Ströme der Seele escrita por Buch


Capítulo 16
Vazio


Notas iniciais do capítulo

Mais um para coleção!

Boa leitura!



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05/04 - Ponto mais alto da montanha Huggia

Kurapika estava atônito. Agora tudo fazia sentido. Por esse motivo Maia sempre vinha a essa montanha, por esse motivo conhecia bem a floresta, por esse motivo tinha tanta resistência ao frio. Aquelas ruínas um dia foram sua casa, seu lar.

Deus..o que deve ter acontecido aqui?

O jovem Kuruta agora observava a garota se deslocar por entre os escombros. Estava indeciso se deveria dizer algo à ela ou apenas se calar. Tratava-se de um assunto profundamente pessoal. Porém havia outra coisa que o deixara ainda mais confuso. Ela havia confiado à ele esse segredo, havia se exposto de tal forma que ele nunca imaginaria possível.

Se fosse eu...eu a levaria até minha tribo? Deixaria ela me ver enquanto estivesse completamente exposto à dor? Até que ponto conseguiria partilhar isso com alguém...acima de tudo, um alguém que não conhecia a tanto tempo?

Todos esses questionamentos fizeram o Kuruta pensar sobre sua própria relação com a garota. Na verdade não poderia comparar essa relação com nenhuma outra que havia tido anteriormente. Desde o primeiro momento que a conhecera, nada entre eles havia sido convencional. Muitas sensações e sentimentos se instalaram nele desde que viu Maia, como uma grande montanha russa. Houve ódio, raiva, desprezo, gratidão, curiosidade, admiração...e agora talvez....empatia? Kurapika não sabia dizer.

O garoto então passou a segui-la com cautela. Decidiu que o melhor a fazer seria ficar quieto e observar. Se ela quisesse lhe dize algo ele estaria pronto para ouvi-la, assim como estaria pronto para receber seu silêncio, se fosse apenas isso que ela quisesse compartilhar. Sendo assim, ele só podia imaginar os motivos que faziam a garota retornar a esse local periodicamente. A idéia de voltar a sua tribo deixava Kurapika profundamente abatido. Ter que rever aquele que um dia foi seu lar era algo quase insuportável para ele. Será que ela estava sentindo o mesmo? O jovem Kuruta não sabia o que havia acontecido naquele local, mas julgando pelo estado das construções, imaginava não ter sido algo bom.

Maia foi se dirigindo até uma parte mais profunda do local. Kurapika a seguia a certa distancia na intenção de não incomodá-la ou atrapalhá-la em nada. Ele parou de andar assim que notou que a garota havia cessado seu passo. Ela permanecia parada olhando fixamente para frente. O Kuruta não podia ver o que ela estava observando, uma vez que eles estavam em um nível mais elevado do que o local onde a garota mirava. Para ter acesso ao lugar ela deveria descer por entre uma estrada de neve. Foi exatamente o que ela fez.

Kurapika observou por um instante Maia desaparecer durante sua descida, para só então se aproximar mais do local onde a garota estava parada anteriormente. Ao chegar ao ponto exato de onde Maia havia parado por um instante, pôde ter a mesma visão que ela havia tido. Havia uma grande extensão de terra completamente coberta de neve à sua frente. Entretanto não era isso que tornava o local especial, e sim as dezenas de túmulos que preenchiam toda sua extensão. Kurapika estava olhando para um grande cemitério.

Maia já estava chegando próximo a primeira fileira de túmulos. Kurapika foi descendo pela estrada de neve até ficar próximo a ela.

– Já se passaram 15 anos. Todas as pessoas que um dia viveram nessa tribo estão enterradas aqui. Eu serei a única que não estará...- disse ela enquanto se agachava em frente aos túmulos.

A garota se ajoelhou apenas com a perna direita, deixando a esquerda ainda flexionada. Ela então apoiou seu braço esquerdo no joelho e logo em seguida apoiou sua cabeça no mesmo. Ela passou a murmurar algo que Kurapika não podia entender, mas que acreditava ser uma oração. Ele esperou a garota terminar seu ritual e se levantar para então se pronunciar.

– Isso não é algo que deveria pensar no momento. Você é nova, tem muito o que viver. – disse o garoto.

Pela primeira vez desde que chegaram ao local Maia se virou para encarar o Kuruta.

– Viver? Talvez a palavra adequada seja sobreviver. Não tenho interesse em viver tanto assim. – a garota agora olhava fixamente para ele – Além do mais, não mereço ser enterrada entre essas pessoas, uma vez que fui a responsável pela morte de todas elas.

Aquela declaração pegou Kurapika de surpresa.

O que ela queria dizer com isso? Como poderia ser responsável por tudo aquilo? Ela os havia matado? Não, não poderia ser...deveria haver outra explicação.

Maia pareceu perceber a confusão no semblante do Kuruta.

– Não os matei diretamente, mas se não fosse por mim eles não estariam mortos. Sendo assim, não posso negar que fui a responsável por isso. – acrescentou ela.

Kurapika então passou a formular hipóteses sobre o acontecimento. Ela se sentia culpada pela morte de seus companheiros, era evidente. Uma sensação muito familiar com a que ele mesmo sentia, afinal se não tivesse ajudado aquela Hunter naquele dia, talvez sua tribo nunca tivesse sido atacada. Será que a garota também havia feito algo que havia prejudicado sua tribo? Será que foram atacados por alguém ou será que houve algum outro tipo de desastre? Eram muitas as possibilidades, deixando o Kuruta ciente de que só poderia saber a verdade se a própria Maia lhe contasse.

A garota então se moveu e começou a refazer o caminho pelo qual havia vindo. Kurapika já havia imaginado que ela não lhe contaria detalhes sobre os acontecimentos que culminaram com a morte de todos da tribo, muito menos esperava que ela compartilhasse alguma outra informação sobre ela ou sobre o local. Decidiu continuar com a idéia de permanecer calado, apenas seguindo seus passos. De longe podia observar o semblante da garota. Apesar da situação, ela não demonstrava tristeza ou cansaço. Parecia que ela era uma mera espectadora daquela situação, e não uma protagonista.

Será que aquilo de fato não a afetava ou será que ela apenas vestia uma grande mascara de indiferença? Se fosse a segunda opção ela certamente deveria ganhar um Oscar pela atuação.

Aquele comportamento de Maia era uma das coisas que mais intrigava o jovem Kuruta. Não era a primeira vez que via a garota não demonstrar nenhum sentimento diante de situações que levariam qualquer um a uma reação emocional. Fazia parte da natureza humana reagir emocionalmente a determinadas situações. Situações tristes geram tristeza. Situações felizes geram alegria. Injustiça provoca indignação, raiva...impotência. Mesmo existindo pessoas que não reagem dessas maneiras a essas situações, elas reagem de alguma outra forma. As vezes a tristeza pode ser prazerosa para outras pessoas, porém elas não deixam de sentir algo, apenas sentem de uma forma estranhamente distorcida, fora do comum. Mas Maia parecia diferente, as vezes ele tinha a sensação de que ela realmente não sentia absolutamente nada.

Grande, escuro e profundo vazio. Ele já esteve lá uma vez. Talvez seu maior medo seja voltar a esse lugar. Um lugar inegavelmente e assustadoramente confortável. Um lugar onde a solidão é sua única companheira. Um lugar onde não há luz, não há som, não há vida. É como estar morto, porém ainda respirando. O lugar final...o pico mais alto do desespero. Depois de ter todos os sentimentos possíveis, é nesse lugar onde você é jogado. Nesse lugar você se torna mecânico, agindo apenas em direção a sua sobrevivência por puro instinto, pois se houvesse consciência, ela não escolheria sobreviver.

Kurapika caiu nesse lugar no momento em que retornou a sua tribo. Após enterrar todos os seus companheiros, após esgotar todas as suas lágrimas, existia apenas uma coisa que desejava. A solidão. Talvez fosse esse o motivo pelo qual o Kuruta temia tanto voltar a sua aldeia novamente. A idéia de sentir essas sensações novamente era terrivelmente assustadora.

Pensando nisso Kurapika concluiu que Maia não estaria nesse local, afinal não seria possível agüentar tanto tempo nessas condições. Certamente essa falta de reação da garota era apenas uma maneira da qual ela havia encontrado de se proteger. Ele a conhecia tempo suficiente para perceber que ela possuía sentimentos, porém preferia reagir às situações de maneira racional, evitando assim o sofrimento. Ele mesmo recorrera a essa tática por um longo período, sendo amenizada com o passar do tempo. O fato de ter encontrado Gon e os outros fez com que o Kuruta se sentisse mais leve. Partilhar momentos e sentimentos com seus amigos fez com que valorizasse mais sua própria vida, e a dos outros. Porém não fez com que ele esquecesse seu principal objetivo.

Maia já estava quase na final da tribo quando parou para esperá-lo. Kurapika ainda demorou alguns minutos para alcançar a garota.

– Essa pessoa que você quer ajudar...ela merece?- perguntou a garota

– Do que está falando? – perguntou o garoto confuso

– Você disse que estava procurando por alguém que fosse capaz de curar uma certa pessoa. Essa pessoa merece? – perguntou virando-se para ele.

Foi então que ele havia se dado conta do teor da conversa. Ela se referia a sua missão de procurar alguém que pudesse curar Neon. Kurapika não entendia da onde vinha tudo aquilo. Ela realmente tinha a capacidade de abordar assuntos inusitados em momentos inusitados.

– Ela não desmerece... –respondeu com sinceridade

– Você está sendo esquivo – disse a garota agora irritada

– Não estou. Estou dizendo o que acho. Ela teve os poderes roubados. Mesmo não utilizando essa capacidade da melhor maneira, não acho que justifique ela perdê-los. – resumiu ele

– Mas também não concorda com a maneira que ela utiliza eles. – disse ela.

– Você está certa. Mas por que me pergunta isso agora? – perguntou curioso.

– Talvez eu conheça alguém que possa ajudá-la. – respondeu a garota.


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Notas finais do capítulo

Digam o que estão achando!

Até a próxima ;)



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