Phill Coulson havia morrido.

Pisquei algumas vezes até reconhecer o semblante da águia estampado na porta de vidro. Aquela era a ala hospitalar, um lugar que eu acreditei que não conheceria cedo. Parece que esse ano só serviu para me mostrar o quanto estou enganada.

Me encolhi mais ao lembrar da cena de sua morte. Era um emprego que você já entra tendo consciência que perdas são inevitáveis. Infelizmente ainda não sou capaz de evitar a dor delas quando chegam.

Coulson, oh Phill! Ele não merecia, dentre todos, ele merecia algo melhor! Era isso que a vida reserva para boas pessoas? Ser morto como se não valesse nada!

Porém eu sei que ele não morreu por nada. Morreu lutando pelo que servia e acreditava, não existe honra melhor. Foi corajoso o suficiente para encarar um deus, mesmo não sendo um super soldado, ou um cara com uma armadura, nem mesmo um monstro verde. Isso o tornava bem mais herói pra mim.

– Srita. Stark. - Chamou Nick parado na porta, com a pior das expressões que podia ter.

– Nos conhecemos assim, lembra? - Sorri sem humor. - Parece que você sempre tem que me encontrar na ala hospitalar.

Pisquei mais uma vez e lágrimas rolaram. Droga! Eu não queria chorar na sua frente!

– Eu vim verificar se está bem. - Sua voz era robótica, agindo no seu modo frio e calculista de liderança. Mesmo assim ele não resistiu a me procurar mesmo sabendo que eu ficaria bem.

– Nessas horas eu agradeço ao Mark pela estúpida ideia de colocar Lilith em mim. - Me sentei na maca de aço. - Quais são as notícias ruins?

Fury suspirou, exalto, e sentou-se ao meu lado, pousando a mão em minha perna.

– Não rastreamos o paradeiro de Thor e Banner, Loki fugiu com a lança e agora tem o que precisa para agir.

– Então será questão de tempo até que ele comece a agir. - Minha cabeça voltava a funcionar, e seu ato de misericórdia invadiu minha mente. - Ou já esta agindo.

– Os vingadores já estão se preparando, o que sobrou deles. - Nick desviou seu olhar do chão e me encarou. - E você esta viva.

–Não é noite de natal mas milagres acontecem. - Sorri tentando fazer uma gracinha e evitar a bronca. Imagina sua reação? Nenhum sorrisinho. - Bem, eu tentei.

Fiquei de pé e esperei pela bronca, meu e ele eram os únicos que eu permitia que brigassem comigo sem eu responder.Nick tinha todo o direito de fazer um belo discurso e dizer o quão burra fui a ponto de ir atrás de um assassino desarmada e ter perdido dois vingadores numa tacada só. Eu estava decepcionada comigo mesma pelo tipo de agente idiota que fui, sua bronca só iria jogar na cara as coisas que eu já sabia sobre mim mesma.

Surpreendentemente Fury não brigou comigo, e sim me abraçou. Abri e fechei a boca, tentando formular palavras que descrevessem minha surpresa. Há anos conheço Nick, posso até julgar nossa relação uma coisa próxima, e mesmo assim nunca de forma carnal. Fury não era do tipo que dizia o que sente nem que dá abraços, principalmente quando uma de suas agentes estava errada. E perder uma oportunidade de brigar comigo! E quase impossível se não estivesse acontecendo.

–Nick esta me assustando. - Comentei ainda mantendo os braços abertos.

–Seu pai estaria orgulhoso de você. - Ele se separou e deu quase um sorriso.

–Por causar uma bagunça e me meter em encrenca? Acho que ele não ficaria tão feliz.

–Você quase morreu tentando impedir o inimigo, agiu como qualquer verdadeira agente da S.H.I.E.L.D agiria. - Respondeu caminhando até a porta.

–A S.H.I.E.L.D é minha casa. - Respondi antes que saísse. - Phill morreu a defendendo e eu não farei menos que isso.

Fury se retirou, me dando um sorriso orgulhoso. Vesti o uniforme que estava na cômoda, ao lado da minha cama. Meu tão confortável uniforme. Estava na hora da ultima batalha.

–Você esta viva.

Me virei depois que terminei de me vestir, vendo o Capitão America parado em minha porta. Bem, posso dizer que dele eu não tinha tanto medo.

–Vaso ruim não quebra. - Respondi levantando os braços e sorrindo, o fazendo me acompanhar.

Parecia que era novamente somente eu e ele naquele apartamento.

–Ainda bem. - Steve entrou e se sentou em minha cama. - Não queria um motivo para criar uma guerra contra Asgard porque eu matei um deus.

–Eles não são imortais? - Perguntei me sentando ao seu lado. - Aposto dez pratas que tomaria uma surra e imploraria para Loki ter clemencia.

–Serio? - Perguntou erguendo as sobrancelhas.

–Da ultima vez apostamos que não existia deuses nórdicos e adivinha quem ganhou? - Pisquei pra ele e mostrei a língua. - Aprenda que Liliam Stark não perde uma aposta.

Ambos gargalhamos daquela frase, tão simplesmente e suave.

–Senti falta da sua risada. - Steve jogou aqueles braços enormes em cima de mim.

–Senti falta do seus moveis velhos, sua dieta estúpida e seu mal gosto pra roupas. - O olhei e disse seriamente – Senti falta de você.

–Uau, a Quebradora de Corações sentiu falta de alguém? Isso precisa estar em uma revista! - Brincou apertando meu nariz.

–Eca! Faz um ano que eu não escuto esse maldito nome, Capitão Estrela! Tinha que ser você a me lembrar? - Dei um soco no seu peito, batendo na bela estrela prateada que se prendia ao uniforme.

–Lily... - Sussurrou acima de minha cabeça, não olhando pra mim. - Você ira com a gente?

–Você quer que eu vá?

–Se você se machucar de novo...

–Não vou. - Puxei seu rosto para que me olhasse, sabendo que ele veria a verdade ali estampada. - Steve, você entende porque eu preciso ir. Quando se acredita em algo você luta em nome disso, certo? Você acredita na América, e tem o poder de salvar as pessoas. Eu acredito na S.H.I.E.L.D, eu acreditei em Phill. Tenho o poder de salvar as pessoas e não vou fugir. Você acredita em mim?

Ele ficou alguns minutos ali, apenas me olhando. Provavelmente as palavras de Anthony, o que eu falei naquela sala se passava em sua mente. Ele não confiava em mim.

–Eu acredito. - Respondeu me surpreendo. - E sempre acreditei.

Sorri como não sorria desde que parti e nunca mais o vi.

–Não importa o que aconteceu, Steve. A Liliam que conheceu a um ano é a mesma. - Fechei os olhos e mordi os lábios, não podia ter coragem de dizer aquilo e saber que ainda não sentia o mesmo. - E eu ainda te amo.

–Eu posso interromper essa cena melosa?

Steve retirou seu braço de cima dos meus ombros. Olhei com raiva para meu irmão e suspirei, ele era pior do que aquele burro do Shrek!

–Pode. - Steve levantou-se e olhou pra mim. - Acredito que tenha algumas palavras amáveis a dizer a sua irmã.

–Se não for amáveis ele ira dizer do mesmo jeito. - Comentei dando ombros.

Steve beijou minha testa e se retirou olhando sugestivamente ao meu irmão.

–De todos os homens do mundo tinha que escolher o Capitão? Vai ser um saco te-lo como cunhado!

–Acho que é só outro jeito que eu arrumei de te irritar. - Me levantei e cruzei os braços. Esperando para o segundo round.

–Bem vou ficar bem irritado quando começar a explicar. - Respondeu me imitando.

Respirei fundo... E pensei bem. Não queria causar outra briga, não queria que ele soubesse do meu passado podre. Não era o momento e nem a melhor hora. Não precisava de um sermão, eu só precisava... Que ele fosse meu irmão.

– Eu não quero explicar nada a você. – Sussurrei fazendo as palavras parecem mais duras do que pretendia. – Só quero um abraço do meu irmão e ele me dizendo que me ama porque eu o amo muito e sinto muito por tudo que eu disse. – Solucei sem querer. – E queria corrigir o que eu disse, porque eu ainda sou sua pequena lírio.

Tony avançou até mim e me abraçou forte, só tipo que se dá em alguém que ama e não o via a muito tempo. Tony e eu não nos abraçávamos assim dês da minha partida com Mark, uma das idiotices que cometi nessa vida. Tinha vantagens naquela bagunça, nunca pensei que chegaria a abraçar meu irmão assim.

–Foi apenas por essa Liliam que eu sempre lutei. – Sussurrou no meu ouvido depois beijou minha bochecha. – Eu te amo, minha pequena lírio Stark.

Ele me entregou o colar que eu lhe devolvi, beijando minha bochecha em seguida.

–Esse é o Anthony Stark que eu sempre amei.

(…)

Decidi que iria com Os Vingadores até NY e lutaria contra Loki. Não conseguiria ficar de mãos atadas nem se pedissem. Meu coração ainda estava apertado por não terem encontrado Bruce e Thor ainda, mas não poderia sair agora a procura dos dois.

Recarreguei minhas armas favoritas e guardei algumas balas de reserva na bota. Corri para o porta aviões que já estava para partir e vi Clint parado na porta, provavelmente me esperando.

Meu peito aliviou tão fácil quanto se apertou quando me disseram que Clint estava ao lado de Loki. Ele estava ali, estava bem e era o Clint que eu conheço.

–Idiota! - Dei um tapa na cara dele tão forte que minha mão doeu. Steve e Natasha arregalaram os olhos, surpresos. Já Clint reclamou baixinho enquanto tentava consertar seu maxilar. - Você me escondeu algo por um ano e me fez quase ser demitida. Isso é apenas um pagamento do quão preocupada fiquei com você todo esse tempo!

Clint me olhou, com aquele sorriso debochado nos lábios, e olhos verdes brilhando de entusiasmo.

–Ainda sou sua gaivota?

–Sempre será, seu babaca! - O agarrei e dei um abraço muito apertado. - Eu te amo, gaivota!

Quando separamos do abraço ele apertou minha mão e disse.

–Tá pronta pra chutar algumas bundas alienígenas pro planeta deles?

–Sou mais daquela que vai mata-los e enviar os corpos.