Just a give a reason escrita por Anny Taisho


Capítulo 3
Verdades não ditas


Notas iniciais do capítulo

Dois capítulos de uma só vez, bem que alguns dos fantasminhas podiam contar para tia o que acharam em? Espero que gostem, boa leitura.



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Parte III

Aquela conversa deixou o monge completamente desestabilizado. Ouvir Lin dizendo aquelas coisas e ver todo o ressentimento que ela carregava lhe machucou muito. Não conseguia acreditar que tudo o que tiveram foi esquecido e apagado pelo final triste. Outro homem com toda certeza teria raiva da Beifong, mas não conseguia sentir isso. Mesmo depois dela dizer todas aquelas coisas... Não tinha mais espírito para permanecer em Ember e teve uma briga feia com a esposa.

Pema começou a desconfiar de suas saídas e fez perguntas sobre perguntas até que terminou respondendo o que ela não queria ouvir. Chegaram muito perto de ir embora, mas por fim, ela decidiu que ficariam pois não teriam as férias estragadas, desde que não chegasse mais perto da dobradora. Assentiu, afinal Lin deixou claro que não o queria perto.

Só que todos seus sentimentos estavam confusos. Aquela garotinha ficava em sua mente rodando com seu jeitinho meigo e inocente. Naquela época a mulher lhe pediu mais um tempo, um ano, dois talvez... Mas logo após a morte de Toph e Aang estava desestabilizado demais. Era como o tempo lhe dando um tapa na cara dizendo que não cumpria suas obrigações. Teve medo de Lin ir prorrogando a maternidade até ser tarde demais, ou mesmo que algo acontecesse e não pudesse cumprir sua missão com os nômades do ar.

A Beifong nunca fez o tipo maternal, mas vendo-a com a filha viu que era apenas uma questão de tempo. Uns anos mais ou mesmo meses mais e talvez ela tivesse dado o que tanto desejava e precisava. Deixá-la foi um grande erro. Mesmo racionalmente ter decido deixa-la em paz, seu inconsciente a procurava pelas ruas durante os passeios. A conversa leve de Pema parecia superficial demais e em cada esquina de Ember havia uma pequena lembrança da infância e juventude nas férias que ali tiveram.

Quase cinco dias depois, caminhando pelo mercado em busca de boas frutas, as do hotel não o estavam agradando, quando avistou de longe e babá e Shen sentadas num banco de pedra. A menina estava toda contente com um pequeno pandeiro barulhento que chacoalhava e dava risadas e a moça tomava um sorvete tranquila. Pensou em dar a volta e fingir que não as viu, mas seus pés não obedeceram e antes que pudesse pensar estava se aproximando.

– Olá. – Myuu disse sorrindo – Desculpe, nem perguntei o nome do senhor aquele dia...

– Hum... Tenzin. – respondeu vendo a menina entretida e se abaixou para falar com ela – Olá princesa da Terra.

Entretanto, não teve a recepção calorosa esperada, ela apenas inflou as bochechinhas e se virou na direção oposta a sua voz. A babá arregalou os olhos e tentou concertar.

– Shen!! Que feio! Por que não quer falar com Tenzin? Ele a ajudou, lembra?

– Twinkle-toes fez mamãe chora... Num gosto dele! – cruzou os pequenos braços –

Os olhos claros do monge se arregraram e ele compadeceu-se da raiva da menina. Lin tinha chorado após sua saída, ele não foi o único ferido ali. Vendo a criança de perto, lhe custava acreditar nas verdades da mãe dela. Conheceu-a pela vida toda, não dava para acreditar que teve um filho de um caso de uma noite com um homem que só se lembrava o nome. Não, a Lin que conhecia nunca faria isso. Talvez o caso sim num momento de carência e raiva, mas ser descuidada ao ponto de gerar uma criança não era algo aceitável.

Talvez Shen fosse fruto de um relacionamento que não deu certo, a earthbender nunca admitiria que teve um relacionamento fracassado para ele. O orgulho dela não permitiria isso. Seria como admitir derrota. Entretanto não compreendia um homem honrado que não assumiria as responsabilidades, se bem que não sabia disso, talvez a menina tivesse contato com esse pai e ele estivesse tirando conclusões precipitadas. Acariciou de leve os cabelos negros finos e falou num tom amigável.

– Desculpe, Shen, não era minha intenção fazer sua mãe chorar, gosto muito dela. – a menina não pareceu muito satisfeita, mas se entreteve com seu brinquedo barulhento –

Sentou-se perto da criada e mesmo sabendo que não era de sua conta, resolveu tentar saber mais coisas. Tinha passado tanto tempo longe de Lin e gostaria de saber mais sobre o tipo de vida que levava agora na maternidade e talvez saber um pouco mais a respeito desse homem. Devido sua fala macia e gentileza, a garota não teve muitos receios e logo estava falando como se fossem velhos amigos. Discorreu sobre a rotina que levavam, como era a relação mãe e bebê e outras pequenas coisas que acalentaram um pouco o coração de Tenzin, pelo menos ela não parecia ter uma vida ruim.

Deu um cacho de uvas a pequena que aparentemente tinha um apetite grande para alguém tão diminuto. E por fim ela chegou ao ponto sobre como começou a trabalhar para Lin.

– Meus pais e irmãos morreram num ataque da Agni Kai ao nosso vilarejo, fiquei sozinha e fui direcionada junto com outros sobreviventes a cidades do reino da Terra onde nos arranjariam empregos e uma nova vida. Fui parar em Gaoling e contratada para trabalhar na cozinha dos Beigongs. A Senhora Lin estava grávida de pouco tempo, mas teve de ficar de repouso pois tentou manter a mesma rotina na polícia estando gestante. Eu vi que nenhuma criada durava como acompanhante dela e tinha medo, não queria perder meu emprego que com certeza não arranjaria melhor, então numa tarde a Healer que acompanhava... Dona Kya me pediu para servir o jantar delas. – a mulher fez uma pausa como se lembrasse para ter certeza do que dizia – Bem... Não sei o que houve, mas a senhora gostou de mim e da minha comida, acabou que algumas semanas depois tornei-me sua acompanhante. Shen nasceu de um parto difícil e dona Kya não estava lá, todos achamos que perderíamos mãe e bebê.

A garganta do monge se fechou. Perder mãe e bebê? A Beifong morrer não era algo que concebia bem.

– Por que a healer não estava presente? – indagou omitindo que Kya era sua irmã mais velha –

– Ela viajou alguns dias... – fitou as pessoas em volta – Acho que foi ao casamento do irmão... Sim, sim, agora me lembro foi isso mesmo. Shen nasceu três semanas antes do previsto e bem no dia que o irmão de dona Kya casou. Acho que ele conhecia a senhora, porque ela ficou bem abalada na época.

O coração quase parou. Aquela menina nasceu bem quando casou-se com Pema? Kya esteve em seu casamento e não lhe contou nada? Oh espíritos, foi por isso que ela teve de ir embora correndo com Bumi na madrugada de dirigível. Lembrava-se bem deles arrumando desculpas sobre uma campanha que sofreu um ataque da Agni Kai e que precisavam de todos os Healers possíveis. Nunca soube de nenhuma notícia a respeito e um ataque tão grande teria deixado rastros.

– E... E o pai? – perguntou em tom mais baixo, não sabia se aquela era uma boa pergunta –

A criada olhou para menina comendo uvas com satisfação e o fitou com um meio sorriso triste.

– Não sei, sinceramente não sei. Nunca teve ninguém perto da senhora Lin nesse período. A primeira vez que vi o senhor Bumi achei que fosse ele, mas aparentemente ele nunca passou de um bom amigo da senhora Lin. E mesmo agora três anos depois nunca ninguém se apresentou.

– Lin nunca disse nenhum nome ou contou nenhuma história? Digo... Nem para a pequena? – a mulher parecia constrangida em tocar naquele assunto e por isso tentava manobrar com calma para que ela não o encerrasse –

– Hum... Olhe... Eu nem devia estar falando essas coisas... mas me parece um bom homem e que conhece a senhora Lin então... Bem... – suspirou e baixou bem a voz – Uma vez eu sem querer ouvi a minha patroa falando com o senhor Bumi, não ouvi toda a conversa, mas ele falava que ela devia contar e acabar com a palhaçada do casamento... Então acho eu que deve ser um homem casado, um amor impossível, pois vendo a maneira como ela cuida da menina e como tem dificuldades em se relacionar com os homens que só pode ter tido um grande amor e perdido. A menina com certeza é filha de alguém que a senhora amou muito... Mas agora acho que ela finalmente está seguindo em frente.

Todas aquelas palavras caíram como uma bomba no colo de Tenzin. Tudo ali indicava que aquela menina era sim sua filha. Só isso justificava Lin ter saído da cidade para tê-la e os irmãos terem escondido sempre essa notícia. Okay que talvez eles só o quisessem proteger de saber que Lin teve um filho de outro homem, mas não era isso, não era mesmo. E também justificava o fato de Kya olhá-lo daquele jeito no casamento. Passou a mão na barba nervoso, tentando manter-se calmo para ter certeza das coisas e não se iludir com pequenas coincidências.

– Desculpe, mas quantos anos tem Shen? Eu sou simplesmente horrível com idade de crianças... – disse tentando soar bem humorado e aliviar o clima criado após sua última pergunta –

Myuu sorriu e passou o clima pesado.

– Três anos e meio. Logo a princesa vai a escola... A mãe dela só está esperando o senso sísmico dela ficar mais bem definido para que ela não tenha maiores dificuldades.

– Três anos e meio huh?

A mente do monge começou a trabalhar com datas enquanto acariciava a barba casualmente. Suas sobrancelhas mexiam-se levemente conforme ia montando uma reta cronológica em sua mente. E o resultado não podia ser melhor, mas antes resolveu fazer mais uma pergunta.

– E quando ela faz aniversário... Suponho que em no inicio do inverno? – chutou dentro da margem que as datas que sabia lhe deram –

– Sim, sim... Shen faz aniversário no inicio do inverno, ela nasceu no dia do solstício. Diz-se ser uma data muito auspiciosa e sendo ela esse primor não tenho dúvidas mesmo.

Oh... Aquela notícia era tudo o que precisava saber. A menina só não seria dele se Lin tivesse outro homem enquanto estavam juntos o que não era realmente uma possibilidade. Shen era sua filha. E isso não podia ser melhor! A princesinha era sua também, com toda certeza aquele encontro deles não foi coincidência! Uma euforia foi lhe enchendo o peito ao mesmo tempo que o desespero. Lin teve um filho com ele e não contou? Por que não? Uma criança foi tudo o que sempre desejou!

Tinha de manter a calma e raciocinar direito.

Fitou a criança sentindo seu peito encher de felicidade.

– Bem, eu preciso ir agora, mas por que não a trás novamente amanhã? Ouvi dizer que terá um show de saltimbancos cantores, ela que gosta tanto de sons vai adorar!

– Hummm... Parece bom, talvez até mesmo a senhora Lin queira a trazer! Mas já vai?

– Oh... vou sim, tenho um encontro com o prefeito.

Tenzin mentia pessimamente, suas orelhas já queimavam, mas Myuu não era de reparar muito. Apenas se convenceu com sua desculpa e agradeceu por Shen pelas frutas que ela comeu da cesta dele. A menina aceitou seu afago de despedida mas ainda ressabiada, estava certa, ninguém que fazia sua mãe chorar era alguém que deveria dar confiança.

Saiu sem rumo precisando de um tempo para digerir aquilo tudo.

Tantas perguntas sem resposta e ao mesmo tempo tanta felicidade. Queria dar uma grande abraço na pequenina, mas ainda não era o momento.

***

Shen chegou em casa e foi logo correndo ter com a mãe, Lin ouviu as coisas que contou pacientemente e depois de trocarem de roupa desceram a praia. A menina não gostava muito do mar por não poder enxergar direito dentro dele, mas com o amparo acalentador da mãe foi dando passinhos tímidos sobre a água morna do fim de tarde. Por fim sentou-se junto da mãe e ficaram fazendo brincadeiras com a areia molhada.

A cabeça da mulher ainda estava longe, rever Tenzin após quatro anos foi chocante e aquela conversa não poderia ter sido pior. Ele a havia deixado e o pior, nem deixou que falasse depois, rejeitou o que tinha a dizer a ele como se todos os anos que passaram juntos não tivessem valido de nada. O monge não quis lhe dar o tempo que pediu, mas mesmo após quatro anos ainda não havia concebido com a esposa as crianças que tanto desejava.

Que direito ele tinha anos depois de aparecer ali pedindo coisas, que fossem amiguinhos e cordiais? Nenhum. Nenhum mesmo. Não queria a amizade dele, queria o amor que foi negado. E hoje nem isso queria mais. Suas feridas eram enormes e durante a gravidez houve dias que não sabia lidar com tanta dor e tristeza. Odiava aquele homem! O odiava mais que tudo com suas palavras doces e mentiras. E ele jamais teria qualquer contato com a sua menininha.

Fitou a filha dobrando a areia molhada em pequenas bolinhas... Ela até que levava muito jeito para uma pequena de três e meio, muitas crianças só desenvolvem a dobra aos seis e até mesmo sete anos. Shen aos dois já dava sinais do que havia vindo. Sorriu vendo a felicidade dela em algo tão simples, realmente apesar de tudo, as férias valiam por cada pequeno momentinho desse.

Num momento de distração ela subiu em Lin toda suja e molhada sorrindo fazendo com que a dobradora deitasse sobre areia com a água lhe tocando o corpo e deitou contra seu tronco com a cabeça na altura de seu coração.

– O que foi? – indagou mexendo nos cabelos –

– Gosto ouvir coração mamãe batendo...

O céu já era pintado pelos alaranjados do alvorecer e a earthbender apenas ficou em silêncio apreciando os sons da praia e sentindo a tranquilidade de vibrações enquanto tinha a filha sobre o colo. Nada se comparava aquilo.

Tenzin nunca experimentaria a dádiva de ser pai daquela menininha, ela era somente sua. Aquele era o preço pelos anos juntos e a quebra de palavra dele, mesmo que ele nunca soubesse o que perdeu.

***

O monge estava inquieto e isso não passou despercebido a esposa. Pema não queria brigar novamente, mas aquela agitação dele não era normal e somente Lin Beifong podia deixá-lo daquela maneira. Respirou fundo tentando abordar o assunto da melhor maneira possível.

Ele estava sentado em uma poltrona no quarto que dividiam perto da janela observando a lua com seu Juzu entre as mãos aparentemente entoando mantras suaves a procura de paz interior. Colocou a mão em seu ombro e esperou que ele a olhasse, sorriu.

– Querido...

– Algo errado, Pema? – indagou –

– Estive pensando, talvez fosse melhor voltarmos, já passamos muito tempo aqui e suas obrigações o esperam na cidade.

Tentava ao máximo esconder sua insatisfação, mas brigar só daria a ele um motivo para ir atrás de Lin.

– Eu tirei um mês, Pema, independente de voltar a cidade agora não voltaria a trabalhar, não se preocupe com isso, apenas aproveite nossas férias.

– Mas podíamos aproveitar deste tempo em casa, raramente temos a chance de aproveitar nosso lar. Sem dizer que podia usar destes dias para trabalhar mais no mosteiro algo que não vem tendo tempo.

Arqueou as sobrancelhas, antes de tudo foi ela quem o convenceu a viajar, estava cansada de ficar na ilha sem ter distrações.

– Por que de repente quer ir embora? Algo aqui a incomoda? – indagou no fundo imaginando a resposta –

A mulher fez uma pequena careta de insatisfação, mas tentou manter o tom leve.

– Não, tudo aqui é lindo e o hotel é ótimo... Acho só que estou sentindo falta de casa. – mentiu – Da nossa casa. – sorriu –

Fitou os olhos castanhos dela, tudo aquilo era por Lin.

Sentiu-se mal, afinal, casou com ela e agora sua vida estava uma bagunça. Sinceramente gostava de Pema, era uma mulher gentil, amável, carinhosa, entendia todas as suas obrigações e estava disposta a fazer de tudo para ajudar, aderiu aos ensinamentos dos nômades... Era a personificação da mulher perfeita para ele. Entretanto uma parte interna de si mesmo gritava que não queria perfeição alguma.

Sem dizer que agora tinha aquela criança que mudava tudo.

Definitivamente não permitiria que Lin o afastasse mais da filha deles e talvez pudessem... Afastou tais pensamentos, não podia simplesmente querer que voltassem como se nada tivesse acontecido e também agora era um homem casado. Naquele casamento perfeito... E realmente perfeição nunca soou tão imperfeito.

– Não posso ir embora agora. – disse calmo e sem rodeios e viu a face dela mudar rapidamente –

– É ela não é? – girou sobre os calcanhares e saiu andando pelo quarto – Esqueça essa mulher, Tenzin, Lin Beifong faz parte de seu passado. Ela até mesmo tem um filho agora, um filho de outro homem.

Fechou os olhos tentando manter a calma.

– Pema... Por favor...

– Por favor você. Casou-se comigo. Tinha uma escolha e eu fui a escolhida! Não tem direito mais de ficar correndo atrás dela! Sou sua esposa, respeite meus sentimentos!

– Eu a respeito muito, apenas surgiram coisas e eu não posso ir antes de resolvê-las.

– Coisas que não tem a ver com Beifong? – indagou o fitando numa última esperança –

– Não posso lhe garantir isso... – se levantou indo até a mulher que parecia cada vez mais irritada – Não reaja assim, é algo que não posso simplesmente ignorar!

– Pode ignorar sim! Não tem nada mais a ver com essa mulher! Somos casados!

Procurava em sua mente as melhores palavras, mas nenhuma parecia ser um eufemismo suficiente.

– Pema... – ela teria de saber de qualquer maneira – A criança de Lin é minha, ela me escondeu um filho, não posso ir antes de tirar isso a limpo.

A mulher foi perdendo a cor e acabou sentada sobre a cama de casal olhando-o abismada como se tentasse absorver as palavras ditas. O filho de Beifong ser de seu marido? Não, não podia ser! Era impossível!

– Mentira! Isso é mentira! Tenzin, use a cabeça! Essa mulher só quer fazer intriga com nosso casamento!

– Não diga o que não sabe, Lin não me contou nada, eu descobri através de deduções. – tentou se aproximar, mas foi repelido por ela – Pema, calma... Vamos conversar.

– Conversar o que? O que temos para conversar? Está dizendo que ela tem um filho seu, o que quer dizer que vai me deixar!

– Nunca disse isso, querida! Se acalme!

– Oh claro, e vai continuar casado comigo tendo que manter relações com essa mulher o resto da vida! Sabe muito bem que não poderá ter uma vida comigo onde ela esteja presente, ainda mais tendo um filho seu! É um airbender? Por acaso ela lhe deu seu herdeiro?

– Tente manter a calma, querida, não... O filho, ou melhor, a filha de Lin é uma earthbender. Lembra-se da pequena da praça? A garotinha cega que ajudamos?

– Aquela menina é filha da Beifong? Sua filha? – o mundo da jovem mulher ruiu – Como soube disso? Foi procurá-la e então... – fechou os olhos tentando manter um comentário ferino dentro da boca – Ela lhe deu um filho cego? – teve vontade de rir – Uma criança imperfeita...

Nesse momento Pema foi infeliz no comentário e mesmo sem ter contato com a menina sentiu aquele comentário bater em seus brios. Seu tom de voz saiu de macio para forte.

– Contenha seu veneno, Pema! Tem todo direito de estar irritada comigo, mas não com a menina que nada tem a ver com toda essa confusão. Ser cega não a faz menos perfeita do que eu ou você. Caso não se lembre-se: a fundadora da Polícia de dobra e grande amiga do meu pai Toph Beifong era cega de nascença.

– E mãe da Beifong. – completou com um leve asco na voz – Tudo bem, posso ter me excedido no comentário... Mas isso não justifica! E se não foi ela quem lhe disse, quem garante que é sua mesmo? Talvez as datas próximas o confundam.

– Não existe erro, a criança é minha e eu quero saber porque Lin a escondeu de mim!

– Tenzin, pense! Se Lin estivesse grávida, você não a teria deixado... Por que ela deixaria você se casar comigo tendo uma carta dessa na manga? Não faz sentido!

As palavras da mulher o acertaram e por um momento parou para pensar, mas Lin mesma disse durante a última conversa que não quis ouvi-la, e realmente ela o procurou duas ou três vezes após lhe contar do casamento. Ela tentou dizer, mas não quis ouvir.

– Eu não quis ouvir Lin após comunicar de nosso casamento, ela tentou contar. – suspirou – Vamos manter a calma, isso não é o fim do mundo, estamos casados e isso não vai mudar...

– Vai mudar sim! Eu não vou viver o resto da minha vida com a Beifong junto com sua garota, vocês dois juntos não vai dar certo! Esqueça isso, esqueça essa mulher e essa menina, vamos viver nossa vida, ter nossos filhos. Se é mesmo sua filha e ela não quis contar, deve ter seus motivos!

– Pema, está sendo infantil, não posso dar as costas a um filho!

– Um filho do qual nem sabia até semana passada! Não a conhece, não conviveu, não existe qualquer laço! Esqueça isso, querido... – se levantou pegando as mãos dele e o olhando nos olhos – Vamos ter nossa vida, com nossos próprios filhos... E airbenders. Sabe que por eu não ter dobra as chances de nascerem com sua herança é maior. Lin não precisa de você e essa garotinha também não.

– A que me toma? Não posso ignorar uma criança minha! Não me peça isso!

– Não pode ignorar a menina ou a mãe dela? Ter um filho da Beifong foi tudo o que sempre quis! E agora que ela teve um, não seria tão difícil convencê-la a ter outros... Não seja cruel, Tenzin, deu a mim sua palavra de que ficaríamos juntos, não pode voltar atrás assim! Eu o amo!

– Pema... – acariciou de leve o rosto dela –

– Vamos esquecer isso, ir embora daqui e viver nossa vida! Esqueça essa mulher, nos dê essa chance, me dê essa chance de fazê-lo feliz! Não volte com sua palavra, Tenzin, não volte...

Compadecia-se dela, mas esquecer Shen não era uma opção.

– Desculpe, mas não posso deixar para trás.

Os olhos castanhos se abriram velozmente e ela afastou-se de seu toque como se desse um choque.

– Então vá embora! Vá atrás dela como um cachorrinho adestrado! Viva a mercê das vontades e caprichos da princesa Beifong!

– Pema, acalme-se!

– VÁ EMBORA, TENZIN! FEZ SUA ESCOLHA, MAS NÃO VOLTE ATRÁS DE MIM CHORAMINGANDO QUANDO ELA NÃO QUISER TE DAR O QUE QUER! VOU EMBORA AMANHÃ NO PRIMEIRO BARCO!

***

E esposa realmente o foi.

Tenzin viu o barco partir com Pema dentro e sentiu seu coração pesar. Novamente suas palavras foram como folhas ao vento ao invés de entalhes em rocha. Aang com certeza deveria ter vergonha de ter criado um filho como ele, tão inconstante. Realmente poderia ter sido feliz com Pema se Lin não retornasse a sua vida, mas com certeza não teria como manter um casamento com a presença constante dela.

Estava sozinho.

Mas agora faria o certo, iria atrás de Lin tentar se aproximar sem grandes manobras, mas não hesitaria em tomar medidas drásticas caso ela o impedisse de conviver com a criança. Seus problemas eram de adultos e nada tinham a ver com a pequena inocente que merecia ter a presença de um pai.

Voltou ao hotel e após pagar a respeito dos dias que estivera ali, pediu um quarto mais simples de solteiro sem nenhum luxo. Não precisava de tanto espaço e conforto estando sozinho. Não estava em condições emocionais de bater de frente com Lin naquele momento, talvez no outro dia. Precisava de todo auto-controle e equilíbrio para lidar com aquela situação.

Foi até a praia mais tranquila e pôs-se a meditar a procura da paz que tanto necessitava. Talvez assim encontrasse a resposta para as tantas perguntas que lhe surgiram. Se pudesse entrar no mundo espiritual talvez pudesse pedir conselhos ao pai, mas estava completamente sozinho naquela empreitada. Teria de alçar seu voo no escuro sem indicações para onde seguir, a mercê da sorte e das correntes.

Continua...


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Notas finais do capítulo

E ai povo lindo que lê!! E mokona? O que achou? Pema foi uma pequena cruel ou não? Kisskiss