O sinal de alerta vermelho ecoava no fundo da minha mente, trazendo-me aos poucos a consciência. Minha mente brigava com meu corpo, eu tentava me lembrar de se mexer porque aquilo era mal... muito mal! Só que o corpo é lento demais para a velocidade da mente.

Alguém me chacoalhou forte, me tirando da cegueira e do pane que fiquei depois de ser arremessada para longe. Alguns sons esquisitos passaram por meu ouvido, e demorou algum tempo para começar a retomar meus sentidos.

–Liliam. – Chamou aquela voz de trovão me dando a primeira visão de seus cabelos loiros.

Eu estava deitada, e minha mão procurou Thor, tateando seus músculos. Numa analise rápida encontrei alguma gosma em minha testa, viscoso, quando toquei descobri que era meu sangue. Foi então que o pior das hipóteses realmente aconteceu: Eu estava certa.

Precisei da ajuda de Thor para me erguer e me deixar de pé e estável, a pancada tinha sido mais forte que o previsto, mas logo sentia o ferimento se curar com o poder de restauração de Lilith. As vezes quando se tem um demônio alienígena dentro de você pode ter uma vantagem.

Steve e Tony saíram para fazer o que eu não sei, mas antes Steve me olhou com aqueles olhos azuis como se dissesse: tenha cuidado. Meu coração se apertou de forma como nunca tinha antes, naquele momento eu só queria segui-lo. Porém eu tinha um papel a fazer além de bancar a garota preocupada.

–Não está profundo. – Thor tocou em meu rosto e analisou o corte. – Mas precisa encontrar um lugar seguro para...

–Aonde estão os outros? – O interrompi antes que continuasse a falar sobre fugir e me esconder, numa forma assim como todos os outros de tentar me proteger. Tentei limpar o corte com minha mão, mas acabou que o sangue a sujou também.

–Todos se separaram com a explosão. – Explicou retirando seu braço de apoio quando percebeu que eu já poderia me equilibrar.

–Era sobre isso que eu iria alertar. – Disse sentindo um líquido viscoso de meu corpo cair em todo meu rosto. O corte na testa poderia esperar, tem coisas mais importante acontecendo. - O que aconteceu? – Apertei meu comunicador e não tive resposta de nenhum agente. Peguei o minúsculo aparelho e vi que a explosão o danificou, que ótimo, não tem como as coisas ficarem melhores! Arremessei o aparelho inútil no chão.

–Bem somos os únicos que estamos sem nenhum contato, vamos voltar para...

Ele foi interrompido por um grito feroz que invadiu toda a sala que estávamos. Cada osso foi congelado ao escutar a força do grito, e por mais que já o tenha escutado algumas vezes aquele grito nunca deixava de me fazer encher os olhos de tanto medo.

–Hulk. - Sussurrei com a voz dominada pelo medo.

–Onde? - Questionou Thor posicionando seu martelo preparado para a briga. Para meu medo, Thor percebeu que o monstro verde não era algo que pudesse subestimar, mesmo que seja Banner no seu interior.

–Deve ser em alguns andares abaixo. O andar dos helicópteros. - Respondi automática. Mesmo nunca estando na base eu se lembrava de ter visto o modelo e de ter gravado cada andar como se fosse minha casa.

Thor saiu pela porta destruída e correu para a escada tentando chegar ao andar que indiquei.

–Hey, acha que pode dar conta sozinho? – Corri atrás dele e o segurei enquanto corria.

–Liliam, não pode ir comigo. - Disse Thor seguindo para baixo, sem nem se importar com meus protestos.

–Claro que posso, você que não pode mandar em mim. - Rebati indicando a porta que eles deveriam entrar.

–O Capitão e seu irmão não ficaram felizes ao saber que esta participando dessa luta. - Explicou Thor preparando seu martelo.

–Thor, querendo ou não eu vou te ajudar. Que se dane o que eles pensam, a S.H.I.E.L.D é meu lar e Bruce é meu amigo. Não vou desistir de nenhum só porque eles têm medo de que algo aconteça a mim e você tem medo deles.

Ele se virou para mim, de maneira que até me assustou e me fez com que meu corpo chocasse com o dele.

–Tem alguma arma para se defender? - Perguntou Thor parado e olhando para meu rosto.

–Não. - Respondi percebendo que deixara suas armas no seu quarto, e que a sala de armas não era perto.

–Então como pensa em deter Banner? - Questionou o deus.

–Conversando? – Fiz uma careta e dei ombros.

–Se eu lhe pedir para voltar...

–Eu não vou obedecer. – Completei decidida.

Thor suspirou fundo, percebendo que não importava as tentativas eu não iria voltar atrás.

–Então vamos. – Ele puxou meu braço e me fez atravessar a porta primeiro do que ele. O cara era tão forte que eu parecia uma criança mimada fazendo força com o aperto do pai.

Não foi difícil seguir Hulk, afinal de contas era só seguir um rastro de destruição e sentir como se o chão tremesse com as suas pegadas. Estávamos perto, mas não o suficiente para vê-lo o que fez com que deduzíssemos que ele não estava naquela ala e sim a do lado. Thor se preparou do meu lado e se jogou contra a parede, fazendo um buraco enorme. Tudo que eu podia fazer era segui-lo inutilmente enquanto o deus abria buracos nas paredes.

Foi quando eu já estava na última parede que eu vi Thor acertar seu martelo na face do Hulk, o fazendo cambalear para trás. Nem posso dizer o que aquela visão fez comigo né? Ver Hulk e Thor lutarem era quase surreal, se eu tivesse uma câmera teria tirado uma foto e guardado eternamente. Mas aquele não era o momento. Enquanto estava paralisada com a visão escutei o choro baixo de alguém, e atraindo o olhar para aquela pessoa vi cabelos vermelhos encolhido no chão. Era Natasha.

–Natasha você esta bem? – Corri até ela e me abaixei na altura da mulher. Nunca eu imaginaria Natasha naquele estado, então pude imaginar que ela teve que enfrentar sozinha a fúria do Hulk.

–Liliam. – Me chamou levantando sua cabeça e me mostrando aqueles olhos marejados. – Saia daqui.

–O que houve? Você esta bem? – Coloquei a mão em seu rosto. Eu estava realmente preocupada com a impetuosa viúva negra.

–Liliam não vá atrás dele, não vá... – Repetia se referindo ao Hulk.

Eu não entendi. Como Natasha Romanoff, a melhor agente da S.H.I.E.L.D poderia estar tremendo daquele jeito? Pra mim ela nem sabia o que era a palavra medo. Mas o sentimento estava ali, estampado em seus olhos, porque até ela é humana.

–Sinto muito. – Me levantei e pude ver o rastro de destruição que Thor e Hulk deixaram. – Mas não vou deixar o Hulk destruir minha casa.

Voltei a correr atrás deles, entre paredes e escombros escutei um rugido forte e então encontrei. Um monstro verde estava de costas para mim.

Eu fiquei estática, não tinha outra reação. Aquilo já não era mais Bruce o homem gentil que conversei naquele mesmo dia, de olhos castanhos e estilo de professor. Não, ele estava bem longe de ser isso.

O monstro verde arremessou algo no chão, que no início não reconheci o que era, até que reparei na cabeleira loira. Ele estava arremessando um deus como se fosse uma bola de basquete. Sempre subestimei sua força.

Eu nunca tinha compreendido o medo excessivo que as pessoas sentem a respeito de Bruce, quer dizer, dele. Mesmo nas raras vezes que eu via Bruce perder o controle nunca cheguei a me preocupar. Era porque eu não estava próxima. Era porque eu não era um alvo.

Minha boca tremula não formulava as palavras que eu tinha em mente, meu corpo parecia querer falecer a qualquer hora. E em toda a minha vida eu nunca me senti tão... Vulnerável.

Tentei chama-lo e minha voz pareceu sumir, apenas fazendo meus lábios se movimentarem e sem querer o irritando.

Ele deu um berro em meu rosto, quente e feroz. Como se mandasse eu fazer alguma coisa, ataca-lo ou gritar e sair correndo. Ele estava esperando a minha decisão para se decidir sobre o que fazer comigo.

– Bruce... - Ele grunhiu em resposta e pude ver que ele não atenderia por aquele nome, afinal não é Bruce. - Hulk.

Ele me olhou mais atento do que antes, disposto a me escutar. Talvez ele pense que seu grito tenha feito efeito, mas a pobre criatura mal sabe que eu odeio ser comandada.

–Liliam. - Seu sussurro foi totalmente inesperado, assustou a ambos.

Os dois estavam confusos, afinal ele sabia quem eu era. Mesmo não tendo um vínculo forte com Bruce. Pude perceber o semblante preocupado e confuso de Thor, enquanto esperava uma explicação para aquilo.

Como que algo agindo na irracionalidade se lembraria de alguém que conheceu há um dia?

–Sim, sou a Liliam. - Uma coragem e uma empatia surgiu em mim ao ver o choque de reconhecimento atingir seus olhos.

Poderia não ser Bruce, mas estava longe de ser um monstro.

–Sua amiga. - Completei tomando a coragem de avançar um passo.

– ... Amiga. - Repetiu confuso.

Ofereci minha mão a ele, para cumprimenta-lo. Percebi que ele reconsiderou bater, mas sua mão gigante fechou com a minha, e gentilmente ele a segurou. Sorri orgulhosa enquanto lágrimas idiotas corriam de meus olhos.

Eu estava confraternizando com o Hulk, era só o que faltava na minha lista daquele ano.

O momento foi cortado quando tiros quebraram o vidro e atingiam Hulk como pedrinhas. Sequer deixavam marcas.

Contando foi o suficiente para sua fúria voltar e com só um leve empurrão ele me jogou no chão. Não para me atacar, foi pra me proteger.

Hulk se colocou entre mim e os tiros, e nenhum deles me atingia.

–Pare! - Gritei em vão. - Parem de atirar nele!

Me levantei disposta a correr até aqueles babacas e quebrar aquela porcaria voadora deles. Hulk não era mais uma ameaça! Eu podia conversar com ele! Eu podia!

De repente algo me arremessa de novo ao chão, só que dessa vez um peso loiro estava em cima de mim.

Hulk percebeu que não precisava mais me proteger, então ficou livre para ataca-los como o monstro que queriam que fosse.

–Eu lhe disse para ficar longe. - Brigou o deus com aquela voz de trovão esbanjando raiva.

–Aprenda o que todo mundo dessa agência já sabe, não sou de seguir ordens. - Respondi o encarando da mesma forma.

Ok... aquilo já estava um pouco estranho. Ter um deus com todo aquele corpo era uma oportunidade que geralmente não recuso, mesmo que fosse ali na agência. Imagine o que pode ter por baixo daquela fantasia toda e o que ele pode saber do seu mundo...

Tá, chega de fantasias eróticas. Estamos em guerra, Liliam Stark!

–Thor... - Sussurrei docemente e tentando ser ingênua e não entregar minha ilusões perversas. - Será que pode sair de cima de mim?

–Não se sente confortável? - Provocou com um sorriso idiota no rosto.

–Se fosse em outro dia... – Suspirei e empurrei o deus para longe, retirando o peso de um touro de cima de mim. Um touro com músculos muito atraente.

Quando nos levantamos e trocamos um olhar a preocupação de ambos acendeu: Loki. Sem trocar palavras corremos até a sala da prisão de vidro.

Thor passou pela porta primeiro, e assim que coloquei minha mão no batente da porta uma bala ricocheteou perto da minha mão. Olhei para a agente que atirou em mim, seu uniforme não ostentava nenhum símbolo então presumi que ela não era da S.H.I.E.L.D.

–Nossa! - Exclamei caminhando até ela. - Você atira muito mal.

Com apenas um chute tirei a arma de sua mão e aproveitei para acertar sua cabeça, agentes amadores são uns idiotas. Quando iria me abaixar e recolher sua arma a voz de Thor acabou me distraindo e corri para dentro da sala sem pensar.

Como qualquer ação que eu tenho.

Sabe quando percebe que cometeu algo muito ruim e não pode voltar atrás? Quando a impulsividade acaba ferrando com você? Foi isso que me fez paralisar quando entrei.

O metal cortante atravessou minha carne, no lado direito das minhas costas, e assim que o objeto me penetrou a dor tomou meu corpo.

Quem me acertou não era burro, ou inexperiente, pois quando retirou o que me cortou de minhas costas a primeira coisa que meu corpo fez foi bater no chão duro da sala da sela.

Tentei me mexer, mas meu corpo entorpecido pela dor não me permitiu me vingar.

Olhei para o lado procurando Thor, e o vi preso na redoma de vidro e com os olhos pregados em mim e em algo a minha frente. Segui seu olhar e encontrei o corpo de Phill estirado no chão e com um grande buraco no centro do corpo.
Mais a frente Loki estava de pé, com aquele maldito sorriso perverso e com a lança em cima do botão vermelho.

Voltei a encarar Thor com desespero e percebi que seus olhos azuis não tinham encontrado uma maneira rápida de se salvar. Era uma queda de dez mil metros, pelo que sei não mataria Bruce, mas será que a lenda do imortal seria tão real quanto sua existência?

O botão foi pressionado e eu gritei ao ver a jaula ser jogada para fora com o deus dentro dela. As lágrimas romperam assim que a jaula caiu, eu não pude fazer nada para ajudar o Thor.

Me senti como a pior pessoa do mundo.

Phill respirava com dificuldade, ele estava desistindo de lutar contra sua morte. Tentando vencer a dor me apoiei em meus cotovelos até chegar perto dele.

–Phill, resista! - Pedi sacudindo sua perna.

–O que eu faço com ela, senhor? - Perguntou uma voz masculina.

Aquele era o momento, senti medo até em meus ossos.

Quando olhei novamente em sua direção seu olhar era de puro ódio. Eu sabia o que ele estava sentindo, sabia que isso sempre acaba em morte. Coulson já estava morrendo em meus braços, ele não podia mais machuca-lo como queria, Thor estava a dez metros daqui, uma luta com seu irmão estava fora de cogitação.

Apenas alguém tinha sobrado. Ele não gosta de mim o suficiente para não fazer aquilo.

–Liliam, corra. – Mandou Coulson tentando me empurrar para longe, suas mãos sem vida tatearam meu braço e seu olhar era de pura preocupação.

–Ela não vai fugir. – Intrometeu-se Loki, cada vez mais perto de nós e sua voz mostrava convencimento. – Já percebeu o que irei fazer, Liliam Stark?

O agente que me atingiu já estava posicionado atrás esperando pelas ordens de Loki, e assim que o deus lhe deu um olhar ele me levantou. Agarrada pelos braços fui forçada a encarar o deus e então percebi:

Não somos nada iguais! Ele é um monstro, eu não. Eu cometi erros, matei mais gente do que ele, talvez, pessoas que não me arrependo de matar. Mas eu quis ser salva! Eu quis ser boa e melhorar, quis consertar os erros e mudar o meu destino. Quis essas coisas porque teve uma pessoa no mundo que acreditou que eu pudesse ser boa mesmo na minha época mais obscura: Clint. Agora ele não quer isso, mesmo que eu implore para não me matar eu podia ver o desejo de deus olhos. Não havia nada a ser salvo ali, nada que valesse a pena minha misericórdia.

Queria não estar chorando e pode-lo encarar com coragem como os guerreiros que tanto ouvi falar. Mas eu chorava por todas minhas escolhas ruins, chorava por Coulson, pelos meus amigos, por Steve... Por meu irmão. Tony iria ficar sem a irmã, que talvel não fizesse grande diferença agora, mas ainda sim sei que ele ficara triste quando souber. Uma coisa boa tinha, eles irão ficar tão irados que mataram Loki por mim e salvarão a humanidade.

Eu só queria ter tido tempo de ser uma pessoa bem melhor.

– Faça logo. - Grunhi, fechando os olhos para não ter que encara-lo. Não queria ter minha ultima visão pertencendo ao Loki.

Minha mente se agarrou a uma imagem que nunca aconteceu: Eu e Steve, todos os meus sonhos passavam como um filme e afugentavam o medo.

Mas eu chorava por não ter tido tempo de torna-lo realidade.

E chorava pela decepção de ter minha vida findada pelas mãos dele. Me parecia errado... Como se Loki não pudesse ter direito de me matar.

Qualquer um deveria fazer isso, menos ele.

Uma demora cruel se estabelecia ali, fui forçada a abrir os olhos para ver o que ele estava esperando.

Ele olhou diretamente em meus olhos, a confusão estava em sua cabeça e a decisão em suas mãos. Eu sou descartável, não sou? Sou uma humana fraca e idiota que preferiu lutar pelo bem do que ao seu lado! Por que não me mata! Por que não faz logo isso?!

–Se for me matar... –Não queria olha-lo, mas não estava tendo opção. Queria me lembrar de azuis calmos, amáveis, gentil... Um azul que me acolheu e me fez ama-lo. Não aquele azul violento que me fazia queimar. – Faça isso logo!

Sua expressão ainda era de pura confusão e pareceu uma eternidade até que se decidiu.

Loki me pegou pelo braço e me obrigou a encara-lo de modo bem próximo, tão próximo que quase tocávamos os lábios.

–Eu não posso matar você. - Sussurrou. - Pois eu ainda a quero comigo.

E me soltou para cair no chão novamente. Aquilo me fez ficar estática, mais do que quando fui esfaqueada.

Ele não me matou... Por que?

Escutei ao fundo algumas vozes, acredito ser de Phill e Loki e quando o choque se foi pude ver um raio laranja voar em direção Loki. Pelo o estrondo atrás de mim ele foi atingido.

Mas outra pessoa a minha frente era motivo de mais preocupação do que um deus imortal.

– Coulson... -Sussurrei me apoiando em meus cotovelos para chegar até ele.

A ferida aberta nas minhas costas parecia me impedir de continuar com meus movimentos brusco, tudo que eu queria era deitar um pouco e deixar a maldita ferida cicatrizar. Mas Coulson não era como eu, não tinha um ser alienígena dentro de si que com seus poderes de cura que podia curar seus machucados. Ele estava sangrando muito, me lembrando que por mais que cada agente da S.H.I.E.L.D se sinta poderoso, até o mais forte ainda é humano.

–Lily... - Sussurrou quando minha mão sua com meu sangue se encontrou com a dele. Olhei esperançosa para seu rosto procurando um vestígio de luz, ou de alguma chance de sobrevivência... Mas quando se é uma assassina sabe muito bem quando as chances acabam. Phill não tinha mais chances.

–Eu sinto muito... Por não ter te protegido. - Falei olhando para sua ferida aberta e vendo aos poucos o sangue sair tão facilmente dali. Retirei minha mão entrelaçada com a dele e coloquei as duas em cima de seu peito, lutando contra todas suas formas de morrer.

–Você é uma ótima agente, Liliam, e uma ótima pessoa. - Sua voz era cansada e senti uma de suas mãos afagarem minhas costas. - Não são muitas pessoas nesse mundo que posso considerar serem boas, mas de longe você é a melhor de todas. Sua maior qualidade sempre está no bem que enxerga nas pessoas, e foi bom ter tido o prazer de conhecer alguém como você.

–Não se despesa de mim! Eu não quero suas palavras consoladoras! - Briguei apertando mais a ferida, sentindo seu sangue sujar toda minha mão, e minha manga começar a grudar em meu corpo enquanto o sangue espalhava-se. - Eu não seria nenhuma agente sem você, lembra que me disse que sou a pior de todos? - Perguntei aos soluços. - Não preciso de sua piedade só porque está mau, nem de suas palavras delicadas.

–Essa é a Liliam que conheço. - Sorriu orgulho.

Era difícil sentir uma pessoa que ama morrer em seus braços, principalmente quando não se pode fazer nada. Tirei a mãos do ferimento e o abracei rapidamente.

–Obrigada por tudo. - Agradeci fechando os olhos apoiada em seu pescoço e deixando as lágrimas caírem nele.

–O prazer foi meu em saber que minha aluna é tão corajosa quanto a eduquei pra ser.

O ferimento ainda não cicatrizado de minhas costas me dilacerou por me esforçar para abraça-lo. Então tudo que pude fazer foi apoiar minha cabeça em sua perna e esperar que a morte fosse misericordiosa e o apanhasse.

Os soluços de meus lábios começaram a ficar mais forte ao me dar conta de que estava perdendo não só um professor, mais um amigo. Coulson não era tão gentil comigo, muito menos demonstrava seu afeto com abraços e elogios. Era sempre o que eu precisava melhorar, praticar, recomeçar... Uma ordem atrás da outra para me formar uma agente da S.H.I.E.L.D. Era triste saber que uma pessoa como ele morria, porque Phill Coulson foi um herói ao tentar enfrentar Loki sozinho, mas também foi ele próprio, não o frio e pensador agente Coulson, ao não escutar a sua lógica e perceber que nunca ganharia. Talvez seja uma bela maneira de morrer.

Sendo apenas você... Mesmo que seja pela última vez. Não tive tempo para conhece-lo melhor, mas esse pensamento ficou comigo antes de uma escuridão me apagar:

Eu nunca me esqueceria de quem foi Phill Coulson.