O Conto dos Dois Irmãos escrita por Pedro H Zaia


Capítulo 5
Capítulo 4 - Na Casa dos Trolls


Notas iniciais do capítulo

Olá gente, desculpem a demora, foi culpa da faculdade huhahaha
Mas, com o feriado de páscoa acabei me empolgando tanto que terei de dividir esse capítulo em dois, hehe...
Como sempre, espero que gostem XD



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No início aquela não parecia uma mina... Aliás, poderiam pensar que era apenas uma caverna normal - extremamente grande, porém normal - se não houvesse algumas pedras em formato perfeito de mais, como formas de arcos e colunas gigantes que pareciam ter ruído há séculos.

Os dois haviam percorrido uma grande distância debaixo da terra, Edgard calculava que o túnel do qual saíram percorria quase rente à parte de fora da montanha, dobrando-se um pouco para dentro dela no final, o que explicava o porquê de Rudolph os ter dito que a saída era em cima da entrada. "Certo... Passamos pela parte 'caminho mais curto'. Agora vem a parte perigosa." pensou Edgard.

A frente deles havia um caminho que parecia o leito seco de um córrego... Ele fazia uma curva pra a direita e outra para a esquerda, moldado pelas enormes pedras do interior da montanha.

– Será que o Rudolph nos mandou pro caminho certo? - Indagou Edward.

– Mandou sim... Vamos, tem luz vindo dali - Edgard disse, mostrando a fraca luminosidade vinda de além de uma das curvas do leito seco do riacho.

Os dois andaram pelo pequeno leito até a luz. Não se podia dizer de onde ela vinha, mas iluminava o lugar todo de uma maneira sobrenatural... A frente deles erguia-se um enorme portão de bronze com barras grossas e próximas o suficiente para que um ser humano não pudesse passar... Não havia placa, mas a mensagem era clara: "Afaste-se"; além das grades via-se um lugar muito grande e aberto, com algumas "ilhas" de pedra que se erguiam do fundo da montanha e eram interligadas por pontes. Ao fundo, também era visível uma enorme roda d'água feita de bronze entalhada com complicados padrões de nós.

Edgard olhou em volta, e avistou uma tênue luminosidade bruxuleante característica de tochas em um ponto muito acima deles. Aquilo devia ser a saída que Rudolph os havia falado.

– Bom, lá está a nossa saída. Mas como... - Ele foi interrompido pela voz Edward

– Aqui! - Ele havia deslizado por entre as grades quando Edgard estava distraído. - Acho que isso aqui deve ser pra abrir o portão... - Antes que o irmão pudesse lhe alertar sobre um possível perigo, ele girou uma manivela que soltou estrondosos ruídos de correntes e fez o portão abrir... "Nossa, bem mais leve que eu esperava..." Pensou Edward enquanto abria o portão para que o irmão entrasse.

Assim que o portão subiu o suficiente para que pudesse atravessar, Edgard o fez, e cochichou para Edward:

– Você está louco? E se algum troll nos ouvisse aqui? - Ele soava tenso, mesmo não estando bravo com o irmão... Ele estava apenas preocupado com a segurança do mais novo, que se encolheu um pouco.

– Desculpe... Eu só... Quis ajudar - Disse ele, em tom de vergonha, sentindo-se como se tivesse feito algo errado. Edgard suspirou.

– Não foi nada, Ed... Foi genial, mas me avisa da próxima vez, ok? Não quero que os trolls nos ouçam. - Isto pareceu animar um pouco o menor.

Agora que estavam para dentro do portão, podiam enxergar melhor o lugar... Era uma fortaleza enorme, as "ilhas" que subiam da parte mais profunda da montanha eram na verdade torres feitas com blocos de pedras, ligadas por pontes que corriam um sério risco de ruir. Ao lado deles erguiam-se enormes pilastras que levavam a um ponto mais atrás deles - provavelmente a sua saída - e Edgard também notou uma coluna redonda e muito grossa, com uma espécie de trilho que desembocava no topo das pilastras.

Mais a frente, além da roda d'água, viram algumas escadas subindo. Era pra lá que tinham de ir.

Desta vez o mais velho adiantou-se, pois sabia que se demorasse um pouco mais o mais novo o faria, expondo-se ainda mais a perigos antes que Edgard pudesse achar um meio de protegê-lo, coisa que o mais velho impediria a todo custo que acontecesse novamente. Apenas de lembrar como o irmão quase morrera de maneira tão boba, atravessando um canteiro numa situação muito menos perigosa que na qual eles se encontravam, Edgard sentia-se mal... Mas era necessário. O pai dependia deles... Edgard já teria desistido e levado o irmão em segurança de volta para casa na hora em que o cachorro os atacou, se a situação não fosse tão grave.

Edward seguia de perto o irmão, que estudava uma maneira de passarem pela roda d'água.

– Não tem como chegarmos do outro lado indo em frente... Teremos de dar a volta. - O mais velho olhava para algumas formações de pedras que se erguiam do fundo da montanha e pareciam dar a volta por tás de uma coluna natural de pedras. - O problema vai ser chegarmos ali sem se machucar...

Observando melhor, o mais novo viu algumas grades na roda d'água, grades nas quais poderiam se agarrar para descer às formações rochosas que o mais velho indicava.

– Podemos usar a roda para descermos. Depois pulamos pra aquelas pedras ali que você disse. - Edward falou, e Edgard deu um sorriso, um tanto impressionado com o irmão.

– Nosso pai tem razão quando fala da sua inteligência... - disse ele, sinceramente. Edward sentiu as bochechas arderem um pouco com o elogio.

Os dois seguiram então até a roda d'água onde se agarraram e desceram para as pedras e escarpadas entrecortadas por braços de água, metros abaixo. Com Edgard à frente, eles pularam de pedra em pedra até outra parte da fortaleza subterrânea, que parecia ocupar todo o interior da montanha. Abaixo podiam ver várias pontes se cruzando e diferentes torres de alturas diferentes, todas com entradas que pareciam estranhamente pequenas para trolls.

Chegando à outra parte da fortaleza, viram que existia de fato um caminho que provavelmente os levaria para onde queriam, mas havia uma dificuldade... Entre a torre onde estavam e outra, passava um riacho raso, porém veloz, que girava uma roda de três pás. A roda deveria ser ligada às engrenagens do tamanho de pessoas que giravam fazendo um enorme barulho.

– Se conseguirmos travar essas engrenagens, podemos usar aquelas pás de ponte... - murmurou Edgard.

– Vamos dar uma olhada ali em cima, talvez tenha outra passagem mais fácil - disse Edward, adiantando-se e subindo as escadas, à frente das engrenagens. Edgard subia atrás, pensando que algo ali lhe parecia muito estranho... Quando que exatamente lhe parecia tão esquisito naquele lugar, parou.

– Ed... Por que será que tem escadas para humanos aqui numa fortaleza de trolls?

Edward pensou um pouco antes de responder.

– Você não lembra das histórias que a mamãe contava? - Perguntou o mais novo

– Eu, hã... - Edgard sentiu-se um tanto envergonhado. Amava a mãe tanto quanto Edward, mas fazia tempo que deixara de acreditar em trolls, mal se lembrava de como eram as histórias...

– Ela sempre contava uma sobre os tempos antigos... Dizia que em uma época muito antiga, os trolls e humanos eram amigos. Esse palácio deve ser dessa época.

– É, pode ser... - Uma verdade atingiu Edgard de súbito... Até o momento, ele havia apenas acreditado que os trolls eram reais, pois havia visto um. Mas agora via que todas as lendas podiam ser reais, o que tornaria sua viagem ainda mais perigosa... Acreditava na Árvore da Vida, pois ela raramente aparecia nessas histórias fantásticas, e vez ou outra, quando mais novo, ouvira pessoas afirmando que a haviam visitado. "Assim como ouvi histórias de pessoas que viram gigantes e árvores com vontade própria, mas achei que estes eram loucos..." pensou ele. - Ed, você ainda acreditava nessas lendas quando achamos Rudolph?

O mais novo balançou a cabeça, confuso.

– Na verdade... Não - Agora eles estavam explorando aos poucos a parte de cima das escadas, que, pelo que se podia ver, não tinha outra saída - Eu queria acreditar, entende?... Mas apesar disso achava que deviam ser lendas.

– Entendi... - disse ele, tocando em um dos imensos cilindros de cobre que estavam espalhados por ali. Estava quente - não a ponto de queimar, mas ainda assim, quente. Edgard sentiu que tinham alguma relação com as engrenagens e as pás giratórias, mas não sabia o que... Aquilo não importava de fato, o que queria mesmo era um jeito de parar as tais engrenagens, para que pudessem atravessar o riacho. Edgard ficou olhando melhor àqueles cilindros, procurando algo que pudesse ajudá-los quando ouviu o irmão.

– Ed! Vem cá! - Edward o chamou - Acho que encontrei algo que pode nos ajudar! - Ele estava tentando levantar uma pesada barra de metal, atrás do cilindro que Edgard observava. - Acho que podemos travar as engrenagens com isso!

– Isso mesmo, Ed! Vamos, eu pego desse lado. - disse ele, levantando uma metade da pesada barra de metal.

Os dois conduziram o objeto pelo pequeno labirinto formado pelos grandes cilindros de metal, e o carregaram escada abaixo. Antes de prenderem a barra nas engrenagens, Edgard pensou em uma coisa.

– Espere Ed! Vamos prender as engrenagens quando eu disser... Vou tentar prendê-las quando uma das pás estiver no nível do chão... - Edward acenou a cabeça em concordância. Seu rosto estava vermelho, pois o esforço para ele era muito maior que para o irmão mais velho. - Agora! - os dois deram um passo para o lado e as engrenagens fizeram o resto, puxando a barra de metal que as prendeu, com um barulho estrondoso... As engrenagens e as pás ainda gemiam e estalavam, mas a grossa barra de metal impedia que o sistema voltasse a funcionar.

Os irmãos foram precisos ao travar as engrenagens, de modo que as três pás estavam paradas na posição certa para uma delas formar uma ponte estreita, porém nivelada atravessando o córrego, que batia furiosamente contra as pás, forçando-as para que voltassem a girar.

Edgard foi à frente, e um Edward ainda vermelho pelo esforço o seguiu de perto. O lugar era mais um certamente construído para humanos, pois havia escadas descendo até um mecanismo de bronze, formado por uma barra em "T" presa a um trilho.

– Não tem ponte... - Observou Edgard. Como se não bastasse, agora teriam de achar outro caminho, pela falta de uma mísera ponte! - Vamos voltar, talvez haja outro caminho.

– Não Ed... Olhe melhor - Respondeu o mais novo - Eu acho que aquela coisa ali em baixo tem alguma coisa a ver com essas engrenagens debaixo do chão...

Edgard olhou mais atentamente para o outro lado do vão, e viu algumas engrenagens logo abaixo do piso, do outro lado. Observou também, que no final dos trilhos daquela estranha barra em forma de "T" havia um encaixe para a tal barra, que talvez acionasse algum mecanismo.

– Como você consegue reparar nessas coisas? - disse o mais velho, bagunçando os cabelos do irmão mais novo. - Você é muito esperto, Ed!

Nesse momento, o mais novo teve certeza de que a provável vermelhidão em seu rosto não era mais por conta do esforço... Ele, sempre se espelhara no irmão mais velho para muitas coisas, e ser elogiado por ele era... Diferente. Quando o pai ou a mãe o elogiavam, sempre podia haver algum exagero da parte deles, mas os elogios e críticas do irmão eram sempre sinceros.

Os dois desceram as escadas e cada um pegou em um dos lados da barra, e conduziram-na até poucos passos à frente, onde o trilho abria-se em dois e levava a dois encaixes iguais.

– Vamos tentar por esse treco no encaixe do outro lado, onde tem as engrenag... - Edgard notou que o lado onde estavam também possuía engrenagens. - Ok... Vamos lá, do mesmo jeito.

Eles viraram a barra e a conduziram a um dos encaixes, que, quando acionado, girou várias engrenagens e com um barulho mais alto que Edgard julgava necessário, fez uma grossa placa de bronze se estender do chão até metade da distância entre as partes da fortaleza.

– Será que se tirarmos essa barra do encaixe a ponte volta? - Perguntou-se Edward.

– Não sei... Temos que tentar, se não der, precisamos encontrar outro caminho... - Aquela possibilidade o assustava, pois haviam coberto uma assombrosa distância pelo túnel que Rudolph os havia deixado... Tudo que precisavam era achar a saída, que segundo o troll amigo, era logo acima da entrada... Se voltassem agora para procurar outro caminho, seria desperdício de um tempo precioso... Precisavam chegar até a Árvore o mais rápido possível, pois a cada segundo Edgard sabia que seu pai piorava...

Os irmãos puxaram então a barra para trás, e nada aconteceu... A esperança dos dois pareceu renovar-se um pouco, e quando acionaram o outro encaixe, a outra metade da ponte ergueu-se com um barulho tão ensurdecedor quanto o da primeira, que apesar de todo os temores dos dois, continuava lá

– Deu certo! - Exclamou o mais velho - Vamos Ed, não temos tempo a perder.

O mais novo acenou positivamente a cabeça, e os dois atravessaram a ponte a passos largos. Pularam pelas pedras por um caminho paralelo ao que tinham percorrido e chegaram, como o esperado, do outro lado da roda d'água... Ali certamente não era um lugar para humanos, pois não havia escadas para o nível do chão acima deles, quase dois metros acima.

– Como fazemos pra subir? - Questionou Edward - Não dá pra usar as grades da roda, ela está descendo muito rápido para tentarmos ir contra...

Edgard acenou a cabeça em concordância

– Você acha que consegue subir se eu te der apoio? Suspeito que aquela corrente feche a passagem de água para a roda... Afinal, eles devem ter que parar o mecanismo para fazer reparos, de vez em quando...

Edward respondeu que sim, e esperou o irmão fazer apoio com as mãos para que ele pudesse subir. Já no nível de chão mais alto, constatou que o irmão devia estar certo, pois a corrente que haviam visto estava presa a um mecanismo que acompanhava as calhas até um ponto onde a fortaleza o encobria - provavelmente, até a fonte da água que corria pelas calhas de bronze até a roda d'água.

O garoto pulou para tentar agarrar a corrente, mas ela estava muito alta... "Na altura certa para um troll" pensou ele. Analisando melhor o lugar, viu que provavelmente seria mais fácil subir mais um nível e pular na direção da corrente, que estaria na mesma altura. Por sorte, ali havia uma escada de trolls, cujos degraus eram mais altos e largos que os de uma escada normal, porém baixos o suficiente para que Edward subisse sem problemas - provavelmente graças ao comprimento das pernas dos trolls.

Quando se preparava para pular e se pendurar na corrente, Edward ouviu a voz preocupada do irmão.

– Tudo bem aí, Ed?

Ele não respondeu imediatamente. Antes disso, pulou e agarrou a corrente, que abaixou com um gemido e interrompeu o fluxo de água, fazendo a roda parar imediatamente.

– Tudo bem - respondeu, enquanto estava pendurado e Edgard usava a roda d'água para subir - E você estava certo, essa corrente serve mesmo para parar a água...

Edgard sorriu com uma lembrança que lhe veio à cabeça, vendo o irmão pendurado na corrente.

– Desce daí, macaquinho! - riu ele

– Ei! Essa fala era do papai! - Edward também riu com a lembrança e soltou-se da corrente e subindo as escadas com o irmão. - Pois é, parece que só temos um camin... - Edgard o puxou para trás e tampou sua boca com a mão... Depois de livrar o irmão, ele colocou o dedo indicador a frente dos lábios, pedindo silêncio - ...nho - completou Edward, confuso... Mas quando olhou para onde o irmão olhava seu coração também gelou.

Abaixo da ponte que estavam prestes a atravessar, e um pouco ao lado, estavam dois trolls, extraindo rochas das paredes da montanha... Completamente absortos em seus trabalhos, não avistaram os irmãos.

– Ed... - falou Edward, com a sua voz quase inaudível, tanto pelo medo, quanto pelos barulhos da água girando a roda e dos troll minerando - Eles não te parecem... Diferentes?

A aparência dos trolls era... Bem, a de um troll... Mas Edgard entendeu o que o mais novo quis dizer... Não pareciam amigáveis como Rudolph... Seus rostos eram mais duros, e de algum jeito que não conseguia reconhecer, inspiravam medo. Pareciam capazes de virar a qualquer momento e acertar os irmãos com as picaretas, mesmo daquela distância, caso os vissem.

– Vamos atravessar rápido, ok? Quando não tiverem olhando - Sussurrou Edgard.

Edward respondeu que sim com um aceno de cabeça.

– Agora! - sussurrou o mais velho um pouco mais energicamente, e os dois atravessaram correndo o mais silenciosamente possível a ponte e subiram as escadas - estas novamente para humanos - no final dela, saindo da vista dos trolls.

Aquele era um lugar inteiro visivelmente feito apenas para impressionar... Havia uma fonte de onde escorria água para um anteparo mais baixo, todo adornado e com algumas aberturas para formar algumas cachoeiras artificiais... Ali nadavam alguns peixes, e ao ver isso, os irmãos notaram o quanto estavam com fome - não comiam desde o café da manhã e podiam quase sentir o cheiro daqueles peixes assando... O lugar onde estavam ficava próximo de uma abertura na parede da montanha, que deixava entrar a luz do sol, muito abaixo de onde os irmãos estavam - Edgard presumiu que tal abertura deveria servir de entrada em outros tempos, pois de lá, o lugar onde os irmãos estavam seria completamente visível.

– Se as lendas são reais... O que será que aconteceu para os trolls odiarem tanto os humanos, como as histórias contam? Tem muitos lugares pra humanos aqui... Será que eles não são mesmo como Rudolph?... - Edward não precisou de uma resposta... Apenas de olhar para aquelas criaturas, soube que jamais seriam amigáveis com ele. Mesmo assim...

– Olha Ed... Não sei por que existem tantas passagens para humanos nessa fortaleza de trolls, mas estes certamente não são como Rudolph... Só o que sei é que quero sair logo dessa montanha e arrumar algo pra comer. - Respondeu o mais velho, tentando levantar um pouco o moral do irmão, que deu uma risada de leve.

– Verdade... Vamos logo, parados aqui não vamos ajudar nem nosso pai nem Rudolph... - De repente, Edward lembrou-se de algo... Quando encontraram Rudolph, o troll estava aos prantos... Havia duas camas, na cabana, mas só havia um troll e, além disso, aquele homem havia dito que encontrariam Rudolph e Gilda... Edward já suspeitava que Rudolph e Gilda provavelmente fossem um casal, e também que a tristeza de Rudolph tivesse relação com ela, mas não sabia como... E nem a relação que isso teria com a mina dos trolls. Mas, pensando bem... - Ed... Acho que já sei o que houve com Rudolph.

Edgard, que estava prestes a subir uma escada e sair do recinto, parou.

– O que foi Ed? - Indagou o mais velho

– Não é natural dos trolls ajudarem os humanos... Pelo menos não hoje em dia... - Edgard acenou com a cabeça, pedindo para que o irmão continuasse. - Será que eles não fizeram algo com Gilda? Afinal, se ela vivia junto com Rudolph... - Edward não precisou terminar... O irmão já havia entendido. Agora havia mais alguém que precisariam salvar da morte certa.

– Então vamos logo... Precisamos sair daqui o quanto antes - Edgard quase não conseguia disfarçar o temor em sua voz... A vida de mais alguém estava agora em suas mãos, isto se Gilda e o pai ainda estivessem vivos... "Não pense nisto agora, Edgard..." disse a si mesmo "Vamos sair logo daqui".

Eles subiram as escadas com certa dificuldade, pois boa parte das estruturas ali havia ruído, mas por sorte o caminho não estava inteiramente bloqueado. Quando atravessaram os escombros, chegaram a um lugar do qual se podia ver mais claramente as minas em si...

Mais abaixo, podia-se ver mais de dois trolls trabalhando - Edward contou quatro apenas ali. Também eram visíveis alguns trilhos, onde carrinhos transportavam minérios extraídos de um lugar para outro... O que chamou atenção de Edgard foi que não havia caminho para o lado que precisavam ir - aliás, não havia caminhos para sair dali, senão voltar atrás. Tudo em volta deles eram escombros ou haviam se tornado escombros no fundo da montanha.

Procurando por um caminho, Edgard notou outra coisa... Parecia que todas as amuradas nos lugares feitos para humanos davam uma vista superior dos trolls, como se fossem feitas para que alguém ficasse de olho no trabalho das criaturas... Então a voz baixa do mais novo interrompeu seus pensamentos

– Ed, não dá pra usarmos esses trilhos de caminho?

Edgard não entendeu, num primeiro momento... Descer e se revelar para os trolls era loucura, mas então ele notou que Edward não olhava para baixo... Olhando com mais atenção, viu que existiam algumas barras de bronze penduradas acima deles... "Não, não são apenas barras..." graças à dica do irmão, ele viu que na verdade eram trilhos que levavam algumas correntes penduradas... Edgard também reparou em algo que não dera importância anteriormente: Outro daqueles mecanismos em "T" com um encaixe ao fim de um trilho curto.

– O que você acha que esse mecanismo faz, Ed? - perguntou o mais velho.

– Não sei... Mas acho que ele deve fazer essas correntes andarem nos trilhos... Essa é a única coisa que parece também ser mecanizada, por aqui.

Edgard concordou. Os dois acionaram o mecanismo, e por sorte, Edward estava certo. Quando as correntes começaram a se mover nos trilhos fizeram muito barulho, e os irmãos se abaixaram, para o caso dos trolls olharem... Mas não deram atenção ao estrondo

– Acho que barulhos repentinos são comuns nesta velha mina... - Observou Edgard. - Eu vou na frente - Disse ele indo até as correntes e pendurando-se em uma delas.

Edward esperou alguns segundos pela próxima corrente e foi logo atrás. Alguns metros à frente, os dois tiveram de descer em uma das torres, pois um estranho mecanismo bloqueava a passagem... Parecia feito exatamente para impedir que alguém utilizasse aquelas correntes como caminho. Não havia como voltar, as correntes seguiam em sentido único pelos trilhos. Suas mentes trabalhavam desesperadamente em uma resposta enquanto tentavam esconder o pavor que sentiam, quando Edward reparou em algo escondido na penumbra.

– Ed, eu acho que a manivela ali abre essa passagem, mas não tem como subirmos... - disse o mais novo

Mas aquele patamar ficava muito acima, a mais de dois metros do nível onde estavam... Não havia jeito de subirem para acionar manivela. Pelo menos, não os dois juntos...

– Ed, acha que alcança aquilo ali se eu te jogar para cima?

O mais novo acenou positivamente a cabeça, e esperou que Edgard fizesse apoio com as mãos. Com um impulso do mais velho, ele alcançou as pedras e se içou para cima... No patamar mais alto, foi até a manivela e a girou, fazendo o estranho mecanismo que impedia que algo mais grosso que a corrente passasse se abrisse. "Ufa..." pensou ele "Que bom que estávamos certos".

– Ok, Ed! Já dá pra você passar... Acho que consigo continuar daqui - disse Edward, observando que em seu nível havia um caminho acompanhando os trilhos ao lado...

Mais a frente, havia outro daqueles sistemas, que Edward abriu com a mesma facilidade do anterior. Mais a frente o garoto teve de pular sobre uma ponte de bronze cuja parte mais central ruíra. Em certa altura, Edward viu que o caminho por onde seguia havia desabado, mas Edgard também já havia visto, e desta vez era o mais velho que tinha um plano.

– Ed! - Chamou o mais velho com cautela, pois logo abaixo dois trolls trabalhavam forjando uma... O que seria aquilo, algum tipo de arma? Edgard não queria nem saber. - Se pendura nessa corrente... Acho consigo manusear essa coisa!

Ele se referia a um grande braço de metal com uma corrente presa. Pelo que Edgard via, se ele puxasse a alavanca a estrutura se moveria, transportando a corrente e o que quer que estivesse pendurado nela, para o outro lado. Edward entendeu o que fazer imediatamente, mesmo sem o irmão dar maiores explicações... Ele viu que Edgard moveria aquele guindaste manual e pularia de imediato para uma corrente, que logo a frente era bloqueada por outro mecanismo que deveria estar desativado, senão o mais velho cairia para a morte certa - fosse pela queda em si ou pelos enormes trolls que trabalhavam logo abaixo do trilho - e Edgard sabia que não precisava falar mais nada, pois estava certo de que o irmão entenderia. Era como se os dois pudessem sentir o que o outro pensava...

E assim eles fizeram; Edward segurou-se na corrente do braço mecânico e Edgard virou a alavanca, transportando o irmão para o outro lado e pulando em uma das correntes que ainda se moviam pelo trilho logo em seguida. Edward abriu a passagem para o irmão maior bem na hora que ele passava, e ensurdecidos pelos barulhos das próprias marretas, os trolls nem se deram conta do que se passava sobre suas cabeças.

Pouquíssimo mais a frente, Edgard desceu das correntes, pois viu que não havia jeito de Edward acompanhá-lo. O caminho por onde ele seguia fora novamente interrompido por uma ponte caída. Por sorte, ali havia outro daqueles guindastes, que usaram para que Edward fosse para a mesma torre onde estava o irmão. Até o momento, Edward havia dado tantas voltas que estava completamente perdido.

– Para onde vamos agora, Ed? - perguntou ele ao irmão mais velho quando viu que o trilho entrava para a fortaleza dos trolls por uma passagem muito apertada.

– Vamos subir por essas pedras e tentar chegar no... Podemos chamar aquilo de castelo, eu acho... - Respondeu Edgard - Se não estou enganado, devemos estar mais ou menos atrás da roda d'água...

– Estamos mesmo... Olha, bem ali, entre a torre e a coluna de pedras - Edward já havia notado aquilo, mas não havia se dado conta de que era a mesma roda d'água de antes. Edgard estreitou os olhos

– Isso mesmo, bem ali... Acho que temos que subir mais.

Ele tinha razão. Os dois subiram pelas pedras estranhamente geométricas - obviamente quebradas para fazer os blocos utilizados na construção da fortaleza subterrânea. Edgard distraiu-se por um momento, olhando para os enormes trolls trabalhando nas minas e imaginando o que os humanos teriam feito para serem tão odiados, e Edward teve que segurá-lo para que ele não caísse.

– Mais cuidado, Ed...

O mais velho respondeu com um olhar assustado; um passo a mais e ele despencaria para o fundo da montanha.

Os dois pularam o vão e continuaram subindo... Quando escalavam uma pedra mais alta pelas suas ranhuras, Edgard lembrou-se de algo.

– Temos de subir mais... Lá em baixo, quando entramos aqui, vi alguns trilhos em volta dessa coluna... - ele indicou com a cabeça a grande estrutura cilíndrica ao seu lado - Pareciam ir parar em um caminho direto para onde queremos ir, mais ou menos em cima do portão...

– Ah, sim... Bom, acho que por enquanto, subir é mesmo o único caminho... - comentou Edward

Agora eles não estavam mais em pedras cruas, e sim num pedaço externo da fortaleza, e utilizaram alguns adornos em forma de anel para subir, mas poucos metros acima uma marquise os impediu de continuar.

Edgard olhou para o lado e viu que a calha onde estavam agarrados continuava, formando um caminho que poderiam utilizar para chegar até a outra parte da fortaleza, dez metros a sua esquerda.

– Vamos Ed, lá deve ter outro jeito de subir - disse o mais velho, procurando ignorar a possibilidade de haverem trolls na fortaleza.

Eles rastejaram-se então para o lado, atravessando o vão entre as duas torres. No meio, havia uma falha na barra de metal, mas os dois pularam aquela parte sem dificuldades. De lá, podiam ver a roda d'água, ainda trabalhando a frente e abaixo deles.

Do outro lado, aquela torre estava mais silenciosa que esperavam, afinal haviam visto luz saindo logo abaixo do nível onde estavam. Mas não havia trolls... Além disso, a torre tinha uma entrada completamente bloqueada por escombros - era grande e impressionante para um ser humano, mas que deveria ser pequena demais para qualquer troll. Havia um banco e uma amurada arrebentada, como se aquilo fosse a varanda de um palácio. Um palácio inteiramente de humanos.

O que Edgard achou ainda mais estranho era que de lá se podia ver todos os trolls trabalhando, como se aquele lugar tivesse sido construído exatamente para isto.

– Temos que subir e voltar para a outra torre, Ed? - Edward interrompeu os pensamentos do irmão - Dá pra usarmos essas grades em cima da porta pra subir e aqueles enfeites para ir pro outro lado - ele se referia a três arcos de bronze presos entre as duas torres que pareciam servir apenas para embelezar o lugar. E falhavam miseravelmente, se fosse o caso.

– Ok, vamos. Eu faço apoio para você alcançar as grades - respondeu Edgard, que assim o fez.

Eles subiram, com Edgard rastejando-se na frente para a outra torre.

– Ed, eu vou antes, se esses arcos me aguentarem, então com certeza vão te aguentar também. Se não, bom... Melhor não pensarmos nisso - ele tentava disfarçar o medo em sua voz. Edward não respondeu, mas apenas agora se dera conta de que os dois estavam realmente correndo risco de vida ali dentro... O medo dos que sentira dos trolls havia encoberto o temor que aquele lugar como um todo causava.

Edgard pulou para o primeiro arco, que gemeu e estalou, mas suportou o seu peso. Assim foi com o segundo, e o terceiro também balançou um pouco, mas isso foi tudo. Aliviado, ele chamou o irmão mais novo, que ainda estava do outro lado, esperando o sinal de que era seguro.

Mas algo deu errado. Quando Edward agarrou-se no primeiro arco, toda a estrutura tremeu, e o barulho de algo se quebrando pode ser ouvido. O coração de Edgard gelou "Sou um idiota... Atravessei antes e deixei a estrutura toda ainda mais frágil!".

O mais novo pulou rapidamente para o segundo arco, e então para o terceiro assim que a estrutura começou a ruir de vez... Conseguiu se impulsionar para o piso onde estava o irmão, mas o terceiro arco quebrou no último segundo, e ele soube não conseguira força suficiente para cobrir aquela distância... Mas então sentiu a mão de Edgard fechando-se sobre sua mão direita, estendida inutilmente pra tentar agarrar a marquise que lhe escaparia por milímetros, não fosse o irmão para ajudá-lo.

– Te peguei Ed! - Edgard estava debruçado perigosamente sobre a borda da marquise.

Edward estava pendurado um pouco acima da calha que haviam acabado de usar para atravessar o espaço entre as torres. Olhou com mais atenção para baixo, para ver se o barulho havia alertado algum troll, mas tudo ainda parecia normal. Edgard começou a içá-lo para o chão, e Edward ajudou-o com a mão livre, assim que conseguiu alcançar o piso. Os dois se abraçaram

– Me desculpe - começou Edward, vendo como o irmão parecia abalado com mais uma quase morte dele, mas foi interrompido pelo mais velho.

– Não precisa... A culpa foi minha. Eu devia ter deixado você atravessar antes...

Edward queria rebater, dizendo que ele provavelmente não teria forças para segurar Edgard, caso a estrutura ruísse com ele, mas decidiu deixar o irmão, pois ele devia saber disso... Só estava preocupado.

Os dois se soltaram do abraço, e Edgard deu uma leve risada.

– Disse que não me assustaria mais desse jeito hoje mesmo mais cedo, lembra?

Edward sorriu

– Lembro... Dessa vez é uma promessa, tá? Eu, Edward Hensler, juro que não te assustarei mais desse jeito - riu-se ele.

– É bom que cumpra, viu mocinho? - Respondeu o mais velho, em um fingido tom sério.

O pequeno sorriu fracamente antes de mudar de assunto.

– Pois é, você estava certo... Tem um trilho mesmo aqui - Edward reparou.

Edgard observou e viu que de fato existia um trilho que serpenteava pela grande coluna e saía em algum lugar do outro lado. Presa ao trilho havia uma barra de metal obviamente feita para deslizar neles. Edward pendurou-se em um lado, e Edgard segurou no outro. O mais velo era suficientemente alto para segurar o outro lado da barra e continuar com os pés no chão.

– Pronto Edward?

O mais novo fez que sim com a cabeça, e Edgard deu o impulso para que os dois descessem pelos trilhos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, o próximo não vai demorar tanto, até por que ele já está pronto huhaha
Só que só vou postar quando eu já tiver na metade do outro hehe
Se gostaram, não esqueçam de acompanhar a fic, por que as vezes demora pra eu conseguir escrever um capítulo :P



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