Lágrimas de Sangue escrita por Débora Brauner


Capítulo 1
Capítulo 1




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Ian Einsamhertz

Segunda-feira

Doce senhora que encanta meus sonhos e povoa meus delírios, sofro por saber que já não posso tê-la, pois a fria tumba em que jaz teu belo seio se assegura disso, envolvendo-a com seus dedos gélidos e firmes.

Mas seu perfume se entranhou em minha memória e alma de tal forma que por vezes julgo que o sinto pela casa como se vós caminhastes comigo pelos cômodos como antes. Infelizmente sei que isso é impossível já que vi, com esses olhos que a terra há de comer, a mortalha fechar-se sobre seu rosto, como um véu de noiva que nunca ostentou.

Na minha cama o contorno de seu corpo permanece, nas noites frias meu soluço preenche o vazio deixado por vós e ecoa pelo vazio que deixaste em mim.

Em todos os cantos da casa sobrevivem resquícios de sua presença, como um fantasma a atormentar-me, e a dor, a dor é sempre mais forte durante as noites, pois sei que você já não atravessará a porta, vindo ao meu encontro em nosso eterno leito de amor, com seus doces olhos azuis, profundos como o mar.

Doce amada, dois dias fazem que partistes, mas a mim parecem dois longos invernais anos. Em certos momentos, uma raiva intensa apossa-se de mim e eu me pergunto como tivestes a ousadia de partir deixando-me, mesmo quando jurastes não me abandonar jamais.

E meu coração sangra amada, sangra por ti. Não sei o que fazer.

Terça- feira

Insônia, maldita serpente que a mim se agarra como um parasita sedento por minha dor, que me faz permanecer acordado a rever fotografias esquecidas da perdição amada e perdida, que me fazem lembrar de tudo aquilo que me foi tirado quando você se foi.

A-M-O-R: ainda dói meu odioso coração ressentido.

Não podias deixar-me assim fräulein, não podias, deverias cuidar de mim como disse que o faria. Por que se foi, oh sonho meu? Queria que ao menos me levásseis com vós...

Às vezes, a dor é tanta que me sinto afundar, perdendo-me em lembranças do que passamos, com a esperança que retornes aos meus braços, ou que ao menos crave suas unhas em minha carne para que eu afunde ao teu lado pelos véus obscuros da morte.

Quarta-feira

Obsessão, só pode ser isso. Enlouqueci! Já não posso suportar! A ausente presença dela me tortura, além de seu cheiro, agora ouço vossa voz. Algumas vezes distante, outras ao pé do meu ouvido, de tal maneira que todos os meus cabelos arrepiam-se, se de medo ou anseio, não me compete dizer.

Por Deus, eu a vi sendo enterrada, sua tumba branca fechando-se em volta de seu belocorpo e seus doces olhos, os mesmos que haviam me conquistado e agora se encontravam fechados para sempre. Parecia dormir o sono dos justos, mas ah Deus, ela nunca mais acordaria daquele sono, e eu jamais a veria sorrir novamente e me encarar com interesse ou qualquer outro sentimento transbordando por aqueles magníficos olhos de safira azul celeste.

Os mortos não voltam à vida, é o que sempre me disseram, mas como pode estar morta se sua presença se faz mais viva do que nunca ao meu redor. Mesmo já havendo passado quatro dias de seu enterro, três dos quais venho registrando meus pensamentos em seu caderninho de anotações, aquele que guardavas no criado-mudo, para não enlouquecer.

Seu cheiro pela casa, sua voz pelos corredores...

Eu sempre soube que nunca poderia esquecê-la, no entanto não imaginava que seria assim tão torturante. É como se estivesses aqui, escondida, brincando com a minha sanidade, me torturando com um prazer doentio e mórbido.


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Notas finais do capítulo

Decidi dividir em algumas partes para não ficar cansativo, mas trata-se de um conto curto.



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