O anjo e o Condenado escrita por Sissy Strit


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Mas antes tarde do que nunca, não é verdade? Espero que gostem! =)
(POV Lizzie)



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O dia começou a escurecer à minha volta. A paisagem foi ficando cada vez mais cinza e eu continuava deitada no gramado.

Era incrível imaginar um dia que tinha começado tão tranquilo podia, de uma hora para a outra, virar no mais maluco e desconcertante que eu já vivi. Tudo era muito confuso e eu ainda não sabia ao certo se aquilo tinha realmente acontecido. Parecia tão irreal.

Concentrei-me nos sons à minha volta, tentando não pensar em nada. Os pássaros cantavam euforicamente, o rio fazia um murmúrio baixo enquanto corria para o leste, o vento sussurrando nas folhas das árvores. Mas outro som chamou minha atenção. O som de patas correndo em minha direção. Levantei-me depressa e vi um cavalo caramelo e um cachorro preto correndo para mim. E não eram um cavalo e um cachorro quaisquer.

Marfy, o inseparável perdigueiro de meu pai, vinha correndo na frente de Brum, o cavalo que, aparentemente, tinha se desprendido da carroça. Mas onde estava meu pai? O que tinha acontecido?

Aquilo me deixou extremamente apreensiva. Havia alguma coisa errada.

Quando Marfy me alcançou não parava de tentar me puxar para o lugar de onde eles tinham vindo. Ele queria que eu o seguisse para algum lugar. Seria para onde meu pai estava?

Não perdi tempo. Corri para o estábulo, selei Brum e montei. Marfy pareceu notar que eu estava pronta e disparou numa corrida desenfreada na qual eu o segui. Corremos durante bastante tempo por uma estrada pela qual eu nunca tinha passado; cruzamos uma ponte e Marfy diminuiu o ritmo. Suas orelhas estavam coladas ao pescoço e seu corpo estava retraído. Ele estava com medo ou pronto para atacar? Eu não tinha bem certeza, mas fiquei preocupada.

O lugar era bem sombrio. Talvez fosse só por estar escuro, mas eu estava arrepiada da cabeça aos pés. Árvores ladeavam a estrada pelos dois lados e suas copas cobriam o céu estrelado. Por sorte era lua cheia e a claridade ajudava um pouco a ver o caminho.

Andamos mais alguns metros e, depois de uma curva, vi um castelo erguer-se à nossa frente. O terreno ao redor era acidentado e percebi que a base dele era numa depressão. Não conseguia ver o que havia lá embaixo, mas não parecia muito alto. As torres baixas estavam um pouco encobertas pela névoa que começava a se formar.

Brum parou bem em frente ao enorme portão de ferro que estava fechado. Onde estávamos? Eu nunca tinha ouvido falar que havia um castelo pelas redondezas. Dava para ver que algumas janelas estavam iluminadas, o que significava que alguém morava ali. Mas quem? Continuei por um tempo tentando entender o porquê de Marfy ter me trazido a esse lugar. Mas, depois de olhar ao redor mais uma vez, algo me chamou a atenção.

Preso entre as grades do portão, um pedaço de pano rasgado balançava com o vento. Cheguei mais perto para olhar e reconheci o tecido da camisa de meu pai. Então ele realmente estava ali! Mas como eu ia fazer para entrar?

Tentei sem muita esperança empurrar o portão e, para minha surpresa, ele se abriu com facilidade. Ainda meio atônita por ter conseguido abrir aquele portão enorme, caminhei pela larga ponte de pedra que dava acesso ao castelo.

A porta principal era igualmente grande, de madeira, toda entalhada, o que a fazia parecer muito antiga. Novamente tentei a tática de "empurrar para ver se abria" e mais uma vez deu certo. O interior do hall estava levemente iluminado por candelabros nas paredes. A mobília era finíssima e vasos de cristal repletos de flores estavam colocados nas mesinhas encostadas na parede. No centro do hall erguia-se uma escada magnífica que se abria em “v” para os dois lados do andar superior.

Mas não foi todo o esplendor do ambiente que me chamou a atenção.

No alto da escada, parado como uma estátua, ofegante e fitando-me de olhos arregalados, estava algo que eu jamais poderia imaginar.

Tinha o corpo de um homem bem desenvolvido, mas suas feições eram algo que eu quase não conseguia descrever. Lembrava-me muito um leão, principalmente pelo cabelo dourado comprido que lhe caia pelos ombros. O nariz era largo, a boca grande, o rosto e o pescoço eram cobertos por uma fina camada de pêlos, o que eu imaginei que deveria ser por todo o corpo também. Ele vestia uma camisa branca larga de mangas compridas e calças pretas com botas.

Eu não consegui me mover um centímetro, não conseguia pensar em nada. Só o fitava com os olhos tão arregalados quanto os dele. Ficamos nos olhando por alguns momentos sem saber o que fazer. Ele parecia tão assustado quanto eu.

Os olhos dele cintilavam com a luz dos candelabros. Eram como duas safiras azuis. Lindos, enormes e profundos. Eu não conseguia desviar o olhar por mais que quisesse.

De repente ele começou a descer as escadas vagarosamente, parecendo não querer me assustar e fazer com que saísse correndo.

Como se eu pudesse me mover um centímetro.

Quando já tinha descido, pude notar como era enorme. Deveria ter no mínimo uns dois metros de altura.

O monstro continuou a se aproximar lentamente de mim. Eu não queria que se aproximasse mais. Só queria saber onde estava meu pai.

A lembrança de meu pai fez com que meu corpo reagisse. Dei dois passos para frente e forcei a voz sair.

– Onde está meu pai? – Estendi na direção dele o pedaço da camisa que eu tinha encontrado no portão.

Ele pareceu surpreso com minha atitude, mas continuou calado.

– Meu pai! Onde ele está? Eu sei que ele entrou aqui! – Eu estava começando a ficar desesperada. O que aquela coisa tinha feito?

O monstro continuou calado. Será que sabia falar? Será que me entendia? Evitei olhá-lo nos olhos novamente para não perder o foco, mas perguntei mais uma vez.

– Onde está meu pai? Mostre-me, por favor! – Pedi num tom de súplica.

Para minha surpresa, o rosto dele se contorceu numa expressão de dor e um suspiro saiu de sua boca. Quase pude sentir sua agonia. Tentei me aproximar para ajudá-lo, mas ele ergueu a mão em sinal para que eu não chegasse mais perto.

–Ele está lá em cima – Sua voz grave quebrou o silêncio. Então meu pai estava realmente ali?

– Onde? Me leve até lá!

A criatura; o ser; o monstro - eu não tinha palavras para defini-lo - mostrou-me o caminho. Não dissemos uma palavra enquanto andávamos. Passamos por várias salas, mas nem prestei atenção nelas. Só queria ver meu pai, queria poder abraçá-lo e saber que tudo estava bem.

Subimos por uma escada de pedra e, para meu horror, chegamos a um calabouço frio e úmido e, em uma das celas, encolhido em um canto, estava meu pai. Ao me ver, ele levantou-se depressa e me estendeu as mãos por entre as grades.

– Lizzie! O que você está fazendo aqui?

Peguei suas mãos geladas entre as minhas. Seu rosto denunciava que estava doente. Sua saúde não era mais a mesma há muito tempo.

Olhei furiosa para o monstro.

– Você não vê que ele está doente? Não vê que é um senhor de idade?! Você tem coração, por acaso - praticamente cuspi as palavras na cara dele.

– Lizzie, você não devia estar aqui! – Meu pai disse tossindo. – Volte para casa.

– O senhor está maluco! Eu não saio daqui sem o levar comigo! – Ficava indignada como meu pai insistia em me fazer de vítima quando quem estava preso era ele.

– Por que o prendeu aqui? O que ele fez? Qual é o motivo disso tudo? – Eu estava gritando com o monstro que parecia se encolher a cada palavra que eu dizia.

– Eu... hum... não... – ele gaguejou algo mas não pude entender.

Então uma ideia me ocorreu. Eu podia ficar presa no lugar do meu pai. Se o monstro queria alguém para ficar confinado em seu calabouço ele poderia me prender ali e deixar meu pai ir embora.

Soltei as mãos de me pai e me coloquei diante do monstro. Senti-me uma anã diante de alguém tão grande, mas não me deixei intimidar. Olhei-o nos olhos com firmeza.

– Eu fico no lugar dele.

Atrás de mim, ouvi o arfar de assombro de meu pai e, na minha frente, a expressão do monstro passou do vazio para a surpresa e um breve lampejo surgiu em seu olhar.

Ele ergueu o queixo e me olhou de cima, fazendo-me sentir menor ainda.

– Se assim deseja, assim será feito.

O monstro foi até a porta da cela e a abriu. Corri para poder abraçar meu pai e dizer que estava tudo bem, mas só as lágrimas saíram. Eu não consegui falar nada.

Mas o momento durou pouco. O monstro tirou meu pai de mim, o puxando para a porta.

– Você tem que ir agora. Já disse adeus. – E dizendo isso o levou embora.

Fiquei totalmente sem ação diante daquilo. Como alguém podia ser tão cruel? Não bastava ter um de nós como prisioneiro? Tinha que nos separar assim? Tudo aquilo era de mais para minha cabeça. A única coisa que importava é que eu tinha conseguido libertar meu velho pai e ele estaria bem em casa, mesmo sem mim.

Alguns minutos depois o monstro voltou. Seu rosto estava sem expressão e seus olhos vazios.

Olhei-o com todo o desprezo que consegui. Seu iria eu ficar aqui, iria também infernizá-lo de algum modo, mesmo eu sendo alguém que nunca quis fazer mal a alguém. Aquela criatura me incomodava de um modo que não fazia sentido pra mim. Era muito mais do que a pura raiva que eu sentia por ter prendido meu pai nesse lugar, parecia algo que revirava todo meu ser. Um fascínio misturado com horror, curiosidade com assombro. Nem eu conseguia explicar naquele momento.

– Venha comigo, vou lhe mostrar o seu quarto. – ele acenou com a cabeça na direção da porta.

Meu quarto? Eu não ia ficar aqui?

Ele aparentemente notou minha confusão e acrescentou:

– Ou quer ficar aqui em cima? Se preferir posso deixá-la aqui.

Apesar de tudo seu tom era calmo e educado.

Não respondi, apenas levantei-me e caminhei atrás dele. Enquanto íamos para meu quarto, eu refletia sobre tudo o que tinha ocorrido. Aquele dia parecia ser longo de mais. Tanta coisa aconteceu, tantas mudanças. No inicio, fui pedida em casamento, em seguida descubro, ou melhor, tenho a total confirmação que quem me cortejava não passava de um patife, depois sacrifico minha liberdade para salvar a do meu pai e aqui estou, prisioneira de uma criatura inacreditável. Eu só podia estar tendo um pesadelo.

– O castelo agora é sua casa. – a voz dele me pegou desprevenida. – Meus criados estarão ao seu dispor e você poderá ir onde quiser, mas fique longe dos meus aposentos. – seu tom era de aviso, quase ameaça. Eu tremi um pouco imaginado o que ele seria capaz de fazer comigo se eu o enfrentasse.

Caminhamos mais alguns metros até que finalmente paramos na frente de uma porta. Ele a abriu para mim e entrei no cômodo espaçoso e fracamente iluminado por algumas velas.

– Aqui é o seu quarto. Mandarei alguém para vir atendê-la e lhe trazer alguma coisa, você deve estar com fome. – Eu poderia jurar que seu olhar era quase de carinho, não fazia o menor sentido! Estava ficando cansada com os altos e baixos do seu humor.

Sem dizer mais nada, ele saiu e fechou a porta atrás de si. Andei lentamente até a cama imensa que ficava no meio do quarto. Simplesmente desmoronei nos lençóis macios de linho branco.

Tudo ali era tão arrumado, tão bonito que nem dava pra acreditar que um monstro morava naquele castelo.

Essa definição não me agradava. Ele era mais do que isso, era algo que eu ainda não conseguia explicar. Suas atitudes, expressões, olhares, tudo era uma mistura de emoções. Uma hora eram carinhosos, na outra eram amargurados e tensos. Parecia que havia duas pessoas em uma só.

Uma leve batida na porta me fez sentar rapidamente na cama.

– Pode entrar.

Uma senhora baixinha e roliça entrou. Seu rosto era redondo e seu cabelo grisalho estava arrumado em um coque baixo na nuca. Ela sorriu gentilmente para mim e se apresentou.

– Com licença senhorita. Sou Hanna, a governanta. Mattew mandou-me trazer esses bolinhos e lhe perguntar se precisa de alguma coisa.

Sua voz era reconfortante e doce. Por um breve momento senti como se estivesse de volta à casa de minha avó.

– Obrigada, mas não preciso de nada.

– Tudo bem então. – Ela deixou a bandeja com os bolinhos em cima da mesinha que ficava num canto do quarto e se dirigiu para a porta. – Se precisar de qualquer coisa é só mandar me chamar. Estarei ao seu dispor.

Senti-me constrangida com tanta amabilidade da parte dela. Eu não era acostumada a ser tratada com tamanha cortesia por pessoas desconhecidas.

– Eu lhe agradeço, mas não quero incomodá-la. Posso me virar sozinha.

– Não fique constrangida, menina! – ela sorriu para mim – Estou aqui para isso.

Antes que ela saísse não pude deixar de perguntar:

– Quem é Matthew?

– Oh, vocês não devem ter sido formalmente apresentados, não é mesmo? – Hanna caminhou até a cama e sentou-se ao meu lado. – Matthew é o senhor deste castelo, nosso amo por assim dizer. – Ela fez uma pausa e continuou – Você já o conheceu hoje. Ele é o que tem os cabelos de leão e olhos de safira, temo que a primeira impressão que teve dele não foi uma das mais favoráveis.

Cabelos de leão e olhos de safira? O monstro se chama Matthew então? Como ela sabia que eu havia pensado exatamente isso quando o vi?

– Na verdade foi uma primeira impressão bem ruim, mesmo com os olhos profundos e aquele rosto... - deixei a frase termina morrer num murmúrio. Ainda não consegui bem definir aquele rosto. Talvez fera seria um bom título.

Hanna deu uma pequena risada ao meu lado.

– Então você notou também não é? Apesar de ter sido mudado para essa forma, seus olhos e cabelos continuam os mesmos de quando ele era menino.

Eu não falei nada. Não sabia o que dizer. Como alguém tão gentil e doce como Hanna podia falar de alguém tão estranho com tanto carinho e devoção? E que história era aquela de ter sido mudado?

– Sei que o que eu vou lhe pedir é meio absurdo, mas não fique muito chateada com ele. Com o tempo você irá entender que Matthew é uma pessoa boa. Ele só precisa de uma ajudinha para chegar lá.

Não pude deixar de olhar com incredulidade para ela. Como eu não iria ficar chateada com alguém que tinha prendido meu pai, que tinha me separado dele e agora me mantinha prisioneira?

– Eu sei que é difícil, mas é como eu lhe disse: com o tempo você entenderá que ele é a pessoa mais incrível que já conheceu.

– Prometo que vou tentar. – disse num resmungo duvidando que algum dia isso fosse acontecer.

– Agora vou deixá-la descansar. Seu dia deve ter sido extremamente longo.

Ela não fazia ideia do quanto!

Hanna deixou-me com a promessa de que viria pela manhã me trazer o café caso eu não quisesse descer para me unir aos outros.

Enrosquei-me nos lençóis assim mesmo como estava. Não me importava se ainda estava com o vestido que havia usado durante todo o dia. Só queria dormir e acordar deste pesadelo. Mas não consegui pegar no sono já que meu estômago não parava de roncar. Acho que a ultima vez que eu havia comido algo tinha sido no almoço.

Levantei e sentei-me em uma das poltronas confortáveis que ficavam ao lado da mesinha. Os bolinhos ainda estavam quentinhos. Dei uma dentada em um e me surpreendi com o gosto delicioso que tinha. Parecia ser de chocolate com castanhas. Devorei três daqueles e voltei para a cama. Desta vez peguei no sono rapidamente.

Foi um sono sem sonhos. Acordei quando o sol já batia nas janelas do quarto e Hanna passava a mão levemente em meu ombro.

– Bom dia, querida. – ela sorria para mim gentilmente – Eu não queria incomodá-la, mas achei que você poderia querer almoçar agora.

Almoçar? Eu tinha dormido tanto assim?

– Que horas são – perguntei com a voz meio fraca.

– São duas da tarde. Eu estive aqui pela manhã para perguntar se queria descer para o café, mas você estava dormindo tão profundamente que achei melhor deixá-la descansar.

– Acho que nunca dormi tanto. – disse levantando-me meio zonza.

Fui até a frente do espelho da magnífica penteadeira e olhei meu reflexo. Eu estava horrível! Meu cabelo estava todo desalinhado, com uma mecha caindo nos olhos e o vestido estava todo amassado. Eu precisava dar um jeito naquilo!

Hanna mostrou-me alguns vestidos que estavam guardados no enorme guarda roupas e que, aparentemente, me serviriam. Ela deixou-me dizendo que estaria me esperando na cozinha com meu almoço.

Escolhi um vestido azul simples com poucos detalhes e rendas, mas ainda assim, muito bonito. Ele caiu-me muito bem, até parecia ter sido feito para mim. Penteei meu cabelo e o prendi com uma fita da cor do vestido que achei numa das gavetas da penteadeira.

Eu não estava muito segura de sair do quarto. Tudo ainda era muito estranho para mim. Esperava não encontrar ele no caminho até a cozinha.

Para minha sorte achei a grande cozinha sem encontrar ninguém no caminho. Como havia prometido, Hanna estava lá me esperando com um prato fumegante de ensopado.

– Veja só! – ela disse reparando no vestido. - Ele lhe caiu perfeitamente bem! E combina com a cor dos seus olhos.

– Obrigada. Eu também gostei dele. – disse timidamente.

– Venha, sente-se aqui e coma este ensopado. Eu o esquentei para você.

No meio da grande cozinha ficava uma mesa rústica de madeira com bancos compridos dos dois lados. Sentei-me ali e Hanna entregou-me o prato.

Provei uma colherada do ensopado. Eu nunca tinha comido algo tão delicioso! Era ainda melhor que os bolinhos da noite anterior.

– Hum, isto aqui está muito bom! – disse colocando a ultima colherada na boca. – Foi você que fez?

– Não. – Hanna deu uma risada. – Que bom que gostou! Foi Jason, nosso cozinheiro que preparou. Ele é muito bom no que faz!

Assenti concordando com ela.

Mas apesar da comida deliciosa, eu não podia deixar de pensar em outras coisas.

– Hanna? – Perguntei com um pouco cautelosa.

– Sim, querida?

– Hum... você sabe se... quer dizer... você sabe onde seu senhor... – deixei a voz morrer antes de terminar a pergunta. Eu me senti meio desconfortável perguntando sobre ele.

Hanna sorriu amavelmente para mim.

– Não se preocupe, menina. Chame-o apenas de Matthew e deixe as formalidades conosco. – ela fez uma pausa e deu um suspiro. - Ele subiu para o quarto logo depois de ter almoçado e provavelmente ficará lá a tarde toda.

Bom, isso pelo menos me dava a chance de dar umas voltas sem correr o risco de encontrar com ele pelo caminho. Eu não estava com muita vontade de ficar trancada no quarto o tempo todo. Ainda mais com o dia lindo que estava fazendo lá fora.

Apesar de ser quase inverno, o sol brilhava forte e não estava tão frio. Seria muito bom aproveitar o tempo para uma caminhada, principalmente sabendo que logo isso não seria mais possível por causa do frio e da neve.

– Será que eu posso dar uma volta lá fora?

– Claro que pode. Aproveite bem o dia, querida.

Saí pela porta dos fundos da cozinha.

O jardim era belíssimo e ficava na depressão onde o castelo tinha sido construído. Era cercado de todos os lados por paredões de rocha encobertos por arvores e flores.

Um caminho de pedras acinzentadas acompanhava todo o redor do jardim e dava em um lago de águas calmas e cristalinas com peixes de todo tipo.

Fiquei parada olhando para o lago e pensando no que seria da minha vida dali em diante.

Eu não poderia mais ver meu pai nem meus amigos queridos. Teria que ficar aqui, presa, pelo o resto dos meus dias. Isso não era bem o que eu queria para mim.

– Oi!

Quase dei um pulo de susto quando ouvi alguém atrás de mim. Quando me virei, vi uma garotinha de uns dez anos, de cabelos ruivos e olhos verdes curiosos sorrindo para mim.

– Você deve ser a convidada especial do Matt? Ouvi muito falar de você hoje!

– Ouviu é? – perguntei curiosa.

– Aham – ela confirmou despreocupadamente. – Ouvi o Matt falando sobre você e dizendo a todos os criados para fazerem com que se sinta em casa.

Então ele estava preocupado com o meu bem estar. Que coisa interessante!

– Verdade? E o que mais você ouviu? – não pode deixar de perguntar.

– Nada. Só que todos estão muito ansiosos para conhecê-la pessoalmente.

Que ótimo, agora eu era a atração principal do lugar.

Ficamos em silêncio durante algum tempo, só contemplando as águas calmas do lago. Até que finalmente a garotinha falou:

– O Matt é legal, sabe. Ele só precisa que a gente lhe dê uma chance.

Olhei incrédula para ela. Já era a segunda pessoa que me dizia aquilo. Como uma criança tão doce poderia falar de alguém tão ruim desse modo? Com tanto carinho!

– Ele te mandou falar isso para mim? – perguntei a ela imaginando que só poderia ter sido assim para que me dissesse aquilo.

– Não, não! – a garotinha me olhou ofendida. – Estou falando sério! Na verdade ele não iria gostar se soubesse que eu andei falando isso para você. Ele é muito reservado, sabe, mas é uma excelente pessoa. Você logo verá isso! Espero que o perdoe por ontem, e pode ter certeza que ele mesmo lhe pedirá desculpas por aquilo tudo.

Fiquei um pouco envergonhada de ter duvidado dela depois dessa resposta tão convicta, mas era muito estranho para mim que todos gostassem de alguém tão frio e estranho e estranho também era o modo tão adulto com que essa garotinha falava.

– Bom, vou ver se tio Benn precisa da minha ajuda. Até logo.

Dizendo isso ela saiu correndo pelo gramado, mas antes que estivesse longe gritou para mim:

– Ah! Meu nome é Thiodell!

– E o meu é Lizzie! – gritei em resposta.

Ela sorriu e gritou novamente sobre o ombro:

– Eu sei!


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Notas finais do capítulo

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