospe no prato que se come. Desde que não ache ninguém brilhando por lá está tudo bem para mim.

Megan sorri já se levantando. Joe bufa.

— A história é boa, tirando o romance e a purpurina. — Então Joe olha de relance para Megan, que foi até a sala dos fundos. — Não precisa nem dizer: Vou ficar de atendente de novo, acertei?

— Sim, e se mais um carro sumir... — Megan deixa a ameaça no ar. Joe engole em seco e empalidece um pouco. Concordo com ele. Nem eu me garanto se ela quiser me matar. Não que vá realmente matar Joe se um carro sumir, mas alguns ossos dos grandes demorar para sararem.

— Tudo bem, na verdade. Até que estou gostando. Talvez eu dê um tempo nessa história de Caçador e apenas fique aqui. O lugar está sendo um pouco mais frequentado ultimamente, e consegui aumentar um pouco os lucros. Todo Caçador que precisa de um caso vem pra cá.

Megan estica a cabeça para fora da saleta, como se não tivesse ouvido direito. Minhas sobrancelhas se erguem tanto que quase desaparecem no couro cabeludo. Joe parando de Caçar? É o mesmo que um vampiro pedir um gole de água benta.

Nossas caras devem ter sido muito cômicas, pois Joe cai na risada. Logo Megan e eu estamos acompanhando as gargalhadas.


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Notas finais do capítulo

Vamos lá para a próxima.
♫♪♫Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei d'aonde vem o tiro♪♫♪

Não dá pra tirar da cabeça! Paralamas do Sucesso, não substituam meu AC/DC, gosto de vocês mais ainda estou na Estrada para o Inferno.
I'm on the highway to hell
On the highway to hell
Highway to hell
I'm on the highway to hell

To muito musicalista hoje? Não sei, apenas acho que tomei muito Coca-Cola e agora estou tendo uma overdose de cafeína ou coisa do tipo. Sendo hiperativo, bom, vocês devem imaginar.



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