Lágrimas de Sangue escrita por Débora Brauner


Capítulo 2
Capítulo 2




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Quinta-feira

Já não posso suportar, não durmo há dias e quando o faço é porque estou dopado por ervas e poções que um curandeiro de confiança fez. Que Deus me perdoe, vou enlouquecer, tenho medo de cometer uma loucura, pois não suporto essa dor sem fim.

Quando olho no espelho já não me reconheço, é como se eu fosse apenas um espectro do homem que fui. Pálido, com olheiras gigantescas, meus cabelos perderam o brilho, estou mais magro do que jamais estive e meus olhos... Meus olhos que antes transmitiam alegria e interesse, hoje possuem a aparência de uma triste tempestade em que as nuvens encobrem todo o brilho do sol.

Tenho medo de mim! Inimigo único do qual não há como fugir!

Diaba! Todas as noites seu rosto me atormenta, seu gosto, seu cheiro, sua pele...

Sinto-te em mim quando durmo e em meus sonhos repletos de luxuria são dotados de tal realismo que acordo nu na cama, com os lençóis bagunçados a minha volta. Sinto-me fraco como se estivesse há dias sem comer e com muita, muita sede.

Enlouqueço e sei que o faço, no entanto não há nada que eu possa fazer a não ser por um fim nisso, as facas da cozinha me atraem com um brilho sinistro nas raras vezes que sinto vontade de comer. Que Deus me perdoe, creio que sucumbirei.

Sexta-feira

Essa noite definitivamente foi a pior de todas, e ao mesmo tempo a melhor, se considerarmos alguns fatos positivos que nela transcorreram.

Como o fato de ter encontrado o diário de minha amada, por exemplo, eu o reconheceria mesmo que estivesse todo sujo e rasgado, o que não é o caso. Sua identidade pessoal transborda de cada pedaço dele, as linhas transpiram a alma dela, e o cheiro dela tão doce e intrigante, aqui, permanece puro e límpido, assim como ela era na alma.

Existem vários poemas que ela escreveu, alguns dos quais falam de mim, e meus olhos choram de felicidade sempre que vejo o modo como ela me amava, sei com toda convicção que se ela pudesse escolher, não teria me deixado. Ela me amava.

A minha doce e bela Anastásia... Sua essência transborda de seu caderno/diário, assim como o fazia de seus olhos.

É claro que eu não deveria lê-lo, mas como não o faria? Era meu contato maior com ela, pois obviamente era um pedaço de sua alma, seus pensamentos mais íntimos, seus sonhos, seus desejos, seus sofrimentos, tudo estava ali. Em alguns momentos, podia ouvir sua voz melodiosa e poderosa recitando alguns de seus poemas para mim, é uma tortura, é claro. Rasga-me e me mastiga, retorcendo-me pedaço por pedaço e acabo adormecendo abraçado com seus pensamentos esquecidos, como se fossem ela.

Minha senhora, como queria ter-te comigo, é algo que não posso expressar com palavras e a dor da distância é inexplicável, palavras simplesmente não seriam o suficiente para compreendê-las. É simplesmente inconcebível para mim a mera suposição de que não voltaras para meus braços. Todas as noites lhe espero na cadeira de área, como o fazia todos os dias após chegar do trabalho, pois sabia que vós logo viria da horta ou jardim dos quais cuidava com tanto esmero.

Essa tarde, após ler um poema sobre suas flores, fui ver seu jardim, está horrível querida, surtarias se o visse. Volte amor, volte para mim e para sua vida, ou me leve contigo, pois não posso suportar mais isso, cometerei uma loucura, pois sou um louco que a cada dia perde mais de sua sanidade em meio ao vento frio que sopra consigo seu perfume e enevoa toda a minha alma, com essa agridoce lembrança que desperta em mim.


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